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[[Ficheiro:João Baptista Figueiredo.tif|miniaturadaimagem|Questionado sobre a abertura política da Ditadura, Figueiredo respondeu: "É para abrir mesmo. E quem quiser que não abra, eu prendo. Arrebento. Não tenha dúvidas."{{Sfn|Figueiredo|1978}}|259x259px]]
Desde o final anos 1960, o endurecimento da [[Ditadura militar no Brasil|Ditadura Militar no Brasil]] levou à intensificação da oposição a ela, tanto por grupos que decidiram [[Luta armada de esquerda no Brasil|pegar em armas]] para combate-la quanto por segmentos mais amplos da sociedade, que passaram a mobilizar-se por acreditarem que, a despeito da brutalidade praticada pelos militares, o restabelecimento da democracia poderia ser buscado de maneira pacífica.{{Sfn|Nascimento|2014|p=12-14; 17-18}}
Pressionado pela mobilização da sociedade e na esteira do esgotamento do [[Milagre econômico brasileiro|milagre econômico]] do governo que o antescedera, desde 1974 o general [[Ernesto Geisel]], o quarto militar a ocupar o posto de [[Presidência da República|presidente da República]] desde o [[Golpe de 1964]], vinha pondo em prática medidas graduais visando a reabertura política do país, mas não sem enfrentar a intensa oposição de setores [[linha-dura]] das [[Forças Armadas do Brasil]].{{Sfn|Costa|1991|p=26}}{{Sfn|Reis|2010|p=221-222}}
Embora a política de Geisel incluísse a manutenção da repressão à oposição, como forma de acalmar a linha-dura,{{Sfn|Resende|2011|p=5}}{{Sfn|Resende|2014|p=38}}{{Sfn|Nascimento|2014|p=18-19}} seus membros se mostravam inconformados com as medidas progressistas do governo e desejavam garantir sua supremacia durante as eleições indiretas que seriam realizadas em 1978.{{Sfn|Reis|2010|p=222}} Com essa finalidade, elas passaram a arquitetar atentados terroristas com vistas a enfraquecer os setores dominantes das Forças Armadas, que eles viam como brandos e ineficazes, e intensificar o sentimento anti-comunista da população de tal forma que sua proposta linha-dura viesse a ser vista como necessária ao país.{{Sfn|Nascimento|2014|p=20}}{{Sfn|Reis|2010|p=222}} Não que se tratasse de uma estratégia nova, visto que já entre 1967 e 1968 militares liderados por [[Aladino Félix]] e o general Paulo Trajano da Silva haviam realizado uma longa campanha de assaltos à mão armada e ataques a bomba com o objetivo de levar a um endurecimento da ditadura que assolava o país.{{Sfn|Quadros|2018}}{{Sfn|Phillips|2018}}{{Sfn|Faria|2019|p=219-220}} Pioneiros do [[terrorismo de Estado]] no Brasil, esses ataques foram anteriores ao surgimento do [[terrorismo de esquerda]] do final dos anos 1960 mas, devido a manobras dos militares, acabaram creditados a grupos de esquerda e tiveram papel significativo na promulgação do [[Ato Institucional n.º 5|AI-5]], de 13 de dezembro de 1968.{{Sfn|Quadros|2018}}{{Sfn|Phillips|2018}}{{Sfn|Faria|2019|p=215}}
Como parte dos esforços do governo Geisel em frustar as tentativas dos setores radicais das forças armadas em mobilizar o apoio das tropas como um todo, em 1979 Geisel escolheu como seu sucessor o general [[João Batista Figueiredo]].{{Sfn|Resende|2014|p=38-39}} Anteriormente chefe do gabinete militar do [[governo Médici]], Figueiredo também fora chefe do [[Serviço Nacional de Informações]] (SNI) e praticamente toda a sua carreira estava ligada à chamada "comunidade de informações" do Exército, formada por organizações como o próprio SNI, o [[Centro de Informações do Exército]] (CIE) e o [[DOI-
Sua escolha como sucessor de Geisel, portanto, visava superar resistências e compor alianças que sustentassem o processo de reabertura política do país.{{Sfn|Costa|1991|p=26-27}} Como parte desse objetivo e em razão de seu histórico profissional, o governo do general Figueiredo evitaria confrontar a comunidade de informações das forças armadas, principalmente o CIE, cujos integrantes estavam inconformados com os rumos políticos do governo. Contudo, além de suas motivações comuns com a ala linha-dura dos militares, os membros desse grupo haviam sido responsáveis por centenas de casos de tortura e assassinato de opositores, e, portanto, temiam ser humilhados e punidos caso o regime se desfizesse e a oposição viesse a assumir o poder. O fim da ditadura, além disso, já vinha limitando severamente as atividades da comunidade de informações e poderia representar o seu fim.{{Sfn|Sallum Junior|1994|p=142}}
Por isso, para eles também era interessante que a
Nesse contexto, entre 1978 e 1987 esses grupos somaram-se aos setores
== O espetáculo no Riocentro ==
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Localizado em Jacarepaguá, na cidade do Rio de Janeiro, o [[Riocentro]] era o maior centro de eventos da América Latina e, em 30 de abril de 1981, sediaria a celebração do [[Dia do Trabalhador]] que era organizada anualmente pelo Centro Brasil Democrático (Cebrade), uma organização cultural presidida por [[Oscar Niemeyer]] e com ligações com o [[Partido Comunista Brasileiro]] (PCB).{{Sfn|Comissão Nacional da Verdade|2014|p=3}}
Nesse ano o evento contava com roteiro e coordenação de [[Chico Buarque|Chico Buarque de Hollanda]] e fazia uma homenagem especial a [[Luiz Gonzaga]]. O público esperado era de 30 mil pagantes, mas de fato ele viria a reunir cerca de 20 mil pessoas, em sua maioria jovens, que compareceram para assistir às apresentações de artistas renomados da música popular brasileira, dentre os quais o próprio Luiz Gonzaga, seu filho [[Gonzaguinha]], [[Alceu Valença|Alceu Valença]], [[Clara Nunes]], [[Djavan]], [[Ivan Lins]], [[Gal Costa]], [[Fagner]], [[João Bosco (músico)|João Bosco]], [[Ney Matogrosso]], [[Paulinho da Viola]], [[Simone]] e [[Beth Carvalho]].{{Sfn|Comissão Nacional da Verdade|2014|p=3}} No momento das explosões, em torno das 21h20m, cantava [[Elba Ramalho]].{{Sfn|Laque|2010|p=587}}
== Os preparativos do ataque ==
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As investigações na sequência do atentado também revelaram que um grupo de quinze indivíduos armados se havia reunido em um restaurante às margens da estrada [[Grajaú-Jacarepaguá]], a fim de acertar os últimos detalhes do plano. O grupo, que examinava e discutia planos em torno de um mapa, chamou a atenção dos funcionários do restaurante, que, confundindo-os com potencias assaltantes de banco, telefonaram para a polícia. Uma viatura que se encontrava nas redondezas chegou a comparecer ao local, mas dada a superioridade numérica do grupo limitou-se a anotar as chapas de matrícula de cinco automóveis utilizados pelo ele, dentre as quais a do veículo que seria usado no atentado daquela noite e acabaria parcialmente destruído, um [[Puma GTE]] marrom metálico com a placa de identificação OT-0297.{{Sfn|Kushnir|2009}}
Minutos antes do concerto, diversas placas de sinalização indicando o caminho do Riocentro, e [[Painel publicitário|painéis publicitários]] localizados no próprio terreno do centro de convenções, foram [[Pichação|pichados]] com a sigla VPR, em referência à [[Vanguarda Popular Revolucionária]], um grupo de extrema-esquerda que fôra ativo entre 1966 e 1973.{{Sfn|Kushnir|2009}} Relatos posteriores confirmariam que essas pichações foram organizadas pelo policial civil Mario Viana, codinome Mineiro, que naquele dia estivera recrutando pessoas com essa finalidade nas imediações do Riocentro.{{Sfn|Comissão Nacional da Verdade|2014|p=9}}
Na sequência, o vigia encarregado do estacionamento reservado aos ônibus, no Riocentro, testemunhou dois carros atravessarem o canteiro e se dirigirem para o local onde minutos depois o Puma explodiria.{{Sfn|Kushnir|2009}} Segundo o relato de diversas pessoas que observaram o veículo em chamas após a explosão, incluindo o detetive Humberto Guimarães, o “Cauby”, que estava de serviço no Departamento de Polícia Política e Social (DPPS) e chegou ao local minutos após a explosão, bem como o delegado Petrônio Romano Henrique, da 16ª Delegacia de Polícia, dentro do carro haviam ao menos duas bombas além daquela que explodiu antecipadamente.{{Sfn|Comissão Nacional da Verdade|2014|p=10-11}}
== O atentado ==
No estacionamento reservado aos artistas e organizadores,
Por volta das 21h15min, quando
▲No estacionamento reservado aos artistas e organizadores, o veículo Puma levava dois ocupantes, o capitão Wilson Machado, proprietário do carro, e o sargento Guilherme Pereira do Rosário.{{Sfn|Laque|2010|p=587}} Ambos integravam o [[DOI-CODI|Destacamento de Operações de Informação do Centro de Operações de Defesa Interna]] (DOI-CODI) do [[Comando Militar do Leste|I Exército]], no Rio de Janeiro, e pertenciam ao aparelho de repressão progressivamente desativado desde 1975, que vinha praticando atentados terroristas contra personalidades políticas, bancas de jornais e sedes de publicações que julgavam esquerdistas.{{Sfn|Gaspari|1999}} O sargento Rosário, usando a identificação de "agente Wagner", era treinado em montagem de [[explosivo]]s, ao passo que Machado atuava como chefe do patrulhamento da segurança do presidente Figueiredo, quando este se encontrava no Rio.{{Sfn|Gaspari|1999}}
▲Por volta das 21h15min, quando [[Elba Ramalho]] começava a cantar "Banquete de Signos", o Puma, com as janelas parcialmente fechadas, pôs-se a trafegar em baixa velocidade e, repentinamente, sofreu uma explosão interna que lhe inflou o teto e fez com que suas portas laterais fossem expelidas.{{Sfn|Laque|2010|p=587}}
▲. O sargento Rosário morreu, enquanto o capitão Machado saía dos destroços ferido, segurando com as mãos as próprias [[vísceras]] expostas.{{Sfn|Laque|2010|p=587}} Muitas pessoas se aglomeraram em volta do carro. Alguns dos espectadores, inclusive o tenente Wachulec, viram um homem retirar do interior duas [[granada]]s do tipo cilíndrico usado pelo Exército Brasileiro. O capitão Machado, que ziguezagueou por uns 200 metros gemendo, sentou-se numa escada que dava acesso para a plateia e foi socorrido 25 minutos depois pela neta do futuro presidente [[Tancredo Neves]], [[Andrea Neves]], que chegava atrasada para o espetáculo,<ref name="vandre">{{citar web|url=https://books.google.com.br/books?id=8_ewCgAAQBAJ&pg=PT209&lpg=PT209&dq=%22Pessoas+contra+a+democracia+jogaram+bombas+l%C3%A1+fora+para+nos+amedrontar%22.&source=bl&ots=OjaycXEgCC&sig=u0QDbR667VeSe0cMs9K17JSWg3o&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjvxpWtmYzVAhUDHJAKHUOoBaEQ6AEIMTAC#v=onepage&q=%22Pessoas%20contra%20a%20democracia%20jogaram%20bombas%20l%C3%A1%20fora%20para%20nos%20amedrontar%22.&f=false|título=Vandré - O homem que disse não|último =dos Santos|primeiro =Jorge Fernando|acessodata=15 de julho de 2017}}</ref> sendo levado para o [[Hospital Miguel Couto]] onde pediu que avisassem do acidente o capitão Francisco de Paula Sousa Pinto. Este, ao chegar ao hospital, identificou o ferido como [[capitão]] do Exército. Trinta minutos depois da primeira explosão, uma segunda bomba explode na casa de força, jogada por cima do muro, mas sem maiores consequências nem corte de luz. Minutos depois, um [[Chevrolet Opala]] branco estacionado num pátio reservado deixou o local, com seu ocupante gritando para um guarda: “Vocês ainda não viram nada! O pior vai acontecer lá dentro!”<ref name="cpdoc">{{citar web |url=http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/riocentro-atentado-do |título=Atentado do Riocentro |acessodata=15 de julho de 2017 |publicado=CPDOC/Fundação Getúlio Vargas}}</ref>
A explosão no carro não chamou a atenção do público que assistia ao espetáculo dentro do pavilhão. A segunda explosão, na caixa de força da estação elétrica, pode ser ouvida dentro dele como um ruído abafado, mas nada que provocasse inquietação. Os artistas só eram avisados à medida que deixavam o palco e de forma discreta. A plateia só foi informada perto do final do espetáculo, quando o compositor e cantor [[Gonzaguinha]] subiu ao palco e disse: "Pessoas contra a democracia jogaram bombas lá fora para nos amedrontar".<ref name="vandre"/>
Com a chegada a perícia, mais dois artefatos explosivos são fotografados dentro do Puma
== Esforços para o abafamento do caso ==
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No Puma, foram encontrados documentos em nome do capitão Machado, mas a placa era falsa. Isso contraria a afirmação de que os militares estariam a serviço no local, já que nessas situações se usava um carro oficial.
O fracasso nas investigações do atentado e do envolvimento da linha dura do regime no episódio levou à renúncia do ministro chefe da Casa Civil, [[Golbery do Couto e Silva]]. Apesar de todas as evidências, o caso foi arquivado e só foi reaberto em 1999, quando o ex-chefe do SNI, general [[Octávio de Medeiros]], disse que soube do atentado uma hora antes que acontecesse; posteriormente declarou que a informação lhe fora dada pelo general [[Newton Cruz]], que já saberia do plano um mês antes.<ref>{{citar web |autor=[[Jornal do Brasil|JB]] Online |data=15 de fevereiro de 2008 |url=http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel/2008/02/15/pais20080215019.html |publicado=[[Terra Networks]] |título=Morre o general que negou o caso Riocentro |acessodata= }}</ref> Mas segundo a narrativa de Cruz, ele próprio só teria sido informado, uma hora antes do atentado, que se planejava no
Em maio de 2014, a Justiça Federal, atendendo a pedido do Ministério Público Federal, determinou ao Exército Brasileiro que lhes fossem encaminhadas as folhas de alterações de quatro oficiais da reserva, denunciados, juntamente com outros réus, por crimes neste atentado. Segundo a denúncia, os militares reformados [[Wilson Luiz Chaves Machado]], proprietário do Puma no qual teria ocorrido a explosão, [[Nilton de Albuquerque Cerqueira]], [[Newton Cruz]], [[Edson Sá Rocha]], [[Divany Carvalho Barros]] e o ex-delegado [[Cláudio Antônio Guerra]] devem responder pelos crimes de homicídio tentado, formação de quadrilha ou bando, transporte de explosivos, fraude processual e favorecimento pessoal. Em julho de 2014, O Tribunal Federal da 2ª Região concedeu habeas corpus a quatro dos oficiais da reserva denunciados por julgar que os crimes estariam prescritos.<ref>{{citar web|URL = http://www.cbnfoz.com.br/editorial/politica/02072014-164781-justica-concede-habeas-corpus-a-4-denunciados-por-caso-riocentro|título = Justiça concede habeas corpus a 4 denunciados por caso Riocentro|data=2 de Julho de 2014|acessadoem = 29 de julho de 2014|autor = CBN Foz do Iguaçu|publicado = CBN Foz do Iguaçu}}</ref>
{{Sfn|Reis|2010|p=222}}
== Reabertura do caso ==
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