Conferência de Genebra (1954): diferenças entre revisões

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{{Imagem dupla|direita|Pierre Mendès France 1968.jpg|135|Georges Bidault.jpg|140|O Presidente do Conselho de Ministros da França, [[Pierre Mendès France]], e o delegado francês no início da conferência, [[Georges Bidault]]}}
 
Dois novos fatores finalmente mudaram a situação e desbloquearam a conferência. Primeiro, na França, cai o [[Presidente do Conselho de Ministros]], Joseph Laniel, sendo substituído por [[Pierre Mendès France]], que, em 17 de junho de 1954, no seu primeiro discurso no parlamento, declara que, em caso de fracasso da conferência, havia o risco de uma extensão da guerra e, portanto, ele estava determinado a obter um acordo, no prazo de um mês, ou deixaria o cargo de Presidente do Conselho. <ref name=Karnow/>{{Rp| 103-104}} O segundo fator que influenciou decisivamente o curso da conferência foi a ousada e inescrupulosa ação diplomática do Primeiro-m.inistroministro chinês Zhou Enlai, que se tornou o protagonista das negociações finais em Genebra. <ref name=GB />{{Rp| 199}}
 
Zhou Enlai conseguiu inicialmente convencer os representantes vietnamitas a não apoiar as exigências do Pathet Laos e do Khmer Livre, no Laos e no Camboja, respectivamente. Depois, em 23 de junho de 1954, teve um encontro secreto com o [[Presidente do Conselho de Ministros]] da França (correspondente, na época, a [[Primeiro-ministro da França|Primeiro-ministro]]), [[Pierre Mendès France]], na embaixada da França, em [[Berna]]. Nesse encontro, informou a Mendès France que era favorável a uma trégua militar e que era contra o [[expansionismo]] do Viet Minh no Laos e - o mais importante - levantou pela primeira vez a possibilidade de uma divisão do Vietnã em dois estados separados. Em outra reunião secreta, no dia 12 de julho, Zhou Enlai, ansioso para pôr fim ao conflito, pareceu ainda mais favorável aos franceses, indicando, com expressões veladas, que o Viet Minh teria que fazer concessões.<ref name=Karnow/>{{Rp| 104-105}}
 
[[File:PhamVanDong1954.jpg|thumb|left|upright=0,7|Primeiro-ministro Viet Minh [[Phạm Văn Đồng]].]]
 
O [[Secretário de Estado dos EUA]], Foster Dulles, irritava-se muito com essa diplomacia secreta que excluía os Estados Unidos. Ele temia que a França abrisse uma brecha para o domínio comunista de toda a Indochina em poucos meses e considerou retirar a delegação norte-americana da conferência. Mas as negociações secretas prosseguiram. Mendès-France basicamente aceitou a proposta chinesa de dividir o Vietnã, enquanto que até mesmo o primeiro-ministro Viet Minh, Pham Van Dong, sob pressão dos chineses e dos soviéticos, acabou concordando com o plano de partição. O duro diplomata vietnamita, entretanto, pressionou para que a divisão fosse acordada no paralelo 13 e, acima de tudo, que fosse temporária e que dentro de seis meses fossem realizadas eleições gerais para reunificar o Vietnã. Uma eleição tão precoce resultaria, muito provavelmente, em triunfo do movimento Viet Minh.<ref name=Karnow />
 
Os franceses não puderam aceitar essas condições estabelecidas por Pham Van Dong, e a conferência pareceu mais uma vez estar a caminho do fracasso. Entretanto, Mendès-France precisava apressar as coisas, pois seu prazo de um mês para concluir as negociações estava se aproximando. A conferência teve sua rodada final na noite de 12 de julho de 1954, por iniciativa do Ministro das Relações Exteriores soviético, Vjačeslav Molotov, que presidiu oficialmente os trabalhos junto com o britânico [[Anthony Eden]]. O diplomata soviético reuniu-se, na sua residência em Genebra, com [[Zhou Enlai]], Mendès France, [[Pham Van Dong]] e Eden, excluindo Bedell Smith e o delegado de Bao Dai. A reunião teve momentos de extrema tensão, Pham Van Dong tentou fazer passar a proposta de divisão do Vietnã ao longo do paralelo 16 e a realização de eleições gerais dentro de um ano ou de dezoito meses, no máximo, enquanto Mendès-France propunha o paralelo 18 e consultas eleitorais em uma data a ser determinada posteriormente. No final, Molotov fez duas propostas de compromisso que ganharam o consenso das partes: a divisão do Vietnã seria estabelecida no [[paralelo 17]], e as eleições seriam realizadas no prazo de dois anos. <ref>Molotov ilustrou suas propostas com frases lacônicas, tais como "vamos fechar no 17" e "digamos dois anos...". ''In'': S. Karnow, ''Storia della guerra del Vietnam'', p. 105.</ref>
 
{{Imagem dupla| direita|Molotov.jpg|125|Anthony Eden visiting Canada 1954 cropped.jpg|150|O Ministro das Relações Exteriores soviético, [[Viatcheslav Molotov|Vjačeslav Micajlovič Molotov]], e seu homólogo britânico, [[Anthony Eden]].}}
 
As conclusões surpreendentes e inesperadas da conferência de Genebra permitiram a Mendès-France alcançar a paz dentro do prazo previsto no seu discurso inaugural e obter condições menos duras do que poderia esperar após a catástrofe em [[Dien Bien Phu]]. [[Pham Van Dong]] e os delegados Viet Minh, por outro lado, ficaram amargamente desapontados. Irritados com o comportamento dos chineses, eles não esconderam sua decepção com a falta de apoio das grandes potências comunistas. Para a China, a conferência de Genebra foi um grande sucesso, demonstrando sua influência e falta de escrúpulos. Zhou Enlai chegou ao ponto de afirmar, após a conclusão dos trabalhos, que esperava uma divisão permanente do Vietnã, e que a China poderia vir a reconhecer o regime sul-vietnamita liderado por Bao Dai e [[Ngô Đình Diệm]].<ref name=Karnow />{{Rp|105-106}}
 
Apesar dos entendimentos alcançados, a conferência, terminou com uma atmosfera de ressentimento e desconfiança. Do ponto de vista formal, apenas foi concluído um acordo que estabeleceu o fim do conflito militar no Vietnã, Laos e Camboja, mas não foram elaborados documentos políticos gerais que pudessem ser aprovados por todas as partes. Uma declaração foi assinada pela França e pelo [[Viet Minh]] (o governo da [[República Democrática do Vietnã]]) concordando com uma divisão temporária do Vietnã no paralelo 17 e eleições gerais a serem realizadas em julho de 1956, o que deveria consagrar a unidade do país. Na expectativa da reunificação, as forças militares francesas ainda presentes ao norte da linha divisória seriam transferidas para o sul do [[Paralelo 17 N|paralelo 17]], onde permaneceriam até as eleições, enquanto as forças do Viet Minh ativas no sul seriam deslocadas para o norte.<ref name=Karnow />{{Rp|106}}
 
Esse acordo entre a França e o Viet Minh recebeu apoio puramente verbal das outras potências presentes na conferência, que também subscreveram uma declaração na qual simplesmente observavam os entendimentos alcançados entre as partes, mas os Estados Unidos e os governos de Bao Dai e Ngo Dinh Diem não endossaram nem mesmo esse documento mínimo. O representante americano Bedell Smith apresentou uma declaração em separado em que, atendendo às diretrizes recebidas da administração [[Dwight D. Eisenhower|Eisenhower]], afirmava que os Estados Unidos temiam "uma nova agressão comunista" (com [[Teoria do dominó|efeito dominó]]), na Indochina. Por fim, o governo de [[Saigon]], que, poucos meses antes, passara a ser presidido pelo intransigente [[Ngo Dinh Diem]], rejeitou explicitamente os Acordos de Genebra, declarando que ''"uma nova guerra estava à vista no Vietnã"''. <ref name=Karnow />{{Rp|106}}