Aulacógeno (do grego aulax: sulco, estria) é a designação dada, no campo da tectônica de placas, a um processo ou parte de um rifte abortado durante sua abertura. Geralmente apresentam-se como bacias alongadas, que se estendem de regiões geossinclinais ou orogênicas para dentro de uma área cratônica. [1]

Junção tripla do rifte Leste Africano

Formação editar

 
Modelo de ascensão de pluma mantélica

Usualmente, riftes em crosta continental ocorrem na forma de junções triplas em 120°, que se originam sobre pontos quentes (hotspots), ou plumas mantélicas, relacionadas à convecção de magma no manto. Em alguns casos, todas as três ramificações de uma junção tripla podem dar origem a limites ativos de placas tectônicas, como é o caso do rifte da terceira, no arquipélago de Açores, que se localiza na intercessão das placas Euroasiática, Africana e Norte americana. Entretanto, em sua maioria, apenas dois dos braços de um rifte evoluirão para limites ativos, abandonando o terceiro ramo, que permanece inativo tectonicamente. [2]


Aulacógenos podem preservar uma grande quantidade de informações sobre a evolução geotectônica de um ambiente. A subsidência do terreno durante sua formação faz do aulacógeno uma bacia sedimentar em potencial, que muitas vezes pode armazenar camadas de sedimento até três vezes mais espessas que sequências cratônicas vizinhas. [3]

Exemplos editar

Africa editar

  • Depressão Benue (The Benue Trough), parte do Sistema de rifte da África central e ocidental (WCARS). Aulacógeno possivelmente relacionado à quebra do Gondwana e abertura do oceano Atlântico.[4]

India editar

  • Riftes Cambay e Kutch [5]

Europa editar

  • Bacia Lusitaniana, península Ibérica [6]

América do Norte editar

  • Midcontinent Rift System (MRS), América do norte [7]
  • Aulacógeno Oklaroma (EUA), aulacógeno relacionado à quebra do supercontinente Pannotia [8]

Aulacógenos no Brasil editar

No Cráton do São Francisco, umas das principais províncias cratônicas brasileiras, ocorrem três famílias de elementos estruturais de grande porte: i) Estruturas de riftes proterozóicos; ii) Faixas de dobramentos e empurrões neoproterozóicos; e iii) Estruturas de riftes do Cretáceo.

Uma das maiores dessas estruturas é o Aulacógeno Pirapora, controlado por sistemas de falhas orientadas sentido NW, que separa dois grandes altos do embasamento, o Alto de Sete Lagoas e o Alto Januária [9]. Sua configuração geral indica que a nucleação do rifte pode ter tido início no Paleoproterozóico tardio, tendo sido sucessivamente reativada durante eventos tectônicos posteriores.

Outra grande estrutura é o Aulacógeno Paramirim, formado no Cráton São Francisco.[10]

A estrutura é preenchida por sequências sedimentares neoproterozóicas e mesozóicas. Com base em dados de subsuperfície recentemente adquiridos, pela primeira vez foi possível descrever três sequencias de 1ª ordem: Espinhaço-Superior, Macaúbas e Bambuí, limitadas por discordâncias erosivas, depositadas na margem sul da Bacia do São Francisco. A sequência basal Espinhaço-Superior registra a reativação esteniana do aulacógeno, que engloba fácies siliciclásticas e carbonáticas arranjadas em tendência progradacional. O Grupo Macaúbas registra o desenvolvimento de uma bacia neoproterozóica que evoluiu de um rifte continental para uma margem passiva, parcialmente sob influência glacial. Já a sequência Bambuí compreende uma plataforma siliciclástica-carbonática, arranjada em um Trato de Sistema Transgressivo e um Trato de Sistema de Mar Alto. [11]

Referências

  1. Winge, M. et. al. 2001 - 2022 Glossário Geológico Ilustrado.
  2. Robert, Christian M. (2008-01-01). "Chapter Seven Aulacogens". In Robert, Christian M. (ed.). Developments in Marine Geology. Global Sedimentology of the Ocean: An Interplay between Geodynamics and Paleoenvironment. Vol. 3. Elsevier. pp. 239–248.
  3. Burke, K (May 1977). "Aulacogens and Continental Breakup". Annual Review of Earth and Planetary Sciences. 5: 371–396.
  4. S. W. Petters (May 1978). "Stratigraphic Evolution of the Benue Trough and Its Implications for the Upper Cretaceous Paleogeography of West Africa". The Journal of Geology. 86 (3): 311–322. Bibcode:1978JG.....86..311P.
  5. Biswas, S.K. (1999). "A Review on the Evolution of Rift Basins in India during Gondwana with special reference to Western Indian Basins and their Hydrocarbon Prospects" (PDF). PINSA. 65 (3): 261–283.
  6. J. C. Kullberg, R. B. Rocha, A. F. Soares, J. Rey, P. Terrinha, P. Callapez, L. Martins (2006) – A Bacia Lusitaniana: Estratigrafia, Paleogeografia e Tectónica. In Geologia de Portugal no contexto da Ibéria (R. Dias, A. Araújo, P. Terrinha & J. C. Kullberg, Eds.). Univ. Évora, pp. 317-368.
  7. Van Schmus, W. R., and W. J. Hinze. "The midcontinent rift system." (1985).
  8. Hanson, Richard E.; Puckett Jr., Robert E.; Keller, G. Randy; Brueseke, Matthew E.; Bulen, Casey L.; Mertzman, Stanley A.; Finegan, Shane A.; McCleery, David A. (2013-08-01). "Intraplate magmatism related to opening of the southern Iapetus Ocean: Cambrian Wichita igneous province in the Southern Oklahoma rift zone". Lithos. Large Igneous Provinces (LIPs) and Supercontinents. 174: 57–70.
  9. Alkmim F.F. & Martins-Neto M.A. 2001. A Bacia Intracratônica do São Francisco: Arcabouço estrutural e cenários evolutivos. In: Bacia do São Francisco, Martins-Neto M.A. & Pinto C.P. (eds), SBG-MG, p. 9-30. Alkmim F.F.
  10. Jofre de Oliveira Borges; Simone Cerqueira Pereira Cruz; Johildo Salomão Figueiredo Barbosa; Edmar da Silva Santos (2015). «Structural framework of rocks of the Lagoa D'anta mine area, iron-manganese Urandi-Caetité-Licínio de Almeida District, Bahia, Brasil» (em inglês). Brazilian Journal of Geology / Scielo. Consultado em 15 de dezembro de 2023 
  11. Pedrosa-Soares, A. C., Babinski, M., Noce, C.M., Maximiliano, M., Queiroga, G., Vilela, F., 2011a. The Neoproterozoic Macaúbas Group, Araçuaí orogen, SE Brazil. Geological Society, London, Memmoirs, 36, 523-534