Frank McCann

historiador norte-americano

Francis Daniel McCann, mais conhecido como Frank McCann (Lackawanna, 15 de dezembro de 1938Durham, 2 de abril de 2021)[1][2] foi um historiador dos Estados Unidos, especialista na atuação do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial.[3] Foi professor da Universidade de Nova Hampshire.[4][5][6]

Frank McCann
Nascimento Francis Daniel McCann
15 de dezembro de 1938
Morte 2 de abril de 2021 (82 anos)
Cidadania Estados Unidos
Ocupação historiador, professor universitário

Professor emérito de Relações Internacionais na UFF, foi chamado de "um grande americano e um grande amigo do Brasil".[7]

Seus campos de interesse são América Latina, cultura militar e relações internacionais brasileiras, a Revolução Mexicana, igreja católica, e povos nativos dos Estados Unidos, como os Iroquois e os Pueblos.[8]

Vida e carreira editar

De família irlandesa-americana, quando criança, desenvolveu grande interesse por história, especialmente pela nação Iroquois. Seu interesse nasceu quando visitou o Forte Ticonderoga e outros locais históricos com seu irmão, Bernard, e seu pai, Francis Daniel. Sua mãe, Kay Moran, morreu quando tinha 8 anos de idade. Ele passava horas lendo sobre história na Biblioteca de Lackawanna. Também era um bom arqueiro e maratonista, chegando a participar da equipe católica cross-country da Western New York. Ele era escoteiro, e chegou a patente de Eagle Scout, a maior entre os Scouts BSA.[6][9]

Viveu por um período em Novo México, onde entrou em contato com ruínas indígenas, danças e outras expressões culturais, como o pow-wow.[9]

Formou-se na Universidade de Niagara em 1960. Se tornou Mestre pela Universidade Estadual de Kent em 1962 e Doutor pela Universidade de Indiana em 1967. Completou seu pós-doutorado na Universidade de Princeton.[6]

Conheceu sua futura esposa, Diane, durante a graduação, com quem teve duas filhas, Tibi e Kaydee.[2]

Em 1965, incentivado por estudantes como Teresinha Souto Ward e George Fodor, aceitou a primeira das quatro bolsas da Fundação Fullbright se mudou com a mulher e crianças para o Rio de Janeiro.[2]

Em 1972, começou a lecionar na Universidade de Nova Hampshire, onde permaneceu até 2017.[2] Lá, fundou e dirigiu o UNH Center for International Perspectives. Também lecionou na River Falls e na Academia Militar dos Estados Unidos de West Point, onde foi promovido a Capitão do Exército. Também foi professor emérito na Universidade do Novo México, Universidade de Brasília e na Universidade Federal do Rio de Janeiro.[6]

Morreu em 2 de abril de 2021 devido a um derrame. Entre as pessoas que o homenagearam, está o então vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão. Foi enterrado com honras no dia 6 em Durham.[2]

Brasilianista militar editar

Brasilianista famoso, escreveu o livro Soldados da Pátria,[10] sobre a mentalidade e políticas internas do Exército Brasileiro durante o período formativo após a Guerra do Paraguai e a proclamação da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas em 1937. Essa era formativa consolidou o Exército como uma instituição, tendo vontade e voz próprias, levando à queda do Império e à ditadura Vargas. Um dos marcos desse período foi a fundação da revista A Defesa Nacional.[11] Frank também escreveu outra grande obra, o livro Aliança Brasil-Estados Unidos 1937-1945,[12] estudando as relações entre Brasil e Estados Unidos;[3] publicado pela primeira vez em 1974, concorreu com menção honrosa ao Prêmio Bolton e vencedor do Prêmio Bernath de 1975.[13] Ele foi editado no Brasil pela Biblioteca do Exército (Bibliex).[12] Um dos comentários feito por McCann foi o convite ao Brasil para participar da administração da Áustria ocupada ao fim da Segunda Guerra.[14][15] Segundo McCann, o assunto foi rejeitado pelos militares na Itália e o convite sequer chegou ao nível de Getúlio.[16]

Além de bibliografia de referência, Frank McCann também publicou diversos periódicos e foi convidado a escrever capítulos em livros, geralmente voltados para a Força Expedicionária Brasileira. Dentre essas várias contribuições, está o último capítulo na 3ª edição (revisada e aumentada) do livro A Luta dos Pracinhas: A FEB 50 anos depois - uma visão crítica, de Joel Silveira e Thassilo Mitke.[17] Em seu periódico Brazil and World War II: The Forgotten Ally. What did you do in the war, Zé Carioca?,[5] McCann traz uma visão global sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, analisando o pensamento estratégico das lideranças brasileiras, como Góis Monteiro e Getúlio Vargas e a atuação no Atlântico Sul e na Itália. O texto analisa brevemente a aviação brasileira, mas o seu foco principal é no elemento terrestre. Sobre a divisão expedicionária, McCann concluiu:[14]

 
O Generalleutnant Otto Fretter-Pico (à esquerda) rendendo-se ao General Olímpio Falconière da Cunha (ao centro) da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária.
"A FEB cumpriu todas as missões que lhe foram confiadas e comparou-se favoravelmente com as divisões americanas do Quarto Corpo. Infelizmente, o forte simbolismo de Monte Castello obscureceu a vitória da FEB em Montese em 16 de abril, na qual tomou a cidade após uma batalha exaustiva de quatro dias, sofrendo 426 baixas. Nos dias seguintes, lutou contra a 148ª Divisão alemã e as divisões italianas fascistas Monte Rosa, San Marco e Italia, que se renderam ao General Mascarenhas em 29-30 de abril. Em questão de dias, os brasileiros prenderam e receberam a rendição de 2 generais, 800 oficiais e 14.700 soldados. A 148ª foi a única divisão alemã intacta a se render nessa frente. Embora tivessem pouca preparação e servissem sob comando estrangeiro, contra um inimigo experiente em combate, os "Smoking Cobras" (Cobras Fumantes), como era apelidada a FEB, haviam mostrado, como dizia uma de suas canções, a "fibra do exército brasileiro" e a "grandeza de nossa gente".
— McCann, 1995, pg.15.

A canção mencionada por McCann é a Fibra de Herói.[18][19] Os dois generais capturados pela FEB foram o Generalleutnant Otto-Fretter Pico e o General Mario Carloni.

Outros livros menos conhecidos incluem Modern Brazil: Elites and Masses in Historical Perspective (Brasil Moderno: elites e massas em perspectiva histórica, ainda sem tradução para o português), em coautoria com Michael L. Conniff, e A Nação Armada: Ensaios sobre a História do Exército Brasileiro.[6] Seu último livro foi Brazil and the United States During World War II and Its Aftermath: Negotiating Alliance and Balancing Giants, publicado em 6 de outubro de 2018 pela editora Palgrave MacMillan.[6]

O governo brasileiro reconheceu seu compromisso com o estudo do país, conferindo-lhe o título de Comendador da Ordem do Rio Branco (1987) e a Medalha do Pacificador (1995).[6] O professor Frank McCann era fluente em português.[20]

Bibliografia editar

Periódicos editar

  • Brazil and World War II: The Forgotten Ally. What did you do in the war, Zé Carioca?, University of New Hampshire, 1995.[5]
  • Airlines and Bases: Aviation Diplomacy; The United States and Brazil, 1939-1941, Inter-American Economic Affairs, 1968.[5]
  • The Rise and Fall of the Brazilian-American Military Alliance, 1942-1977, University of New Hampshire, 2015.[22]

Prêmios editar

Ver também editar

Referências

  1. «Obituary for Francis D. McCann Jr. at Kent & Pelczar Funeral Home & Crematory». Kent & Pelczar Funeral Home & Crematory (em inglês). 2 de abril de 2021. Consultado em 1 de março de 2022. Cópia arquivada em 17 de julho de 2023 
  2. a b c d e f g Igor Gielow (5 de abril de 2021). «Brasilianista Frank McCann, especializado em militares, morre aos 82 nos EUA». Folha de S.Paulo. Consultado em 1º de março de 2022. Cópia arquivada em 17 de julho de 2023 
  3. a b Wilson Tosta (28 de julho de 2012). «"Americanos sabem muito pouco do Brasil" - Frank MacCann, entrevista». E Agora. O Estado de S. Paulo. Consultado em 2 de junho de 2021. Arquivado do original em 28 de julho de 2012 
  4. Rodrigo Gallo. «A formação do Exército Nacional». Leituras da História. Consultado em 23 de janeiro de 2012. Arquivado do original em 14 de julho de 2014 
  5. a b c d e McCann, Frank (1º de janeiro de 1995). «Brazil and World War II: The Forgotten Ally. What did you do in the war, Zé Carioca?» (PDF). University of New Hampshire. Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe (em inglês). Vol. 6 (Nº 2): 21 páginas. Consultado em 2 de junho de 2021 
  6. a b c d e f g h i j Durval Lourenço Pereira (3 de abril de 2021). «Frank D. McCann – Obituário». Memorial da FEB. Consultado em 2 de junho de 2021. Cópia arquivada em 19 de julho de 2023 
  7. «Morre o historiador Frank McCann, autor de 'Soldados da Pátria'». Gazeta do Povo. 3 de abril de 2021. Consultado em 2 de junho de 2021. Cópia arquivada em 19 de julho de 2023 
  8. Matthew Keough (17 de outubro de 2017). «AHA Member Spotlight: Frank (Francis) Daniel McCann». Perspectives on History (em inglês). Consultado em 20 de julho de 2023. Cópia arquivada em 20 de julho de 2023 
  9. a b «Francis McCann Obituary (2021)». Legacy.com (em inglês). 4 de abril de 2021. Consultado em 20 de julho de 2023. Cópia arquivada em 20 de julho de 2023 
  10. «Soldados da pátria - Frank D. McCann - Grupo Companhia das Letras». Companhia das Letras. Consultado em 4 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 20 de julho de 2023 
  11. Rodrigo Gallo (16 de julho de 2014). «ENTREVISTA: A formação do Exército Nacional, com Frank D. McCann». Revista Leituras da História. Warfare Blog. Consultado em 4 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 20 de julho de 2023 
  12. a b c «Aliança Brasil-Estados Unidos 1937-1945». Loja Virtual Bibliex. Consultado em 2 de junho de 2021 
  13. «Soldiers of the Pátria: A History of the Brazilian Army, 1889-1937 | Frank D. McCann». Stanford University Press (em inglês). Consultado em 2 de junho de 2021. Cópia arquivada em 20 de julho de 2023 
  14. a b McCann, Frank (1995). «Brazil and World War II: The Forgotten Ally. What did you do in the war, Zé Carioca?» (PDF). University of New Hampshire. Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe (em inglês). 6 (2): 15. Consultado em 2 de junho de 2021 
  15. «País foi chamado a ocupar a Áustria». O Estado de S.Paulo. 6 de junho de 2006. Consultado em 4 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 20 de julho de 2023 
  16. Clarissa Neher (6 de maio de 2015). «"EUA queriam que Brasil participasse da ocupação"». Deutsche Welle. Consultado em 4 de setembro de 2022. Cópia arquivada em 20 de julho de 2023 
  17. Silveira, Joel (1993) [1983]. «A Força Expedicionária Brasileira na Campanha Italiana 1944-1945». A Luta dos Pracinhas: A FEB 50 anos depois - uma visão crítica. Thassilo Mitke 3ª edição, revista e aumentada ed. Rio de Janeiro, RJ: Editora Record. p. 264-282. ISBN 978-8501023612. OCLC 31330250 
  18. «Canção Fibra de Herói - Hinos e Marchas Militares». Letras.mus.br. Consultado em 2 de junho de 2021. Cópia arquivada em 20 de julho de 2023 
  19. «Fibra de herói - Brazilian WWII song (gravação de 1943)». Gukpa. 30 de dezembro de 2017. Consultado em 2 de junho de 2021 
  20. Israel Blajberg (27 de agosto de 2013). «Professor Frank McCann visita Casa da FEB». Portal FEB. Consultado em 2 de junho de 2021. Arquivado do original em 4 de novembro de 2013 
  21. McCann, Frank D. (2004). Soldiers of the Pátria: A History of the Brazilian Army, 1889-1937 (em inglês). Redwood City, Califórnia: Stanford University Press. 608 páginas. ISBN 978-0804732222. OCLC 52047534 
  22. McCann, Frank. «The Rise and Fall of the Brazilian-American Military Alliance, 1942-1977». Universidade Federal de Santa Catarina. University of Hampshire (em inglês): 48 páginas. Consultado em 2 de junho de 2021 

Ligações externas editar