Paranzém

(Redirecionado de Farantzem)

Paranzém, também conhecida como Pharantzem,[1] P’arhanjem,[2] Parantzem,[3] Pharandsem,[4] Paranjem[5] e Parandzem[6] de Siunique (em armênio/arménio: Փառանձեմ; fl. século IV — m. inverno de 369/370[7]), foi uma nobre armênia que, pelo matrimônio, vinculou-se à dinastia arsácida da Armênia. Membro da família nobre de Siunique, casou-se com Genelo, sobrinho do rei Ársaces II (r. 350–368).

Paranzém
Rainha consorte armênia
Reinado 360368
Rainha reinante armênia
Reinado 368-369/370
Predecessor(a) Ársaces II
Sucessor(a) Papas
Nascimento século IV
  Siunique
Morte inverno de 369/370
  Ctesifonte
Cônjuge Genelo
Ársaces II
Descendência Papas (com Ársaces II)
Casa Siuni e Mamicônio
Dinastia arsácida
Pai Antíoco II
Religião Catolicismo armênio

Após sua elevação, utilizou de sua influência para elevar seu pai Antíoco II à posição de príncipe de Siunique. Devido a sua beleza, foi cobiçada pelo primo de seu marido, Tirites, que provocou a morte dele por meio de uma conspiração. Mais tarde, casou-se outra vez, desta vez com Ársaces. Nesse tempo conspirou contra Olímpia, a segunda esposa do rei, e organizou, após a captura e morte de seu marido, a resistência perante uma invasão sassânida sob o Sapor II (r. 309–379).

Biografia editar

Família editar

Paranzém nasceu na província de Siunique, na Armênia, e era filha de Antíoco II[8], que foi nacarar[2] da família Siuni c. 340; através de seu pai era descendente de Sisaque.[9] Seu tio paterno era Valinaces I. Sua mãe foi uma nobre de nome desconhecido da família Mamicônio, filha de Vache I,[10] e ela teve ao menos um irmão, Babices I, que foi nacarar de Siunique em 379. Cyril Toumanoff sugeriu que ela ainda teve outra irmã, que casar-se-ia com Bassaces I Mamicônio.[10]

Primeiro casamento editar

 
Armênia em 150. Siunique é uma das províncias mais orientais
 
Soldo de Constâncio II (r. 324–361)

Nada se sabe sobre sua infância. Casou-se com o popular príncipe arsácida Genelo, filho de Tirídates e sobrinho do rei Ársaces II (r. 350–368).[11] Utilizando-se de sua elevação como consorte de um dinasta, derrubou seu tio Valinaces e colocou seu pai como senhor de Siunique.[12] Sua beleza e modéstia tornaram-a popular na corte e ela atraiu a atenção do primo paterno de seu marido, Tirites, que apaixonou-se e desejou-a como esposa. Tirites, tentando tramar contra seu primo Genelo, aproximou-se de Ársaces II e disse-lhe: "Genelo quer reinar, e matá-lo. Todos os nobres, os nacarares e os azatani como Genelo e todos os nacarares da terra preferem a suserania dele a sua. Eles dizem, 'olhe e veja o que você faz, rei, de modo que você possa salvar-se'". Ársaces II teve grande rancor de Genelo, constantemente tentando dissuadi-lo e armando contra ele. Nesse momento, Genelo tentou fugir com sua esposa, mas foi morto na época do festival de Navasarde, em agosto de 359.[11] Após a morte e enterro de Genelo, uma ordem foi emitida para que lamentassem a morte dele; Ársaces II chorou e lamentou por muito tempo, enquanto Paranzém arrancou suas roupas, gritou e chorou muito.[2]

Após livrar-se de seu primo, Tirites foi capaz de aproximar-se de Paranzém: enviou-lhe seu mensageiro para ler uma nota na qual dizia: "Não lamente tanto, porque eu sou um homem melhor do que ele foi. Eu amei você e, portanto, trai-o à morte, para que eu pudesse levá-la em casamento". De seu pranto, Paranzém ergueu-se em protesto, arrancou seus cabelos e gritou: "ouçam todos, a morte de meu marido ocorreu por minha causa. Por aquele que tinha um olho em mim, tive meu marido morto." Quando os armênios, e em particular o rei, ouviram os gritos, começaram a perceber a conspiração de Tirites e a morte sem sentido de Genelo; mais tarde, após enviar uma mensagem para Ársaces II solicitando a permissão dele para que pudesse se casar com Paranzém, foi condenado e morto próximo de Baseno.[2] Sua execução ocorreu ainda em 359.[11]

Segundo casamento editar

 
Dinar de ouro de Sapor II (r. 309–379)
 
Soldo de Valente (r. 364–378)

Em 360, Ársaces II desposou Paranzém. Em algum momento após seu casamento, a rainha engravidou. Ela deu à luz um filho, que eles chamaram Papas,[2] sendo ele o único filho nascido de Paranzém. Ela também foi madrasta de Anobes, o primeiro filho do rei, nascido de uma antiga união antes de sua ascensão ao trono. Devido aos eventos anteriores, e mesmo o rei a amando, a rainha o detestava: "Fisicamente, ele é peludo, e sua cor é escura". Quando notou que seria impossível reconciliar-se, solicitou ao imperador Constâncio II (r. 324–361) nova esposa. Sua pretendente era Olímpia,[2] uma nobre grega de Creta.[13] Moisés de Corene, entretanto, considera Olímpia a primeira esposa.[14][a]

Paranzém sentiu rancor e grande inveja de Olímpia e após o nascimento de seu filho, conspirou para matá-la por envenenamento. Olímpia, no entanto, foi muito cautelosa perante a ameaça e aceitou apenas as comidas e bebidas trazidas por suas criadas. Assim, incapacitada de fazer-lhe mal, a rainha aproximou-se dum presbítero da corte chamado Mirjiunices (Mrjiwnik)[2] e na comunhão de Olímpia, em 361,[11] ele envenenou-a[13] e foi recompensado a vila de Goncunque (Gomkunk'), no distrito de Taraunitis.[2]

No ano 367 ou 368, o Sapor II (r. 309–379) tramou um complô contra Ársaces II, que foi levado como prisioneiro político e morreu em cativeiro. Isto foi parte do plano do xá para conquistar a Armênia, já que os tratados com os imperadores Joviano (r. 363–364) e Valente (r. 364–378) falharam. Após capturar Ársaces, enviou seu exército. Quando o exército se preparava para invadir, Paranzém e Papas levaram o tesouro armênio e se esconderam na fortaleza de Artogerassa, onde foram defendidos pelas tropas dos azatani. A invasão foi liderada por Cílaces e Arrabanes, dois armênios que desertaram para Sapor.[15] Cílaces e Arrabanes foram apoiados pelos nobres Baanes, o Apóstata e Meruzanes I Arzerúnio que também desertaram.[5] Sapor queria suprimir o governo arsácida e substituir a dinastia por administradores persas e senhores aristocráticos armênios tradicionais.[16]

Paranzém foi capaz de iniciar negociações com Cílaces e Arrabanes para a rendição da fortaleza durante este tempo; ela apelou para eles em nome de seu marido. Arrabanes e Cílaces novamente desertaram, desta vez para o lado de Paranzém, e enviaram por segurança Papas à Anatólia, em direção a corte de Valente. Durante seu tempo na corte romana, Papas comunicou-se com sua mãe e encorajou-a a esperar por seu resgate.[16] Valente estava trabalhando para restaurar Papas no trono arsácida e retirar o exército de Sapor da Armênia. Quando o xá ouviu de sua restauração, ao invés de ir em direção a ele, concentrou-se em capturar a rainha. Após dois anos de cerco à Artogerassa, as forças persas finalmente capturaram a fortaleza e dominaram o país. Paranzém foi levada, junto com o tesouro real, ao palácio de Sapor que, esperando humilhar a Armênia e o Império Romano, deu a rainha a seus soldados que violentamente a estupraram até a morte.[7]

Notas editar

[a] ^ A historiografia moderna, de modo a torná-lo mais coerente, tem lido o relato de Fausto, o Bizantino invertidamente, ou seja, colocando o casamento com Olímpia antes do casamento com Farentzem. Segundo os autores da PIRT, por exemplo, o casamento ocorreu em 354,[17] enquanto que para Richard G. Hovannisian ocorreu em 358, quando o católico Narses I, o Grande (r. 353–373) foi enviado ao Império Romano para buscá-la.[11] Outros como Nina Garsoïan, por sua vez, consideram que a ordem dos casamentos é possível, mas admitem que é improvável que Papas tenha nascido após o segundo casamento de seu pai, pois já havia alcançado a puberdade no tempo da queda de seu pai e tinha idade o suficiente para tornar-se rei de pleno direito em 368/369. Garsoïan pensa que não deve ter nascido muito depois de 352.[18]

Referências

  1. Tisdall 1897, p. 211; 214; 255.
  2. a b c d e f g h Fausto, o Bizantino século V, IV.XV.
  3. Kurkjian 2008, p. 105-106.
  4. Gibbon 1840, p. 222.
  5. a b Lenski 2003, p. 170-171.
  6. Adalian 2010, p. XXXIII.
  7. a b Lenski 2003, p. 172.
  8. Kurkjian 2008, p. 262.
  9. Minorsky 1953, p. 505.
  10. a b Toumanoff 1990, p. 329.
  11. a b c d e Hovannisian 1997, p. 89.
  12. Grousset 1947, p. 131.
  13. a b Kurkjian 2008, p. 105.
  14. Moisés de Corene 1978, p. 280.
  15. Lenski 2003, p. 170.
  16. a b Lenski 2003, p. 171.
  17. Martindale 1971, p. 642.
  18. Fausto, o Bizantino 1989, p. 286.

Bibliografia editar

  • Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachussetes: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvard 
  • Gibbon, Edward (1840). The history of the decline and fall of the Roman Empire, Volumes 3-4. Paris: Baudry's European Library 
  • Grousset, René (1947). História da Armênia das origens à 1071. Paris: Payot 
  • Lenski, Noel Emmanuel (2003). Failure of Empire: Valens and the Roman State in the Fourth Century A.D. Berkeley e Los Angeles: California University Press. ISBN 978-0-520-23332-4 
  • Martindale, J. R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1971). The prosopography of the later Roman Empire - Vol. I AD 260-395. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press 
  • Minorsky, V. (1953). «Caucasica IV». Bulletin of the School of Oriental and African Studies. 15 (3) 
  • Moisés de Corene (1978). Thomson, Robert W., ed. History of the Armenians. Cambrígia, Massachussetes; Londres: Harvard University Press 
  • Toumanoff, Cyril (1990). Les dynasties de la Caucasie chrétienne de l'Antiquité jusqu'au xixe siècle : Tables généalogiques et chronologiques. Roma: Edizioni Aquila