O escudo de Aquiles teria sido usado pelo lendário herói grego para combater o troiano Heitor, numa passagem célebre da Ilíada, de Homero (Livro XVIII, versos 478-608).

O desenho do escudo tal como interpretado por Angelo Monticelli, em Le Costume Ancien ou Moderne, c. 1820.

No poema, Aquiles perdeu sua armadura após emprestá-la a seu companheiro, Pátroclo. Pátroclo então é morto em combate por Heitor, e suas armas são levadas como espólio. A mãe de Aquiles, Tétis, pede ao deus Hefesto que forneça uma armadura substituta a seu filho.

A passagem que descreve o escudo é um exemplo antigo de écfrase (uma descrição literária de uma obra de arte visual), e influenciou diversos poemas posteriores, incluindo O Escudo de Héracles, obra que durante algum tempo chegou a ser atribuída a Hesíodo.[1] A descrição do escudo de Enéas feita por Virgílio no livro VIII da Eneida foi claramente inspirado em Homero.[2] O poema The Shield of Achilles ("O Escudo de Aquiles"), de 1952, do poeta inglês W. H. Auden, recria a descrição de Homero com base no contexto do século XX.

Descrição editar

Homero dá uma descrição detalhada das imagens que decoram o novo escudo de Aquiles. Começando a partir do centro do objeto, e avançando gradualmente para fora, camada por camada do círculo, elas estão dispostas da seguinte maneira:

  1. A Terra, o céu e o mar, a Lua e as constelações (484-89)
  2. "Duas belas cidades, cheias de pessoas": numa ocorrem um casamento e um caso judicial (490-508); a outra está sendo sitiada por um exército, e o escudo mostra uma emboscada e uma batalha(509-540).
  3. Um campo sendo arado pela terceira vez (541-549).
  4. A propriedade de um rei onde a colheita está sendo feita (550-560).
  5. Um vinhedo, com os trabalhadores fazendo a colheita (561-572).
  6. Um "rebanho de gado de chifres retos"; o touro principal foi atacado por um par de leões selvagens, que o pastor e seus cães está tentando assustar (573-586).
  7. Imagem de uma fazenda de ovelhas (587-589).
  8. Um recinto onde jovens rapazes e garotas estão dançando (590-606).
  9. O grande riacho do Oceano (607-609).[3]

Interpretação editar

O Escudo de Aquiles pode ser interpretado de diversas maneiras. Uma destas interpretações é de que o escudo seria simplesmente uma encapsulação física do mundo inteiro. As camadas do escudo representariam uma série de contrastes, como trabalho e feriado, guerra e paz - embora a presença de um assassinato no retrato da cidade durante o tempo de paz mostraria que o homem nunca está totalmente livre do conflito. Wolfgang Schadewaldt, um autor alemão, argumentou que estas antíteses que se cruzam mostram as formas básicas de uma vida civilizada, e essencialmente ordenada.[4] Este contraste também é visto como uma maneira de "nos fazer ver [a guerra] em relação à paz".[5] A descrição do escudo se encontra, na obra, entre o combate pelo corpo de Pátroclo e o retorno de Aquiles à batalha, este último episódio servindo como ímpeto para uma das partes mais sangrentas do poema. Pode também ser interpretado como um lembrete, para o leitor, de tudo que será perdido quando Tróia for derrotada, ao final.[6]

Referências

  1. The Oxford Companion to Classical Literature (ed. de 1989) p. 519
  2. Shield of Aeneas Arquivado em 13 de julho de 2011, no Wayback Machine.. Peter J. Leithart, Ph.D.
  3. Homero, Ilíada, trad. para o inglês de E.V. Rieu (Penguin Classics, 1950) pp. 349-53
  4. Schadewaldt, Wolfgang. “Der Schild des Achilleus,” Von Homers Welt und Werk (Stuttgart, 1959).
  5. Taplin, Oliver. “The Shield of Achilles within the Iliad,” G&R 27 (1980) 15.
  6. Scully, Stephen. “Reading the Shield of Achilles: Terror, Anger, Delight,” Harvard Studies in Classical Philology, Vol. 101. (2003), pp. 29-47.
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Shield of Achilles».

Ligações externas editar

 
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