Epaminondas (em grego: Ἐπαμεινώνδας; ca. 418 a.C.362 a.C.) foi um general e político grego do século IV a.C. Foi responsável pela condução de mudanças na cidade-estado de Tebas transformando-a na nova potência hegemônica da Grécia, substituindo Esparta.

EpaminondasCombatente Militar
Epaminondas
Estátua de Epaminondas
Nascimento 418 a.C.
Tebas (Grécia)
Morte 362 a.C. (56 anos)
Mantineia
Serviço militar
Conflitos Batalha de Leuctra, Batalha de Mantineia

Epaminondas redesenhou o mapa político da Grécia, fragmentou antigas alianças, criou novas e supervisionou a construção de cidades inteiras. Também teve grande influência militar, desenvolvendo e implementando diversas e muito importantes táticas de batalha. Antes de seu mandato, Tebas se encontrava sob domínio espartano: Epaminondas conseguiu melhorar a capacidade militar de Tebas a fim de situá-la em uma posição proeminente no quadro geopolítico do mundo helênico, criando o que se conheceria mais tarde como a hegemonia tebana. No processo, acabou com a supremacia militar espartana na Batalha de Leuctra e libertou os hilotas de Messénia, um grupo de gregos do Peloponeso que tinham sido reduzidos à servidão sob as ordens de Esparta durante cerca de 200 anos.

O orador romano Cícero o chamou de "o primeiro homem da Grécia", mesmo tendo Epaminondas caído em uma relativa obscuridade nos tempos modernos.[1] As mudanças que Epaminondas levou à ordem política grega não sobreviveram por muito tempo, dado que o ciclo de hegemonias e alianças ainda não havia se estabilizado. Tão somente 27 anos depois de sua morte, Tebas foi destruída por Alexandre Magno. Por tudo isso, Epaminondas não é lembrado tanto como um idealista e libertador (como foi visto em seu tempo) senão por uma década de campanhas (desde 371 a 362 a.C.) que deram forma e força aos grandes poderes da Grécia e que pavimentou o caminho para a posterior conquista da Macedônia.

Fontes históricas editar

Ainda que Epaminondas tenha sido uma figura muito significativa de seu tempo, há, relativamente, muito pouca informação sobre sua vida ao alcance dos historiadores contemporâneos. Não existe também nenhum historiador clássico que apresente uma imagem completa do personagem. Algumas das biografias mais completas são trabalhos de Cornélio Nepos, Pausânias, Plutarco, Diodoro Sículo e Xenofonte, ainda que nem todas elas tenham chegado aos nossos dias.

A biografia de Cornélio Nepote era curta e se podia encontrar alguns dados mais na descrição da Grécia de Pausânias. Plutarco escreveu uma biografia que foi perdida, ainda que alguns dos detalhes sobre sua vida e trabalho pudessem ser encontrados em sua obra Vidas, sobre Pelópidas e Agesilau II. Dentro das histórias narrativas desse tempo, Diodoro Sículo dá alguns detalhes, enquanto Xenofonte, que idolatrava Esparta e a seu rei Agesilau, evita mencionar Epaminondas sempre que lhe é possível, nem sequer faz menção a sua presença na Batalha de Leuctra. Em qualquer caso, ambos historiadores dispõem de dados sobre os eventos históricos dos tempos de Epaminondas. Além de, e para maior confusão, nem todas as fontes antigas que tratam diretamente o tema de sua vida são consideradas completamente verídicas.

Por todas essas razões, hoje em dia, nos encontramos em uma situação na qual o personagem histórico de Epaminondas é virtualmente desconhecido, e, em particular, em comparação a outros personagens quase contemporâneos como o conquistador macedônio Alexandre, o Grande ou o general ateniense Alcebíades.[2]

Juventude, educação e vida pessoal editar

 
Epaminondas salvando a vida de Pelópidas.

O pai de Epaminondas, Polímnis, era um descendente empobrecido de uma nobre família tebana. Contudo, isso não impediu que Epaminondas recebesse uma educação excelente: seus professores de música eram alguns dos melhores nesta disciplina, igualmente a seus instrutores de dança. Mais notável ainda foi seu professor de filosofia, Lísis de Tarento, que foi um dos últimos grandes filósofos pitagóricos. Lísis tinha ido morar com Polímnis na época de seu exílio, o qual permitiu a Epaminondas trabalhar muito com ele, por isso terminou se destacando em seus excelentes estudos filosóficos.

Porém, Epaminondas não era somente um acadêmico. Também ressaltou por suas qualidades físicas e durante sua juventude dedicou muito tempo à preparação física para combate. Em 385 a.C., em uma contenda próxima à cidade de Mantineia, Epaminondas salvou a vida de seu futuro colega Pelópidas pondo em grave risco a sua própria vida. Este ato pôde alicerçar o que logo foi uma amizade entre os dois que durou por toda a vida. Ao longo de toda sua carreira, Epaminondas continuaria sendo destacado por sua capacidade tática e seu manejo de combate corpo a corpo.

Epaminondas não se casou, fato que lhe expôs a muitas críticas por parte de seus contemporâneos, que pensavam que uma pessoa como ele estava obrigado a fornecer a seu país o benefício de filhos que fossem tão grandes como havia sido seu pai. Em resposta Epaminondas disse que sua vitória em Leuctra era uma filha destinada a viver para sempre. Sabe-se, contudo, que teve diversas relações amorosas com diversos jovens gregos, um costume habitual na Grécia Antiga, e muito particularmente em Tebas. Plutarco coloca que os legisladores tebanos instituíram a prática para «temperar as formas e o caráter dos jovens».[3] Uma anedota contada por Cornélio Nepos indica que Epaminondas havia se intimado com um jovem chamado Micitos. Plutarco também menciona dois de seus amantes: Asópico, que lutou com ele na Batalha de Leuctra, na qual atuou de forma distinta,[4] e Capisdoros, que morreu com Epaminondas em Mantineia e foi enterrado a seu lado.[5]

Epaminondas viveu em situação próxima à pobreza por toda a existência, devido a seu repúdio ao enriquecimento pessoal através do poder político. Cornélio Nepos deixa claro sua incorruptibilidade, descrevendo como rejeitou um embaixador persa que chegou a ele com um suborno. Seguindo o costume dos pitagóricos, era generoso com seus amigos e lhe recomendava que fizessem o mesmo com os demais. Todos estes aspectos de seu caráter contribuíram de forma muito importante ao renome que adquiriu após sua morte.[6]

Início da carreira editar

Epaminondas viveu em uma época turbulenta na história tebana. Depois da Guerra do Peloponeso, em 404 a.C., Esparta adotou uma política unilateral e individualista muito agressiva contra o resto das pólis gregas, e rapidamente foi se aliando a seus antigos parceiros. Tebas, enquanto isso, havia reforçado muito seu poder durante a guerra e buscava ganhar o controle sobre outras cidades de Beócia (a região da Antiga Grécia ao noroeste de Ática). Esta política, assim como mais algumas outras disputas, levaram Tebas a um conflito com Esparta (um antigo aliado) na Guerra de Corinto. Nessa guerra, que se prolongou durante oito anos e acabou sem se inclinar definitivamente por nenhum dos lados, produziram-se algumas derrotas tebanas muito sangrentas em combates contra Esparta. Quando acabou a guerra, Tebas se viu forçada a esquecer suas ambições expansionistas e reatar sua antiga aliança com Esparta.

Em 382 a.C., porém, o comandante espartano Febidas cometeu um erro estratégico que fez com que Tebas se voltasse contra Esparta definitivamente, este fato encaminhou a chegada de Epaminondas. Atravessando Beócia para uma campanha, Febidas se aproveitou de uma revolta civil em Tebas para assegurar a entradas de suas tropas nas cidades. Uma vez lá dentro, assediou Cadmea (a acrópole tebana) e forçou o partido antiespartano a fugir da cidade. Epaminondas, que era associado a essa facção, pôde ficar na cidade porque se pensava que não era mais que um filósofo empobrecido e completamente inofensivo.[7]

Golpe de estado em Tebas editar

Nos anos posteriores à tomada do controle por Esparta, os tebanos exilados pelo novo governo se reagruparam em Atenas e se prepararam, com o apoio encoberto dos atenienses, para reconquistar sua cidade. Comunicou-se com Epaminondas, que começou a preparar os jovens da cidade para uma tentativa de retomar o governo. Em 379 a.C. um pequeno grupo de exilados liderados por Pelópidas se infiltraram na cidade e assassinaram os líderes do governo pró-espartano. Epaminondas e Górgidas dirigiram um grupo de jovens que invadiram os arsenais, apanharam armas e rodearam os espartanos em Cadmea sendo auxiliados por uma força de hoplitas atenienses.

Na assembleia tebana celebrada no dia seguinte Epaminondas e Górgidas trouxeram Pelópidas e seus homens frente à audiência e exortaram aos tebanos que lutassem por sua liberdade. A assembleia respondeu aclamando Pelópidas e seus homens como libertadores e, temendo por suas vidas, a guarnição espartana se rendeu e foi evacuada. Aos tebanos do partido pró-espartano também lhes foi permitido se render; foram posteriormente executados pelos insurgentes.[3]

Após o golpe editar

Quando chegaram em Esparta as notícias do levante em Tebas, foi enviado um exército comandado por Agesilau II para submeter a cidade. Os tebanos, porém, decidiram não enfrentar diretamente o exército espartano no campo de batalha, e se protegeram atrás das muralhas da fortaleza da cidade. Os espartanos se dedicaram, então, a saquear a zona tentando fazer com que saíssem os tebanos, mas estes permaneceram em seu refúgio e, finalmente, os espartanos se foram, com o qual Tebas manteve sua independência.[8]

As cidades de Beócia se uniram como uma federação com um conselho executivo formado por sete generais ou Beotarcas, escolhidos dos sete distritos de Beócia. A fusão política teve tanto êxito que, mais adiante, os nomes tebano e beócio eram usados indistintamente como prova da união dos habitantes da região.

Buscando acabar com a união deste novo estado, os espartanos invadiram três vezes a zona nos anos seguintes. No princípio tentou-se evitar o combate direto, os beócios, pouco a pouco, foram ganhando confiança suficiente para sair em campo aberto e foram capazes de lutar com os espartanos diretamente. Sua confiança aumentou muito mais quando, em 375 a.C., uma força de beócios muito superada em número conseguiu, sob o comando de Pelópidas, atravessar o coração de uma falange espartana para encontrar uma saída durante a Batalha de Tegira.

Ainda que Esparta continuasse sendo o poder supremo grego no combate terrestre, os beócios demonstraram que eles também eram uma ameaça militar crescente e um poder político a se ter em conta. Ao mesmo tempo, Pelópidas, que defendia uma política agressiva contra Esparta, conseguiu se colocar como principal líder político tebano. Nos anos seguintes colaboraria intensamente, com Epaminondas, no projeto da política exterior beócia.[9]

371 a.C. editar

Conferência de paz do ano 371 a.C. editar

Não existe nenhuma fonte que indique em que momento Epaminondas foi escolhido como Beotarca pela primeira vez, mas no ano 371 a.C. já ocupava o posto e, no ano seguinte, estava no controle de uma conferência de paz que aconteceu em Esparta.

Fez-se uma fraca tentativa de conseguir alcançar a Paz Comum em 375 a.C., mas a guerra entre Atenas e Esparta havia ressurgido, já em 373 a.C.. Tebas, enquanto isso, estava fortalecendo sua confederação. No ano de 371 a.C., Atenas e Esparta voltaram a estar preocupadas com a guerra, pelo qual houve a conferência de paz. Nela, Epaminondas provocou uma importante ruptura com Esparta quando insistiu em assinar não somente em nome dos tebanos, mas em nome de todos os beócios. Agesilau II se negou a permitir, insistindo que as cidades de Béocia deveriam ser independentes, mas Epaminondas contra-argumentou que se isso fosse assim, então as cidades da Lacônia deveriam ser também. Diante desta situação, Agesilau expulsou os tebanos da conferência e do tratado, então, a delegação voltou a Tebas e, ambos grupos, se prepararam para a guerra.[10]

Leuctra editar

 
Na parte superior descreve-se a ordem de batalha hoplita habitual, enquanto na parte inferior é mostrada a estratégia de Epaminondas em Leuctra. O lado esquerdo, mais forte, avança, enquanto o fraco lado direito retrocede. Os blocos vermelhos mostram a localização das tropas de elite em cada falange.
 
Disposição das tropas na batalha de Leutra, 371 AC.
 Ver artigo principal: Batalha de Leuctra

Imediatamente depois do fracasso da conferência de paz, enviou-se ordens de Esparta ao rei espartano Cleômbroto I, que se encontrava no comando do exército deslocado ao distrito de Fócida, ordenando-lhe marchar diretamente a Beócia. Desviou-se para o norte para evitar o terreno montanhoso, onde os beócios preparavam uma emboscada, e entrou no território de Beócia a partir de uma direção inesperada e, desde já tomou uma fortaleza e capturou vários trirremes. Daí marcharam até Tebas e acamparam em Leuctra, no território de Téspias. Então, acudiu o exército beócio para se encontrar com eles.

O exército espartano estava composto de cerca de 10 mil hoplitas, dos quais 700 eram guerreiros de elite, conhecidos como esparciatas. Os beócios os enfrentariam com um número inferior, de apenas cerca de 6 mil homens, ainda que acompanhados de uma cavalaria superior à dos peloponésios.[11]

Ao preparar suas tropas para a batalha, Epaminondas utilizou uma estratégia que nunca se tinha visto nas táticas de guerra gregas. Tradicionalmente, as infantarias se alinhavam para a batalha com as tropas de elite situadas à direita, o "flanco de honra". Na falange espartana Cleombroto havia posicionado os esparciatas à direita, enquanto os aliados com menos experiência estavam à esquerda. Epaminondas, que precisava de algum modo poder superar a vantagem numérica dos espartanos, desenvolveu e implementou duas inovações táticas.

Em primeiro lugar, colocou junto com suas tropas de elite tebanas, o Batalhão Sagrado de Tebas, no lado esquerdo. Em segundo, vendo que não poderia alongar muito suas tropas para igualar a longitude da frente espartana, sem que ficassem sem profundidade suficiente, abandonou qualquer tentativa de igualar as frentes. Em seu lugar, tornou sua infantaria muito mais profunda ao lado esquerdo, montando-a em cinquenta filas ao invés das habituais 8 ou 12. Quando começasse a batalha, o lado fortalecido poderia avançar ao ataque com o dobro da velocidade, enquanto o lado mais fraco tinha ordens para se retirar e tratar de atrasar o combate.

A tática da falange profunda já tinha sido utilizada anteriormente por outro general tebano chamado Pagondas, que utilizou uma infantaria de 25 homens de profundidade, na Batalha de Délio, ainda que a idéia de uma linha de ataque descompensada ou "ordem oblíqua" tivesse sido uma inovação de Epaminondas. Portanto, Epaminondas foi o general que inventou a tática militar de deslocamento de um dos lados.[12]

A batalha começou com o encontro entre as cavalarias, na qual os tebanos saíram vitoriosos. A cavalaria espartana foi deslocada e enviada contra sua própria falange, o que provocou na desordem da organização. Vendo nisso uma vantagem, os beócios apertaram seu ataque. Cleombroto morreu na batalha e, ainda que os espartanos se mantivessem firmes suficiente o tempo todo como para recuperar seu corpo, suas linhas acabaram se rompendo pelo impulso do assalto tebano. Em um momento crítico, Pelópidas dirigiu o Batalhão Sagrado em um ataque frontal que obrigou os espartanos a fugir.

Por sua parte, o resto do exército composto pelos aliados peloponésios, ao ver os espartanos postos em fuga, também romperam as filas e fugiram. O exército completo se retirou de forma desordenada, morreram 4 000 peloponésios enquanto os beócios perderam somente cerca de 300 homens. Além disso, e o mais importante, morreram no campo de batalha 400 dos 700 esparciatas que participaram da batalha, o qual supôs uma perda catastrófica que indicou uma séria ameaça para a futura capacidade militar de Esparta.

A década de 360 a.C. editar

 Ver artigo principal: Hegemonia tebana

Primeira invasão do Peloponeso editar

 
Grécia Antiga

Durante quase um ano depois da vitória de Leuctra, Epaminondas se ocupou na consolidação da confederação de Beócia, exortando a pólis de Orcomeno, que até então tinha estado alinhada com Esparta, que se unisse à Liga. No final de 370 a.C., contudo, dado que os espartanos comandados por Agesilau se encontravam lutando para disciplinar Mantineia, Epaminondas decidiu capitalizar sua vitória mediante uma invasão do Peloponeso que pusesse fim ao poder espartano de uma vez por todas. Forçou o passo através das fortificações no istmo de Corinto e marchou ao sul até Esparta, enfrentando contingentes espartanos e seus aliados ao longo do caminho.

Em Arcádia expulsou o exército espartano que ameaçava Mantineia, e logo supervisionou a fundação da nova cidade de Megalópolis e a formação de uma Liga Arcádia modelada à imagem da Confederação Beócia. Mais ao sul, cruzou o rio Eurotas, na fronteira com Esparta, que nenhum exército hostil havia chegado a atravessar antes na história. Os espartanos, que não desejavam enfrentar um exército tão massivo, se refugiaram atrás dos muros de sua cidade, enquanto os tebanos e seus aliados saqueavam a Lacônia. Epaminondas voltou rapidamente a Arcádia e logo retomou a marcha até o sul, desta vez até Messénia, território que havia sido conquistado por Esparta cerca de 200 anos antes. Reconstruíram a antiga cidade de Messene sobre o monte Itome, com fortificações comparadas às mais fortes da Grécia. Depois enviou uma chamada a todos os exilados messênios espalhados por toda a Grécia para que voltassem e reconstruíssem seu país.

A perda de Messénia foi, particularmente, daninha para os espartanos, dado que seu território compreendia um terço do total de Esparta, e continha metade de sua população de hilotas.

Em poucos meses, Epaminondas havia criado dois novos estados inimigos de Esparta, havia atacado o alicerce de sua economia e devastado seu prestígio. Uma vez cumprido tudo isto, dirigiu seu exército vitorioso de volta para casa.[13]

Juízo editar

Em sua volta para casa, Epaminondas não encontrou uma recepção digna de um herói, senão um juízo preparado por seus inimigos políticos. O cargo do qual se lhe acusava era de haver retido seu posto à frente do exército mais tempo do que se permitia constitucionalmente, o qual era indiscutivelmente certo: Epaminondas havia convencido ao resto dos Beotarcas para permanecer no campo de batalha por vários meses depois que seu cargo houvesse expirado, ainda que houvesse feito para poder cumprir tudo o que se havia proposto no Peloponeso. Em sua defesa, Epaminondas somente solicitou que, se fosse executado, a inscrição que aparecesse no veredicto dissesse:

O jurado rompeu o riso, retirou-se do cargo, e Epaminondas foi reeleito Beotarca no ano seguinte.

Campanhas posteriores editar

Em 369 a.C. Epaminondas voltou a invadir o Peloponeso, ainda que desta vez suas conquistas tenham sido mais limitadas. Conseguiu que Sicião trocasse sua lealdade para a aliança com Tebas, mas pouco mais. Quando voltou a Tebas deparou-se, novamente, com um novo juízo, e mais uma vez foi declarado inocente.

Apesar de seus êxitos, no ano seguinte não foi reeleito como governante. Foi o único ano, desde a vitória de Leuctra até sua morte que não foi assim.[15] Este ano serviu no exército como simples soldado, quando o exército marchou até Tessália para resgatar Pelópidas, que havia sido feito prisioneiro por Alexandre de Feras enquanto atuava como embaixador. Os generais que dirigiram a expedição foram superados e forçados a se retirar para salvar seu exército. De volta a Tebas, Epaminondas foi restaurado ao comando e levou o exército de volta a Tessália, onde superou taticamente os tessálios e obrigou a libertação de Pelópidas sem, nem sequer, ter lutado.[3]

Em 366 a.C., tentou-se levar a cabo um novo tratado de paz entre todas as pólis gregas em uma conferência em Tebas, mas as negociações não conseguiram superar a hostilidade entre Tebas e outros estados que estavam resistindo por sua hegemonia. Nunca se chegou a aceitar a paz por completo e logo se reiniciou a guerra.[16] Na primavera desse mesmo ano, Epaminondas tornou a invadir o Peloponeso pela terceira vez, procurando, nesta ocasião, assegurar a lealdade dos estados de Acaia. Ainda que não tenha havido nenhum exército que se atrevesse a encará-los em campo aberto, os governos democráticos que estabelecia tinham vidas muito curtas, porque os aristocratas pró-espartanos que fugiam da cidade, logo voltavam e restabeleciam as oligarquias, e prendiam as cidades ainda com mais força a Esparta.[17]

Durante a década posterior à Batalha de Leuctra, inúmeros aliados de Tebas foram mudando suas alianças e se aproximando de Esparta ou, inclusive, a outros estados hostis. Já em 371, a assembleia ateniense tinha reagido ante a notícia de Leuctra com um silêncio sepulcral. Aliados de confiança, como Feras, também se voltaram contra seu novo e dominante aliado nos anos posteriores à batalha. Em meados da década, inclusive, alguns arcádios (os que tinham visto como Epaminondas criava sua Liga em 369 a.C.) tinham se voltado contra ele. Só os messênios se mantiveram fielmente leais.

Os exércitos de Beócia lutaram de uma costa à outra na Grécia, mediante à aparição de oponentes por todas as frentes. Em 364 a.C., Epaminondas chegou a dirigir seu estado contra Atenas por mar.[15] Nesse mesmo ano, Pelópidas morreu lutando contra Alexandre em Tessália. Para Epaminondas sua morte supôs a perda de seu maior aliado político.[3]

Batalha de Mantineia editar

 Ver artigo principal: Batalha de Mantineia

Em vista desta oposição crescente ao domínio tebano, Epaminondas enviou sua última expedição ao Peloponeso em 362 a.C.. O principal objetivo da expedição era submeter Mantineia, que havia se oposto à influência tebana na região. Contudo, ao se aproximar de Mantineia, Epaminondas recebeu a notícia de que haviam enviado tantos espartanos para defender a cidade que a própria Esparta havia ficado quase indefesa. Vendo uma oportunidade, Epaminondas marchou até a Lacônia à maior velocidade possível.

A notícia da mudança de rumo de Epaminondas chegou ao rei Arquídamo III de Esparta através de um mensageiro, e este teve tempo suficiente para preparar a chegada de Epaminondas, que se encontrou com uma cidade bem defendida em sua chegada. Epaminondas, esperando que seus adversários tivessem deixado a defesa de Mantineia em sua pressa por proteger Esparta, voltou a marchar para sua base de Tégea e enviou sua cavalaria a Mantineia, ainda que um encontro fora das muralhas com a cavalaria ateniense tenha frustrado, também, esta nova estratégia.

Vendo que seria necessária uma batalha de hoplitas para preservar a influência tebana no Peloponeso, Epaminondas preparou seu exército para o combate.[18]

O que se produziu na planície em frente a Mantineia foi a maior batalha hoplita da história da Grécia. Participaram quase todos os estados gregos, de um lado ou de outro. Com Beócia se aliaram uma série de grupos, os tegeus, os megalopolitanos e os argivos entre eles. Do lado de Mantineia e Esparta estavam também os atenienses, elisanos e muitos outros. As infantarias de ambos exércitos eram de 20 mil a 30 mil homens.

Como em Leuctra, Epaminondas colocou os tebanos à esquerda, opostos aos espartanos e mantineanos, com os aliados à direita. Nas laterais colocou uma importante força de cavalaria reforçada com infantaria. Com isso esperava conseguir uma rápida vitória nos combates de cavalaria e começar a romper a falange inimiga.

A batalha se desenvolveu como Epaminondas havia planejado: as forças das laterais fizeram retroceder a cavalaria de Atenas e Mantineia e iniciaram o ataque às falanges inimigas. Na batalha entre os hoplitas houve um breve equilíbrio inicial, mas logo os tebanos conseguiram romper as linhas espartanas, e a falange inimiga completa foi disposta em fuga. Parecia que seria uma nova vitória decisiva de Tebas baseada no modelo de Leuctra mas, quando os vitoriosos tebanos se lançaram em perseguição aos inimigos, Epaminondas foi ferido mortalmente. Morreu pouco depois.

À medida que a notícia da morte de Epaminondas se estendia no campo de batalha de um soldado a outro, os aliados cessavam a perseguição ao exército derrotado, como uma prova da importância central de Epaminondas na guerra. Xenofonte, que termina seu relato com a Batalha de Mantineia, faz o seguinte comentário sobre o resultado do combate:

Com suas últimas palavras, se diz que Epaminondas aconselhou aos tebanos que promovessem a paz, dado que não haveria ninguém mais que os pudesse liderar. Depois da batalha se firmou uma paz comum, passada no statu quo.

Legado editar

 
Isaak Walraven, O leito de morte de Epaminondas. Rijksmuseum, Amsterdã.

As biografias escritas sobre Epaminondas descrevem-no sempre como um dos personagens mais capazes dos que apareceram nas cidades-estado gregas em seus últimos 150 anos de independência. Em assuntos militares se encontra acima de qualquer outro tático na história grega, com a possível exceção de Filipe II da Macedônia, ainda que alguns historiadores modernos tenham questionado sua visão estratégica mais ampla.[19] Sua estratégia em Leuctra lhe permitiu derrotar a temida falange espartana com uma força menor, e sua decisão de negar o uso do lado direito foi a primeira utilização registrada deste tipo de estratégia militar em campo de batalha. Muitas das mudanças táticas que implementou seriam logo usadas por Filipe II, que passou muito tempo em sua juventude como refém em Tebas, e é possível que, inclusive, tenha aprendido diretamente com Epaminondas.[12] Victor Davis Hanson sugeriu que a formação filosófica de Epaminondas pode ter contribuído com o desenvolvimento de suas habilidades como general.[12]

Em questão de caráter, Epaminondas estava fora de toda repreensão aos olhos dos antigos historiadores que estudaram sua vida. Seus contemporâneos elogiavam-no por desdenhar a riqueza material, compartilhando todas as suas posses com os amigos e repudiando os subornos. Ao que parece, sendo um dos últimos herdeiros da tradição pitagórica, viveu uma na simplicidade e na ascese, inclusive quando sua liderança lhe catapultou até a posição mais alta, o comando de toda a Grécia.

De certo modo, Epaminondas alterou de forma dramática a face da Grécia nos 10 anos em que foi a figura principal da política. No momento de sua morte, Esparta havia sido golpeada, Messénia havia sido libertada e o Peloponeso se organizou completamente. Partindo de outro ponto de vista, porém, deixou para trás uma Grécia não muito diferente da que já havia antes: as inimizades e as amargas diferenças que haviam envenenado as relações entre as pólis durante séculos continuavam tão profundas ou mais em relação ao que eram antes de Leuctra. A guerra brutal entre as distintas facções que houve na Guerra do Peloponeso e até então continuou igual, até que o surgimento da Macedônia como potência militar principal terminou com ela para sempre.

Em Mantineia, Tebas enfrentou as forças combinadas dos maiores estados da Grécia, mas a vitória não lhe supôs nenhuma vantagem. Com Epaminondas fora de cena, os tebanos voltaram a sua tradicional política defensiva, e, alguns anos depois, Atenas substituiu-os na liderança do sistema político grego. Nenhum estado grego voltou a submeter Beócia da mesma forma em que se havia visto submetido durante a hegemonia espartana, mas a influência de Tebas foi se esfumando rapidamente no resto da Grécia. Finalmente, na Batalha de Queroneia, as forças combinadas de Tebas e Atenas, juntas numa tentativa desesperada de resistir a Filipe da Macedônia, foram derrotadas de forma esmagadora e a independência de Tebas chegou a seu fim. Três anos depois, empurrados por um falso rumor de que Alexandre, o Grande teria sido assassinado, os tebanos se rebelaram, e Alexandre esmagou a revolta e destruiu a cidade, massacrando ou reduzindo à escravidão todos os seus cidadãos.

 
Ruínas de Tebas

Somente 27 anos depois da morte do homem que se fez preeminente em toda Grécia, a cidade de Tebas foi apagada da face da Terra. Sua história que havia durado um milênio, foi finalizada em poucos dias.[15]

Epaminondas, portanto, é recordado por igual como libertador e como destruidor. Foi considerado tanto no mundo grego quanto no romano como um dos maiores homens da história. Cícero elogiou-o como «o primeiro homem, em minha opinião, da Grécia»[12] e Pausânias escreveu um poema honorário para sua tumba:

As ações de Epaminondas foram, sem dúvida, bem-vindas pelos messênios e por outros aos quais ajudou em sua campanha contra Esparta. Esses mesmos espartanos, contudo, estiveram no centro da resistência às invasões persas do século V a.C., e sua ausência, sem dúvida, foi notada em Queronea. A guerra interminável da Grécia, na qual Epaminondas tirou proveito de um papel central, debilitou as cidades da Grécia até que não puderam se manter independentes frente aos vizinhos do norte. Enquanto Epaminondas lutava para assegurar a liberdade de Beócia e de outros gregos, aproximou o dia em que toda Grécia seria submetida por um invasor. Victor Davis Hanson sugere que Epaminondas pode ter planejado a criação de uma Grécia unida, composta por federações democráticas regionais, mas se esta opinião é certa, o plano nunca chegou a ser posto em prática. Apesar de todas suas nobres qualidades, Epaminondas foi incapaz de superar o sistema grego de cidades-estado, com sua rivalidade endêmica e sua guerra contínua, pelo que deixou a Grécia ainda mais arrasada pela guerra, mas igualmente dividida, assim como havia encontrado.

Ver também editar

Referências

  1. Customer Reviews - "The Soul of Battle: From Ancient Times to the Present Day, Three Great Liberators Vanquished Tyranny"
  2. Victor Davis Hanson, The Soul of Battle.
  3. a b c d Plutarco, Vida de Pelópidas.
  4. Atheneo, Deipnosophists, 605-606.
  5. Plutarco, Diálogo sobre el Amor (Moralia 761).
  6. O restante da informação desta seção na qual não se cita expressamente outra fonte, procede de Cornélio Nepos, Vida de Epaminondas.
  7. Toda a informação desta seção procede de J.V. Fine, The Ancient Greeks: A Critical History.
  8. Xenofonte, Hellenica 5.4.10-19.
  9. Todos os detalhes relacionados à confederação beócia e sua política procedem de Hanson, The Soul of Battle.
  10. Plutarco, Vida de Agesilao.
  11. Para estes fatos e a descrição da batalha, veja: Diodoro, Library 15.52-56, Xenofonte, Hellenica 6.4.4-20, e Plutarco, Vida de Pelópidas. Para uma síntese, veja Fine, The Ancient Greeks.
  12. a b c d Hanson, The Soul of Battle.
  13. Para a invasão e liberação de Messénia veja Diodoro, Library 15.66, Xenofonte, Hellenica 6.5.27-32, e Plutarco, Vida de Pelópidas. Para uma síntese, veja Fine, The Ancient Greeks.
  14. Cornélio Nepos, Vida de Epaminondas.
  15. a b c Fine, The Ancient Greeks.
  16. Fine, The Ancient Greeks
  17. Xenofonte, Hellenica 7.1.41-43..
  18. Para esta campanha e a batalha de Mantineia, veja Diodoro, Library 15.82-89, Xenofonte, Hellenica 7.5.9-27, e Plutarco, Vida de Agesilao. Para uma síntese, veja Fine, The Ancient Greeks.
  19. James F. Lazenby, "Epaminondas", de The Oxford Classical Dictionary, Hornblower, Simon, and Antony Spawforth ed.
  20. Pausanias, Descrição da Grécia 9.15.6.

Ligações externas editar