Formação Serra Geral

A Formação Serra Geral é uma formação geológica constituída por rochas magmáticas relacionada aos eventos de vulcanismo fissural (derrames) e intrusões que recobrem mais de um milhão de quilômetros quadrados (1,2×106 km²) da Bacia do Paraná, abrangendo toda a região centro-sul do Brasil e estendendo-se ao longo das fronteiras do Paraguai, Uruguai e Argentina.

Formação Serra Geral
Distribuição estratigráfica: Cretáceo 137–127 Ma
Formação Serra Geral
Afloramento de basaltos da Formação Serra Geral nas Cataratas do Iguaçu, divisa Brasil-Argentina. Os diversos "degraus" mostram a sucessão de derrames vulcânicos.
Tipo Formação geológica
Unidade do(a) Bacia do Paraná (Supersequência Gondwana III)
Sucedida por Grupo Bauru
Precedida por Formação Botucatu
Área 1,2×106 km²
Espessura máxima 1700m
Litologia
Primária Basalto
Outras Riolito, riodacito
Localização
Homenagem Serra Geral
País Brasil
Argentina
Paraguai
Uruguai

Origem editar

A partir do final do Triássico e durante quase todo o Jurássico, a Bacia do Paraná foi dominada por campos de dunas do deserto Botucatu. Entretanto, a partir do Período Jurássico, a plataforma continental foi reativada, fenômeno descrito como Reativação Wealdeniana. Esse fenômeno está associado ao processo de ruptura do supercontinente Gondwana e à formação do Atlântico Sul. O resultado da reativação da plataforma e rifteamento foi a ocorrência de dezenas de eventos de vulcanismo, cuja intensidade máxima se deu no início do Período Cretáceo, entre 137 e 127 milhões de anos, e se estendeu até o Terciário. Volumes gigantescos de lavas foram injetados e extravasados em toda a Bacia do Paraná, cobrindo todo o deserto Botucatu. Uma espessa sucessão vulcânica foi formada, dando origem a Formação Serra Geral, pertencente à supersequência estratigráfica de segunda ordem denominada Supersequência Gondwana III, cujas rochas se estendem pelo continente africano, na Bacia de Etendeka, na Namíbia e Angola. Esses eventos sucessivos de derramamentos de lavas constituem a maior manifestação de vulcanismo conhecida no planeta, cobrindo cerca de 1 milhão de km², e um volume total de aproximadamente 650.000 km³, comumente conhecido como Trapp do Paraná e Província Magmática do Brasil meridional.[1][2][3][4][5][6][7]

 
Afloramento de basaltos da Formação Serra Geral na Cascata do Caracol, localizada no Parque Estadual do Caracol, Canela, Rio Grande do Sul, Brasil.

Características editar

Os derrames de lavas da porção centro-sul são diferentes daqueles da porção centro-norte da Bacia do Paraná. Os derrames da porção centro-norte deram origem a rochas básicas e ácidas com maiores teores de fósforo, potássio, e titânio, principalmente basaltos e basalto-andesitos de filiação toleítica. Já os derrames da porção centro-sul deram origem a rochas básicas e ácidas mais pobres nesses elementos, como o próprio basalto e riolitos e riodacitos, como aqueles aflorantes na região dos Aparados da Serra, e que caracterizam uma associação litológica bimodal (basalto - riolito). No Rebordo do Planalto da Bacia do Paraná, na região central do estado do Rio Grande do Sul, nos municípios de Itaara e Santa Maria, é possível verificar essa associação bimodal. As rochas da Sequência Inferior da Formação Serra Geral (basaltos-andesitos toleíticos) apresentam coloração cinza-escura e são constituídas por plagioclásio cálcico, clinopiroxênio, magnetita e material intersticial de quartzo e material desvitrificado. Já as rochas da Sequência Superior da Formação Serra Geral (vitrófiros, riolitos-riodacitos granofíricos) apresentam cor cinza-clara, estrutura microcristalina e são constituídas por cristais de plagioclásio, clinopiroxênios, hornblenda uralítica e magnetita.[8][9][10][7][11] Essa divisão em Sequência Superior e Sequência Inferior aplica-se apenas a essa porção sul, já que na região de Tamarana, São Jerônimo da Serra e Jacarezinho (PR) e em Ourinhos (SP) são encontrados, lado a lado, derrames de riodacitos porfiríticos e de basaltos todos em contato direto ou intercalados nos arenitos da Formação Botucatu, fato que comprova que na porção centro-norte a estratigrafia é diferente e mais complexa. Numa escala regional, diversos autores já propuseram a elevação hierárquica para Grupo Serra Geral o que implicaria na consequente elevação do Grupo São Bento para Supergrupo.

Intemperismo e pedogênese editar

Devido ao fato de as rochas da Formação Serra Geral possuírem constituição diferente, seu comportamento frente aos agentes intempéricos é diferenciada. Com isso, as características dos solos também são diferenciadas. Em geral, as rochas da porção centro-norte da Bacia do Paraná evoluem para solos mais profundos, argilosos, com elevado teor de ferro e macronutrientes, permitindo o desenvolvimento de coberturas vegetais mais densas. Trata-se de solos classificados taxonomicamente como Latossolos Vermelhos e Nitossolos Vermelhos, conforme o atual Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS).[12] Devido à sua excelente fertilidade física e/ou química, e por ocorrerem em relevo suave-ondulado, esses solos, antigamente chamados "terra roxa", são aptos para o desenvolvimento do agricultura intensiva. Através dessas características pedológicas, associadas às informações florísticas, os geólogos estabelecem modelos conceituais para mapear as diferentes rochas ígneas.[5]

Outras informações editar

A maior jazida de ametista do mundo é encontrada em rochas da Formação Serra Geral, na cidade de Ametista do Sul, no Rio Grande do Sul, que é chamada de Capital Mundial da Ametista. Cerca de 75% da economia municipal é decorrente da mineração, beneficiamento e comércio de pedras semipreciosas como ametista, ágata e topázio além de outros.[13]

Ver também editar

Referências

  1. Milani, E.J. Evolução tectono-estratigráfica da Bacia do Paraná e seu relacionamento com a geodinâmica fanerozoica do Gondwana sul-ocidental. 1997. 2vol. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Curso de Pós-Graduação em Geociências, Porto Alegre, 1997.
  2. Bartorelli, A. Origem das grandes cachoeiras do planalto basáltico da Bacia do Paraná: evolução quaternária e geomorfologia. In: Mantesso Neto, V.; Bartorelli, A.; Carneiro, C.D.R.; Neves, B.B.B. (Eds.). Geologia do continente sul-americano - evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo, Brasil: Beca, 2005. p.95-111.
  3. Harrington, H.J. Paleogeographic development of South America. AAPG Bulletin, v.46, p.1773-1814, 1962.
  4. HOLTZ, M. Do mar ao deserto: a evolução do Rio Grande do Sul no tempo geológico. Porto Alegre, Brasil: Editora da UFRGS, 2003. 144p.
  5. a b Marques, L.S.; Ernesto, M. O magmatismo toleítico da Bacia do Paraná. In: Mantesso Neto, V.; Bartorelli, A.; Carneiro, C.D.R.; Neves, B.B.B. (Eds.). Geologia do continente sul-americano - evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo, Brasil: Beca, 2005. p.245-263. Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "MarquesEtAl2005" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  6. Milani, E.J. Comentários sobre a origem e a evolução tectônica da Bacia do Paraná. In: Mantesso Neto, V.; Bartorelli, A.; Carneiro, C.D.R.; Neves, B.B.B. (Eds.). Geologia do continente sul-americano - evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida. São Paulo, Brasil: Beca, 2005. p.264-279.
  7. a b PEDRON, F.A. Mineralogia, morfologia e classificação de saprólitos e Neossolos derivados de rochas vulcânicas no Rio Grande do Sul. 2007. 160f. Tese (Doutorado em Ciência do Solo) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS. 2007. Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Pedron2007" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  8. Bortoluzzi, C.A. Contribuição à geologia da região de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Pesquisas em Geociências, v.4, n.1, p.7-86, 1974.
  9. Gasparetto, N.G.L. et al. Mapa geológico da Folha de Santa Maria. Santa Maria, 1988. Escala 1:50.000.
  10. Maciel Filho, C.L. Carta geotécnica de Santa Maria. Santa Maria, 1990. 21 p.
  11. Sartori, P. Geologia e geomorfologia de Santa Maria. Ciência e Ambiente, v.38, p.19-42, 2009.
  12. Embrapa. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006.
  13. «Página da cidade de Ametista do Sul». Consultado em 30 de outubro de 2010 

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