Fianna Fáil - The Republican Party (Soldados da Irlanda - Partido Republicano) é um partido político liberal da República da Irlanda.[2]

Partido Republicano
Fianna Fáil-The Republican Party
Líder Micheál Martin
Fundador Éamon de Valera
Fundação 16 de maio de 1926
Sede Dublin,  Irlanda
Ideologia Conservadorismo
Liberalismo económico
Europeísmo
Irlanda Unida
Populismo
Republicanismo irlandês
Espectro político Centro a Centro-direita
Ala de juventude Ógra Fianna Fáil
Antecessor Sinn Féin (cisão)
Membros (2020) 18 000[1]
Afiliação internacional Internacional Liberal (observador)
Afiliação europeia ELDR
Grupo no Parlamento Europeu Renovar Europa
Dáil Éireann
37 / 160
Seanad Éireann
16 / 60
Parlamento Europeu
2 / 13
Governo Local
278 / 949
Cores Verde, Branco e Laranja

História editar

 
Éamon de Valera, fundador do Fianna Fáil.

O partido foi fundado em 1926, por Éamon de Valera, como uma cisão do Sinn Féin, pela questão da política de abstencionismo adoptado pelos nacionalistas.[3] As origens históricas deste partido remontam à Guerra Civil Irlandesa, em que facção liderada por Éamon de Valera, era completamente contra o Tratado assinado com o Reino Unido, em 1921, e, defendia uma Irlanda, unida e republicana.

A nível eleitoral, o partido transformou-se um partido enormemente poderoso e hegemónico, ganhando todas as eleições legislativas irlandesas de 1932 a 2007, sucesso apenas comparável com os social-democratas suecos e democratas-cristãos italianos, mas, nas eleições de 2011, o partido obteve o seu pior resultado eleitoral, ficando-se como terceiro partido, com apenas 17,5% dos votos e 20 deputados.[4]

A nível europeu, o Fianna Fáil é membro da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa e, a nível internacional observador da Internacional Liberal.

O líder do Fianna Fáil é Micheál Martin, desde 26 de janeiro de 2011, o atual Taoiseach.

Ideologia editar

O Fianna Fáil, ideologicamente, é um dos maiores exemplos de um partido pega-tudo, não sendo fácil nomear uma linha ideológica aos diferentes membros e apoiantes do partido.[5] O partido, apesar de tudo, sempre foi um partido conservador,[6][7] tendo, historicamente, relações próximas dos representantes da Igreja Católica na Irlanda.[8] Além disto, o partido também, historicamente, tem tido o apoio dos sindicatos irlandeses, com muito membros sindicais a apoiarem o partido,[9] muito graças aos vários acordos de governos Fianna Fáil com os sindicatos, que protegiam os seus interesses.[10] Esta capacidade do partido, em se aproximar da Igreja e dos sindicatos, prova bem o seu estatuto de partido pega-tudo, com capacidade de, tanto atrair votantes católicos e religiosos,[11] bem como votantes de classe trabalhadora.[12]

A nível económico, o partido tem sofrido grandes transformações. Inicialmente, o partido seguia um modelo que defendia a intervenção do Estado na economia, o protecionismo económico contra concorrência estrangeira,[13] políticas de redistribuição da riqueza e a criação de um Estado de bem-estar social,[13] algo que foi defendido pelo partido até a década de 1990, quando, o partido começou a seguir uma linha económica neoliberal, defendendo uma política de privatizações, cortes no Estado Social, conservadorismo fiscal e políticas que apoiem a liberdade de mercado de concorrência, algo que, contribui para, na década de 1990, um crescimento económico notável, que ficou conhecido como Tigre celta.[14]

Além destas nuances ideológicas, o partido sempre adoptou um tom populista, algo que lhe permitiu, como acima referida, votantes das mais diferentes áreas.[10] O partido também, historicamente, foi um grande defensor da reunificação das Irlandas, mas actualmente, defende que, tal, só poderá acontecer por consenso democrático e popular. Aquando a sua fundação, o Fianna Fáil assentava em três objetivos básicos:

O partido liderou a Irlanda, sozinho ou em coligação, de 1932 a 1948, de 1951 a 1954, de 1957 a 1973, de 1977 a 1981, em 1982, de 1987 a 1994, de 1997 a 2011 e atualmente está no poder desde 2020. Assim, deteve a maioria em mais de 60 dos 89 anos de existência da Irlanda independente (e 44 anos dos 73 anos da República da Irlanda). Um de seus membros também ocupou a presidência de 1945 a 1974, de 1976 a 1990 e de 1997 a 2011. O seu principal rival é o Fine Gael.

É a principal força que representa o republicanismo irlandês. Defende historicamente uma forma de nacionalismo (pela sua vontade de preservar a língua irlandesa e as práticas culturais tradicionais) e a unificação em apenas um Estado de toda a ilha da Irlanda, bem como os valores inspirados pela República Francesa da Liberdade, Igualdade, Fraternidade.[15] Sobrevivência de movimentos radicais muito difundidos na Europa no período entre guerras, é frequentemente comparado, por sua vontade demonstrada de transcender a divisão esquerda-direita e sua defesa do particularismo cultural e de uma política de independência nacional, aos movimentos gaullistas franceses ou ao Partido Revolucionário Institucional do México.[16]

A constituição do movimento (ou Córú Fhianna Fáíl em irlandês) define oito princípios fundamentais[17]:

  • garantir a unidade da Irlanda e seu povo em paz e consenso;
  • desenvolver uma vida nacional específica, de acordo com as diversas tradições e ideais do povo irlandês, como parte de uma cultura europeia mais ampla, e restaurar e promover o idioma irlandês como o idioma da vida do povo;
  • garantir liberdade religiosa e civil, e igualdade de direitos, igualdade de tratamento e igualdade de oportunidades para toda a população da Irlanda;
  • desenvolver os recursos e a riqueza da Irlanda em todo o seu potencial, sujeitando-os às necessidades e ao bem-estar de toda a população da Irlanda, de modo a garantir o emprego sustentável máximo, com base na promoção de empreendedorismo e autonomia e na parceria social;
  • proteger o meio ambiente e o património natural da Irlanda e garantir um equilíbrio entre cidades e campo e entre regiões e manter o maior número possível de famílias nos territórios;
  • promover a família e um senso mais amplo de responsabilidade social e defender o estado de direito no interesse do bem-estar e segurança do público;
  • manter o estatuto da Irlanda como um Estado soberano, um membro de pleno direito da União Europeia e das Nações Unidas, contribuindo para a paz, o desarmamento e o desenvolvimento segundo o princípio da tradição da política externa independente da Irlanda;
  • reformar as leis e instituições do Estado, para torná-las operacionais, humanas, atentas e sensíveis às necessidades dos cidadãos.

Resultados Eleitorais editar

Eleições legislativas editar

Data Líder CI. Votos % +/- Deputados +/- Status
06/1927 Éamon de Valera 2.º 299 486
26,2 / 100,0
44 / 153
Oposição
09/1927 Éamon de Valera 2.º 411 777
35,2 / 100,0
 9,0
57 / 153
 13 Oposição
1932 Éamon de Valera 1.º 566 498
44,5 / 100,0
 9,3
72 / 153
 15 Governo
1933 Éamon de Valera 1.º 689 054
49,7 / 100,0
 5,2
77 / 153
 5 Governo
1937 Éamon de Valera 1.º 599 040
45,2 / 100,0
 4,5
69 / 138
 4 Governo
1938 Éamon de Valera 1.º 667 996
51,9 / 100,0
 6,7
77 / 138
 8 Governo
1943 Éamon de Valera 1.º 557 525
41,9 / 100,0
 10,0
67 / 138
 10 Governo
1944 Éamon de Valera 1.º 595 259
48,9 / 100,0
 7,0
76 / 138
 9 Governo
1948 Éamon de Valera 1.º 553 914
41,9 / 100,0
 7,0
68 / 147
 8 Oposição
1951 Éamon de Valera 1.º 616 212
46,3 / 100,0
 4,4
69 / 147
 1 Governo
1954 Éamon de Valera 1.º 578 960
43,4 / 100,0
 2,9
65 / 147
 4 Oposição
1957 Éamon de Valera 1.º 592 994
48,3 / 100,0
 4,9
78 / 147
 13 Governo
1961 Seán Lemass 1.º 512 073
43,8 / 100,0
 4,5
70 / 144
 8 Governo
1965 Seán Lemass 1.º 597 414
47,7 / 100,0
 3,9
72 / 144
 2 Governo
1969 Jack Lynch 1.º 602 234
45,7 / 100,0
 2,0
75 / 144
 3 Governo
1973 Jack Lynch 1.º 624 528
46,2 / 100,0
 0,5
69 / 144
 6 Oposição
1977 Jack Lynch 1.º 811 615
50,6 / 100,0
 4,4
84 / 148
 15 Governo
1981 Charles Haughey 1.º 777 616
45,3 / 100,0
 5,3
78 / 166
 6 Oposição
02/1982 Charles Haughey 1.º 786 951
47,3 / 100,0
 2,0
81 / 166
 3 Governo
11/1982 Charles Haughey 1.º 763 313
45,2 / 100,0
 2,1
75 / 166
 6 Oposição
1987 Charles Haughey 1.º 784 547
44,1 / 100,0
 1,1
81 / 166
 6 Governo
1989 Charles Haughey 1.º 731 472
44,1 / 100,0
 
77 / 166
 4 Governo
1992 Albert Reynolds 1.º 674 650
39,1 / 100,0
 5,0
68 / 166
 9 Governo
1997 Bertie Ahern 1.º 703 682
39,3 / 100,0
 0,2
77 / 166
 9 Governo
2002 Bertie Ahern 1.º 770 748
41,5 / 100,0
 2,2
81 / 166
 4 Governo
2007 Bertie Ahern 1.º 858 565
41,6 / 100,0
 0,1
77 / 166
 4 Governo
2011 Micheál Martin 3.º 387 358
17,5 / 100,0
 24,1
20 / 166
 57 Oposição
2016 Micheál Martin 2.º 519 356
24,3 / 100,0
 6,8
44 / 158
 24 Apoio parlamentar
2020 Micheál Martin 1.º 484 315
22,2 / 100,0
 2,1
37 / 160
 6 Governo

Eleições europeias editar

Data CI. Votos % +/- Deputados +/-
1979 1.º 464 451
34,7 / 100,0
5 / 15
1984 1.º 438 946
39,2 / 100,0
 4,5
8 / 15
 3
1989 1.º 514 537
31,5 / 100,0
 7,7
6 / 15
 2
1994 1.º 398 066
35,0 / 100,0
 3,5
7 / 15
 1
1999 1.º 537 757
38,6 / 100,0
 3,6
6 / 15
 1
2004 1.º 524 504
29,5 / 100,0
 9,1
4 / 13
 2
2009 2.º 440 562
24,1 / 100,0
 5,4
3 / 12
 1
2014 1.º 369 545
22,3 / 100,0
 1,8
1 / 11
 2
2019 2.º 277 705
16,6 / 100,0
 5,7
1 / 11
 

Eleições presidenciais editar

Data Candidato
apoiado
% de primeiras
preferências
1.ª Contagem 2.ª Contagem Notas
Votos Cl. Votos Cl.
1938 Douglas Hyde Eleito sem adversários.
1945 Seán T. O'Kelly
49,5 / 100,0
537 965 1.º 565 165 1.º
1952 Seán T. O'Kelly Eleito sem adversários.
1959 Éamon de Valera
56,3 / 100,0
538 003 1.º
1966 Éamon de Valera
50,5 / 100,0
558 861 1.º
1973 Erskine H. Childers
52,0 / 100,0
635 867 1.º
1974 Cearbhall Ó Dálaigh Eleito sem adversários.
1976 Patrick Hillery Eleito sem adversários.
1983 Patrick Hillery Eleito sem adversários.
1990 Brian Lenihan
44,1 / 100,0
694 484 1.º 731 273 2.º
1997 Mary McAleese
45,2 / 100,0
574 424 1.º 706 259 1.º
2004 Mary McAleese Eleita sem adversários.
2011 Nenhuma candidatura apoiada.
2018 Michael D. Higgins
55,8 / 100,0
822 566 1.º

Referências

  1. https://www.rte.ie/news/2020/0614/1147319-government-talks-analysis/
  2. «Parties and Elections in Europe». parties-and-elections.eu. Consultado em 15 de abril de 2016 
  3. «History of Fianna Fáil – Fianna Fáil». www.fiannafail.ie. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  4. «Days of political hegemony well and truly over for FF - Independent.ie». Independent.ie. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  5. «Our Policies». Fianna Fáil (em inglês). Consultado em 23 de junho de 2020 
  6. Kourvetaris, George A.; Moschonas, Andreas (1 de janeiro de 1996). The Impact of European Integration: Political, Sociological, and Economic Changes. [S.l.]: Greenwood Publishing Group. ISBN 9780275953560 
  7. Budge, Ian; Robertson, David; Hearl, Derek (9 de julho de 1987). Ideology, Strategy and Party Change: Spatial Analyses of Post-War Election Programmes in 19 Democracies. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9780521306485 
  8. «Fianna Fail's defence of the Church has been shameful - Independent.ie». Independent.ie. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  9. Fairbrother, Peter (1 de janeiro de 2002). Changing Prospects for Trade Unionism: Comparisons Between Six Countries. [S.l.]: Psychology Press. ISBN 9780826458117 
  10. a b Coakley, John; Gallagher, Michael (1 de janeiro de 2005). Politics in the Republic of Ireland. [S.l.]: Psychology Press. ISBN 9780415280662 
  11. «Fianna Fáil voters most likely to be Catholic, survey shows». TheJournal.ie. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  12. Patterson, Henry (1 de janeiro de 1988). «Fianna Fáil and the Working Class: The Origins of the Enigmatic Relationship». Saothar. 13: 81–88 
  13. a b O'Riain, Sean (26 de abril de 2004). The Politics of High Tech Growth: Developmental Network States in the Global Economy. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9780521830737 
  14. «The discourses of neoliberal hegemony: the case of the Irish Republic». www.academia.edu. Consultado em 27 de fevereiro de 2016 
  15. «Our Party | Fianna Fáil». web.archive.org. 8 de setembro de 2013. Consultado em 23 de junho de 2020 
  16. «Fianna Fail | History, Policies, & Facts». Encyclopædia Britannica (em inglês). Consultado em 23 de junho de 2020 
  17. «Fianna Fail, Sinn Fein and republicanism». The Irish Times (em inglês). Consultado em 23 de junho de 2020