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=== Novo ===
Na avaliação do consulado americano no Recife, a falta de resistência no reduto esquerdista de Pernambuco ocorreu devido ao isolamento físico do estado, rápida ação do IV Exército e falta de disposição à resistência na Polícia Militar e Partido Comunista.{{Sfn|Lara|2019|p=179-180}}
 
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=== Nordeste ===
==== Meio militar ====
{{VT|Operações militares no golpe de 1964#IV Exército|l1=A geografia#IV Exército}}
==== Meio militar ====
No IV Exército, as notícias da rebelião eram aguardadas ansiosamente. O comando manteve-se em silêncio, mas proibiu manifestações e ordenou a ocupação de estradas e pontos sensíveis. Essas medidas são interpretadas como um efetivo apoio ao golpe ou como uma atitude ambígua, composta de medidas já anteriormente discutidas com o ministro da Guerra e que, se o golpe perdesse, permitiram alegar que ele apenas obedecia à autoridade do ministro.{{Sfn|Faria|2013|pp=366 e 379}}{{Sfn|Conceição|2015|pp=82-84}} O manifesto de Mourão Filho após as 17:00 repercutiu, e assim que ouviu dele o 15º RI, em [[João Pessoa]], aderiu.{{Sfn|Pinto|2015|p=124}}{{Nota de rodapé|Manifestaram-se contra e foram presos somente um capitão e o veterinário.{{Harvnb|Motta|2003|p=156|loc=Tomo 6}}.}} Às 03:00 da madrugada{{Sfn|Morel|1965|p=121}} Goulart telefonou a Justino, alegando ter os outros três Exércitos sob controle e perguntando a situação do seu. O general respondeu: “''O IV Exército está bem, de rigorosa prontidão, presidente''”.{{Sfn|D'Aguiar|1976|p=173}} Segundo Justino, seus oficiais ficaram “''quase em risos''”.{{Sfn|Villa|2004|loc="A situação é calma"}} Da noite de 31 a 1 tropas já tinham sido lançadas pelo interior do Nordeste.{{Sfn|Silva|2014a|p=368}}
 
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Na Marinha o almirante Dias Fernandes, do 3º Distrito Naval do Recife, aderiu apesar da expectativa de ser legalista.{{Sfn|Silva|2014a|p=369}} O 2º Distrito Naval, de [[Salvador]], também aderiu.{{Sfn|Faria|2013|p=335}} A [[Base Naval de Natal]], onde o motim da Marinha na Guanabara tinha tido repercussão, não reagiu graças ao controle da oficialidade.{{Sfn|D'Aguiar|1976|p=175}} Na Aeronáutica, o brigadeiro Homero Souto de Oliveira, da 2ª Zona Aérea, emitiu seu próprio manifesto depois da declaração conjunta do Exército e Marinha no Recife.<ref name=":41"/> O coronel-aviador Firmino, comandante da [[Base Aérea de Natal]], recusou-se a aderir e foi substituído.{{Sfn|D'Aguiar|1976|p=175}} Na [[Base Aérea de Fortaleza]], após uma reunião às 19:00 do dia 1, sargentos legalistas unidos a cabos e soldados, num grupo de 300 praças, muitos armados, buscaram o comandante exigindo um esclarecimento de sua posição. Dois capitães tentaram intimidá-los com uma tropa pequena, mas com metralhadoras. Não chegou a ocorrer confronto, e os sargentos foram depois investigados num inquérito.{{Sfn|Conceição|2015|pp=89-96}}
 
A [[Polícia Militar de Alagoas|PM Alagoana]], assim como o governador, era favorável ao golpe, que manteve controle firme no estado.{{Sfn|D'Aguiar|1976|p=174}} A [[Polícia Militar da Paraíba|PM da Paraíba]] cooperou com o Exército,.{{Sfn|Motta|2003|p=286|loc=Tomo 6}} enquanto o comandante da [[Polícia Militar de Pernambuco|PM Pernambucana]], coronel Hangho Trench, era legalista e dispôs tropas nas ruas do Recife, esperando o combate com o IV Exército. Mas ele não tinha ordem do governador para o combate e, mesmo que tivesse, sua corporação tinha apenas 4.000 homens e estaria em desvantagem contra o Exército.{{Sfn|Silva|2013|p=57-59}} O 2º Batalhão, contrariando sua autoridade, aderiu ao golpe. O Exército conseguiu sem resistência ocupar o [[quartel do Derby]], onde Trench tinha posições defensivas, e destituí-lo do cargo às 14:30 do dia 1.<ref name=":41"/>{{Sfn|Motta|2003|p=176|loc=Tomo 6}}
 
==== Meio civil e pressão militar ====
A grande reação ao golpe esperada no Nordeste não apareceu.{{Sfn|D'Aguair|1976|p=173}} Nas palavras de Justino, "''Ninguém pôde opor-se às armas do 4º Exército'', ''presentes por toda aquela vasta região do Brasil, como se seu destino grandioso as tivesse feito cair do céu.''"
 
[[Ficheiro:Operações do Exército em Pernambuco no golpe de 1964 (topográfico).png|miniaturadaimagem|Deslocamentos em Pernambuco]]
{{AP|vt=s|Deposição de Miguel Arraes}}
Três governadores — [[Petrônio Portella]], do [[Piauí]], [[Aluízio Alves]], do [[Rio Grande do Norte]], e [[Lomanto Júnior]], da [[Bahia]] — declararam-se a favor do governo mas foram intimidados a voltar atrás.{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}} No caso do Piauí, o governador recebeu à meia-noite uma comitiva do [[25º Batalhão de Caçadores|25º BC]], sendo informado das medidas de controle da cidade. A Polícia Militar foi dispersa pelos pontos sensíveis. O governador só não foi informado que com isso o Exército tinha uma companhia pronta para ocupar o quartel fracamente protegido da PM — e outra para seu [[Palácio Karnak|Palácio]]. Nove horas depois emitiu um manifesto contra o golpe, mas, ameaçado de prisão, voltou atrás. "''Vereadores, {{Sfn|Motta|2003|pp=116-119|loc=Tomo 6}} [[Virgílio Távora]], do [[Ceará]],{{Sfn|Faria|2013|p=365}} e [[Pedro Gondim]], da [[Paraíba]], foram intimidados a aderir.{{Sfn|Nunes|2011|pp=7-8}} Militares mais exaltados quiseram depor os governadores do Ceará e Bahia, mas Justino não permitiu.{{Sfn|D'Aguiar|1976|p=176}}{{Sfn|Faria|2013|p=365}}
A grande reação ao golpe esperada no Nordeste não apareceu.{{Sfn|D'Aguiar|1976|p=173}} Nas palavras de Justino, "''Ninguém pôde opor-se às armas do 4º Exército'', ''presentes por toda aquela vasta região do Brasil, como se seu destino grandioso as tivesse feito cair do céu.''" Seu plano de capturas fez ao redor de mil prisioneiros incluindo [[Miguel Arraes]], governador de Pernambuco.{{Sfn|Silva|2014|p=368}} Ainda assim, as reações existiram. Em Pernambuco, além da mobilização legalista na PM, houve a ocupação da estrada de ferro em [[Caruaru]], o levante das Ligas Camponesas em [[Vitória de Santo Antão]] e as articulações do dirigente comunista [[Gregório Bezerra]] na região de [[Palmares]].{{Sfn|Almeida|2017|p=144}}{{Sfn|Silva|2014|p=370}}{{Sfn|Lira|2011}} Porém, embora a possibilidade de resistência armada tenha sido um pretexto para a deposição do governador Arraes, ele não pretendeu conduzi-la. Tinha apoio popular mas sabia de sua inferioridade militar. Mesmo que tivesse o poder de fogo necessário, só lutaria se a vitória fosse viável a nível nacional.{{Sfn|CEMV Dom Helder Câmara|2017|pp=143-144}} Na avaliação do consulado americano no Recife, a falta de resistência no reduto esquerdista de Pernambuco ocorreu devido ao isolamento físico do estado, rápida ação do IV Exército e falta de disposição à resistência na Polícia Militar e Partido Comunista.{{Sfn|Lara|2019|p=179-180}}
 
=== Velho ===
 
Com antecedência já tinham sido preparados o "Serviço-de-Superior-de-Dia" e a "Operação Enlace" para a "severa vigilância" em todos os espaços e o Plano de Capturas, com alvos já localizados.<ref name=":18" /> Na Operação Enlace patrulhas sairiam de cada cidade, encontrando-se no caminho. Para o Plano de Capturas havia um corpo especial com armas e viaturas próprias, "Os Intocáveis".{{Sfn|Silva|2014a|p=252}} Acionado, fez ao redor de mil prisioneiros incluindo [[Gregório Lourenço Bezerra|Gregório Bezerra]],{{Sfn|Silva|2014a|pp=341-345}} capturado numa operação na Zona da Mata Sul de Pernambuco.
 
O silêncio e a proibição de manifestações, ainda no dia 31, evidenciavam o alinhamento do IV Exército ao golpe, e quando às 08:15 do dia 1 o comando no Recife foi perguntado de seu posicionamento pela [[10.ª Região Militar|10ª RM]], a resposta foi a solidariedade a Mourão Filho.{{Sfn|Conceição|2015|pp=82-84}} A [[6.ª Região Militar|6ª RM]], na Bahia, já tinha se posicionado na noite.{{Sfn|Motta|2003|pp=124-125|loc=Tomo 1}} O manifesto do IV Exército e 3º Distrito Naval saiu às 09:00 da manhã, com a 2ª Zona Aérea emitindo o próprio.<ref name=":41">[http://memoria.bn.br/docreader/029033_14/28458 Diario de Pernambuco, 02/04/1964]. Coleção Digital de Jornais e Revistas da Biblioteca Nacional. Consultado em 26 de agosto de 2020.</ref> Os governadores de Pernambuco, Miguel Arraes, e de Sergipe, [[Seixas Dória]], foram presos e depostos. A forte mobilização da esquerda que se esperava apareceu só esporadicamente, como em [[Vitória de Santo Antão|Vitória do Santo Antão]]. No meio militar as reações foram mínimas, como na [[Base Aérea de Fortaleza]], e foram necessárias apenas substituições. Ao final chegaram a haver preparativos para um deslocamento da Bahia rumo ao sul.{{Sfn|Santos|2018|pp=45-46}}
 
==== Reações militares e políticas ====
[[Lomanto Júnior]], da Bahia, também emitiu um manifesto legalista (de madrugada) e voltou atrás.{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}} Na Paraíba os prefeitos de [[Sousa (Paraíba)|Sousa]] e [[Campina Grande]] se manifestaram contra, enquanto o governador [[Pedro Gondim]] aderiu no dia 1 sob pressão militar e percebendo a fragilidade de sua posição;{{Sfn|Nunes|2011|pp=7-8}} sua PM participou do movimento.{{Sfn|Motta|2003|pp=286-287|loc=Tomo 6}} No [[Rio Grande do Norte]] o governador [[Aluízio Alves]] aderiu ao golpe, enquanto o prefeito de [[Natal (Rio Grande do Norte)|Natal]], [[Djalma Maranhão]] organizou sua prefeitura como "QG da Legalidade", o qual era apenas uma aglomeração de governistas, mas incomodou os militares, que a tomaram como "ameaça de mobilização".<ref>{{citar web |ultimo=Galvão |primeiro=Mailde Pinto Ferreira |url=http://www.dhnet.org.br/verdade/rn/combatentes/mailde/livro1964/01.htm |titulo=O Golpe Militar em Natal |acessodata=24 de agosto de 2020}}</ref> Maranhão e o vice-prefeito foram presos por capitães do 2º/7º RO.{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}}
 
Desde a adesão era objetivo de Justino eliminar os governadores de Pernambuco e Sergipe.{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}} Seixas Dória, de [[Sergipe]], foi preso na noite do dia 1{{Sfn|Reis|2019|p=218}} ou às 05:00 da manhã seguinte por uma companhia de cerca de 120 homens do 28º BC, sem resistência pela guarda da PM. O vice-governador Celso de Carvalho surpreendeu-se e sentou numa cadeira quando ouviu dos militares que assumiria o posto. Também pouco compreendia o Oficial de Operações que planejou a captura — obedecia ordens e só descobriu a natureza do governador quando teve que conduzir o inquérito contra ele.{{Sfn|Motta|2003|pp=254-255|loc=Tomo 6}}
 
==== Interior pernambucano ====
Segundo o então 1º Ten no 1º/7º RO, Petrônio Araújo Gonçalves Ferreira, o governador Arraes tinha um plano para através das ferrovias e rodovias escoar camponeses da Zona da Mata à capital. Assim, no Recife o alvo era o governador enquanto tropas de Alagoas e da Paraíba, que "''não tinham problemas''", convergiam a Pernambuco para selar todas as vias de acesso. Faz menção ainda ao 16º RI do Rio Grande do Norte tendo se deslocado a Pernambuco. {{Sfn|Motta|2003|pp=179-183|loc=Tomo 6}}
 
Na Paraíba a PM teve que agir em [[Rio Tinto (Paraíba)|Rio Tinto]], onde o prefeito apoiou uma ação do sindicato e das Ligas Camponesas, ocupando a fábrica de tecidos e montando arame farpado na cidade.{{Sfn|Nunes|2011|pp=7-8}} O Exército no Estado partiu: elementos da 5<sup>a</sup> Cia de Engenharia de Construção de Campina Grande cruzaram a fronteira e intervieram em Caruaru,{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}} onde uma estação de ferro foi ocupada,{{Sfn|Silva|2014a|pp=341-345}} e em Vitória do Santo Antão,{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}} onde as Ligas Camponesas ocuparam a prefeitura, comunicações e estação ferroviária.{{Sfn|Almeida|2017|p=144}} O 15º RI de João Pessoa já estava às 23:00 do dia 31 em [[Goiana]],{{Sfn|Motta|2003|pp=181-184|loc=Tomo 2}} cidade politicamente perigosa,{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}} para onde também seguiu a 1<sup>a</sup> Bateria do 7º RO, do Cap Aurino de Araújo Pereira. A Bateria prendeu o tenente da PM João Bezerra de Araújo, de confiança de Arraes e com treinamento de guerrilha. Araújo reunia camponeses de [[Sapé]] para conduzi-los ao Recife. Embora armado, foi preso sem resistência, e os camponeses dispersos.{{Sfn|Motta|2003|pp=179-183|loc=Tomo 6}} O 15º RI deixou ali uma companhia de fuzileiros e seguiu ao Recife.
 
Em Alagoas o governador estava com o golpe e a situação tranquila permitiu o imediato emprego do 20º BC.{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}} Entrou em Pernambuco pela Zona da Mata Sul. Esta região era marcada pela atuação tanto da Igreja Católica quanto do PCB no notório desenvolvimento do sindicalismo rural, favorecido pelo governo estadual. O sexagenário Gregório Bezerra era líder importante entre os comunistas.{{Sfn|Lira|2011}} O 1º Ten da PM José Fernando Pontes Soares Filho, em reconhecimento ali e no Agreste, identificou uma forte presença comunista nos sindicatos de [[Gameleira (Pernambuco)|Gameleira]], [[Joaquim Nabuco (Pernambuco)|Joaquim Nabuco]], [[Palmares]], [[Catende]], [[Maraial]] e [[Quipapá]], enquanto em [[Canhotinho]] e no restante da [[Diocese de Garanhuns]] predominava a influência católica, que atuou "''pró-Revolução''".{{Sfn|Motta|2003|pp=234-241|loc=Tomo 6}}
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!<strong>Mapa: Entrada do Exército pelas fronteiras de Pernambuco</strong>
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[[Ficheiro:Operações do Exército em Pernambuco no golpe de 1964.png|centro]]
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==== Caçando Gregório Bezerra ====
As tropas alagoenses ocuparam Catende e Palmares, locos das Ligas Camponesas;{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}} deixaram também guarnições nas usinas do seu lado da fronteira. A [[Polícia Militar de Pernambuco|PMPE]] também estava presente, mas dividida devido à influência do governador.{{Sfn|Motta|2003|pp=44-49|loc=Tomo 6}} Palmares era estratégica, na BR-101 entre [[Maceió]] e o Recife. Ultrapassando bloqueios policiais Bezerra passou por Palmares e Ribeirão, onde pensava-se montar uma insurreição com armas fornecidas pelo governo estadual, que nunca vieram. Dispensou então os camponeses que encontrou.{{Sfn|Lira|2011}} O Maj Dynalmo Domingos de Souza narra a busca por Bezerra: enviado às 17–18:00 pelo IV Exército para fazer ligação com o 20º BC, se recorda de "''camponeses caminhando em direção das usinas, alguns com enxadas, facões, espingardas, rifles''", "''até em caminhões, aqueles de transporte de cana''". Acompanhados do usineiro José Lopes Siqueira, fizeram contato entre Ribeirão e Palmares com uma companhia do Exército, retornaram a Ribeirão e ali encontraram um destacamento policial (sargento, cabo e 2–3 soldados).
 
Avisados pelo sargento, ele, o capitão do 20º BC e a comitiva do Recife invadiram a sede do Sindicato das Ligas Camponesas de Ribeirão. Interrogando os presos encontraram o "''braço direito'' ''de Gregório''", um cubano treinado em guerrilha. Ao sargento revelou que Bezerra fora dormir na casa da amante, perto da Fazenda Pedrosa, em [[Cortês]]. Na madrugada a tropa do 20º BC se dividiu em patrulhas seguindo pelos três eixos a Cortês. Ao seu encalço foi uma equipe liderada pelo Cap Rêgo Barros, do serviço secreto da PM, que se encontrou com eles em Ribeirão. Patrulhas da PM e Exército chegaram simultaneamente à fazenda; inicialmente capturado pela PM, foi conduzido pelo Exército.{{Sfn|Motta|2003|pp=44-49|loc=Tomo 6}} Sua fuga tinha se dado na madrugada do dia 2.{{Nota de rodapé|nota=O cronograma de Dynalmo é: na tarde de 31 de março foi enviado para fazer ligação, pois o batalhão de Maceió tinha se deslocado para a fronteira e não havia mais contato. Quando já era madrugada discutiam o envio das patrulhas a Cortês. Quando tomou café o pessoal já trazia Bezerra preso. Às 09-10:00 ele era levado no "cortejo". O Diário de Pernambuco do dia 3 fala na "''madrugada de ontem''".}}<ref>[http://memoria.bn.br/DocReader/029033_14/28478 Diário de Pernambuco, 03/04/1964]. Coleção Digital de Jornais e Revistas da Biblioteca Nacional. Consultado em 25 de agosto de 2020.</ref> Submetido a maus-tratos, foi exibido amarrado pelas ruas do Recife às 09-10:00 da manhã.{{Sfn|CEMV Dom Helder Câmara|2017|p=114}}
 
==== O Recife ====
A possibilidade de resistência armada foi um pretexto para a deposição de Arraes, mas ele não pretendia conduzi-la. Tinha apoio popular mas sabia de sua inferioridade militar. Mesmo que tivesse o poder de fogo necessário, só lutaria se a vitória fosse viável a nível nacional.{{Sfn|CEMV Dom Helder Câmara|2017|pp=143-144}} Ainda assim, com a eclosão da sublevação mineira a PMPE formou um dispositivo de segurança, anulando qualquer fator surpresa por parte do IV Exército. Protegendo o [[Palácio do Campo das Princesas|Palácio das Princesas]] uma companhia{{Sfn|Motta|2003|pp=70-74|loc=Tomo 6}} ou batalhão{{Sfn|Motta|2003|pp=278-282|loc=Tomo 6}} montava guarda "''com numerosas patrulhas e ninhos de metralhadora''".
 
Já o dispositivo do Exército eram partes do 14º Regimento de Infantaria, 1º/7º Regimento de Obuses, 7ª Companhia de Polícia do Exército e Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado.<ref name=":41" /> Os obuses partiram primeiro, por iniciativa do comandante, primeiro estacionando no parque 13 de Maio e em seguida à [[Praça da República (Recife)|Praça da República]]; em seguida veio a infantaria.{{Sfn|Motta|2003|pp=278-282|loc=Tomo 6}} A infantaria ficou à esquerda dos obuses, e à direita deveriam ficar forças do 3º Distrito Naval, que não compareceram, deixando o flanco descoberto.{{Sfn|Motta|2003|pp=70-74|loc=Tomo 6}} Tampouco intercederam pelo governador, como era o temor na Bateria que retornou de Goiana à tarde; os Fuzileiros Navais estavam no bairro do Recife e tinham armamento superior ([[Fuzil automático leve|FAL]]) aos mosquetões do Exército.{{Sfn|Motta|2003|pp=179-183|loc=Tomo 6}} Às 09:00 ou 11:00 já ocupavam a Praça.<ref name=":41" />
 
Justino, não querendo um derramamento de sangue com a PMPE, quis ainda atingir Arraes pela diplomacia. Seus enviados, Almirante Dias Fernandes (3º Distrito Naval), Cel Castilho (14º RI), Cel Bandeira e Ten Cel Ivan Ruy Andrade de Oliveira (1º/7º RO){{Sfn|Motta|2003|pp=70-74|loc=Tomo 6}} estiveram ao final da manhã, paralelamente ao cerco, negociando no Palácio. Queriam que "renunciasse às suas prerrogativas", entregasse o comando da PMPE e publicamente rejeitasse o Presidente; seria, assim, neutralizado sem custo à opinião pública. O governador não aceitou e os oficiais se retiraram.{{Sfn|CEMV Dom Helder Câmara|2017|p=31}} A presença do almirante foi surpresa, já que Arraes o considerava legalista.{{Sfn|Silva|2014a|pp=341-345}}
 
A Polícia Militar entrincheirada chegou a defrontar o Exército, com possibilidade de tiroteio, mas às 13:30 o 1º/7º RO avançou para o Palácio. Um pelotão correu à parede do palácio e a ordem foi dada aos policiais para entrar em forma para a substituição. Eles foram então mandados embora. Quando Arraes tentou sair do palácio, foi preso pelo Cel Castilho,{{Sfn|Motta|2003|pp=70-74|loc=Tomo 6}}{{Sfn|Motta|2003|pp=278-282|loc=Tomo 6}} às 16:00{{Sfn|CEMV Dom Helder Câmara|2017|p=31}} ou depois das 15:00, sendo então submetido a ''impeachment'' e substituido pelo vice-governador, Paulo Guerra.{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}}
 
Durante as negociações da manhã o comandante da PMPE, Hangho Trench, foi levado ao QG do IV Exército, onde prometeu cooperar. Quando retornou, ignorou a promessa e adotou postura legalista.{{Sfn|Motta|2003|pp=70-74|loc=Tomo 6}} Seu 2º Batalhão, porém, já se alinhou aos golpistas. Trench cortou as comunicações com o 2º Batalhão e montou uma defesa em seu quartel no [[Derby (Recife)|Derby]], cavando trincheiras no campo de esportes e bloqueando a ponte com carros e ônibus. A contrapartida veio numa ofensiva contando com quatro tanques leves; os amotinados "''abandonaram as armas e correram''". Às 14:30 o Cel Sylvio Cahú adentrou o quartel e tomou posse da PMPE. <ref name=":41" />{{Sfn|Motta|2003|p=176|loc=Tomo 6}}
 
O IV Exército fez deslocamentos da [[Paraíba]] e Alagoas, onde a situação política era mais favorável, ao interior pernambucano, controlando os acessos no interior. A 5ª Companhia de Engenharia de Construção foi de [[Campina Grande]] a Vitória e Caruaru, o 15º RI, de João Pessoa a [[Goiana]] e o Recife, e o 20º BC, de [[Maceió]] a Palmares.<ref>{{Harvnb|Motta|2003}}, pp. 181-182, Tomo 2, e pp. 180-181, Tomo 6.</ref>{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-174}} O 14º RI, 1º/7º RO 105, 7º Cia PE e Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado ocuparam as ruas do Recife e na manhã do dia 1 cercaram o [[Palácio das Princesas]], sede do governo estadual. Houve receio do confronto com a guarda da PM, mas ela não resistiu.<ref name=":41"/>{{Sfn|Motta|2003|pp=72-73|loc=Tomo 6}} O governador rejeitou o ultimato de Justino e foi deposto e preso.{{Sfn|D'Aguiar|1976|p=174}} As forças responsáveis pelo cerco abriram fogo contra uma manifestação estudantil nas redondezas, deixando dois mortos.<ref name=":41"/> Em Sergipe, o governador Seixas Dória teve o mesmo destino, sendo preso na noite do dia 1{{Sfn|Reis|2019|p=218}} ou às 05:00 da manhã seguinte por uma companhia de cerca de 120 homens do 28º BC.{{Sfn|Motta|2003|pp=254-255|loc=Tomo 6}}
Um tempo depois das 14:00 estudantes governistas em manifestação chegaram em frente ao edifício da [[Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste|Sudene]], na esquina da Avenida Conde da Boa Vista com Avenida Dantas Barreto, próximos ao Palácio. Informados por um professor português contratado por Arraes que a munição dos militares era de festim, gritavam "''Gorilas! Gorilas! Vamos soltar nosso governador!''" A munição não era de festim e antes das 16:00 dois chegaram sem vida ao Pronto-Socorro.<ref name=":41" />{{Sfn|Motta|2003|pp=70-74|loc=Tomo 6}} A Marinha dispersou um começo de greve no porto.{{Sfn|Silva|2014a|pp=341-345}} Pela cidade o Exército tinha presença ostensiva e todos os acessos estavam em seu controle.<ref name=":41" />
 
Três governadores — [[Petrônio Portella]], do [[Piauí]], [[Aluízio Alves]], do [[Rio Grande do Norte]], e [[Lomanto Júnior]], da [[Bahia]] — declararam-se a favor do governo mas foram intimidados a voltar atrás.{{Sfn|D'Aguiar|1976|pp=173-176}} No caso do Piauí, o governador recebeu à meia-noite uma comitiva do [[25º Batalhão de Caçadores|25º BC]], sendo informado das medidas de controle da cidade. A Polícia Militar foi dispersa pelos pontos sensíveis. O governador só não foi informado que com isso o Exército tinha uma companhia pronta para ocupar o quartel fracamente protegido da PM — e outra para seu [[Palácio Karnak|Palácio]]. Nove horas depois emitiu um manifesto contra o golpe, mas, ameaçado de prisão, voltou atrás. "''Vereadores, {{Sfn|Motta|2003|pp=116-119|loc=Tomo 6}} [[Virgílio Távora]], do [[Ceará]],{{Sfn|Faria|2013|p=365}} e [[Pedro Gondim]], da [[Paraíba]], foram intimidados a aderir.{{Sfn|Nunes|2011|pp=7-8}} Militares mais exaltados quiseram depor os governadores do Ceará e Bahia, mas Justino não permitiu.{{Sfn|D'Aguiar|1976|p=176}}{{Sfn|Faria|2013|p=365}}
==== Demais ações ====
 
EmO prefeito de [[PropriáNatal (Rio Grande do Norte)|Natal]], [[Djalma Maranhão]] organizou sua prefeitura como “QG da Legalidade”, o qual era apenas uma aglomeração de governistas, mas incomodou os militares, que a tomaram como ameaça de mobilização.<ref>{{citar web |ultimo=Galvão |primeiro=Mailde Pinto Ferreira |url=http://www.dhnet.org.br/verdade/rn/combatentes/mailde/livro1964/01.htm |titulo=O Golpe Militar em Natal |acessodata=24 de agosto de 2020}}</ref> Maranhão e o vice-prefeito foram presos por capitães do 2º/7º RO.{{Sfn|D'Aguiar|1976|p=175}} Na Paraíba a PM agiu em [[Rio Tinto (SEParaíba)|Rio Tinto]], onde o prefeito apoiou uma ação do sindicato e das Ligas Camponesas, ocupando a fábrica de tecidos e montando arame farpado na cidade.{{Sfn|Nunes|2011|pp=7-8}} Segundo um capitão do 28º BC, de [[Aracaju]], uma coluna do batalhão seguiu a [[Propriá]], no interior sergipano, para prender o prefeito Geraldo Sampaio Maia, irmão do deputado líder do governo na Assembleia, conduziu uma passeata com "''mais de trezentos homens armados, inclusive com metralhadoras''"; até mesmo "''ameaçavam dinamitar uma ponte nas proximidades''". No dia 2 uma tropa do 28º BC restaurou a ordem e prendeu o prefeito.{{Sfn|Motta|2003|pp=254-255|loc=Tomo 6}}
 
Na Bahia, um contingente do CPOR (do Maj Castello Branco) ocupou na noite do dia 31 a Praia da Calçada para bloquear a PM vinda da Península de Itapagipe. De manhã o 19º BC ocupou a [[Refinaria Landulpho Alves|refinaria de Mataripe]]. À tarde a bateria de artilharia de costa de Amaralina cercou a base aérea e uma reação no sindicato dos petroleiros foi dispersa.{{Sfn|Motta|2003|pp=124-125|loc=Tomo 1}} Ao fim da dominação da região, o IV Exército chegou a expedir uma ordem para as forças aquarteladas na Bahia se deslocarem ao sul, em apoio a Mourão Filho e Kruel.{{Sfn|Santos|2018|pp=45-46}}