Doninha-amazônica

A doninha-amazônica (Neogale africana), também chamada de lobinho-d'água[1], é um raro mamífero carnívoro da família dos mustelídeos, natural do Equador, Peru e região Norte do Brasil. Tais animais medem cerca de 30 cm de comprimento e também são conhecidos pelo nome de furão. Foi identificado pela primeira vez a partir de um espécime de museu rotulado erroneamente como proveniente de África, daí o nome científico. Originalmente descrita no género Mustela, um estudo de 2021 a reclassificou no género Neogale junto com outras duas antigas espécies de Mustela, bem como as duas espécies anteriormente classificadas em Neovison.[2][3]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaDoninha-amazônica
Taxocaixa sem imagem
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Subfilo: Vertebrata
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Família: Mustelidae
Subfamília: Mustelinae
Género: Neogale
Espécie: N. africana
Subespécie: Neogale africana africana
Neogale africana stolzmanni

Nome binomial
Neogale africana
Desmarest, 1818

História editar

A doninha-amazônica é uma das sete espécies brasileiras da família Mustelidae, a maior família da Ordem Carnívora com cerca de 55 espécies, e que além das doninhas, inclui animais como os furões, a irara, a lontra e a ariranha. Está entre os mamíferos menos conhecidos da fauna sul-americana, sendo raros os registros desde a descrição da espécie há cerca de 170 anos. Foi descrita pela primeira vez em 1838 pelo zoólogo francês Anselm Gaëtan Desmarest, quando encontrou a espécime no Museu de História Natural de Paris, sendo uma dos milhares de exemplares que foram saqueados do Museu da Ajuda de Portugal durante a Invasão Napoleônica. Como não era possível saber a procedência correta do exemplar, Desmarest se limitou a indicar a localidade tipo como “d’Afrique” e tratou de batizar a nova espécie como Mustela africana.

Em 1897, Emílio Goeldi começou a descrever uma nova espécie coletada no Pará e então chamada de Mustela brasiliensis, e em 1913 Angel Cabrera após várias análises concluiu que a espécie descrita por Goeldi era a mesma que a de Desmarest, tornando-se então Mustela brasiliensis sinônimo de Mustela africana. Portanto, apesar do animal ser de origem sul americana, em parte de seu nome possui a palavra “africana”, o que sugere que seja encontrada no continente Africano, o que não é verdade.[4][5]

Descrição morfológica editar

O comprimento corporal varia entre 40 e 51 cm. Ele é geralmente maior que as demais espécies de doninhas sul americanas (Mustela felipei e Mustela frenata).

É um animal de pequeno porte e com corpo fusiforme. Apresenta pescoço alongado; cabeça ampla, alongada e pequena; focinho curto e preto; orelhas redondas e pequenas; olhos pequenos; pernas curtas com as patas sem pelos. Apresenta membrana interdigital, já que é um animal semi-aquático e tem alguns pêlos espalhados na parte ventral dessas membranas. Sua cauda peluda é bem longa (aproximadamente metade do tamanho corporal) e apresenta uma coloração uniforme.

A pelagem é baixa com coloração relativamente uniforme castanha ou avermelhada nas regiões dorsal, lateral e anterior dos membros. Já na região posterior dos membros e o ventre são bege-amarelados. Há uma listra da mesma cor do dorso no meio do ventre cuja forma varia entre os indivíduos. Ela pode se estender para as patas dianteiras ou para a garganta. Em alguns indivíduos chega até o pescoço.

A sua fórmula dentária é:  . A dentição é  especializada para uma dieta carnívora. Os dentes são robustos. As vibrissas faciais são baixas e não chegam a margem posterior da orelha. As fêmeas possuem três pares de mamas: um par na região inguinal e dois pares na região abdominal.[5][6][7]

Características de adultos

(ambos os sexos)

Mustela africana africana Mustela africana stolzmanni
comprimento total 510 mm 476 - 425 mm
comprimento da cauda 200 - 192 mm 175 mm
comprimento da pata traseira 53,3 mm 53 mm
comprimento da orelha 18 mm 21 mm[5]

Ecologia e comportamento editar

A dieta desse mustelídeo é composta por pequenos mamíferos, como roedores. No entanto, se houver escassez das suas presas naturais ou oportunidade, as doninhas não hesitam em atacar galinhas, coelhos ou outros animais domésticos em cativeiro. Por causa deste oportunismo, são perseguidos como pragas em muitas zonas rurais. Possui hábito noturno e diurno, vive solitário, mas pode formar um grupo de quatro indivíduos. É terrestre, mas é apto para a escalada , indicando hábitos arborícolas. Porém também apresenta hábitos semi-aquáticos, uma vez que, apresentam membrana interdigital, sendo capazes de nadar. Vive em floresta úmidas, como a Floresta Amazônica, mas pode ocorrer em áreas mais secas e abertas.[7]

Quando se sente ameaçado se esconde no alto das copas das árvores (acima de 20 metros) e em lugares ocos de árvores no chão.[5]

Descrição geográfica editar

A espécie é distribuída pelo Brasil, Peru e norte da Bolívia, onde se encontra a Bacia Amazônica. Pode estar presente também no sul da Colômbia, mas não há dados para confirmar. Os limites de distribuição não são mais precisos por ser um animal raro e, portanto, poucos espécimes foram coletados.[5]

Habita principalmente florestas úmidas. apesar de já terem sido encontradas em áreas secas e impactadas pela agricultura.

Reprodução editar

A gestação dura, em torno de, um mês. Em uma ninhada podem nascer até 06 filhotes. Esses animais atingem a maturidade sexual por volta dos 03 a 04 meses de vida.[7]

Conservação editar

Esta espécie é considerada como pouco preocupante (least concern–LC) na listagem da IUCN. Isso se deve a grande distribuição da espécie pela Floresta Amazônica. Aparentemente, há grandes populações remanescentes em habitat florestal e as taxas de declínio populacional não são suficientes para encaixá-lo como perto de ameaça (near threathned–NT).

Antigamente, era encaixada como deficiente de dados (data deficient–DD), já que não existem muitos dados sobre ecologia, ameaças e distribuição e poucos espécimes foram coletados para possibilitar seu estudo. Há suspeita de que a Mustela africana em uma grande área de habitat quase intacta, portanto não tem a tendência de declínio populacional.

É necessário maior esforço de pesquisas para determinar a sua distribuição, a presença em áreas protegidas, e o nível de tolerância de perturbação humana, assim como mais informações gerais sobre o animal.[8]

Referências

  1. SUMÁRIO DOS ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL – EIA: TOMO B – VOLUME 4/8
  2. Patterson, Bruce D.; Ramírez-Chaves, Héctor E.; Vilela, Júlio F.; Soares, André E. R.; Grewe, Felix (2021). «On the nomenclature of the American clade of weasels (Carnivora: Mustelidae)». Journal of Animal Diversity. 3 (2): 1–8. ISSN 2676-685X. doi:10.52547/JAD.2021.3.2.1  
  3. Ramírez-Chaves, H.E.; Arango-Guerra, H.L.; Patterson, B.D. (2014). «Mustela africana (Carnivora: Mustelidae)». Mammalian Species. 46 (917): 110–115. doi:10.1644/917.1  
  4. «Arquivo Z – Mustela africana, a doninha-amazônica | Caapora». scienceblogs.com.br. Consultado em 21 de fevereiro de 2017 
  5. a b c d e Ramírez-Chaves, Arango-Guerra, Patterson, Héctor E., Heidi Liliana, Bruce D. «Mustela africana (Carnivora: Mustelidae)». Journal of Mammalogy. doi:https://doi.org/10.1644/917.1 Verifique |doi= (ajuda). Consultado em 15 de fevereiro de 2017 
  6. Nowak, Ronald (1999). Walker´s Mammals of the World. Baltimore: The Johns Hopkins University Press. pp. 705 e 706 
  7. a b c Reis, Nelio (2010). Mamíferos do Brasil: Guia da Identificação. Rio de Janeiro: Technical Books Editora. 479 páginas 
  8. «Mustela africana (Amazon Weasel, Tropical Weasel)». www.iucnredlist.org. Consultado em 21 de fevereiro de 2017