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{{Ver desambig|outros significados de Karma|Karma (desambiguação)}}
[[Ficheiro:EndlessKnot03d.png|miniaturadaimagem|O [[nó sem fim]] simboliza a [[Originação dependente|interdependência dos darmas em cossurgimento]], incluindo o [[Samsara|ciclo de renascimento]], segundo os princípios de "Método e Sabedoria", ou Compaixão (''[[Karuṇā]]'') e Sabedoria (''[[Prajna]]'').<ref>{{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/tibetjournal.41.2.29 |titulo=Significance of ‘Eight Traditional Tibetan Buddhist Auspicious Symbols /Emblems’ (bkra shis rtags brgyad) in day to day Rite and Rituals |data=2016 |acessodata=2022-07-16 |jornal=The Tibet Journal |número=2 |ultimo=Namgyal |primeiro=Tseten |paginas=29–51 |issn=0970-5368}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=-kxmEAAAQBAJ&pg=PA363&lpg=PA363&dq=%22Endless+knot%22|título=Bridging Times and Spaces: Papers in Ancient Near Eastern, Mediterranean and Armenian Studies: Honouring Gregory E. Areshian on the occasion of his sixty-fifth birthday|ultimo=Yakar|primeiro=Jak|data=2017-10-31|editora=Archaeopress Publishing Ltd|editor-sobrenome=Avetisyan, Pavel S.; Grekyan, Yervand H|lingua=en|capitulo=Probable Reasons for the Occurrence of Comparable Abstract and Figurative Designs in the Art Invetories of Different Ancient Cultures since Prehistory}}</ref>]]
{{Mais notas|data=setembro de 2021}}
'''Karma'''<ref>{{Citar web|url=https://dicionario.priberam.org/karma|titulo=Consulte o significado / definição de karma no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o dicionário online de português contemporâneo.|acessodata=2018-12-31|obra=dicionario.priberam.org|ultimo=S.A|primeiro=Priberam Informática|lingua=pt-br}}</ref> ou '''carma''' (do [[sânscrito]] कर्म, [[Transliteração|transl.]] ''karma''; {{Lang-pi|''kamma''}}) significa em sânscrito uma ação, obra ou feito, e seu efeito ou consequências.<ref>Ver:
{{Expandir2}}{{revisão-sobre|História e sociedade|data=junho de 2015}}
{{Hinduísmo}}
'''Karma'''<ref>{{Citar web|url=https://dicionario.priberam.org/karma|titulo=Consulte o significado / definição de karma no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o dicionário online de português contemporâneo.|acessodata=2018-12-31|obra=dicionario.priberam.org|ultimo=S.A|primeiro=Priberam Informática|lingua=pt-br}}</ref> ou '''carma''' (do [[sânscrito]] कर्म, [[Transliteração|transl.]] ''karma''. Em [[páli]], ''kamma''. Ambos os termos significam, literalmente, "ação")<ref>''Darmapada: a doutrina budista em versos''. Tradução de Fernando Cacciatore de Garcia. Porto Alegre, RS. L&PM Editores. 2010. p. 25.</ref> é um termo de uso religioso dentro das doutrinas [[budismo|budista]], [[Xintoísmo|xintoísta]],<ref>{{citar livro|título=Shinto: A Celebration of Life|autor=Aidan Rankin|paginas=133|lingua=en|url=https://books.google.com/books?id=rg8UWWZPxw4C&pg=PA133}}</ref> [[hinduísmo|hinduísta]], [[jainismo|jainista]], [[sikhismo|sique]] e [[teosofia|teosófica]]. Em cada uma dessas doutrinas, o termo tem um sentido próprio.
 
Encyclopædia Britannica, 11th Edition, Volume 15, New York, pp 679–680, Artigo sobre "Karma"; '''Citação:''' "Karma meaning deed or action; in addition, it also has philosophical and technical meaning, denoting a person's deeds as determining his future lot."
== Hinduísmo ==
No hinduísmo, "carma" refere-se ao efeito que nossas ações geram em nosso futuro, tanto nesta como em outras vidas, após eventuais [[Reencarnação|reencarnações]].
 
The Encyclopedia of World Religions, Robert Ellwood & Gregory Alles, <nowiki>ISBN 978-0-8160-6141-9</nowiki>, pp 253; '''Citação:''' "Karma: Sanskrit word meaning action and the consequences of action."
== Budismo ==
{{artigo principal|Carma no budismo}}
No budismo, o termo se refere às nossas intenções, que podem ser boas ou más. Boas intenções geram bons frutos, más intenções geram maus frutos. E é a intenção nossa de continuar a existir que nos levaria, após a nossa morte, a reencarnarmos em outros corpos.<ref>''Darmapada: a doutrina budista em versos''. Tradução de Fernando Cacciatore de Garcia. Porto Alegre, RS. L&PM Editores. 2010. p. 25.</ref> Considera-se que, ao gerar carma, os seres ficam presos ao ciclo de reencarnações (''[[samsara]]'') e que a última meta da prática budista é extinguir o carma e, desse modo, libertar-se do ciclo de renascimentos.
 
Hans Torwesten (1994), Vedanta: Heart of Hinduism, <nowiki>ISBN 978-0-8021-3262-8</nowiki>, Grove Press New York, pp 97; '''Citação:''' "In the Vedas the word karma (work, deed or action, and its resulting effect) referred mainly to..."</ref> Nas religiões indianas, o termo refere-se mais especificamente a um princípio de [[Causalidade|causa e efeito]], muitas vezes chamado descritivamente de '''princípio do carma''', em que a intenção e as ações de um indivíduo (causa) influenciam o futuro desse indivíduo (efeito), em retribuição [[moral]]:<ref>[https://www.britannica.com/EBchecked/topic/312474/karma "Karma"]. ''Encyclopædia Britannica''. 2012.</ref> boa intenção e boas ações contribuem para um bom carma e [[Reencarnação|renascimentos]] mais felizes, enquanto as más intenções e más ações contribuem para um mau carma e maus renascimentos.<ref name="halbfass2000">{{Citar livro|título=Karma und Wiedergeburt im indischen Denken|ultimo=Halbfass|primeiro=Wilhelm|editora=Diederichs|isbn=978-3896313850}}</ref><ref>Lawrence C. Becker & Charlotte B. Becker, Encyclopedia of Ethics, 2nd Edition, {{ISBN|0-415-93672-1}}, Hindu Ethics, pp 678</ref>
== Teosofia ==
Dentro da teosofia, o termo está ligado ao sentido de saga, do "dever a ser cumprido no SOU".
 
O conceito de carma está intimamente associado à ideia de renascimento em muitas escolas de [[religiões indianas]] (particularmente [[hinduísmo]], [[Carma (budismo)|budismo]], [[jainismo]] e [[siquismo]]),<ref name="KarmaParveshSingla">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/bub_gb_1mXR35jX-TsC|título=The Manual of Life – Karma|ultimo=Singla|primeiro=Parvesh|editora=Parvesh singla|páginas=5–7|id=GGKEY:0XFSARN29ZZ}}</ref> bem como o [[taoismo]].<ref name="evawong">Eva Wong, Taoism, Shambhala Publications, {{ISBN|978-1-59030-882-0}}, pp. 193</ref> Nessas escolas, o carma no presente afeta o futuro da pessoa na vida atual, bem como a natureza e a qualidade das vidas futuras—o ''[[Samsara|saṃsāra]]''.<ref name="jbowker">"Karma" in: John Bowker (1997), The Concise Oxford Dictionary of World Religions, Oxford University Press.</ref><ref name="jamesloch">James Lochtefeld (2002), The Illustrated Encyclopedia of Hinduism, Rosen Publishing, New York, {{ISBN|0-8239-2287-1}}, pp 351–352</ref> Conceitos semelhantes de causa e efeito em ciclos de vidas foram também desenvolvidos no ocidente, principalmente na [[filosofia grega]], no [[espiritismo]] e na [[teosofia]]. Esse conceito também foi adotado na [[cultura popular]] e espiritualidade moderna, por exemplo em ditados do senso comum de que os eventos que acontecem após as ações de uma pessoa podem ser considerados consequências naturais.
== Nova era ==
 
O termo é usado, dentro de grupos dos movimentos ''[[New Age]]'', para expressar um conjunto de ações dos homens e suas consequências no tempo.
== Definição ==
O termo ''karma'' ({{Lang-sa|कर्म|}}; {{Lang-pi|''kamma''}}) refere-se tanto à 'ação, obra, ação, ato' executado quanto ao 'objeto, intenção'.<ref name="halbfass2000" />
 
[[Wilhelm Halbfass]] (2000) explica carma (''karman'') contrastando-o com a palavra [[Sânscrito|sânscrita]] ''[[kriya]]'':<ref name="halbfass2000" /> enquanto ''kriya'' é a atividade junto com os passos e o esforço em ação, ''karma'' é (1) a ação executada como consequência dessa atividade, bem como (2) a intenção do ator por trás de uma ação executada ou de uma ação planejada (descrita por alguns estudiosos<ref>[[Julius Lipner|Lipner, Julius]] (2010). ''Hindus: Their religious beliefs and practices''. 2ª ed. Routledge. <nowiki>ISBN 978-0-415-45677-7</nowiki>. pp 261–262.</ref> como resíduo metafísico deixado no ator). Uma boa ação cria um bom carma, assim como uma boa intenção. Uma má ação cria um mau carma, assim como a má intenção.<ref name="halbfass2000" />
 
A dificuldade em chegar a uma definição de carma surge por causa da diversidade de pontos de vista entre as escolas do [[hinduísmo]]; algumas, por exemplo, consideram o [[Carma no hinduísmo|carma]] e o [[Reencarnação|renascimento]] ligados e simultaneamente essenciais, outras consideram o carma mas não o renascimento como essencial, e alguns poucos discutem e concluem que o carma e o renascimento são uma ficção defeituosa.<ref name="wkasrb">Ver:
 
Kaufman, W. R. (2005), Karma, rebirth, and the problem of evil, Philosophy East and West, pp 15–32;
 
Sharma, A. (1996), On the distinction between Karma and Rebirth in Hinduism, Asian Philosophy, 6(1), pp 29–35;
 
Bhattacharya, R. (2012), Svabhāvavāda and the Cārvāka/Lokāyata: A Historical Overview, Journal of Indian Philosophy, 40(6), pp 593–614</ref> [[Carma (budismo)|O budismo]] e [[Carma no jainismo|o jainismo]] têm seus próprios preceitos de carma. Assim, o karma não tem uma, mas várias definições e significados diferentes.<ref>Ver artigo sobre "Karma" em [[Harold Coward|Coward, Harold]] (2003). ''Encyclopedia of Science of Religion''. MacMillan Reference. <nowiki>ISBN 978-0-02-865704-2</nowiki>.</ref> É um conceito cujo significado, importância e alcance variam entre as várias tradições originárias da Índia e várias escolas em cada uma dessas tradições. [[Wendy Doniger|Wendy O'Flaherty]] afirma que, além disso, há um debate em andamento sobre se o carma é uma teoria, um modelo, um paradigma, uma metáfora ou uma postura [[metafísica]].<ref name="wdointro">Wendy D. O'Flaherty (1980), Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions, University of California Press, {{ISBN|978-0-520-03923-0}}, pp xi–xxv (Introduction)</ref>
 
=== Princípio do carma ===
Carma também se refere a um princípio conceitual que se originou na Índia, muitas vezes chamado descritivamente de ''princípio do carma'', e às vezes a ''teoria do carma'' ou a ''lei do carma''.<ref name="karlpotter">Karl Potter (1964), The Naturalistic Principle of Karma, Philosophy East and West, Vol. 14, No. 1 (Apr. 1964), pp. 39–49</ref>
 
No contexto da teoria, o carma é complexo e difícil de definir.<ref name="wdointro" /> Diferentes escolas de [[indologia]] derivam diferentes definições para o conceito de antigos textos indianos; sua definição é uma combinação de (1) causalidade que pode ser [[ética]] ou não ética; (2) eticização, ou seja, boas ou más ações têm consequências; e (3) renascimento.<ref name="wdointro" /><ref>Wendy D. O'Flaherty (1980), Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions, University of California Press, {{ISBN|978-0-520-03923-0}}, pp 3–37</ref> Outros indologistas incluem na definição aquilo que explica as circunstâncias presentes de um indivíduo com referência às suas ações no passado. Essas ações podem ser aquelas na vida atual de uma pessoa ou, em algumas escolas de tradições indianas, possivelmente ações em suas vidas passadas; além disso, as consequências podem resultar na vida atual ou na vida futura de uma pessoa.<ref name="wdointro" /><ref>Karl Potter (1980), in Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions (O'Flaherty, Editor), University of California Press, {{ISBN|978-0-520-03923-0}}, pp 241–267</ref> A lei do carma opera independentemente de qualquer divindade ou processo de julgamento divino.<ref>See:</ref>
 
==== Causalidade ====
[[Ficheiro:Karma_AS.jpg|direita|miniaturadaimagem|248x248px|Carma como ação e reação: uma representação na [[arte indiana]] de que se mostrarmos bondade, colheremos bondade.]]
Um tema comum às teorias do carma é o seu [[Causalidade|princípio de causalidade]].<ref name="karlpotter" /> Essa relação entre carma e causalidade é um motivo central em todas as escolas de pensamento [[Carma no hinduísmo|hindus]], [[Carma (budismo)|budistas]] e [[Carma no jainismo|jainistas]].<ref name="brucer">Bruce R. Reichenbach, The Law of Karma and the Principle of Causation, Philosophy East and West, Vol. 38, No. 4 (Oct. 1988), pp. 399–410</ref> Uma das primeiras associações do carma com a causalidade ocorre na ''[[Brihadaranyaka Upanishad]]'' do hinduísmo. Por exemplo, em 4.4.5-6, ele afirma:
 
{{Quote|<poem>
Agora como um homem é tal ou qual,
conforme ele age e conforme ele se comporta, assim ele será;
um homem de bons atos se tornará bom, um homem de maus atos, mau;
ele se torna puro por atos puros, mau por atos maus;
 
E aqui dizem que uma pessoa consiste em desejos,
e como é seu desejo, assim é sua vontade;
e como é sua vontade, assim é sua ação;
e toda ação que fizer, tal ele ceifará.
</poem>|autor=[[Brihadaranyaka Upanishad]], século VII a.C.<ref>[https://web.archive.org/web/20130413042723/http://berkleycenter.georgetown.edu/resources/quotes/brihadaranyaka-upanishad-4-4-5-6 Brihadaranyaka Upanishad 4.4.5–6] Berkley Center for Religion Peace & World Affairs, Georgetown University (2012)</ref><ref name=jbbu>The words "deed", "acts" above are rendered from karma; see [https://archive.today/20140107061016/https://mywebspace.wisc.edu/jrblack/web/SKT/DL/upanishads.html Brihadaranyaka] James Black, Original Sanskrit & Muller Oxford English Translations, University of Wisconsin, United States (2011)</ref>}}A teoria do carma como causação sustenta que: (1) as ações executadas por um indivíduo afetam o indivíduo e a vida que ele vive, e (2) as intenções de um indivíduo afetam o indivíduo e a vida que ele vive. Ações desinteressadas, ou ações não intencionais, não têm o mesmo efeito cármico positivo ou negativo, como ações interessadas e intencionais. No budismo, por exemplo, ações que são realizadas, ou surgem, ou se originam sem qualquer má intenção como cobiça, são consideradas não existentes em impacto cármico ou neutras em influência para o indivíduo.<ref>Anguttara-Nikaya 3.4.33, Translator: Henry Warren (1962), Buddhism in Translations, Atheneum Publications, New York, pp 216–217</ref>
Outra característica de causalidade, compartilhada pelas teorias cármicas, é que ''ações semelhantes'' levam a ''efeitos semelhantes''. Assim, o bom carma produz um bom efeito no ator, enquanto o mau carma produz um mau efeito. Esse efeito pode ser material, moral ou emocional—ou seja, o carma de uma pessoa afeta tanto a felicidade quanto a infelicidade.<ref name="brucer" /> O efeito do carma não precisa ser imediato; o efeito do carma pode ser mais tarde na vida atual e, em algumas escolas, se estende a vidas futuras.<ref>Ver:
 
James McDermott, Karma and Rebirth in Early Buddhism, in Editor: Wendy D. O'Flaherty (1980), Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions, University of California Press, <nowiki>ISBN 978-0-520-03923-0</nowiki>, pp 165–192
 
Padmanabh Jaini, Karma and the problem of rebirth in Jainism, in Editor: Wendy D. O'Flaherty (1980), Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions, University of California Press, <nowiki>ISBN 978-0-520-03923-0</nowiki>, pp 217–239
 
Ludo Rocher, Karma and Rebirth in the Dharmasastras, in Editor: Wendy D. O'Flaherty (1980), Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions, University of California Press, <nowiki>ISBN 978-0-520-03923-0</nowiki>, pp 61–89</ref>
 
A consequência ou os efeitos do carma de alguém podem ser descritos de duas formas: ''[[phala]]'' e ''[[samskara]]''. O ''phala'' (do sânscrito, {{Tradução literal|fruto' ou 'resultado}}) é o efeito visível ou invisível que é tipicamente imediato ou dentro da vida atual. Em contraste, um ''samskara'' ({{Lang-sa|संस्कार}}) é um efeito invisível, produzido dentro do ator por causa do carma, transformando o agente e afetando sua capacidade de ser feliz ou infeliz em sua vida atual e futura. A teoria do carma é frequentemente apresentada no contexto dos ''samskaras''.<ref name="brucer" /><ref>Damien Keown (1996), Karma, character, and consequentialism, The Journal of Religious Ethics, pp 329–350.</ref> Também se refere que o "fruto" é resultado de ''[[bīja]]'' (em sânscrito: "semente"): das sementes plantadas pelo comportamento e disposições do passado; nisso, segundo a ''[[Encyclopedia of Religion]]'', acadêmicos vêem a origem do conceito como vinculada a analogias agrárias e ecológicas do contexto indiano, em que se compara a vida e o ciclo de renascimentos às condições de estações, cultivo e colheitas.<ref>Mahony, William K. (1987). [https://www.encyclopedia.com/environment/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/karman-hindu-and-jain-concepts "Karman: Hindu and Jain Concepts"]. In Jones, Lindsay (ed.) (2005). ''Encyclopedia of religion'' {{en}}. [S.l.]: Macmillan Reference USA</ref>
Karl Potter (1964) e [[Harold Coward]] (1983) sugerem que o princípio cármico também pode ser entendido como um princípio de psicologia e hábito.<ref name="karlpotter" /><ref>A sugestão de Karl Potter é apoiada pelo Bhagavad-Gita, que liga a boa e a má escravidão aos bons e maus hábitos, respectivamente. Também lista vários tipos de hábitos – como o bem (sattva), a paixão (rajas) e o indiferente (tamas) – ao explicar o carma. Veja a referência de Potter citada; em outros lugares, nos Yoga Sutras, o papel do karma na criação de hábitos é explicado com ''Vāsanās'' – ver Ian Whicher, The Integrity of the Yoga Darsana: A Reconsideration of Classical Yoga, State University of New York, {{ISBN|0-7914-3816-3}}, Capítulo 3, em particular pp 102–105</ref> Carma semeia hábitos (''[[vāsanā]]''), e hábitos criam a natureza do homem. O carma também semeia a [[Teoria da autopercepção|autopercepção]], e a percepção influencia a forma como a pessoa vivencia os eventos da vida. Tanto os hábitos quanto a autopercepção afetam o curso da vida de uma pessoa. Quebrar maus hábitos não é fácil: requer esforço cármico consciente.<ref name="karlpotter" /><ref>Ian Whicher (1998), The final stages of purification in classical yoga, Asian Philosophy, 8(2), pp 85–102</ref> Assim, psique e hábito, de acordo com Potter e Coward, ligam o carma à causalidade na literatura indiana antiga.<ref name="karlpotter" /><ref>[[Harold Coward]] (1983), "Psychology and Karma", ''Philosophy East and West'' 33 (Jan): 49–60.</ref> A ideia de carma pode ser comparada à noção de 'caráter' de uma pessoa, pois ambos são uma avaliação da pessoa e determinados pelo pensamento e ação habituais dessa pessoa.<ref name="jamesloch" />
 
A sua racionalidade forneceu também explicação causal filosófica para fenômenos naturais individuais de outra maneira inexplicáveis no pensamento religioso de ordem cósmica, como moléstias do corpo e desejos inatos, conforme exemplos no ''[[Nyāya Sūtra]]'': "alegria, medo e angústia [vistos no rosto] de um recém-nascido só podem ser o resultado de memórias [inconscientes] de experiências em vidas anteriores [já que as causas de tais emoções ainda não foram experimentadas nesta vida]" e "o desejo do recém-nascido pelo leite materno surge de ter amamentado em uma vida anterior".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=atQPEAAAQBAJ&pg=PA115&lpg=PA115&dq=%22such+events+as+earthquakes+are+indicators+of+good+and+evil%22|título=Asian Religious Responses to Darwinism: Evolutionary Theories in Middle Eastern, South Asian, and East Asian Cultural Contexts|ultimo=Brown|primeiro=C. Mackenzie|data=2020-12-17|editora=Springer Nature|editor-sobrenome=Brown, C. Mackenzie|lingua=en|capitulo=Karmic Versus Organic Evolution: The Hindu Encounter with Modern Evolutionary Science}}</ref>
 
==== Eticização ====
O segundo tema comum às teorias do carma é a eticização. Isso começa com a premissa de que toda ação tem uma consequência,<ref name="jbowker" /> que se concretizará nesta vida ou em uma vida futura; assim, atos moralmente bons terão consequências positivas, enquanto atos ruins produzirão resultados negativos. A situação atual de um indivíduo é assim explicada por referência a ações em sua vida presente ou em vidas anteriores. O carma não é em si '[[Sistema de recompensa|recompensa e punição]]', mas a lei que produz consequências.<ref>Francis X. Clooney, Evil, Divine Omnipotence, and Human Freedom: Vedānta's Theology of Karma, The Journal of Religion, Vol. 69, No. 4 (Oct. 1989), pp. 530–548</ref> [[Wilhelm Halbfass]] (1998) observa que o bom carma é considerado como ''[[Darma|dharma]]'' e leva a ''[[punya]]'' ('mérito'), enquanto o mau karma é considerado ''[[Adarma|adharma]]'' e leva a ''[[Pecado|pāp]]'' ('demérito, pecado').<ref>Wilhelm Halbfass (1998), Encyclopedia of Philosophy, Routledge, London, ver artigo sobre "Karma and Rebirth (Indian Conceptions)"</ref>
 
Reichenbach (1988) sugere que as teorias do carma são uma [[Ética|teoria ética]].<ref name="brucer" /> Isso ocorre porque os antigos estudiosos da Índia ligavam intenção e ação real ao mérito, recompensa, demérito e punição. Uma teoria sem premissa ética seria uma pura [[Estrutura causal|relação causal]]; o mérito ou recompensa ou demérito ou punição seria o mesmo independentemente da intenção do ator. Na ética, as intenções, atitudes e desejos de uma pessoa são importantes na avaliação de sua ação. Onde o resultado não é intencional, a responsabilidade moral por ele é menor do ator, mesmo que a responsabilidade causal possa ser a mesma independentemente.<ref name="brucer" /> Uma teoria do carma considera não apenas a ação, mas também as intenções, atitudes e desejos do ator antes e durante a ação. O conceito de carma, portanto, encoraja cada pessoa a buscar e viver uma vida moral, bem como evitar uma vida imoral. O sentido e significância do carma são, portanto, como um bloco de construção de uma teoria ética.<ref>Ver:
 
James Hastings et al. (1915), Encyclopedia of Religion and Ethics (Hymns-Liberty), Volume VII, artigo sobre "Jainism", pp 469–471;
 
Chapple, Christopher (1975), Karma and the path of purification, in Virginia Hanson et al. (Editors) – Karma: Rhythmic Return to Harmony, <nowiki>ISBN 978-0-8356-0663-9</nowiki>. capítulo 23;
 
Krishan, Y. (1988), The Vedic origins of the doctrine of karma, South Asian Studies, 4(1), pp 51–55</ref>
 
A interpretação [[vitoriana]] via negativamente a ética da doutrina indiana do carma como [[fatalismo]] e passividade, mas essa noção é superada.<ref name=":2">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Qj3zdIeEVNIC&pg=PA84&lpg=PA84&dq=karma|título=The British Discovery of Buddhism|ultimo=Almond|primeiro=Philip C.|data=1988-08-26|editora=Cambridge University Press|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=vcWIAwAAQBAJ&pg=PA275&lpg=PA275&dq=%22unfortunately,+the+concept+of+karma+has+been+interpreted+largely+in+terms+of+fatalism%22|título=Self as Person in Asian Theory and Practice|ultimo=Ames|primeiro=Roger T.|ultimo2=Dissanayake|primeiro2=Wimal|ultimo3=Kasulis|primeiro3=Thomas P.|data=1994-01-01|editora=SUNY Press|lingua=en}}</ref> Sociologicamente, [[Max Weber]] e [[Peter Berger]] admitem suas funções estruturantes, como a de superação de [[anomia]], e ambos o enquadram como uma [[teodiceia]] racional que explica o problema do mal em um universo moralmente constituído.<ref name=":0">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=OUhmDQAAQBAJ&pg=PA86|título=Love Letters from Golok: A Tantric Couple in Modern Tibet|ultimo=Gayley|primeiro=Holly|data=2016-12-06|editora=Columbia University Press|local=Nova Iorque|páginas=86-87|lingua=en}}</ref> Max Weber afirma:<ref>Weber, Max (1958). ''[[iarchive:religionofindia.thethesociologyofhinduismandbuddhismmaxweber_202003_358_X/page/n125/mode/2up|The Religion of India. The Sociology of Hinduism and Buddhism]]''. Glencoe: The Free Press. p. 121.</ref><blockquote>"A doutrina do carma transformou o mundo em um cosmos estritamente racional e eticamente determinado; representa a teodiceia mais consistente já produzida na história".</blockquote>E, por sua vez, Peter Berger diz: "No outro polo do continuum racional-irracional das teodiceias, o mais racional, encontramos o complexo ''karma-samsara''".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=WcC-AYOq6Q4C&pg=PT79&lpg=PT79&dq=%22on+the+other+pole+of+the+rational-irrational+continuum+of+theodicies,+the+most+rational+one%22|título=The Sacred Canopy: Elements of a Sociological Theory of Religion|ultimo=Berger|primeiro=Peter L.|data=1990|editora=Anchor Books|páginas=65-67|lingua=en}}</ref>
 
Charles Keyes considera, a partir de seus estudos do budismo no Sudeste Asiático, que o conceito de carma é adotado como último recurso de explicação a infortúnios inevitáveis ou incontroláveis de outro modo. Assim, Holly Gayley indica também o papel de assumir um carma coletivo como forma de expressar remediação e centralizar a agência de uma sociedade que sofreu [[trauma cultural]], pois fornece controle interpretativo das catástrofes e evita colapso de sistemas de sentido.<ref name=":0" /><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Karma.html?id=49GVZGD8d4oC|título=Karma: An Anthropological Inquiry|ultimo=Keyes|primeiro=Charles F.|ultimo2=Daniel|primeiro2=E. Valentine|data=1983-01-01|editora=University of California Press|lingua=en}}</ref>
 
==== Renascimento ====
O terceiro tema comum das teorias do carma é o conceito de [[reencarnação]] ou o ciclo de renascimentos (''[[Samsara|saṃsāra]]'').<ref name="jbowker" />{{Sfn|Obeyesekere|2005|p=1-2, 108, 126–128}} O renascimento é um conceito fundamental do [[Reencarnação|hinduísmo]], [[Renascimento (budismo)|budismo]], jainismo e siquismo.<ref name="jamesloch" /> Renascimento, ou ''saṃsāra'', é o conceito de que todas as formas de vida passam por um ciclo de reencarnação, ou seja, uma série de nascimentos e renascimentos. Os renascimentos e a vida consequente podem estar em diferentes reinos, condições ou formas. As teorias do carma sugerem que o reino, a condição e a forma dependem da qualidade e quantidade do carma.<ref>James Lochtefeld (2002), The Illustrated Encyclopedia of Hinduism, Volume 2, Rosen Publishing, New York, {{ISBN|0-8239-2287-1}}, pp 589</ref> Nas escolas que acreditam no renascimento, a alma de cada ser vivo transmigra (recicla) após a morte, carregando as sementes dos impulsos cármicos da vida recém-concluída, para outra vida e período de carmas. Considera-se que este ciclo continua indefinidamente, exceto para aqueles que conscientemente quebram este ciclo alcançando ''[[moksha]]''.<ref name="jbowker" /><ref>[[Harold Coward]] (2003), Encyclopedia of Science of Religion, Karma</ref>
 
O conceito tem sido intensamente debatido na literatura antiga da Índia; com diferentes escolas de religiões indianas considerando a relevância do renascimento como ficção essencial, secundária ou desnecessária.<ref name="wkasrb" /> Hiriyanna (1949) sugere que o renascimento é um corolário necessário do carma;<ref>M. Hiriyana (1949), Essentials of Indian Philosophy, George Allen Unwin, London, pp 47</ref> Yamunacharya (1966) afirma que o carma é um fato, enquanto a reencarnação é uma hipótese;<ref>M Yamunacharya (1966), Karma and Rebirth, Indian Philo. Annual, 1, pp 66</ref> e Creel (1986) sugerem que carma é um conceito básico, renascimento é um conceito derivado.<ref>Austin Creel (1986), in Editor: Ronald Wesley Neufeldt, Karma and Rebirth: Post Classical Developments, State University of New York Press, {{ISBN|978-0-87395-990-2}}, Chapter 1</ref>
 
A teoria do 'carma e renascimento' levanta inúmeras questões—tais como, quando e por que o ciclo começou em primeiro lugar, qual é o mérito cármico relativo de um carma versus outro e por quê, e quais evidências existem de que o renascimento realmente acontece, entre outras. Várias escolas do hinduísmo perceberam essas dificuldades, debateram suas próprias formulações, algumas chegando ao que consideravam teorias internamente consistentes, enquanto outras escolas a modificaram e desenfatizaram, enquanto algumas escolas do hinduísmo como a dos [[charvacas]] (ou Lokayata) abandonaram a teoria do 'carma e renascimento' completamente.<ref name="halbfass2000" /><ref>Ver:
 
Wilhelm Halbfass (1998), Encyclopedia of Philosophy, Routledge, London, see article on Karma and Rebirth (Indian Conceptions)
 
Ronald Wesley Neufeldt, Karma and Rebirth: Post Classical Developments, State University of New York Press, ISBN 978-0-87395-990-2</ref><ref>A. Javadekar (1965), Karma and Rebirth, Indian Philosophical Annual, 1, 78</ref> As escolas do budismo consideram o ciclo carma-renascimento como parte integrante de suas teorias de [[soteriologia]].<ref>Damien Keown (2013), Buddhism: A very short introduction, Oxford University Press, {{ISBN|978-0-19-966383-5}}</ref><ref>Étienne Lamotte(1936), Le traité de l'acte de Vasubandhu: Karmasiddhiprakarana, in Mélanges chinois et bouddhiques 4, pp 151–288</ref>
 
=== Carma coletivo ===
Nos [[Filosofia hindu|sistemas filosóficos hindus]], o carma é individual, não é transferível e nem diluído em grupo.<ref>Potter, Karl H. (1980). [[iarchive:bub_gb_4WZTj3M71y0C/page/n285/|«The Karma Theory and Its Interpretation in Some Indian Philosophical Systems»]]. In: O'Flaherty, Wendy Doniger. ''Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions'' (em inglês). Berkeley; Los Angeles; Londres: University of California Press. Citado também em Scharf, Peter M. (2008). «Karma». In: Cush, Denise; Robison, Catherine; York, Michael. ''[https://books.google.com.br/books?id=kzPgCgAAQBAJ&pg=PA412 The Encyclopedia of Hinduism]''. Abindgon: Routledge. p. 412.</ref> Porém, na escola [[Vaisheshika]], considera-se que ações cármicas geram forças invisíveis (''[[adṛṣṭa]]'') de mérito e demérito (darma e adarma), que podem influir com efeitos sobre ocorrências físicas tal como em "carma grupal", como um comentarista chega a afirmar: "eventos como terremotos são indicadores do bem e do mal ... para os habitantes da terra".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=atQPEAAAQBAJ&pg=PA115&lpg=PA115&dq=%22such+events+as+earthquakes+are+indicators+of+good+and+evil%22|título=Asian Religious Responses to Darwinism: Evolutionary Theories in Middle Eastern, South Asian, and East Asian Cultural Contexts|ultimo=Brown|primeiro=C. Mackenzie|data=2020-12-17|editora=Springer Nature|editor-sobrenome=Brown, C. Mackenzie|lingua=en|capitulo=Karmic Versus Organic Evolution: The Hindu Encounter with Modern Evolutionary Science}}</ref><ref>Halfbass, Wilhelm (1980). [[iarchive:bub_gb_4WZTj3M71y0C/page/n307/|«Karma, ''Apūrva'' and "Natural Causes"»]]. In: O'Flaherty, Wendy Doniger. ''Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions'' (em inglês). Berkeley; Los Angeles; Londres: University of California Press.</ref>
 
No budismo, resultados cármicos são sempre dependentes do envolvimento volitivo de cada indivíduo. É possível considerar um "carma de grupo" caso os participantes sejam complícitos na volição, como em um exemplo de [[Vasubandhu]], de que quando um exército mata, todos os soldados são tão carmicamente envolvidos quanto quem ordena a matança, caso todos compartilhem a intenção; assim também, segundo [[Peter Harvey]], pode haver consequências da teoria em outros contextos, como por exemplo de alguém que apoia más decisões passadas de uma nação e que essa volição gerará resultados.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=-mZRDwAAQBAJ&pg=PA17|título=The Oxford Handbook of Buddhist Ethics|ultimo=Harvey|primeiro=Peter|data=2018-03-08|editora=Oxford University Press|editor-sobrenome=Cozort, Daniel; Shields, James Mark|lingua=en|capitulo=Karma}}</ref>
 
No [[Modernismo budista|budismo modernista]] e [[Budismo tibetano|tibetano]] há ocorrências de conceito de carma coletivo, mas não se nega responsabilidade individual.<ref name=":1">{{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/3269557 |titulo=Is There Group Karma in Theravāda Buddhism? |data=1976 |acessodata=2022-07-15 |jornal=Numen |número=1 |ultimo=Dermott |primeiro=James P. Mc |paginas=67–80 |doi=10.2307/3269557 |issn=0029-5973}}</ref><ref name=":0" /> Existem referências recentes a tipos distintos de "carma de grupo": "carma de transbordamento", "carma de família" e "carma nacional"―não, porém, sem críticas dentro do próprio budismo por outros expoentes. Há noção de "carma de transbordamento" em passagens antigas do [[budismo teravada]] que sugerem que os efeitos vão além do individual na interdependência das ações cármicas, bem como existe associação contemporânea de que as ações de piedosos ou de um governante, como nos conceitos de [[realeza budista]], trazem resultados coletivos, como o aumento de mérito de uma nação ou a expiação comunal dos delitos. Porém, segundo James P. McDermott, não havia um conceito sistemático de carma grupal no budismo inicial.<ref name=":1" /><ref name=":0" />
 
No [[Iogachara]], Vasubandhu também articula a concordância intersubjetiva de carmas para a constituição da realidade psíquica coletivamente compartilhada:<ref>{{Citar periódico |url=https://plato.stanford.edu/archives/sum2022/entrieswotruths-india/ |titulo=The Theory of Two Truths in India |data=2022 |acessodata=2022-07-15 |publicado=Metaphysics Research Lab, Stanford University |ultimo=Thakchoe |primeiro=Sonam |editor-sobrenome=Zalta |editor-nome=Edward N.}}</ref><blockquote>"O caso dos [[Preta (entidade)|pretas]] (fantasmas famintos) dão conta da concordância intersubjetiva de que, ao olharem para a água, apenas eles, não outros seres, veem rios de pus, urina, excremento, e alucinam coletivamente os demônios como os guardiões do inferno. Embora pus, urina, excrementos e os guardiões do inferno sejam inexistentes externamente, devido ao amadurecimento de seu carma coletivo, os pretas experimentam exclusivamente a série de cognições (''vijñapti''), enquanto outros seres não encontram tal experiência (''Viṃ'' 3, ''Sems tsam'' shi)."</blockquote>No [[Vaibhāṣika]], considera-se que a realização de ações dentro de um coletivo de indivíduos afeta todo o universo, o qual, por sua vez, resulta como um "carma coletivo" de todos os seres, o que é chamado de "fruto da dominância".<ref>Dhammajoti, Bhikkhu K. L. (2009). ''Sarvāstivāda Abhidharma''. Centre of Buddhist Studies, The University of Hong Kong. <nowiki>ISBN 978-988-99296-5-7</nowiki>. p. 426.</ref>
 
[[Richard Seaford]] afirma que o conceito de carma pode ter surgido na sociedade indiana através da introjeção da noção transcendente de valor monetário, e que, assim como o dinheiro, ambos são adquiridos e acumulados individualmente, em contraste com os princípios universais de Darma e ''[[Ṛta]]''. Porém, ele sugere que a ideia de carma coletivo pode também ter surgido a partir da noção de que o dinheiro também pode ser uma propriedade coletiva.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=cG_CDwAAQBAJ&pg=PA203&lpg=PA203&dq=%22also+be+collectively+owned,+and+there+eventually+occurred+the+idea+of+collective+karma%22|título=The Origins of Philosophy in Ancient Greece and India: A Historical Comparison|ultimo=Seaford|primeiro=Richard|data=2019-12-05|editora=Cambridge University Press|lingua=en}}</ref>
 
== Desenvolvimento inicial ==
[[Ficheiro:Tema_Nezahat_Gokyigit_Park_1060584_nymphaea.jpg|miniaturadaimagem|240x240px|O [[lótus]] pode representar simbolicamente o carma em muitas tradições asiáticas. Uma flor de lótus desabrochando é uma das poucas flores que simultaneamente carrega sementes dentro de si enquanto floresce. A semente é vista simbolicamente como causa; a flor, o efeito. Lótus também é considerado como uma recordação de que se pode crescer, compartilhar bom carma e permanecer imaculado mesmo em circunstâncias lamacentas.<ref>Maria I. Macioti, The Buddha Within Ourselves: Blossoms of the Lotus Sutra, Translator: Richard Maurice Capozzi, {{ISBN|978-0-7618-2189-2}}, pp 69–70</ref>]]
A palavra [[Sânscrito védico|sânscrita védica]] {{IAST|[[:wikt:कर्मन्#Sanskrit|kárman-]]}} ([[Caso nominativo|nominativo]] ''{{IAST|kárma}}'') significa 'obra' ou 'ação',<ref name="krishan">{{Citar periódico |titulo=The Vedic Origins of the Doctrine of Karma |número=1 |ultimo=Krishan |primeiro=Y. |ano=1988 |paginas=51–55 |doi=10.1080/02666030.1988.9628366 |volume=4 |journal=South Asian Studies}};
 
{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=_Bi6FWX1NOgC|título=The Doctrine of Karma: Its Origin and Development in Brāhmaṇical, Buddhist, and Jaina Traditions|ultimo=Yuvraj Krishan|editora=Bharatiya Vidya Bhavan|ano=1997|páginas=4, 12, 17–19, for context see 1–27|isbn=978-81-208-1233-8}}</ref> frequentemente usada no contexto dos rituais [[Srauta|srautas]].<ref>uma raiz-''n'' neutra, {{Lang|sa|कर्म}}  da raiz ''{{IAST|√kṛ}}'' {{Lang|sa|कृ}} "fazer, realizar, cumprir, causar, efetuar, preparar" [http://www.ibiblio.org/sripedia/ebooks/mw/0300/mw__0334.html kṛ,कृ] Monier Monier-Williams, [http://www.sanskrit-lexicon.uni-koeln.de/monier/ Monier Williams Sanskrit-English Dictionary] (1899).</ref> No ''[[Rigueveda|Rigveda]]'', a palavra ocorre cerca de 40 vezes.<ref name="krishan" /> Em ''[[Satapatha Brahmana]]'' 1.7.1.5, o ''sacrifício'' é declarado como a "maior" das obras; ''Satapatha Brahmana'' 10.1.4.1 associa o potencial de se tornar [[Imortalidade|imortal]] (''amara'') com o carma do sacrifício ''[[agnicayana]]''.<ref name="krishan" />
 
A primeira discussão clara da doutrina do carma está nas ''[[Upanixades]]''.<ref name="jbowker" /><ref name="krishan2">{{Citar periódico |titulo=The Vedic Origins of the Doctrine of Karma |número=1 |ultimo=Krishan |primeiro=Y. |ano=1988 |paginas=51–55 |doi=10.1080/02666030.1988.9628366 |volume=4 |journal=South Asian Studies}};
 
{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=_Bi6FWX1NOgC|título=The Doctrine of Karma: Its Origin and Development in Brāhmaṇical, Buddhist, and Jaina Traditions|ultimo=Yuvraj Krishan|editora=Bharatiya Vidya Bhavan|ano=1997|páginas=4, 12, 17–19, for context see 1–27|isbn=978-81-208-1233-8}}</ref> Por exemplo, causalidade e eticização são declaradas na ''[[Brihadaranyaka Upanishad|Bṛhadāraṇyaka Upaniṣad]]'' 3.2.13:{{Sfn|Mark Juergensmeyer|Wade Clark Roof|2011|p=653}}<blockquote>"Verdadeiramente, a pessoa se torna boa por meio de boas ''ações'', e má por meio de más ''ações''."</blockquote>Alguns autores<ref>Ver:
 
Y. Masih (2000) In : A Comparative Study of Religions, Motilal Banarsidass Publ : Delhi, <nowiki>ISBN 81-208-0815-0</nowiki>, p. 37. '''Citação:''' "This confirms that the doctrine of transmigration is non-aryan and was accepted by non-vedics like Ajivikism, Jainism and Buddhism. The Indo-aryans have borrowed the theory of re-birth after coming in contact with the aboriginal inhabitants of India. Certainly Jainism and non-vedics [..] accepted the doctrine of rebirth as supreme postulate or article of faith."
 
Gavin D. Flood (1996), An Introduction to Hinduism, Cambridge University Press: UK <nowiki>ISBN 0-521-43878-0</nowiki>, p. 86. '''Citação:''' "The origin and doctrine of Karma and Saṃsāra are obscure. These concepts were certainly circulating amongst sramanas, and Jainism and Buddhism developed specific and sophisticated ideas about the process of transmigration. It is very possible that the karmas and reincarnation entered the mainstream brahaminical thought from the sramana or the renouncer traditions."
 
Bimala Law (1952, Reprint 2005), The Buddhist Conception of Spirits, <nowiki>ISBN 81-206-1933-1</nowiki>, Asian Educational Services; in particular, ver capítulo II
 
Y. Krishan, The doctrine of Karma and Śraddhas, Annals of the Bhandarkar Oriental Research Institute, Vol. 66, No. 1/4 (1985), pp. 97–115</ref> afirmam que o ''[[samsara]]'' (transmigração) e a doutrina do carma podem ser não-védicos, e que as ideias podem ter se desenvolvido nas tradições "[[Shramana|shramanas]]" que precederam o [[budismo]] e o [[jainismo]]. Outros afirmam que algumas das ideias complexas da antiga teoria emergente do carma fluíram de pensadores védicos para pensadores budistas e jains.<ref name="wdointro" /><ref>Yuvraj Krishan (1985), The doctrine of Karma and Śraddhas, Annals of the Bhandarkar Oriental Research Institute, Vol. 66, No. 1/4, pages 97–115</ref> As influências mútuas entre as tradições não são claras e provavelmente foram codesenvolvidas.<ref>Wendy D. O'Flaherty (1980), Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions, University of California Press, {{ISBN|978-0-520-03923-0}}, pp xvii–xviii; '''Citação:''' "There was such constant interaction between Vedism and Buddhism in the early period that it is fruitless to attempt to sort out the earlier source of many doctrines, they lived in one another's pockets, like Picasso and Braque (who, in later years, were unable to say which of them had painted certain paintings from their earlier, shared period)."</ref>
 
Muitos debates filosóficos em torno do conceito são compartilhados pelas tradições hindu, jainista e budista, e os primeiros desenvolvimentos em cada tradição incorporaram diferentes ideias novas.<ref name="wendydonigerpxii">{{Citar livro|url=https://archive.org/details/bub_gb_4WZTj3M71y0C|título=Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions|ultimo=Wendy Doniger|editora=University of California Press|ano=1980|páginas=xii–xxiii|isbn=978-0-520-03923-0}}</ref> Por exemplo, os budistas permitiam a transferência de carma de uma pessoa para outra e ritos sraddha, mas tiveram dificuldade em defender a racionalidade.<ref name="wendydonigerpxii" /><ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/bub_gb_4WZTj3M71y0C|título=Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions|ultimo=James McDermott|editora=University of California Press|ano=1980|editor-sobrenome=Wendy Doniger|páginas=[https://archive.org/details/bub_gb_4WZTj3M71y0C/page/n188 165]–192|isbn=978-0-520-03923-0}}</ref> Em contraste, as escolas hindus e o jainismo não permitiriam a possibilidade de transferência de carma.<ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/bub_gb_4WZTj3M71y0C|título=Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions|ultimo=Padmanabh Jaini|editora=University of California Press|ano=1980|editor-sobrenome=Wendy Doniger|páginas=[https://archive.org/details/bub_gb_4WZTj3M71y0C/page/n240 217]–239|isbn=978-0-520-03923-0}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/bub_gb_4WZTj3M71y0C|título=Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions|ultimo=Ludo Rocher|editora=University of California Press|ano=1980|editor-sobrenome=Wendy Doniger|páginas=[https://archive.org/details/bub_gb_4WZTj3M71y0C/page/n86 61]–89|isbn=978-0-520-03923-0}}</ref>
 
== No hinduísmo ==
{{Artigo principal|Carma no hinduísmo}}{{Hinduísmo}}O conceito de carma no hinduísmo se desenvolveu e evoluiu ao longo dos séculos. As primeiras ''[[Upanixades]]'' começaram com as perguntas sobre como e por que o homem nasce e o que acontece após a morte. Como respostas a esta última, as primeiras teorias nesses antigos documentos sânscritos incluem ''[[Panchagni Vidya|pancagni vidya]]'' (a doutrina dos cinco fogos), ''pitryana'' (o caminho cíclico dos pais) e ''devayana'' (o caminho dos deuses que transcende o ciclo).<ref>Colebrooke, H. T. (1829), Essay on the Philosophy of the Hindus, Part V. Transactions of the Royal Asiatic Society of Great Britain and Ireland, 2(1), 1–39</ref> Aqueles que fazem rituais superficiais e buscam ganho material, afirmavam esses antigos estudiosos, viajam pelo caminho de seus pais e reciclam de volta para outra vida; aqueles que renunciam a estes, vão para a floresta e buscam o conhecimento espiritual, foram reivindicados como subindo no caminho superior dos deuses. São estes que quebram o ciclo e não renascem.<ref name="wmahony">William Mahony (1987), Karman: Hindu and Jain Concepts, in Editor: Mircea Eliade, Encyclopedia of Religion, Collier Macmillan, New York</ref> Com a composição dos Épicos – a introdução do homem comum ao [[darma]] no hinduísmo – as ideias de causalidade e elementos essenciais da teoria do carma foram sendo recitados em histórias folclóricas. Por exemplo:{{Quote|"Conforme o próprio homem semeia, ele mesmo colhe; nenhum homem herda o ato bom ou mau de outro homem. O fruto é da mesma qualidade que a ação."|[[Mahabharata]], xii.291.22<ref>E. Washburn Hopkins, Modifications of the Karma Doctrine, The Journal of the Royal Asiatic Society of Great Britain and Ireland, (Jul., 1906), pp. 581–593</ref>}}O 6º capítulo do ''[[Anushasana Parva]]'' (o Livro de Ensino), o 13º livro do ''Mahabharata'', abre com [[Yudhisthira|Yudhishthira]] perguntando a [[Bhishma]]: "O curso da vida de uma pessoa já está destinado, ou o esforço humano pode moldar a vida de alguém?"<ref>[[Christopher Chapple|Chapple, Christopher]] (1986). ''Karma and Creativity''. State University of New York Press, <nowiki>ISBN 0-88706-251-2</nowiki>. Ver capítulo 3 e apêndice 1.</ref> O futuro, responde Bhishma, é tanto uma função do esforço humano atual derivado do livre arbítrio quanto das ações humanas passadas que determinam as circunstâncias.<ref>Chapple, Christopher (1986). ''Karma and Creativity''. State University of New York Press, <nowiki>ISBN 0-88706-251-2</nowiki>. pp 60–64.</ref> Repetidamente, os capítulos do ''Mahabharata'' recitam os principais postulados da teoria do carma. Ou seja: intenção e ação (carma) têm consequências; o carma permanece e não desaparece; e, todas as experiências positivas ou negativas na vida requerem esforço e intenção.<ref>Long, J. Bruce (1980). ''The concepts of human action and rebirth in the Mahabharata''. In: Wendy D. O'Flaherty. ''Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions''. University of California Press, {{ISBN|978-0-520-03923-0}}. Capítulo 2</ref> Por exemplo:{{Quote|<poem>
"A felicidade vem devido às boas ações, o sofrimento resulta das más ações,
por ações, todas as coisas são obtidas, por inação, nada é desfrutado.
Se a ação de alguém não produzisse frutos, então tudo seria inútil,
se o mundo funcionasse apenas pelo destino, seria neutralizado."
</poem>|[[Mahabharata]]xiii.6.10 & 19<ref>Ver:
* [[Christopher Chapple|Chapple, Christopher]] (1986), Karma and creativity, State University of New York Press, {{ISBN|0-88706-251-2}};
* Manmatha Nath Dutt (1896), Vana Parva – in multivolume series: A prose English translation of the Mahabharata, Elysium Press, pp. 46-47; Para um arquivo do Google Books da Stanford University Library, ver [https://books.google.com/books?id=Wy0MAAAAIAAJ&pg=RA2-PA46#v=onepage&q=%22fruits%20of%20their%20acts%22&f=false this]
* Há um extenso debate no épico Mahabharata sobre carma, livre arbítrio e destino em diferentes capítulos e livros. Diferentes personagens do Épico tomam partido, alguns afirmam que o destino é supremo, alguns afirmam que o livre-arbítrio é. Para uma discussão, ver: [[Daniel H. H. Ingalls, Sr.|Daniel H. H. Ingalls]], Dharma and Moksa, Philosophy East and West, Vol. 7, No. 1/2 (Apr. – Jul. 1957), pp. 44–45; '''Citação''': "(...) In the Epic, free will has the upper hand. Only when a man's effort is frustrated or when he is overcome with grief does he become a predestinarian (believer in destiny)."; Quote – "This association of success with the doctrine of free will or human effort (purusakara) was felt so clearly that among the ways of bringing about a king's downfall is given the following simple advice: 'Belittle free will to him, and emphasize destiny.{{'"}} (Mahabharata 12.106.20)</ref>}}Ao longo do tempo, várias escolas do hinduísmo desenvolveram muitas definições diferentes de carma, algumas fazendo o carma parecer bastante determinista, enquanto outras abrem espaço para o livre arbítrio e a ação moral.<ref>Harold Coward (2003) Encyclopedia of Science of Religion, MacMillan Reference, see Karma</ref> Entre as seis escolas do hinduísmo mais estudadas, a teoria do carma evoluiu de diferentes maneiras, conforme seus respectivos estudiosos raciocinavam e tentavam abordar as inconsistências internas, implicações e questões da doutrina do carma. De acordo com o professor [[Wilhelm Halbfass]],<ref name="halbfass2000" />
 
* A escola [[Niaia]] do hinduísmo considera o carma e o renascimento como centrais, com alguns estudiosos niaias, como [[Udayana]], sugerindo que a doutrina do Carma implica que Deus existe.<ref>Sharma, C. (1997). ''A Critical Survey of Indian Philosophy'', Delhi: Motilal Banarsidass, {{ISBN|81-208-0365-5}}, pp. 209–10</ref>
* A escola [[Vaisheshika|Vaisesica]] não considera muito importante a doutrina do carma de vidas passadas.
* A escola [[Sânquia]] considera o carma de importância secundária (secundário a [[Prakriti|''prakrti'']]).
* A escola [[Mimāṃsā|Mimamsa]] dá um papel insignificante ao carma de vidas passadas, desconsidera o ''[[samsara]]'' e o ''[[Moksha|moksa]]''.<ref>Wilhelm Halbfass, ''The concepts of human action and rebirth in the Mahabharata'', in Wendy D. O'Flaherty (1980), Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions, University of California Press, {{ISBN|978-0-520-03923-0}}, Chapter 11</ref>
* A escola de [[Ioga (filosofia)|Ioga]] considera o carma de vidas passadas como secundário, o comportamento e a psicologia de uma pessoa na vida atual é o que tem consequências e leva a emaranhados.<ref name="wmahony2">William Mahony (1987), Karman: Hindu and Jain Concepts, in Editor: Mircea Eliade, Encyclopedia of Religion, Collier Macmillan, New York</ref>
* As escolas do [[Vedanta]] (incluindo [[Advaita Vedânta|Advaita]]) aceitam a doutrina do carma, e elas sustentam que ela não funciona em seu próprio poder, em vez disso, eles pensam que Deus ([[Ishvara|Isvara]]) é o dispensador do fruto (phala) do karma. Esta ideia é defendida nos [[Bramasutra|''Brahmasutras'']] (3.2.38).<ref>Francis X Clooney (1993), ''Theology After Vedanta: An Experiment in Comparative Theology,'' State University of New York Press, [[ISBN (identifier)|ISBN]] [[Special:BookSources/978-0791413654|978-0791413654]], pages 68-71</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Brahma Sutras (Shankara Bhashya)|url=https://www.wisdomlib.org/hinduism/book/brahma-sutras/d/doc74952.html|titulo=Chapter III, Section II, Adhikarana VIII|data=2014-03-05|acessodata=2022-05-08|website=www.wisdomlib.org|lingua=en}}</ref>
 
As escolas acima ilustram a diversidade de pontos de vista, mas não são exaustivas. Cada escola tem subescolas no hinduísmo, como a do não-dualismo e o dualismo sob o Vedanta. Além disso, existem outras escolas de filosofia indiana como [[Charvacas|Charvaca]] (ou Lokayata; os [[Materialismo|materialistas]]) que negavam a teoria do carma-renascimento, bem como a existência de Deus; para esta escola não-védica, as propriedades das coisas vêm da natureza das coisas. A [[causalidade]] emerge da interação, das ações e da natureza das coisas e das pessoas, princípios determinantes como o carma ou Deus são desnecessários.<ref>Eli Franco (1981), [http://www.sudoc.fr/041081900 Lokayata La Philosophie Dite Materialiste de l'Inde Classique], Nanterre-Paris, France</ref><ref>Franco, Eli (1998), Nyaya-Vaisesika, Routledge Encyclopedia of Philosophy, London</ref>
 
== No budismo ==
{{Artigo principal|Carma (budismo)}}{{Budismo}}
Carma e ''karmaphala'' são conceitos fundamentais no budismo,{{Sfn|Kragh|2006|p=11}}{{Sfn|Lamotte|1987|p=15}} que explicam como nossas ações intencionais nos mantêm ligados ao renascimento no ''[[samsara]]'', enquanto o caminho budista, como exemplificado no [[Nobre Caminho Óctuplo]], nos mostra a saída do ''samsara''.<ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/structuraldepths0000raju|título=Structural Depths of Indian Thought|ultimo=P. T. Raju|editora=State University of New York Press|ano=1985|páginas=[https://archive.org/details/structuraldepths0000raju/page/147 147]–151|isbn=978-0-88706-139-4}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=EIzsAgAAQBAJ|título=Japanese Buddhism|ultimo=Charles Eliot|editora=Routledge|ano=2014|páginas=39–41|isbn=978-1-317-79274-1}}</ref>
 
O ciclo de renascimento é determinado pelo carma, literalmente 'ação'.{{Sfn|Buswell|2004|p=712}}{{Nota de rodapé|nota=No budismo inicial, o renascimento é atribuído ao desejo ou à ignorância,{{sfn|Vetter|1988|p=xxi}}{{sfn|Buswell|2004|p=416}} e a teoria do carma pode ter sido de menor importância na soteriologia budista inicial.{{sfn|Matthews|1986|p=124}}{{sfn|Schmithausen|1986|p=206-207}}{{sfn|Bronkhorst|1998|p=13}}}} ''Karmaphala'' (onde ''[[phala]]'' significa 'fruto, resultado'){{Sfn|Kalupahana|1992|p=166}}{{Sfn|Keown|2000|p=36-37}}{{Sfn|Gombrich|2009|p=19}} refere-se ao 'efeito' ou 'resultado' do carma.{{Sfn|Kopf|2001|p=141}}{{Sfn|Kragh|2001|p=11}} O termo similar ''karmavipaka'' (onde ''[[vipāka]]'' significa 'amadurecimento') refere-se à 'maturação, amadurecimento' do carma.{{Sfn|Keown|2000|p=36-37}}{{Sfn|Keown|2000|p=810-813}}{{Sfn|Klostermaier|1986|p=93}}
 
Na tradição budista, ''karma'' refere-se a ações movidas por intenção (''[[cetanā]]''),{{Sfn|Bronkhorst|1998}}{{Sfn|Gethin|1998|p=119-120}}{{Sfn|Gombrich|2009|p=19}}{{Nota de rodapé|nota=Citação de Rupert Gethin: "[Karma is] a being's intentional 'actions' of body, speech, and mind—whatever is done, said, or even just thought with definite intention or volition";{{sfn|Gethin|1998|p=119}} "[a]t root karma or 'action' is considered a mental act or intention; it is an aspect of our mental life: 'It is "intention" that I call karma; having formed the intention, one performs acts (karma) by body, speech and mind.'"{{sfn|Gethin|1998|p=120}}}} uma ação feita deliberadamente por meio do corpo, fala ou mente, que leva a consequências futuras.{{Sfn|Gombrich|1997|p=55}} O ''Nibbedhika Sutta'', [[Anguttara Nikaya]] 6.63:
 
{{Quote|"Intenção (''[[cetana]]''), eu vos digo, é kamma. Intencionando, realiza-se kamma por meio do corpo, fala e intelecto.<ref>Thanissaro Bhikkhu, trans. (1997). [https://web.archive.org/web/20140813042845/http://www.accesstoinsight.org/tipitaka/an/an06/an06.063.than.html Nibbedhika Sutta: Penetrative], AN 6.63, PTS: A iii 410</ref>{{Nota de rodapé|nota=Existem muitas traduções diferentes da citação acima para o inglês. Por exemplo, Peter Harvey traduz a citação da seguinte forma: "It is will (''cetana''), O monks, that I call karma; having willed, one acts through body, speech, and mind." (A.III.415).{{sfn|Harvey|1990|pp=39–40}}}}}}Como essas ações intencionais levam ao renascimento, e como a ideia de renascimento deve ser reconciliada com as doutrinas da [[Anicca|impermanência]] e do [[Anatta|não-eu]],{{Sfn|Dargyay|1986|p=170}}{{Nota de rodapé|nota=Citação de Dargray: "When [the Buddhist] understanding of karma is correlated to the Buddhist doctrine of universal impermanence and No-Self, a serious problem arises as to where this trace is stored and what the trace left is. The problem is aggravated when the trace remains latent over a long period, perhaps over a period of many existences. The crucial problem presented to all schools of Buddhist philosophy was where the trace is stored and how it can remain in the ever-changing stream of phenomena which build up the individual and what the nature of this trace is."{{sfn|Dargyay|1986|p=170}}}} é uma questão de investigação filosófica nas tradições budistas, para as quais várias soluções foram propostos.{{Sfn|Buswell|2004|p=712}} No [[budismo inicial]], nenhuma teoria explícita de renascimento e carma é elaborada,{{Sfn|Matthews|1986|p=124}} e "a doutrina do carma pode ter sido incidental à soteriologia budista inicial".{{Sfn|Schmithausen|1986|p=206-207}}{{Sfn|Bronkhorst|1998|p=13}} No budismo inicial, o renascimento é atribuído ao desejo ou à ignorância.{{Sfn|Vetter|1988|p=xxi}}{{Sfn|Buswell|2004|p=416}} O ensinamento do Buda sobre o carma não é estritamente determinista, mas incorpora fatores circunstanciais, ao contrário dos jainistas.{{Sfn|Kalupahana|1975|p=127}}{{Sfn|Bhikkhu Thanissaro|2010|pp=47–48}}{{Nota de rodapé|nota=Citação de [[Thanissaro Bhikkhu]]: "Unlike the theory of [[causality|linear causality]] — which led the [[Vedas|Vedists]] and [[Jainism|Jains]] to see the relationship between an act and its result as predictable and tit-for-tat — the principle of ''[[Idappaccayatā|this/that conditionality]]'' makes that relationship inherently complex. The results of kamma ("kamma" is the Pali spelling for the word "karma") experienced at any one point in time come not only from past kamma, but also from present kamma. This means that, although there are general patterns relating habitual acts to corresponding results [MN 135], there is no set one-for-one, tit-for-tat, relationship between a particular action and its results. Instead, the results are determined by the context of the act, both in terms of actions that preceded or followed it [MN 136] and in terms one's state of mind at the time of acting or experiencing the result [AN 3:99]. [...] The feedback loops inherent in ''this/that conditionality'' mean that the working out of any particular cause-effect relationship can be very complex indeed. This explains why the Buddha says in AN 4:77 that the results of kamma are [[Acinteyya|imponderable]]. Only a person who has developed the mental range of a Buddha—another imponderable itself—would be able to trace the intricacies of the kammic network. The basic premise of kamma is simple—that skillful intentions lead to favorable results, and unskillful ones to unfavorable results—but the process by which those results work themselves out is so intricate that it cannot be fully mapped. We can compare this with the [[Mandelbrot set]], a mathematical set generated by a simple equation, but whose graph is so complex that it will probably never be completely explored."{{sfn|Bhikkhu Thanissaro|2010|pp=47–48}}}} Não é um processo rígido e mecânico, mas um processo flexível, fluido e dinâmico.{{Sfn|Harvey|1990|p=42}} Não existe uma relação linear definida entre uma determinada ação e seus resultados.{{Sfn|Bhikkhu Thanissaro|2010|pp=47–48}} O efeito cármico de um ato não é determinado apenas pelo ato em si, mas também pela natureza da pessoa que o comete e pelas circunstâncias em que é cometido.{{Sfn|Kalupahana|1975|p=131}}{{Sfn|Bhikkhu Thanissaro|2010|pp=47–48}} ''Karmaphala'' não é um "julgamento" imposto por um Deus, deidade ou outro ser sobrenatural que controla os assuntos do Cosmos. Em vez disso, ''karmaphala'' é o resultado de um processo natural de causa e efeito.{{Nota de rodapé|nota=Citação de [[Khandro Rinpoche]]: "Buddhism is a nontheistic philosophy. We do not believe in a creator but in the causes and conditions that create certain circumstances that then come to fruition. This is called karma. It has nothing to do with judgement; there is no one keeping track of our karma and sending us up above or down below. Karma is simply the ''wholeness'' of a cause, or first action, and its effect, or fruition, which then becomes another cause. In fact, one karmic cause can have many fruitions, all of which can cause thousands more creations. Just as a handful of seed can ripen into a full field of grain, a small amount of karma can generate limitless effects."{{sfn|Khandro Rinpoche|2003|p=95}}}} Dentro do budismo, a real importância da doutrina do carma e seus frutos reside no reconhecimento da urgência de interromper todo o processo.{{Sfn|Gombrich|2009|p=21-22}}{{Sfn|Vetter|1988|p=79-80}} O ''Acintita Sutta'' adverte que "os resultados de kamma" é um dos quatro assuntos incompreensíveis (ou ''[[Acineyya|acinteyya]]''),{{Sfn|Buswell|Lopez Jr.|2013|p=14}}<ref name="Acintita">[http://www.accesstoinsight.org/tipitaka/an/an04/an04.077.than.html accesstoinsight, ''Acintita Sutta: Unconjecturable'', Anguttara Nikaya 4.77]</ref> assuntos que estão além de toda conceituação{{Sfn|Buswell|Lopez Jr.|2013|p=14}} e não podem ser entendidos com pensamento lógico ou razão.{{Nota de rodapé|nota=Dasgupta explica que, na filosofia indiana, acintya é "aquilo que deve ser inevitavelmente aceito para explicar os fatos, mas que não suporta o escrutínio da lógica".{{sfn|Dasgupta|1991|p=16}} Ver também o ''[[Aggi-Vacchagotta Sutta]]'' "Discurso a Vatsagotra sobre o [Simile do] Fogo," Majjhima Nikaya 72,{{sfn|Buswell|Lopez Jr.|2013|p=852}}<ref name="MN72">:[http://www.access to insight.org/tipitaka/mn/mn.072.than.html accesstoinsight, ''Aggi-Vacchagotta Sutta: To Vacchagotta on Fire'', translated by Thanissaro Bhikkhu]{{Dead link|date=March 2021 |bot=InternetArchiveBot |fix-attempted=yes }}</ref> no qual o Buda é questionado por Vatsagotra sobre as "dez questões indeterminadas",{{sfn|Buswell|Lopez Jr.|2013|p=852}} e o Buda explica que um [[Tathagata]] é como um fogo que foi extinto, e que é "profundo, ilimitado, difícil de sondar, como o mar".<ref>[http://www.accesstoinsight.org/tipitaka/mn/mn.072.than.html accesstoinsight, ''Aggi-Vacchagotta Sutta: To Vacchagotta on Fire'', translated by Thanissaro Bhikkhu]</ref>}}
 
O [[Budismo de Nitiren|budismo de Nitiren Daishonin]] ensina que a transformação e a mudança por meio da fé e da prática transformam o carma adverso—causas negativas feitas no passado que resultam em resultados negativos no presente e no futuro—em causas positivas para benefícios no futuro.<ref>{{Citar livro|título=Chanting in the Hillsides|ultimo=Fowler|primeiro=Jeaneane and Merv|data=2009}}</ref>
 
== No jainismo ==
[[Ficheiro:Thirthankara_Suparshvanath_Museum_Rietberg_RVI_306.jpg|miniaturadaimagem|[[Srivatsa|Shrivatsa]] ou o nó cármico representado no peito do [[Tirtancara|Tirthankara]].]]
[[Ficheiro:Types_of_Karma.JPG|miniaturadaimagem|[[Tipos de carmas (jainismo)|Tipos de ''Karmas'']] de acordo com a filosofia jainista]]
No [[jainismo]], o carma transmite um significado totalmente diferente daquele comumente entendido na [[filosofia hindu]] e na civilização ocidental.<ref name="autogenerated1">Hermann Kuhn, Karma, the Mechanism, 2004</ref> A [[filosofia jainista]] é uma das mais antigas filosofias indianas que separa completamente o corpo (matéria) da alma (consciência pura).<ref>{{Citar enciclopédia|url=https://www.britannica.com/topic/dravya|titulo=dravya—Jainism|enciclopédia=Encyclopædia Britannica}}</ref> No jainismo, o carma é referido como sujeira cármica, pois consiste em partículas muito sutis de matéria que permeiam todo o universo.<ref>Acharya Umasvati, Tattvartha Sutra, Ch VIII, Sutra 24</ref> Os carmas são atraídos para o campo cármico de uma alma devido às vibrações criadas pelas atividades da mente, fala e corpo, bem como várias disposições mentais. Portanto, os carmas são a [[Corpo sutil|matéria sutil]] que envolve a [[consciência]] de uma alma. Quando esses dois componentes (consciência e carma) interagem, experimenta-se a vida que conhecemos no presente. Os [[Literatura jainista|textos jainistas]] expõem que sete ''[[Tattva (jainismo)|tattvas]]'' (verdades ou fundamentos) constituem a realidade. São eles:<ref>{{Citar livro|url=https://archive.org/details/Reality_JMT|título=Reality|ultimo=Pujyapada|primeiro=Acharya|data=1992|editora=Jwalamalini Trust|tradutor=S. A. Jain}} {{Acesso aberto}}</ref>
 
# ''Jīva'': a alma que é caracterizada pela consciência
# ''Ajīva'': a não-alma
# ''Āsrava'': influxo de matéria cármica auspiciosa e má na alma.
# ''Bandha'' (escravidão): mistura mútua da alma e carmas.
# ''Samvara'' (parada): obstrução do influxo de matéria cármica na alma.
# ''Nirjara'' (dissociação gradual): separação ou queda de parte da matéria cármica da alma.
# ''Mokṣha'' (libertação): aniquilação completa de toda a matéria cármica (ligada a qualquer alma em particular).
 
De acordo com [[Padmanabh Jaini]],<blockquote>"Essa ênfase em colher os frutos apenas do próprio carma não se restringia aos jainas; escritores hindus e budistas produziram materiais doutrinários enfatizando o mesmo ponto. Cada uma das últimas tradições, no entanto, desenvolveu práticas em contradição básica com tal crença. Além de ''shrardha'' (as oferendas rituais hindus feitas pelo filho do falecido), encontramos entre os hindus uma ampla adesão à noção de intervenção divina no destino, enquanto os budistas acabaram propondo teorias como bodisatvas que concedem bênçãos, transferência de mérito e afins. Apenas os jainistas foram absolutamente relutantes em permitir que tais ideias penetrassem em sua comunidade, apesar do fato de que deve ter havido uma tremenda pressão social sobre eles para fazê-lo."<ref>{{Citar enciclopédia|publicado=Motilal Banarsidass Publishers|ano=2000|editor-sobrenome=Jaini, Padmanabh|local=Delhi|paginas=137|enciclopédia=Collected papers on Jaina studies|edição=1st}}</ref></blockquote>A relação entre a alma e o carma, afirma Padmanabh Jaini, pode ser explicada com a analogia do ouro. Como o ouro é sempre encontrado misturado com impurezas em seu estado original, o jainismo sustenta que a alma não é pura em sua origem, mas é sempre impura e contaminada como o ouro natural. Pode-se exercer esforço e purificar o ouro, da mesma forma, o jainismo afirma que a alma contaminada pode ser purificada pela metodologia de refinamento adequada.{{Sfn|Jaini|1998|p=107}} O carma contamina ainda mais a alma ou a refina para um estado mais limpo, e isso afeta os renascimentos futuros.{{Sfn|Jaini|1998|pp=107–115}} Carma é, portanto, uma [[Quatro causas|causa eficiente]] (''[[Diana (religião)|nimitta]]'') na filosofia jainista, mas não a [[Quatro causas|causa material]] (''[[Upādāna|upadana]]''). Acredita-se que a alma seja a causa material.{{Sfn|Jaini|1998|pp=117–118}}
 
Os pontos-chave da teoria do carma no jainismo podem ser declarados da seguinte forma:
 
* O carma opera como um mecanismo autossustentável como lei universal natural, sem a necessidade de uma entidade externa para gerenciá-los. (ausência de '[[Deidade|entidade divina]]' exógena no jainismo).{{Carece de fontes|data=julho de 2022}}
* O jainismo defende que uma alma atrai matéria ''cármica'' mesmo com os pensamentos, e não apenas com as ações. Assim, até mesmo pensar mal de alguém seria suportar um ''karma-bandha'' ou um incremento no mau carma. Por esta razão, o jainismo enfatiza o desenvolvimento de [[Ratnatraya]] (As Três Joias): ''samyak darśana'' ('Fé Correta'), ''samyak jnāna'' ('Conhecimento Correto') e ''samyak charitra'' ('Conduta Correta').{{Carece de fontes|data=julho de 2022}}
* Na teologia jainista, uma alma é liberada dos assuntos mundanos assim que é capaz de se emancipar do ''karma-bandha''.<ref name="FN2M">{{Citar enciclopédia|titulo=From Nigoda to Moksa: The Story of Marudevi|publicado=Asian Humanities Press (an imprint of Jain Publishing Company)|autor=Jaini, Padmanabh S.|ano=2003|editor-sobrenome=Qvarnström, Olle|local=Fremont CA|paginas=1–28|enciclopédia=Jainism and Early Buddhism: Essays in Honor of Padmanabh S. Jaini|volume=I}}</ref> No jainismo, ''nirvana'' e ''moksha'' são usados de forma intercambiável. ''Nirvana'' representa a aniquilação de todos os carmas por uma alma individual e ''moksha'' representa o estado de bem-aventurança perfeito (livre de toda escravidão). Na presença de um ''[[Tirtancara|Tirthankara]]'', uma alma pode atingir ''[[Kevala Jnana]]'' ('onisciência') e subsequentemente o nirvana, sem qualquer necessidade de intervenção do Tirthankara.<ref name="FN2M" />
* A teoria cármica no jainismo opera endogenamente. Mesmo os próprios ''Tirthankaras'' têm que passar pelos estágios de emancipação, para atingir esse estado.{{Carece de fontes|data=julho de 2022}}
* O jainismo trata todas as almas igualmente, na medida em que defende que todas as almas têm o mesmo potencial de atingir o nirvana. Somente aqueles que se esforçam realmente o alcançam, mas, no entanto, cada alma é capaz de fazê-lo por si mesma, reduzindo gradualmente seu carma.<ref>Sancheti Asoo Lal, Bhandari Manak Mal, ''First Steps to Jainism (Part Two): Doctrine of Karma, Doctrine of Anekant and Other Articles with Appendices'', Catalogued by [[Library of Congress|Library of U.S. Congress]], Washington, Card No. 90-232383</ref>
 
=== Oito Carmas ===
Existem oito tipos de Carma que ligam uma alma ao Samsar (o ciclo de nascimento e morte):<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=JDPjCwAAQBAJ&q=eight+karmas+in+jainism&pg=PT109|título=The Soul of Jainism: Philosophy and Teachings of Jain Religion|ultimo=Shiv Sharma|primeiro=Dr|data=30 March 2016|isbn=9788128813436}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=HPggiM7y1aYC&q=eight+karmas+in+jainism|título=Collected Papers on Jaina Studies|ultimo=Jaini|primeiro=Padmanabh S.|ano=2000|isbn=9788120816916}}</ref>
 
# ''Gyanavarniya'' (obstrutivo do conhecimento): como um véu impede que um rosto e seus traços sejam vistos, esse carma impede a alma de conhecer um objeto junto com detalhes sobre esse objeto. Esse carma impede a alma de perceber sua qualidade essencial de conhecimento. Na sua ausência, uma alma é onisciente. Existem cinco subtipos de carmas ''gyanavarniya'' que impedem os cinco tipos de conhecimento: ''mati gyan'' (conhecimento sensorial), ''shrut gyan'' (conhecimento articulado), ''avadhi gyan'' ([[clarividência]]), ''mana paryay gyan'' ([[telepatia]]) e ''keval gyan'' ([[onisciência]]).
# ''Darshanavarniya'' (obstrutivo da percepção): como um porteiro impede a visão do rei, esse carma impede que um objeto seja percebido, escondendo-o. Esse carma impede a alma de perceber sua qualidade essencial de percepção. Na sua ausência, uma alma percebe completamente todas as substâncias do universo. Existem nove subtipos deste carma. Quatro deles impedem os quatro tipos de percepção; percepção visual, percepção não-visual, percepção clarividente e percepção onisciente. Os outros cinco subtipos de escravidão do carma darshanavarniya induzem cinco tipos de sono causando redução na consciência: sono leve, sono profundo, sonolência, sonolência pesada e sonambulismo.
# ''Vedaniya'' (produtor de sensações): como lamber o mel de uma espada dá um sabor doce, mas corta a língua, esse carma faz a alma experimentar prazer e dor. A bem-aventurança da alma é continuamente perturbada por experiências de prazer e dor sensual externa. Na ausência do carma vedaniya, a alma experimenta bem-aventurança imperturbável. Existem dois subtipos deste carma; produtor de prazer e produtor de dor.
# ''Mohniya'' (ilusório): como uma abelha se apaixona pelo cheiro de uma flor e é atraída por ela, esse carma atrai a alma para os objetos que considera favoráveis, enquanto a repele dos objetos que considera desfavoráveis. Cria uma ilusão na alma de que objetos externos podem afetá-la. Este carma obstrui a qualidade essencial da felicidade da alma e impede que a alma encontre a felicidade pura em si mesma.
# ''Ayu'' (determinação do tempo de vida): como um prisioneiro permanece preso por correntes de ferro (em torno de suas pernas, mãos, etc.), esse carma mantém uma alma presa em uma determinada vida (ou nascimento).
# ''Naam'' (produtor de corpos): como um pintor cria vários quadros e lhes dá vários nomes, esse carma dá às almas vários tipos de corpos (que são classificados com base em vários atributos). É o ''naamkarma'' que determina o corpo do organismo vivo no qual a alma deve entrar.
# ''Gotra'' ([[Gotra|determinante de status]]): como um oleiro faz vasos curtos e altos, esse carma confere um status baixo ou alto (social) ao corpo da alma. Cria desigualdades sociais e, na sua ausência, todas as almas são iguais. Existem dois subtipos de carma gotra: status alto e status baixo.
# ''Antaray'' (obstrutivo do poder): como um tesoureiro impede um rei de gastar sua riqueza, esse carma impede a alma de usar seu poder inato para atos de caridade, lucro, prazer, satisfação repetida e força de vontade. Ele obstrui e impede que a qualidade essencial do poder infinito da alma se manifeste. Na sua ausência, uma alma tem poder infinito.
 
== Recepção em outras tradições ==
 
=== Siquismo ===
No [[siquismo]], todos os seres vivos são descritos como estando sob a influência das três qualidades de ''[[Maiá|maya]]''. Sempre presentes juntas em diferentes misturas e graus, essas três qualidades de ''maya'' ligam a alma ao corpo e ao plano terrestre. Acima dessas três qualidades está o tempo eterno. Devido à influência de três modos da natureza de ''maya'', os ''[[Jiva|jivas]]'' (seres individuais) realizam atividades sob o controle e alcance do tempo eterno. Essas atividades são chamadas de ''karma'', em que o princípio subjacente é que o carma é a lei que traz de volta os resultados das ações para a pessoa que as executa.{{Carece de fontes|data=julho de 2022}}
 
Esta vida é comparada a um campo no qual nosso carma é a semente. Colhe-se exatamente o que se planta; nem menos, nem mais. Essa lei infalível do carma responsabiliza todos pelo que a pessoa é ou será. Com base na soma total do carma passado, alguns se sentem próximos do Ser Puro nesta vida e outros se sentem separados. Esta é a lei do carma em [[Gurbani]] ([[Guru Granth Sahib|Sri Guru Granth Sahib]]). Como outras escolas de pensamento indianas e orientais, o Gurbani também aceita as doutrinas do carma e da reencarnação como fatos da natureza.<ref>{{Citar web|url=http://www.gurbani.org/webart40.htm|titulo=Gurbani.org|acessodata=5 October 2008|arquivourl=https://web.archive.org/web/20070129135407/http://www.gurbani.org/webart40.htm|arquivodata=29 January 2007|urlmorta=dead}}</ref>
 
=== Taoismo ===
{{Taoismo}}
Carma é um conceito importante no [[taoismo]]. Cada ação é rastreada por divindades e espíritos. Recompensas ou retribuições apropriadas seguem o carma, assim como uma sombra segue uma pessoa.<ref name="evawong" />
 
A doutrina do carma do taoismo desenvolveu-se em três estágios.<ref name="lkohn">Livia Kohn (1998), [http://www.languages.ufl.edu/EMC/subscribers/vol4/vol4kohn.pdf Steal holy food and come back as a Viper – Conceptions of Karma and Rebirth in Medieval Daoism] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20140109063052/http://www.languages.ufl.edu/EMC/subscribers/vol4/vol4kohn.pdf|date=9 January 2014}}, Early Medieval China, 4, pp 1–48</ref> No primeiro estágio, adotou-se a causalidade entre ações e consequências, com seres sobrenaturais acompanhando o carma de todos e atribuindo o destino (''ming''). Na segunda fase, a transferibilidade das ideias de carma do budismo chinês foi expandida e foi introduzida uma transferência ou herança do destino cármico dos ancestrais para a vida atual. No terceiro estágio do desenvolvimento da doutrina do carma, foram adicionadas ideias de renascimento baseadas no carma. Pode-se renascer como outro ser humano ou outro animal, de acordo com essa crença. Na terceira etapa, foram introduzidas ideias adicionais; por exemplo, rituais, arrependimento e oferendas nos templos taoistas eram encorajados, pois poderiam aliviar o fardo cármico.<ref name="lkohn" /><ref>Erik Zurcher (1980), Buddhist influence on early Taoism, T'oung Pao, Vol. 66, pp 84–147</ref>
 
=== Xintoísmo ===
Interpretado como ''[[musubi]]'', uma visão do carma é reconhecida no [[xintoísmo]] como um meio de enriquecimento, empoderamento e afirmação da vida.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=rg8UWWZPxw4C&pg=PA133|título=Shinto: A Celebration of Life|ultimo=Aidan Rankin|data=3 February 2011|páginas=133|isbn=978-1-84694-438-3}}</ref>
 
== Discussões ==
 
=== Livre arbítrio e destino ===
Uma das controvérsias significativas com a doutrina do carma é se ela sempre implica [[destino]] e suas implicações no [[livre arbítrio]]. Essa controvérsia também é chamada de problema da [[agência moral]];<ref name="wrkaufman">Kaufman, W. R. (2005), Karma, rebirth, and the problem of evil, Philosophy East and West, pp 15–32</ref> a controvérsia não é exclusiva da doutrina do carma, mas também encontrada de alguma forma nas religiões monoteístas.<ref>[Moral responsibility] Stanford Encyclopedia of Philosophy, Stanford University (2009); Quote – "Can a person be morally responsible for her behavior if that behavior can be explained solely by reference to physical states of the universe and the laws governing changes in those physical states, or solely by reference to the existence of a sovereign God who guides the world along a divinely ordained path?"</ref>
 
A controvérsia do livre arbítrio pode ser esboçada em três partes:<ref name="wrkaufman" />
 
# Uma pessoa que mata, estupra ou comete qualquer outro ato injusto, poderia alegar que todas as suas más ações foram um produto de seu carma: ele é desprovido de livre arbítrio, não pode fazer uma escolha, sendo um agente do carma que simplesmente entrega as punições necessárias que suas vítimas "perversas" mereciam por seu próprio carma em vidas passadas? Os crimes e ações injustas são devidos ao livre arbítrio ou por forças do carma?
# Uma pessoa que sofre a morte não natural de um ente querido, ou estupro ou qualquer outro ato injusto, assume que um agente moral é responsável, que o dano é gratuito e, portanto, busca a justiça? Ou deve-se culpar a si mesmo pelo mau carma de vidas passadas e presumir que o sofrimento injusto é destino?
# A doutrina do carma mina o incentivo para a educação moral—porque todo sofrimento é merecido e consequência de vidas passadas, por que aprender alguma coisa quando o balanço do carma de vidas passadas determinará as ações e sofrimentos de alguém?<ref>Herman, Arthur (1976), The Problem of Evil in Indian Thought, Delhi: Motilal Banarsidas</ref>
 
As explicações e respostas ao problema do livre-arbítrio acima variam de acordo com a escola específica do hinduísmo, budismo e jainismo. As escolas do hinduísmo, como [[Ioga (filosofia)|Ioga]] e [[Advaita Vedânta|Advaita Vedanta]], que enfatizam a vida atual sobre a dinâmica do resíduo de carma movendo-se através de vidas passadas, permitem o livre arbítrio.<ref>Harold Coward (2003) Encyclopedia of Science of Religion, Macmillan Reference, see Karma</ref> Seu argumento, assim como o de outras escolas, é triplo:
 
# A teoria do carma inclui tanto a ação quanto a intenção por trás dessa ação. Não só a pessoa é afetada pelo carma passado, como cria um novo carma sempre que se age com intenção – boa ou má. Se a intenção e o ato puderem ser comprovados além de qualquer dúvida razoável, um novo carma pode ser comprovado e o processo de justiça pode prosseguir contra esse novo carma. O ator que mata, estupra ou comete qualquer outro ato injusto, deve ser considerado como o agente moral desse novo carma, e julgado.
# As formas de vida não apenas recebem e colhem a consequência de seu carma passado, mas juntas elas são os meios para iniciar, avaliar, julgar, dar e entregar a consequência do carma aos outros.
# Carma é uma teoria que explica alguns males, não todos (cf. [[mal moral]] versus [[mal natural]]).<ref>Reichenbach, Bruce (1990), The Law of Karma, University of Hawai'i Press, Honolulu, {{ISBN|978-0-333-53559-2}}</ref><ref name="mdeb">Matthew Dasti and Edwin Bryant (2013), Free Will, Agency, and Selfhood in Indian Philosophy, Oxford University Press, {{ISBN|978-0-19-992275-8}}</ref>
 
Outras escolas do hinduísmo, assim como o budismo e o jainismo que consideram o ciclo de renascimentos centrais para suas crenças e que o carma de vidas passadas afeta o presente, acreditam que tanto o livre arbítrio (''[[cetanā]]'') quanto o carma podem coexistir; no entanto, suas respostas não persuadiram todos os estudiosos.<ref name="wrkaufman" /><ref name="mdeb2">Matthew Dasti and Edwin Bryant (2013), Free Will, Agency, and Selfhood in Indian Philosophy, Oxford University Press, {{ISBN|978-0-19-992275-8}}</ref>
 
=== Indeterminação psicológica ===
Outro problema com a teoria do carma é que ele é psicologicamente indeterminado, sugere Obeyesekere (1968).<ref name="goerl">G. Obeyesekere (1968), Theodicy, sin and salvation in a sociology of Buddhism, Practical religion, Editor: E.R. Leach, Cambridge University Press</ref> Isto é, se ninguém pode saber qual foi seu carma em vidas anteriores, e se o carma de vidas passadas pode determinar o futuro de alguém, então não é psicologicamente claro ao indivíduo o que ele ou ela pode fazer agora para moldar o futuro, ser mais feliz ou reduzir o sofrimento. Se algo der errado, como doença ou fracasso no trabalho, não está claro a ele se o carma de vidas passadas foi a causa, ou se a doença foi causada por uma infecção curável e a falha foi causada por algo corrigível.<ref name="goerl" />
 
Esse problema de indeterminação psicológica também não é exclusivo da teoria do carma; encontra-se em todas as religiões que adotam a premissa de que Deus tem um plano, ou de alguma forma influencia os eventos humanos. Assim como no problema do carma e do livre-arbítrio acima, as escolas que insistem na primazia dos renascimentos enfrentam as maiores controvérsias. Suas respostas para a questão da indeterminação psicológica são as mesmas que para abordar o problema do livre-arbítrio.<ref name="mdeb2" />
 
=== Transferibilidade ===
Algumas escolas de religiões asiáticas, particularmente o [[budismo]] popular, permitem a transferência de mérito e demérito do carma de uma pessoa para outra. Essa transferência é uma troca de qualidade não física, assim como uma troca de bens físicos entre dois seres humanos. A prática da transferência de carma, ou mesmo sua possibilidade, é controversa. A transferência de carma levanta questões semelhantes às da [[Expiação (visão substitucionária)|expiação substitutiva]] e da punição vicária. Ele derrota os fundamentos éticos e dissocia a causalidade e a eticização na teoria do carma do agente moral. Os proponentes de algumas escolas budistas sugerem que o conceito de transferência de mérito de carma encoraja a doação religiosa, e que tais transferências não são um mecanismo para transferir carma ruim (ou seja, demérito) de uma pessoa para outra.<ref>Ronald Wesley Neufeldt, Karma and Rebirth: Post Classical Developments, State University of New York Press, {{ISBN|978-0-87395-990-2}}</ref><ref>Ver: Keyes, Charles (1983), "Merit-Transference in the Kammic Theory of Popular Theravada Buddhism". In: Keyes, Charles; Daniel, Valentine. ''Karma''. Berkeley: University of California Press; e Woodward, F. L. (1914). "The Buddhist Doctrine of Reversible Merit". ''The Buddhist Review''. '''6'''. pp 38–50</ref>
 
No hinduísmo, os ritos de Sraddha durante os funerais foram rotulados como cerimônias de transferência de mérito de carma por alguns estudiosos, uma afirmação contestada por outros.<ref>Ronald Wesley Neufeldt, Karma and Rebirth: Post Classical Developments, State University of New York Press, {{ISBN|978-0-87395-990-2}}, pp 226, see Footnote 74</ref> Outras escolas do hinduísmo, como as filosofias [[Advaita Vedânta|vedânticas]] do Ioga e Advaita, e o jainismo sustentam que o carma não pode ser transferido.<ref name="wdointro" /><ref>Wendy D. O'Flaherty (1980), Karma and Rebirth in Classical Indian Traditions, University of California Press, {{ISBN|978-0-520-03923-0}}, Chapter 1</ref>
 
=== O problema do mal ===
Tem havido um debate contínuo sobre a teoria do carma e como ela responde ao [[problema do mal]] e ao problema relacionado da [[teodiceia]]. O problema do mal é uma questão significativa debatida nas religiões monoteístas com duas crenças:<ref>R Green (2005), Theodicy, in The Encyclopedia of Religion, 2nd Edition (Editor: Lindsay Jones), Volume 12, Macmillan Reference, {{ISBN|978-0-02-865733-2}}</ref>
 
# Há um Deus que é absolutamente bom e compassivo ([[Onibenevolência|onibenevolente]]); e
# Esse Deus sabe absolutamente tudo ([[Onisciência|onisciente]]) e é todo poderoso ([[Omnipotência|onipotente]]).
 
O problema do mal é então declarado em formulações como: "por que o Deus onibenevolente, onisciente e onipotente permite que qualquer mal e sofrimento existam no mundo?" O sociólogo [[Max Weber]] estendeu o problema do mal às tradições orientais no livro ''[[Sociologia das Religiões]]''.<ref>Max Weber (Translated by Fischoff, 1993), The Sociology of Religion, Beacon Press, {{ISBN|978-0-8070-4205-2}}, pp. 129–153</ref>
 
O problema do mal, no contexto do carma, tem sido discutido há muito tempo nas tradições orientais, tanto nas escolas teístas quanto nas não-teístas; por exemplo, nos Sutras ''[[Vedanta|Uttara Mīmāṃsā]]'', Livro 2 capítulo 1;<ref>Clooney, Francis (2005). In: [[Gavin Flood|Flood, Gavin]]. ''The Blackwell Companion to Hinduism''. Wiley-Blackwell, <nowiki>ISBN 0-631-21535-2</nowiki>. pp. 454–455.</ref><ref>Francis Clooney (1989), "Evil, Divine Omnipotence and Human Freedom: Vedanta's theology of Karma", ''Journal of Religion'', Vol. 69, pp 530–548</ref> os argumentos do século VIII de [[Adi Xancara]] no ''[[Bhashya|bhasya]]'' do [[Bramasutra|''Brahma Sutra'']] onde ele postula que Deus não pode ser razoavelmente a causa do mundo porque existe mal moral, desigualdade, crueldade e sofrimento no mundo;<ref name="bilimoria">P. Bilimoria (2007), Karma's suffering: A Mimamsa solution to the problem of evil, in Indian Ethics (Editors: Bilimoria et al.), Volume 1, Ashgate Publishing, {{ISBN|978-0-7546-3301-3}}, pp. 171–189</ref><ref>See Kumarila's ''Slokavarttika''; for English translation of parts and discussions: P. Bilimoria (1990), "Hindu doubts about God {{Ndash}} Towards a Mimamsa Deconstruction", ''International Philosophical Quarterly'', 30(4), pp. 481–499</ref> e a discussão de teodiceia do século XI por [[Ramanuja]] em ''[[Sri Bhasya]]''.<ref name="bilimoria2013">P. Bilimoria (2013), Toward an Indian Theodicy, in The Blackwell Companion to the Problem of Evil (Editors: McBrayer and Howard-Snyder), 1st Edition, John Wiley & Sons, {{ISBN|978-0-470-67184-9}}, Chapter 19</ref> Épicos como o ''[[Mahabharata]]'', por exemplo, sugerem três teorias predominantes na Índia antiga sobre por que o bem e o mal existem {{Ndash}} uma sendo que tudo é ordenado por Deus, outra sendo pelo carma e uma terceira citando eventos casuais (''yadrccha'', यदृच्छा).<ref name="ehudson">Emily Hudson (2012), Disorienting Dharma: Ethics and the Aesthetics of Suffering in the Mahabharata, Oxford University Press, {{ISBN|978-0-19-986078-4}}, pp. 178–217</ref><ref>Manmatha Nath Dutt (1895), English translation of The Mahabharata, Udyoga Parva, Chapter 159, verse 15</ref> O ''Mahabharata'', que inclui a divindade hindu Vishnu na forma de Krishna como um dos personagens centrais do épico, debate a natureza e a existência do sofrimento a partir dessas três perspectivas e inclui uma teoria do sofrimento como decorrente de uma interação de eventos casuais. como enchentes e outros eventos da natureza), circunstâncias criadas por ações humanas passadas e os desejos atuais, volições, darma, adarma e ações atuais (''purusakara'') das pessoas.<ref name="ehudson" /><ref>Gregory Bailey (1983), Suffering in the Mahabharata: Draupadi and Yudhishthira, Purusartha, No. 7, pp. 109–129</ref><ref>[[Alf Hiltebeitel|Hiltebeitel, Alf]] (2001). ''Rethinking the Mahabharata: A Reader's Guide to the Education of the Dharma King''. University of Chicago Press, <nowiki>ISBN 978-0-226-34053-1</nowiki>. Capítulos 2 e 5</ref> No entanto, embora a teoria do carma no ''Mahabharata'' apresente perspectivas alternativas sobre o problema do mal e do sofrimento, não oferece uma resposta conclusiva.<ref name="ehudson" /><ref>P.B. Mehta (2007), The ethical irrationality of the world {{Ndash}} Weber and Hindu Ethics, in Indian Ethics (Editors: Billimoria et al.), Volume 1, Ashgate, {{ISBN|978-0-7546-3301-3}}, pp. 363–375</ref>
 
Outros estudiosos<ref>Ursula Sharma (1973), Theodicy and the doctrine of karma, ''Man'', Vol. 8, No. 3, pp. 347–364</ref> sugerem que as tradições religiosas indianas não teístas não assumem um criador onibenevolente, e algumas<ref>A escola Niaia-Vaisesica é uma das exceções em que a premissa é semelhante ao conceito cristão de um criador onibenevolente, onipotente.</ref> escolas teístas não definem ou caracterizam seu(s) Deus(es) como as religiões ocidentais monoteístas o fazem e que as divindades têm personalidades coloridas e complexas; as deidades indianas são facilitadoras pessoais e cósmicas, e em algumas escolas conceituadas como o [[Demiurgo]] de Platão.<ref name="bilimoria2013" /> Portanto, o problema da teodiceia em muitas escolas das principais religiões indianas não é significativo, ou pelo menos é de natureza diferente do que nas religiões ocidentais.<ref>G. Obeyesekere (I968), Theodicy, sin and salvation in a sociology of Buddhism, in Practical religion (Ed. Edmund Leach), Cambridge University Press, {{ISBN|978-0-521-05525-3}}</ref> Muitas religiões indianas colocam maior ênfase no desenvolvimento do princípio do carma para a primeira causa e justiça inata com o Homem como foco, em vez de desenvolver princípios religiosos com a natureza e os poderes de Deus e o julgamento divino como foco.<ref>B. Reichenbach (1998), Karma and the Problem of Evil, in Philosophy of Religion Toward a Global Perspective (Editor: G.E. Kessler), Wadsworth, {{ISBN|978-0-534-50549-3}}, pp. 248–255</ref> Alguns estudiosos, particularmente da escola [[Niaia]] de hinduísmo e Xancara no ''Brahma Sutra bhasya'', postularam que a doutrina do carma implica a existência de Deus, que administra e afeta o ambiente da pessoa, dado o carma dessa pessoa, mas depois reconhecem que isto torna o carma como violável, contingente e incapaz de resolver o problema do mal.<ref>Bruce R. Reichenbach (1989), Karma, Causation, and Divine Intervention, Philosophy East and West, Vol. 39, No. 2, pp. 135–149</ref> Arthur Herman afirma que a teoria da transmigração do carma resolve todas as três formulações históricas para o problema do mal, ao mesmo tempo em que reconhece os insights da teodiceia de Sankara e Ramanuja.<ref>Arthur Herman, The problem of evil and Indian thought, 2nd Edition, Motilal Banarsidass, {{ISBN|81-208-0753-7}}, pp. 5 com parte II e III do livro</ref>
 
Algumas religiões teístas indianas, como o siquismo, sugerem que o mal e o sofrimento são fenômenos humanos e surgem do carma dos indivíduos.<ref>P. Singh, Sikh perspectives on health and suffering: A focus on Sikh theodicy, in Religion, Health and Suffering (Editors: John Hinnells and Roy Porter), Routledge, {{ISBN|978-0-7103-0611-1}}, pp. 111–132</ref> Em outras escolas teístas, como as do hinduísmo, particularmente na escola Niaia, o carma é combinado com o [[darma]] e o mal é explicado como surgindo das ações e intenções humanas que estão em conflito com o darma.<ref name="bilimoria2013" /> Em religiões não-teístas, como o budismo, o jainismo e a escola [[Mimamsa]] do hinduísmo, a teoria do carma é usada para explicar a causa do mal, bem como para oferecer maneiras distintas de evitar ou não ser afetado pelo mal no mundo.<ref name="bilimoria" />
 
As escolas do hinduísmo, budismo e jainismo que se baseiam na teoria do carma-renascimento foram criticadas por sua explicação teológica do sofrimento nas crianças ao nascer, como resultado de seus pecados em uma vida passada.<ref>Whitley Kaufman (2005), Karma, rebirth, and the problem of evil, Philosophy East & West, Vol. 55, No. 1, pp. 15–32</ref> Outros discordam e consideram a crítica falha e um mal-entendido da teoria do carma.<ref>Chadha and Trakakis (2007), Karma and the Problem of Evil: A Response to Kaufman, Philosophy East & West, Vol. 57, No. 4, pp. 533–556</ref>
 
== Conceitos comparáveis ==
[[Ficheiro:It_Shoots_Further_Than_He_Dreams.jpg|alt=|miniaturadaimagem|''It Shoots Further Than He Dreams'' por John F. Knott, março de 1918.]]
A [[cultura ocidental]], influenciada pelo cristianismo, mantém uma noção semelhante ao karma, como demonstrado na frase "[[wiktionary:tudo_que_vai_volta|o que vai, volta]]".<ref name="KarmaParveshSingla" />
 
=== Filosofia grega ===
Will Durant considerava que, como a doutrina do carma, para os gregos, toda desmedida contra a ordem cósmica (''[[hybris]]'') gerava um efeito negativo correspondente de retribuição, efetuado por [[Nêmesis (mitologia)|Nêmesis]].<ref>{{Citar livro|url=https://www.google.com.br/books/edition/The_Life_of_Greece/17sEhzZ-MokC?hl=pt-BR&gbpv=1&dq=%22The+law+of+hybris+and+nemesis+is+another+doctrine+of+karma%22&pg=PT356|título=The Life of Greece: The Story of Civilization, Volume II|ultimo=Durant|primeiro=Will|data=2011-06-07|editora=Simon and Schuster|lingua=en}}</ref> As doutrinas [[Platonismo|platônica]] e [[Plotino|plotiniana]] foram vistas como elaborando uma teoria eticizada do ciclo do renascimento, comparável à doutrina indiana do carma.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=oTV9-CY0q-wC&pg=PA27&lpg=PA27&dq=%22karma%22|título=Philosophy and Salvation in Greek Religion|ultimo=Adluri|primeiro=Vishwa|data=2013-04-30|editora=Walter de Gruyter|lingua=en}}</ref><ref name=":02">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=IEK4Qgm7Z0kC&pg=PA287|título=Karma and Rebirth: A Cross Cultural Study|ultimo=Obeyesekere|primeiro=Gananath|data=2006|editora=Motilal Banarsidass Publishe|lingua=en}}</ref> [[Platão]], admitindo também a teoria reencarnatória, afirma em ''[[Leis (diálogo)|Leis]]'' 9.870:<ref name=":02" /><blockquote>"A vingança é exigida por esses crimes na vida após a morte, e quando um homem retorna a este mundo novamente, ele é inelutavelmente obrigado a pagar a pena prescrita pela lei da natureza - a sofrer o mesmo tratamento que ele próprio infligiu à sua vítima. , e concluir sua existência terrena encontrando um destino semelhante nas mãos de outra pessoa."</blockquote>Plotino, em ''[[Enéadas]]'' 3.2.13:<ref name=":02" /><blockquote>“Assim, um homem, uma vez governante, será feito escravo porque abusou de seu poder e porque a queda é para seu bem futuro. Aqueles que usaram mal o dinheiro ficarão pobres - e para os bons a pobreza não é obstáculo. Aqueles que mataram injustamente, são mortos por sua vez, injustamente em relação ao assassino, mas com justiça em relação à vítima, e aqueles que devem sofrer são lançados no caminho daqueles que administram o tratamento merecido. Não é um acidente que torna um homem escravo; ninguém é prisioneiro por acaso; todo ultraje corporal tem sua devida causa. O homem uma vez fez o que agora sofre. (...) Daí surge aquela palavra espantosa "[[Adrasteia (mitologia)|Adrasteia]]" [a Retribuição Inevitável]; pois na verdade esta ordenança é uma Adrasteia, a própria justiça e uma sabedoria maravilhosa."<ref>{{Citar web|ultimo=Plotino|url=https://www.sacred-texts.com/cla/plotenn/enn199.htm|titulo=Terceira ''Enéada'', Tratado Segundo, seção 13|acessodata=2022-07-15|website=www.sacred-texts.com}}</ref></blockquote>
 
=== Cristianismo ===
Mary Jo Meadow sugere que o carma é semelhante a "noções cristãs de [[pecado]] e seus efeitos".<ref name="Meadow2007">{{Citar livro|título=Christian Insight Meditation|ultimo=Meadow|primeiro=Mary Jo|data=28 de agosto de 2007|editora=Wisdom Publications Inc|isbn=978-0-86171-526-8}}</ref> Ela afirma que o ensinamento cristão sobre o [[Juízo Final]] de acordo com a caridade de alguém é um ensinamento sobre o carma.<ref name="Meadow2007" /> O cristianismo também ensina morais tal como de que [[wiktionary:você_colhe_o_que_planta|se colhe o que se planta]] ([[Epístola aos Gálatas|Gálatas]] 6:7) e que [[Viva pela espada, morra pela espada|"todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão"]] ([[Evangelho segundo Mateus|Mateus]] 26:52).<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ve_Nim-MChcC&pg=PA78|título=Karma, rhythmic return to harmony|ultimo=Haridas Chaudhuri|ano=2001|páginas=78 and 79|isbn=978-81-208-1816-3|citação=The Meaning of Karma in Integral Philosophy}}</ref> A maioria dos estudiosos, no entanto, considera o conceito do Juízo Final como diferente do carma, com o carma como um processo contínuo que ocorre todos os dias na vida de uma pessoa, enquanto o Juízo Final, por outro lado, é uma revisão única no final da vida.<ref>Raymond Collyer Knox e Horace Leland Friess, The Review of Religion, Volume 1, Columbia University Press, pp 419–427</ref>
 
=== Judaísmo ===
Existe um conceito no judaísmo chamado em hebraico ''midah k'neged midah'', que muitas vezes é traduzido como "medida por medida".<ref>{{Citation|url=https://kotar.cet.ac.il/kotarapp/index/Page.aspx?nBookID=99643983&nTocEntryID=99646212&nPageID=99643996|title=Measure for measure in the storytelling Bible|last=Jonathan Jacobs|isbn=965-7086-28-0|publisher=Tvunot|year=2006}}</ref> O conceito é usado não tanto em questões de lei, mas em questões de [[Castigo divino|retribuição divina]] pelas ações de uma pessoa. [[David Wolpe]] comparou ''midah k'neged midah'' ao carma.<ref>Wolpe, David. [https://www.sinaitemple.org/worship/sermons/toldot-training-hands-esau-voice-jacob/ "Drash."] Sinai Temple. Los Angeles, CA. 18 November 2017. Drash. MP3 file.</ref> No [[Cabala|judaísmo cabalístico]], emprega-se o conceito de [[guilgul]] (reencarnação) como manifestação do Amor de Deus. Segundo Joseph P. Schultz, o conceito fixo e imutável de carma do budismo, que recai até mesmo sobre as deidades, é alheio à tradição judaica, mas há diversas similaridades e afinidades no judaísmo rabínico inicial e medieval com o conceito hinduísta, como em ''hashgahah'': a preocupação de Deus para com os atos humanos.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=dchpiP-9YQAC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA112&dq=%22Karma%22&hl=pt-BR|título=Judaism and the Gentile Faiths: Comparative Studies in Religion|ultimo=Schultz|primeiro=Joseph P.|data=1981|editora=Fairleigh Dickinson Univ Press|lingua=en}}</ref>
 
=== Modernidade ocidental ===
A ideia de carma ou de causa e efeito foi popularizada no [[mundo ocidental]] a partir das traduções de obras indianas no século XIX,<ref name=":2" /> bem como pelo [[espiritismo]] e obras da [[Sociedade Teosófica]], e, mais recentemente, tornou-se parte da [[cultura popular]] também através dos movimentos da [[Nova Era]].<ref>[https://www.encyclopedia.com/philosophy-and-religion/eastern-religions/hinduism/karma «Karma»]. Shepard, Leslie (1984) (ed.). ''Encyclopedia of Occultism & Parapsychology'' (em inglês). Gale Research Company</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=S_Leq4U5ihkC|título=Encyclopedia of Reincarnation and Karma|ultimo=McClelland|primeiro=Norman C.|data=2018-10-15|editora=McFarland|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=iaRWtgXjplQC|título=Karma and Rebirth: Post Classical Developments|ultimo=Neufeldt|primeiro=Ronald W.|data=1986-01-01|editora=SUNY Press|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=vSWSSBU7EdwC&pg=PA217&lpg=PA217&dq=%22karma22|título=Magic, Mystery, and Science: The Occult in Western Civilization|ultimo=Burton|primeiro=Dan|ultimo2=Grandy|primeiro2=David A.|ultimo3=Grandy|primeiro3=David|data=2004|editora=Indiana University Press|lingua=en}}</ref>
 
Segundo Lynn F. Sharp, um precursor da ideia de reercarnação com teor cármico no século XIX foi [[Jean Reynaud]], um republicano e [[Socialismo utópico|reformador socialista]] com ideais românticos, cristãos e [[Renascença céltica|neodruidistas]] que formulou uma doutrina de justificação e teria influenciado a formação posterior da [[doutrina espírita]] por [[Allan Kardec]]. Reynaud afirmou:<ref name=":04">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=CsFbaq9ysOIC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA18&dq=%22karma%22+%22jean+reynaud%22&hl=pt-BR|título=Secular Spirituality: Reincarnation and Spiritism in Nineteenth-century France|ultimo=Sharp|primeiro=Lynn L.|data=2006|editora=Lexington Books|lingua=en}}</ref><blockquote>"Assim, somos a causa de nosso próprio nascimento (...) Não somos, portanto, passivos neste fato capital do nascimento, que representa de alguma forma tudo o que há em nossa vida de fatal ou preordenado [incluindo] (.. .) as qualidades essenciais de nossos corpos e nossas mentes, de nossa educação, de nosso status, de nosso país e nossas relações mais comuns na sociedade" "precisamente aquelas circunstâncias que constituem as posições particulares que, por seus esforços anteriores, mereceram do céu "</blockquote>No espiritismo, a chamada "lei de causa e efeito" é análoga à doutrina do carma, e por vezes os termos são intercambiáveis.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=gFxlEAAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PT141&dq=%22carma%22+%22lei+de+causa+e+efeito%22&hl=pt-BR|título=O espiritismo de A a Z|data=2021-10-10|editora=FEB Editora|editor-sobrenome=Sobrinho|editor-nome=Geraldo Campetti|local=Brasília|lingua=pt-PT}}</ref><ref>Hess, David J. (2010). ''Spirits and Scientists: Ideology, Spiritism and Brazilian Culture''. Penn State Press.</ref> Porém aqui, Kardec afirma que a doutrina das penas e recompensas futuras têm sua confirmação no ensino dos espíritos e no raciocínio da justiça divina.<ref name=":04" /><ref>{{Citar web|ultimo=Kempf|primeiro=Charles|url=http://www.espiritualidades.com.br/Artigos/K_autores/KEMPF_Charles_tit_Fundamentos_da_Espiritualidade_do_Espiritismo-Os.htm|titulo=Os Fundamentos da Espiritualidade do Espiritismo|acessodata=2022-07-16|website=Espiritualidade e Sociedade}}</ref><ref>Cavalcanti, Maria Laura Viveiros de Castro (2008). ''[https://static.scielo.org/scielobooks/zffb8/pdf/cavalcanti-9788599662274.pdf O mundo invisível: cosmologia, sistema ritual e noção de pessoa no espiritismo]''. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisa Social. ISBN 978-85- 99662-27-4. ''[https://web.archive.org/web/20220202101105/https://static.scielo.org/scielobooks/zffb8/pdf/cavalcanti-9788599662274.pdf Arquivado]'' na Wayback Machine em 2 de fevereiro de 2022.</ref>
 
Na teosofia, [[Helena Blavatsky]] incorporou o conceito de carma a partir das doutrinas indianas, o qual também foi divulgado por [[Annie Besant]] e [[Rudolf Steiner]] dentro dos novos movimentos do [[esoterismo ocidental]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=DouBAgAAQBAJ&newbks=0|título=Encyclopedia of New Religious Movements|ultimo=Clarke|primeiro=Peter|data=2004-03|editora=Routledge|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=GodzjIfO7e8C&newbks=0|título=Western Esotericism and the Science of Religion: Selected Papers Presented at the 17th Congress of the International Association for the History of Religions, Mexico City 1995|ultimo=Faivre|primeiro=Antoine|ultimo2=Faivre|primeiro2=Hanegraaf|data=1998|editora=Peeters Publishers|lingua=en}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=iaRWtgXjplQC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA251&dq=%22karma%22+%22theosophy%22+%22blavatsky%22&hl=pt-BR|título=Karma and Rebirth: Post Classical Developments|ultimo=Neufeldt|primeiro=Ronald W.|data=1986-01-01|editora=SUNY Press|editor-sobrenome=Neufeldt, Ronald W.|lingua=en|capitulo=In Search of Utopia: Karma and Rebirth in the Theosophical Movement}}</ref> O teosofista [[I. K. Taimni]] escreveu: "Karma nada mais é do que a Lei de Causa e Efeito operando no reino da vida humana e provocando ajustes entre um indivíduo e outros indivíduos que ele afetou por seus pensamentos, emoções e ações".<ref>I.K. Taimni ''Man, God and the Universe'' Quest Books, 1974, p. 17</ref>
 
Nos movimentos da [[Nova Era]], o carma é assimilado de uma maneira otimista, considerando-o como uma oportunidade de evolução espiritual progressiva, em meio à interconexão cósmica e o livre-arbítrio, e muitas vezes rejeitando-se seu caráter oficial oriental de punição ou retribuição.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=uNmmDwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA286&dq=%22new+age%22+%22karma%22&hl=pt-BR|título=New Age Religion and Western Culture: Esotericism in the Mirror of Secular Thought|ultimo=Hanegraaff|primeiro=Wouter J.|data=2018-09-24|editora=BRILL|lingua=en}}</ref> No [[neopaganismo]] [[Wicca|wiccano]], derivou-se dele a chamada "[[Lei Tríplice]]".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=nDdcVt9-jnMC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA344&dq=%22threefold+law%22+%22karma%22+%22buckland%22&hl=pt-BR|título=The Encyclopedia of Witches, Witchcraft and Wicca|ultimo=Guiley|primeiro=Rosemary|data=2008|editora=Infobase Publishing|lingua=en}}</ref> Alusões ao conceito também se difundiram na [[cultura popular]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&id=qJesBwAAQBAJ&q=karma|título=The Routledge Companion to Religion and Popular Culture|ultimo=Lyden|primeiro=John C.|ultimo2=Mazur|primeiro2=Eric Michael|data=2015-03-27|editora=Routledge|lingua=en}}</ref>
 
==== Psicologia ====
[[Carl Gustav Jung|Carl Jung]] inicialmente não afirmava a noção indiana de carma, porém empregou-a em sua conceituação da herança de arquétipos do [[inconsciente coletivo]] em ''Sobre o inconsciente coletivo'' (1942)―não porém, como tendo origem individual em outras vidas: "uma extensão deliberada do arquétipo por meio do fator cármico, que é tão importante para a filosofia indiana. O aspecto do carma é essencial para uma compreensão mais profunda da natureza de um arquétipo."<ref name=":03">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=iaRWtgXjplQC&pg=PA260|título=Karma and Rebirth: Post Classical Developments|ultimo=Coward|primeiro=Harold|data=1986-01-01|editora=SUNY Press|editor-sobrenome=Neufeldt, Ronald W.|lingua=en|capitulo=Karma, Jung and Transpersonal Psychology}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=YhM3AgAAQBAJ&pg=PA77&lpg=PA77&dq=%22the+karma+aspect+is+essential%22|título=Collected Works of C.G. Jung, Volume 7: Two Essays in Analytical Psychology|ultimo=Jung|primeiro=C. G.|data=2014-03-01|editora=Princeton University Press|lingua=en}}</ref> Posteriormente, mostrou-se disposto a admitir os conceitos tradicionais de carma e reencarnação.<ref name=":03" />
 
== Ver também ==
 
* ''[[Amor fati]]''
* [[Boas obras]]
* [[Carma no budismo tibetano]]
* [[Consequencialismo]]
* [[Ética da reciprocidade]]
* [[Hipótese do mundo justo]]
* [[Justiça poética]]
* ''[[Karma yoga]]''
* [[TeosofiaMoinhos de Deus]]
* [[Profecia autorrealizável]]
* ''[[jñana]]''
* [[Retribuição divina]]
* ''[[bhakti]]''
* [[CarmaSistema node budismocrédito social]]
* [[Sorte]]
{{Notas}}{{Referências}}
 
== Bibliografia ==
{{Referências}}
{{refbegin}}
* {{Citation|last=Bhikkhu Thanissaro|title=Wings to Awakening: Part I|year=2010|publisher=Metta Forest Monastery, Valley Center, CA|url=http://www.accesstoinsight.org/lib/authors/thanissaro/wings.pdf}}
* {{Citation|last=Bronkhorst|first=Johannes|author-link=Johannes Bronkhorst|year=1998|title=Did the Buddha Believe in Karma and Rebirth?|journal=Journal of the International Association of Buddhist Studies|volume=21|issue=1|pages=1–20|url=http://journals.ub.uni-heidelberg.de/index.php/jiabs/article/view/8869/2776}}
* {{Citation|editor-last=Buswell|editor-first=Robert E.|year=2004|title=Encyclopedia of Buddhism|publisher=Macmillan Reference USA}}
* {{Citation|editor-last1=Buswell|editor-first1=Robert E.|editor-last2=Lopez Jr.|editor-first2=Donald S.|year=2013|title=The Princeton Dictionary of Buddhism|publisher=Princeton University Press}}
* {{Citation|last=Chapple|first=Christopher|year=1986|title=Karma and Creativity|publisher=State University of New York Press|isbn=0-88706-250-4}}
* {{Citation|last=Dargyay|first=Lobsang|year=1986|chapter=Tsong-Kha-Pa's Concept of Karma|editor-last=Neufeldt|title=Karma and Rebirth: Post Classical Developments|publisher=State University of New York Press|isbn=0-87395-990-6}}
* {{Citation|last=Dasgupta|first=Surendranath|year=1991|title=A History of Indian Philosophy, Volume 4|publisher=Motilal Banarsidass Publ.}}
* {{Citation|last=Gethin|first=Rupert|year=1998|title=Foundations of Buddhism|publisher=Oxford University Press}}
* {{Citation|last=Gombrich|first=Richard F.|year=1997|title=How Buddhism Began. The Conditioned Genesis of the Early Teachings|place=New Delhi|publisher=Munshiram Manoharlal Publishers Pvt. Ltd.}}
* {{Citation|last=Gombrich|first=Richard|year=2009|title=What the Buddha Thought|publisher=Equinox}}
* {{Citation|last=Harvey|first=Peter|year=1990|title=Introduction to Buddhism|publisher=Cambridge University Press}}
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* {{Citation|last=Kalupahana|first=David|year=1975|title=Causality: The Central Philosophy of Buddhism|publisher=University of Hawaii Press|author-link=David Kalupahana}}
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*{{cite book|url=https://books.google.com/books?id=WwJzAwAAQBAJ|title=Encyclopedia of Global Religion|author1=Mark Juergensmeyer|author2=Wade Clark Roof|publisher=SAGE Publications|isbn=978-1-4522-6656-5|year=2011}}
* {{Citation|last=Khandro Rinpoche|year=2003|title=This Precious Life|publisher=Shambhala}}
* {{Citation|last=Klostermaier|first=Klaus K.|year=1986|chapter=Contemporary Conceptions of Karma and Rebirth Among North Indian Vaisnavas|editor-last=Neufeldt|editor-first=Ronald W.|title=Karma and Rebirth: Post-classical Developments|publisher=Sri Satguru Publications}}
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* {{Citation|last=Lamotte|first=Etienne|year=1987|title=Karmasiddhi Prakarana: The Treatise on Action by Vasubandhu|publisher=Asian Humanities Press}}
* {{Citation|last1=Lichter|first1=David|last2=Epstein|first2=Lawrence|year=1983|chapter=Irony in Tibetan Notions of the Good Life|editor-last1=Keyes|editor-first1=Charles F.|editor-last2=Daniel|editor-first2=E. Valentien|title=Karma: An Anthropological Inquiry|publisher=University of California Press}}
* {{Citation|last=Matthews|first=Bruce|chapter=Chapter Seven: Post-Classical Developments in the Concepts of Karma and Rebirth in Theravada Buddhism|editor-last=Neufeldt|editor-first=Ronald W.|year=1986|title=Karma and Rebirth: Post Classical Developments|publisher=State University of New York Press|isbn=0-87395-990-6}}
*{{cite book|title=Karma and Rebirth: A Cross Cultural Study|last=Obeyesekere|first=Gananath|publisher=Motilal Banarsidass|editor=Wendy Doniger|isbn=978-81-208-2609-0|year=2005}}
* {{Citation|last=Padmakara Translation group|year=1994|chapter=Translators' Introduction|title=The Words of My Perfect teacher|publisher=HarperCollins Publishers India}}
* {{Citation|last=Schmithausen|first=Lambert|year=1986|title=Critical Response. In: Ronald W. Neufeldt (ed.), "Karma and rebirth: Post-classical developments"|publisher=SUNY}}
* {{Citation|last=Vetter|first=Tilmann|year=1988|title=The Ideas and Meditative Practices of Early Buddhism|publisher=BRILL}}
{{refend}}
 
== Ligações externas ==
* [https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-karma/ O que é Karma?] - Revista Superinteressante
{{Portal3|Espiritualidade|Hinduísmo|Budismo|Espiritismo}}{{Controle de autoridade}}
 
{{Sociedade Teosófica}}
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