Mosteiro (Lajes das Flores): diferenças entre revisões

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'''Mosteiro''' é uma [[Lista de freguesias portuguesas|freguesia]] [[açoriana]] do [[lista de municípios portugueses|concelho]] da [[Lajes das Flores]], com 6,20 km² de área e 50 habitantes ([[2001]]), o que lhe dá uma densidade populacional de 8,1 hab/km². A freguesia do Mosteiro situa-se na costa sudoeste da [[Flores|ilha das Flores]], a cerca de 10 km da sede do concelho, sendo uma das menos populosas e mais isoladas dos [[Açores]]. A paróquia católica tem como [[orago]] a [[Santíssima Trindade]]. A freguesia, que em tempos se designou ''Mosteiros'', parece derivar o seu nome dos imensos rochedos que a rodeiam, com destaque para os grandes rochedos oceânicos existentes junto ao seu litoral. Esta origem é comprovada pela tradição local e pela semelhança com o [[topónimo]] [[Mosteiros (Ponta Delgada)|Mosteiros]], aplicada a uma freguesia da costa ocidental da [[ilha de São Miguel]], a qual também deriva o seu nome dos grandes rochedos que formam os [[ilhéus dos Mosteiros]], frente ao seu litoral. Esta ligação é reforçada pela origem do primeiro povoador da vizinha freguesia do [[Lajedo (Lajes das Flores)|Lajedo]], João Soares, que para ali se mudou vindo do então lugar dos Mosteiros em São Miguel.
==Origem do topónimo==
O nome de Mosteiro dado à povoação é assim uma reminiscência da grande tradição [[brandoniana]] das ilhas do Atlântico, que levou à atribuição de nomes com profundas raízes celtas a múltiplas ilhas e localidades da [[Macaronésia]]. Neste contexto, o [[topónimo]] ''Mosteiro(s)'' é resultado directo da existência de grandes penhascos colunares. No dizer do cronista do povoamento atlântico [[Gaspar Frutuoso]], referindo-se aos [[Mosteiros (Ponta Delgada)|Mosteiros]] de São Miguel, a razão do nome seriam os ''quatro ilhéus com proporção entre si tal que representam quatro mosteiros...''. Esta ligação entre os ilhéus, e outros penhascos como o Cabeço do Sinal no Mosteiro das Flores, e o conceito monacal de ''mosteiro'' não é meramente formal, antes deriva do ascetismo marítimo medieval que percorreu as costas do Atlântico desde a Escócia até à Ponta de Sagres. Começando com a cristianização da costa atlântica da Europa, por volta do [[século VI]], começaram a surgir eremitas que se recolhiam a celas escavadas em ilhéus ou em penhascos costeiros e viviam longos períodos de ascetismo e de meditação enquanto observavam as ondas do oceano. O melhor exemplo, e o mais bem conservado, deste tipo de ''mosteiro'' é [[Skellig Michael]] ao largo da costa sudoeste da [[Irlanda]], hoje [[Património da Humanidade]]. Contudo, mesmo na costa ibérica, os exemplos são muitos, com tradições de peregrinação que sobreviveram quase até aos nossos dias no Cabo Finisterra, no Cabo da Roca e no Cabo de São Vicente.
==Historia da freguesia==
A costa ocidental das Flores terá começado a ser desbravada em meados do [[século XVI]], com os primeiros núcleos populacionais estáveis a surgirem nas primeiras décadas do século seguinte. Os primeiros povoadores eram capitaneados por João Soares, oriundo da [[ilha de São Miguel]], que se terá fixado no [[Lajedo (Lajes das Flores)|Lajedo]].
 
Já estruturado como povoado, o lugar do Mosteiros foi em Julho de [[1676]] desanexado da vila das [[Lajes das Flores]], à qual pertencia apesar da grande distância e maus caminhos, e incluído na paróquia de Fajãs, então com sede na igreja de Nossa Senhora dos Remédios da [[Fajanzinha]].
 
Sem que a população crescesse de forma significativa, o Mosteiro manteve-se como um curato daquela paróquia ao longo dos séculos seguintes, sobrevivendo como uma comunidade pobre que retirava o seu sustento dos campos e matos, complementando com alguma pesca. Escrevendo no início do [[século XIX]], o padre [[José António Camões]], refere que ao tempo a freguesia possuía apenas 31 fogos, com 83 homens e 92 mulheres, acrescentando que ''Tem 8 casas de telha, e nenhum homem calçado. Há nella juiz vintenário, com seo escrivão, sujeitos à jurisdição da villa das Lagens. Os soldados da ordenança que há na dicta aldeia são subordinados à 2ª companhia da villa das Lagens''. Refere ainda o portinho do Mosteiro ''onde tristemente varam três ou quatro barcos (...). O tal portinho é de uma pequena povoação chamada «Os Mosteiros»''. Para além de descrever a ponta do Sargo, assinala a existência de duas ribeiras na freguesia, a Ribeira do Mosteiro e a Ribeira dos Ladrões, ou do Fundão, ''aonde acaba o destricto da freguesia de Nossa Senhora dos Remédios, e de Nossa Senhora do Rosário das Lagens''.
 
A elevação do Mosteiro a freguesia deveu-se à [[filantropia]] do aventureiro António de Freitas, um ex-seminarista nascido na [[Fajãzinha]] (provavelmente no lugar do Mosteiro, então parte da freguesia), que esteve emigrado em [[Macau]], onde fez grande fortuna no tráfico do [[ópio]] e na compra de ''crianças pagãs''. No ano de [[1846]], tendo regressado às Flores, decidiu financiar a construção de uma igreja condigna no Mosteiro, sob invocação da Santíssima Trindade, ''em sinal de reconhecimento por ter conseguido salvar todos os seus bens''. Foi assim que o pequeno povoado veio a dispor do templo que hoje de forma algo incongruente marca a paisagem da freguesia.
 
Reunindo 90 fogos e cerca de 300 habitantes e dispondo de tão bela igreja, naturalmente logo em [[1850]], por decreto da rainha D. [[Maria II de Portugal]] datado de [[23 de Outubro]] daquele ano, o Mosteiro foi elevado a paróquia, formando, conjuntamente com o lugar da Caldeira, uma nova freguesia. O decreto muda o nome à localidade, já que o lugar dos ''Mosteiros'' dá lugar à freguesia do ''Mosteiro'', tendo contudo os topónimos coexistido durante algum tempo. Para mais, ''ao tempo da erecção da paróquia se achava já decentemente ornada, e provida de paramentos, e mais objectos necessários para o Culto Divino''. <ref>Francisco António Nunes Pimentel Gomes, ''A Ilha das Flores: da redescoberta à actualidade'', Câmara Municipal das Lajes das Flores, 1997.</ref>.
 
A erecção da paróquia fez-se por alvará do bispo D. frei [[Estêvão de Jesus Maria]], datado de [[18 de Novembro]] desse mesmo ano de [[1850]]. A ermida inicial foi melhorada por iniciativa do padre Caetano Bernardo de Sousa, que paroquiou no Mosteiro de [[1896]] a [[1915]], tendo acrescentado então uma nova capela-mor, retábulos e uma sacristia. O retábulo da capela-mor, concluído em [[1906]], é da autoria do artista faialense Manuel Augusto Ferreira da Silva. O cemitério da localidade recebeu o seu primeiro enterramento a [[8 de Outubro]] de [[1847]].
 
Como todas as restantes da ilha das Flores, a freguesia do Mosteiro esteve integrada no concelho de [[Santa Cruz das Flores]] no período que mediou entre [[18 de Novembro]] de [[1895]] e [[13 de Janeiro]] de [[1898]], durante o qual o concelho das [[Lajes das Flores]] esteve suprimido.
 
No período de [[1893]] a [[1896]] foi pároco do Mosteiro o contista [[Francisco Nunes da Rosa]], cuja obra ''Pastorais do Mosteiro'' é uma das obras-primas da literatura açoriana.
 
==A freguesia==
Encaixada num vale profundo sobranceiro ao mar, sobre o qual emergem gigantescos penhascos [[Basalto|basálticos]], a freguesia é constituída por dois lugares: o Mosteiro e a Caldeira (este sem habitantes permanentes desde 1992). A população residente dedica-se à agro-pecuária e ao pequeno comércio, sendo uma zona de ricas pastagens, embora vulneráveis ao vento e [[ressalga]] (rocio do mar) do oeste, e muito abundante em água.
 
Para além da igreja paroquial da Santíssima Trindade (cuja festa se celebra no penúltimo domingo de Agosto), a freguesia dispõe de um império do Divino Espírito Santo e vário moinhos de água, hoje abandonados, mas ainda assim de uma beleza idílica. É também notável o chafariz da Caldeira, sito na localidade do mesmo nome.
 
Para além da festa da Santíssima Trindade, a freguesia celebra anualmente as grandes festividades açorianos do Divino Espírito Santo, centradas em torno do seu império, e a festa de São Pedro (a 29 de Junho), em tempos padroeiro dos pescadores da freguesia (hoje extintos).
 
Muito mais interessante que o património construído é o património paisagístico, com paisagens de grande equilíbrio, marcadas pelas grandes agulhas rochosas que deram o nome ao lugar. São notáveis o Cabeço do Sinal (infelizmente parcialmente desmantelado para produção de pedra), o Cabeço da Muda, e os panoramas que se gozam do Portal Poio e da Cruz dos Bredos.
 
A freguesia mantém um Grupo de Foliões para abrilhantar as suas festas do Divino Espírito Santo, tradição multissecular hoje quase extinta em freguesias mais populosas com o advento das [[filarmónica]]s. O rico artesanato tradicional da costa ocidental das Flores, com cestaria em vime, colchas em tear, rendas e bordados, encontra-se ameaçado pelo despovoamento e pelo crescente desenraizamento da população. O mesmo acontece com a gastronomia local, em tempos caracterizada por confecções como inhame com linguiça, feijão com cabeça de porco, sopas de agrião de água e de couve, torta de erva do mar, bolos caseiros, filhós de entrudo e folar da Páscoa.
 
Dado o pequeno número de eleitores, a assembleia de freguesia é substituída por um plenário de cidadãos, os quais elegem a Junta de Freguesia.
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=={{Links}}==
*[http://www.cmlflores.raacores.net/freguesia_mosteiro1.htm Mosteiro na página oficial do Município das Lajes das Flores]
*[http://www.locr.com/search.php?search=Flores Colectânea de fotografias das Flores]
 
 
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[[Categoria:Freguesias da Região Autónoma dos Açores]]
 
[[en:Mosteiro (Lajes das Flores)]]
[[es:Mosteiro (Lajes das Flores)]]