Castelo Rodrigo

freguesia do município de Figueira de Castelo Rodrigo, Portugal

Castelo Rodrigo é uma freguesia portuguesa do município de Figueira de Castelo Rodrigo, com 32,94 km² de área[1] e 468 habitantes (censo de 2021)[2]. A sua densidade populacional é 14,2 hab./km².

Portugal Portugal Castelo Rodrigo 
  Freguesia  
Interior do castelo
Interior do castelo
Interior do castelo
Localização
Castelo Rodrigo está localizado em: Portugal Continental
Castelo Rodrigo
Localização de Castelo Rodrigo em Portugal
Coordenadas 40° 52' 32" N 6° 57' 50" O
Município Figueira de Castelo Rodrigo
Código 090403
Administração
Tipo Junta de freguesia
Características geográficas
Área total 32,94 km²
População total (2021) 468 hab.
Densidade 14,2 hab./km²
Código postal 6440
Outras informações
Orago Nossa Senhora de Rocamador

Entre 1209 e 1836 foi sede de concelho, até a mesma ter sido transferida para a povoação de São Vicente Mártir, entretanto redesignada Figueira de Castelo Rodrigo.

Castelo Rodrigo é considerada aldeia histórica de Portugal desde 1991.

História editar

 
Porta Nascente da muralha do Castelo Rodrigo

Historicamente, falar de Castelo Rodrigo implica remontar muitos séculos na história. Desde a Pré-História até ao século XXI, muitos são os testemunhos existentes, permitindo-nos viajar pelo tempo à descoberta das raízes históricas de toda uma região.

Ocupado sucessivamente pelos túrdulos, romanos e mouros, o actual concelho de Figueira de Castelo Rodrigo foi integrado no Reino de Leão no século XI, integrando definitivamente o território português em 1297. Até ao século XIX chamava-se apenas Castelo Rodrigo, em homenagem ao alcaide D. Rodrigo, que defendeu a fortaleza em 1296. A freguesia de Figueira pertencia então ao concelho de Castelo Rodrigo. Com a elevação de Figueira à categoria de Vila, a sede do concelho foi para aí transferida e passou à denominação actual.[3]

Da primitiva ocupação deste território pouco se sabe, mas há vestígios que apontam para épocas muito remotas, entre os quais se destaca a gravura de arte rupestre de Vale de Afonsinho, que representa um motivo zoomórfico do estilo Magdalense.

Os Túrdulos — povo que ocupava a Bética — terão sido a primeira comunidade organizada a habitar a região. Da ocupação romana, que foi bastante intensa, há vestígios da provável existência de pelo menos nove villas, duas pontes — a da Vermiosa e a do Escalhão, e restos de calçadas romanas. A Torre das Águias, cuja construção se situa no século II d.C. e que teria sido um templo romano, adaptado mais tarde a atalaia militar.

Em Escalhão, na margem esquerda do rio Águeda, ter-se-ia situado a antiga cidade romana de “Caliábria” de que há bastantes vestígios. Os árabes legaram-nos as tradicionais casas agrícolas, a cisterna do castelo e outros vestígios.

Reconquistada definitivamente pelos reis de Leão no século XI, Afonso IX de Leão lhe otorgou foral e elevou a vila á categoría de concelho. Com a assinatura do Tratado de Alcanizes, o 12 de setembro de 1297, Castelo Rodrigo quedou integrado em Portugal. Então, o rei portugués D. Dinis, confirmou o Foral do concelho, mandou reconstruir Castelo Rodrigo e reforçar as suas muralhas. Depois, em 1373, D. Fernando lhe concedeu Carta de Feira.

 
Detalhe do mapa de Portugal de T. Bowen (1786), com Castelo Rodrigo no centro.

Durante as guerras da Independência, foi novamente bastante danificada chegando mesmo a atingir um estado de grande despovoamento. D. João I, em virtude dos seus habitantes terem mantido fidelidade a D. Beatriz, legítima herdeira do trono português, mandou por castigo que Castelo Rodrigo passasse a ostentar as suas armas reais com o elmo invertido. D. Manuel I, mandou reedificar o castelo e em 1508 atribuiu-lhe novo foral elevando-a a sede de concelho.

Durante o século XVII e pelas características do aglomerado populacional, ruas estreitas, íngremes e sinuosas e as casas espartilhadas pelas muralhas da velha fortaleza medieval, Castelo Rodrigo começou a perder a sua importância, que se tornaria fatal, já que a sede de concelho viria a passar para a povoação de Figueira, que se desenvolvia cada vez mais na planície mais abaixo.

Por esta altura foi construída a Igreja Paroquial de Figueira, uma vigararia alternada da Santa Sé e do Bispo de Lamego. A 25 de Junho de 1836, recebeu Figueira o seu primeiro foral que a elevou à categoria de vila e sede de concelho em substituição do de Castelo Rodrigo e passando a chamar-se Figueira de Castelo Rodrigo.[3]

Heráldica editar

 
Antigo brasão de armas de Castelo Rodrigo

Castelo Rodrigo usava um brasão de armas de características raras, o qual consistia nas armas de Portugal de cabeça para baixo. Em termos heráldicos este tipo de brasão é designado como difamado, sendo este um dos raros exemplos no mundo e por isso frequentemente referido em obras sobre heráldica. Segundo a tradição, este brasão foi-lhe dado pelo Rei D. João I em castigo por a vila ter tomado partido por Castela na crise de 1383-1385, recusando a entrada de D. João I quando estava a caminho de Chaves.[4][5]

Modernamente, a freguesia de Castelo Rodrigo adoptou um novo brasão, bastante diferente do tradicional, cuja descrição é: escudo de prata, castelo de negro lavrado de prata aberto e iluminado de ouro, acantonados em chefe dois abrolhos de vermelho, em campanha monte de três cômoros de verde firmado nos flancos; como elementos exteriores ao escudo tem uma coroa mural de prata de quatro torres e um listel de prata com a legenda de negro "Castelo Rodrigo".

Património editar

 
Poço-Cisterna
  • Igreja e Convento de Santa Maria de Aguiar — a Igreja e Convento de Santa Maria de Aguiar terá sido edificado no Século XII pelos beneditinos transitando, posteriormente para a Ordem de Cister. De notar, que embora seja conhecido como convento, era na verdade um mosteiro, pois a regra vigente era do tipo monacal (exercida por monges), ou seja, vivendo e trabalhando em locais afastados dos povoados. Predominam os estilos romântico e gótico. A igreja, cisterciense, tem planta em cruz latina, três naves e transepto saliente, cabeceira escalonada e duas absidíolas de planta rectangular.
  • Igreja Matriz — a igreja matriz foi fundada no século XIII pela confraria dos frades da nossa senhora de Rocamador, uma congregação que se dedicava à assistência aos peregrinos compostelanos. A igreja foi restaurada no final dos anos 1990 no âmbito do programa Aldeias Históricas de Portugal.
  • Muralhas — Castelo Rodrigo conserva ainda o plano medieval de praça circular com cintura de muralhas, as quais teriam sido, inicialmente construídas pelos romanos, quando ali teriam edificado um grande forte.
  • Ruínas do Palácio Cristóvão de Moura — foi residência oficial de Cristóvão de Moura (séculos XVI e XVII) que auferiu de grandes privilégios por parte de Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal), pelo seu apoio na crise dinástica. Recuperada a independência nacional este palácio foi incendiado pela população jazendo hoje em dia em avançado estado de ruína.
  • Janelas manuelinas — alguns edifícios de fachada quinhentista possuem ainda hoje, bonitas janelas manuelinas de avental, com molduras e rematadas em arco canopial, que atestam a importância desta povoação do século XVII.
  • Poço-Cisterna — esta cisterna apresenta duas estruturas arquitectónicas diferentes, visíveis no plano mural e nas duas portas, uma em arco quebrado, ao estilo gótico e outra com o arco em ferradura, que terá supostamente sido construída no século XIII e poderá ter pertencido à cisterna existente na sinagoga judaica.
  • Cruz da Vila

Demografia editar

A população registada nos censos foi:[2]

População da freguesia de Castelo Rodrigo
AnoPop.±%
1864 464—    
1878 482+3.9%
1890 512+6.2%
1900 504−1.6%
1911 514+2.0%
1920 495−3.7%
1930 470−5.1%
1940 496+5.5%
1950 474−4.4%
1960 451−4.9%
1970 315−30.2%
1981 279−11.4%
1991 287+2.9%
2001 469+63.4%
2011 517+10.2%
2021 468−9.5%
Distribuição da População por Grupos Etários[6]
Ano 0-14 Anos 15-24 Anos 25-64 Anos > 65 Anos
2001 75 55 216 123
2011 51 54 222 190
2021 36 32 198 202

Lendas editar

  • SERRA LENDÁRIA: “AMAR OFA”

Zacuto, um rico judeu que viajava com a sua única filha Ofa, decidiu comprar o alto da serra de Castelo Rodrigo e a sua encosta até ao rio Côa, para aí construir a sua habitação e iniciar o cultivo dos terrenos e a pastorícia. Ouvindo falar da rara beleza da jovem, o filho do fidalgo das Cinco Vilas fez por conhecê-la e por ela se apaixonou. Inicialmente, esta paixão trouxe grandes dor aos pais do jovem Luís dadas as diferentes religiões que os separavam.

Nessa altura, D. Manuel I ordena a expulsão de todos os judeus que não se convertessem ao cristianismo e Zacuto e Ofa tornam-se cristãos-novos. Essa nova condição permitiu a Luís obter dos pais autorização para frequentar a casa de Zacuto e pedir a mão de sua filha. O novo fidalgo sempre que ia ao alto da encosta dizia a sua mãe: «Vou amar Ofa». Era também esta a resposta que os seus amigos recebiam quando lhes perguntavam das intenções dos seus passeios, pelo que todos já afirmavam quando Luís passava pela povoação em direcção à encosta: «Vai amar Ofa». Os jovens vieram a contrair matrimónio na Igreja do Mosteiro de Santa Maria de Aguiar.

Foi assim que à serra de Castelo Rodrigo se passou a chamar Serra da Marofa (…).

Festas e romarias editar

Artesanato editar

Na carta de foral concedida a Castelo Rodrigo, no ano de 1209, vêm referenciadas as actividades artesanais praticadas no Concelho. Apesar da reduzida produção ainda é possível encontrar no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo alguma actividade artesanal, como a cestaria, a latoaria, a olaria, a ferraria, as miniaturas em madeira e a tecelagem.

Turismo editar

 
Cartel turístico no concelho

A região em torno de Castelo Rodrigo encerra potencialidades turísticas variadas, que vão desde a beleza paisagística a valores históricos, arqueológicos e arquitectónicos, desde a diversidade artesanal e gastronómica a festas e romarias bem características, passando por capacidades piscícolas e cinegéticas.

Os vales profundos dos rios Águeda e Côa, o Douro internacional e o seu cais fluvial, a serra da Marofa que oferece magnificas vistas, constituem, não raras vezes, a motivação para a deslocação dos visitantes, mobilizados pelo deslumbramento de uma paisagem única, onde a existência de miradouros, quer naturais quer construídos, lhes proporciona um quadro de grande qualidade e rara beleza.

Ver também editar

 
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Castelo Rodrigo

Referências

  1. «Carta Administrativa Oficial de Portugal CAOP 2013». descarrega ficheiro zip/Excel. IGP Instituto Geográfico Português. Consultado em 5 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 9 de dezembro de 2013 
  2. a b Instituto Nacional de Estatística (23 de novembro de 2022). «Censos 2021 - resultados definitivos» 
  3. a b «Paróquia de Castelo Rodrigo». Arquivo Distrital da Guarda. Consultado em 24 de Janeiro de 2014 
  4. Castelo Rodrigo, Aldeias Históricas de Portugal
  5. https://books.google.pt/books?id=7uIN42UHaSwC&printsec=frontcover&hl=pt-PT#v=onepage&q&f=false
  6. INE. «Censos 2011». Consultado em 11 de dezembro de 2022