Göbekli Tepe (Monte com Barriga ou Monte com Umbigo em turco) é o topo de uma colina onde foi encontrado um santuário, no ponto mais alto de um encadeamento montanhoso que forma a porção mais a sudeste dos montes Tauro, a aproximadamente 15 km a nordeste de Şanlıurfa (Urfa) no sudeste da Turquia. É famosa pelas suas grandes estruturas circulares que contêm enormes pilares de pedra – os megálitos mais antigos conhecidos do mundo.[1]

Göbekli Tepe 

Göbekli Tepe, Şanlıurfa, 2011

Tipo Cultural
Critérios i, ii, iv
Referência 1572
Região Europa
Países  Turquia
Coordenadas 37° 13' 23" N 38° 55' 21" E
Histórico de inscrição
Inscrição 2018

Nome usado na lista do Património Mundial

  Região segundo a classificação pela UNESCO

Localização de Göbekli Tepe no sudeste da Turquia.

O sítio arqueológico, que está sendo escavado por arqueólogos alemães e turcos, foi construído por caçadores-coletores no décimo milénio a.C., antes do advento da sedentarização. Junto com o sítio de Nevalı Çori, revolucionou o conhecimento do neolítico e as teorias sobre o início da civilização.

O tel de Göbekli Tepe possui 15 metros de altura por 300 de diâmetro e inclui dois complexos que se acredita serem de natureza social ou ritual que datam do décimo ao oitavo milênio a.C.. Durante a primeira fase, pertencente ao Neolítico Pré-Cerâmica A (PPNA), foram erguidos círculos de enormes pilares de pedra em forma de T - os megalitos conhecidos mais antigos do mundo.[2]

Devido à forma das casas, está tentar interpretar-se se eram casas ou templos porque os 2 pilares centrais de todas as estruturas encontradas, estão virados para Oeste, que, nestas culturas do crescente fértil, representa o renascer.

Descoberta editar

Göbekli Tepe já havia sido notada por uma pesquisa arqueológica norte-americana em 1964, que reconheceu que a colina não poderia ser inteiramente natural, mas presumiu que anomalias do terreno eram apenas um cemitério bizantino abandonado. Desde 1994 escavações tem sido conduzidas pelo Instituto Arqueológico Alemão e pelo Museu de Şanlıurfa, sob a direção do arqueólogo alemão Klaus Schmidt (1995-2000: Universidade de Heidelberg, desde 2001: Instituto Arqueológico Alemão). Schmidt diz que os fragmentos de rocha na superfície do monte fizeram com que tivesse certeza de que se tratava de um sítio pré-histórico. Antes disso o monte estava ocupado por culturas agrícolas. Gerações de habitantes locais frequentemente moviam rochas e as empilhavam para limpar o terreno e muita evidência arqueológica pode ter sido destruída no processo. Acadêmicos da Universidade Karlsruhe de Ciência Aplicada começaram a documentar os restos arquitetônicos. Logo foram descobertos pilares em forma de T, alguns dos quais apresentando sinais de tentativas de esmagamento.[3]

O complexo editar

As escavações sugerem fortemente que Göbekli Tepe era um local de culto - o mais antigo já descoberto até hoje. Até que as escavações tivessem começado, não se imaginava possível um complexo nessa escala para uma comunidade tão antiga. A grande sequência de camadas estratificadas sugere muitos milênios de atividade, talvez desde o mesolítico. A camada com indícios de ocupação humana mais antiga (stratum III) continha pilares monolíticos ligados por paredes construídas grosseiramente para formar estruturas circulares ou ovais. Até agora, quatro construções como essas foram desenterradas, com diâmetros entre 10 e 30 metros. Pesquisas geofísicas indicam a existência de mais 16 estruturas.

O stratum II, datado do Neolítico Pré-Cerâmico B (PPNB, na sigla em inglês, 7 500 - 6 000 a.C.), revelaram várias câmaras retangulares adjacentes com pisos de cal polido, reminiscências de pisos em estilo 'terrazzo' romanos. A camada mais recente consiste de sedimentos depositados pela erosão e pela atividade agrícola.

Os monolitos são decorados com relevos esculpidos de animais e pictogramas abstratos. Esses sinais não podem ser classificados como escrita, mas podem representar símbolos sagrados amplamente compreendidos, por analogia com outros exemplos de arte rupestre do neolítico.

Os relevos representam leões, touros, raposas, gazelas, burros, serpentes e outros répteis, insetos, aracnídeos e pássaros, particularmente abutres e aves aquáticas. Os abutres aparecem com destaque na iconografia de Çatalhüyük não muito longe dali. Acredita-se que nas culturas neolíticas do sudeste da Anatólia os mortos eram deliberadamente expostos para serem devorados por abutres e depois enterrados. A cabeça do cadáver era às vezes removida e preservada - possivelmente como um sinal de culto aos ancestrais.

Poucas formas humanóides foram desenterradas em Göbekli Tepe mas estas incluem relevos de uma Venus accueillante — o termo de Schmidt para uma mulher em uma pose sexualmente provocativa — e pelo menos um cadáver decapitado cercado de abutres. Alguns dos pilares em forma de 'T' tem 'braços' esculpidos, o que pode indicar que eles representam humanos estilizados. Outro pilar é decorado com mãos humanas no que poderia ser interpretado como um gesto de oração, com uma estola ou sobrepeliz gravada acima, o que pode representar um sacerdote.[4]

Datação editar

 
Vista aérea da escavação em Göbekli Tepe.

O assentamento do Neolítico Pré-Cerâmico A (PPNA, na sigla em inglês) foi datado por volta do ano 9 000 a.C.. Há também restos de casas menores do Neolítico Pré-Cerâmico B e alguns achados epipaleolíticos. Há algumas datações por radiocarbono (apresentadas com a margem de erro e calibradas para a Era Comum):

n do laboratório Data AP Faixa a.C. Contexto
Ua-19561 8430±80 7560–7370 enclosure C
Ua-19562 8960±85 8280–7970 enclosure B
Hd-20025 9452±73 9110–8620 Camada III
Hd-20036 9559±53 9130–8800 Camada III

As amostras "Hd" são de restos nos níveis mais baixos do sítio e datariam a fase de ocupação ativa. As amostras "Ua" são de carbonatos pedogênicos que revestem os pilares e indicam somente o período após o abandono do sítio — o terminus ante quem.[5]

Arquitetura editar

As casas ou templos são edifícios megalíticos redondos. As paredes são de pedra tosca, com 12 pilares monolíticos de calcário, com cerca de 10 toneladas cada, em forma de T, com altura até 3 metros, e com 2 pilares maiores no centro da estrutura. Como há provas que tinham cobertura pensa-se que tais pilares serviam para suportar a estrutura do telhado. O pavimento estava revestido com terrazo (mistura de restos de pedra, normalmente mármore, com um aglomerante). A parede exterior tem uma espécie de degrau/banco que rodeia o edifício.

Os pilares apresentam os seguintes animais esculpidos: raposas, leões, gado bovino, javalis selvagens, burros selvagens, garças-reais, patos, escorpiões, formigas, aranhas, muitas serpentes e poucas figuras antropomórficas. Alguns dos relevos foram propositadamente apagados, provavelmente para a preparação do suporte para novos trabalhos.

O estudo dos três recintos de pedra mais antigos do santuário revelou um padrão geométrico oculto: um triângulo equilátero com 19,25 metros de lado, subjacente a todo o plano arquitetónico dessas estruturas.[6]


Classificação como Património Mundial editar

O sítio arqueológico foi classificado como Património Mundial pela UNESCO em 2018.[7]

Ver também editar

Referências

  1. Schmidt, Klaus (2010). «Göbekli Tepe – the Stone Age Sanctuaries: New results of ongoing excavations with a special focus on sculptures and high reliefs» (PDF). Documenta Praehistorica. 37 (XXXVII): 239–56. doi:10.4312/dp.37.21. Cópia arquivada (PDF) em 31 de janeiro de 2012 
  2. Sagona, Claudia. The Archaeology of Malta (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. p. 47. ISBN 9781107006690. Consultado em 25 de novembro de 2016 
  3. Curry, Andrew (novembro de 2008). «Gobekli Tepe: The World's First Temple?». Smithsonian.com (em inglês). Smithsonian Institution. Consultado em 14 de março de 2009 
  4. Schmidt 2006, pp. 232–8, 261–4
  5. «Canew.org - Was steckt hinter dem Central Anatolian Neolithic e-Workshop». www.canew.org. Consultado em 2 de maio de 2012 
  6. «El santuario más antiguo del mundo alberga compleja geometría oculta» 
  7. publico.pt (4 de julho de 2018). «Há 19 novas entradas na lista do Património Mundial da UNESCO». 4-7-2018. Consultado em 5 de julho de 2018 

Bibliografia editar

  • Badisches Landesmuseum Karlsruhe (ed.): Vor 12.000 Jahren in Anatolien. Die ältesten Monumente der Menschheit. Begleitbuch zur Ausstellung im Badischen Landesmuseum vom 20. Januar bis zum 17. Juni 2007. Theiss, Stuttgart 2007, ISBN 978-3-8062-2072-8
  • DVD-ROM: MediaCultura (Hrsg.): Vor 12.000 Jahren in Anatolien. Die ältesten Monumente der Menschheit. Theiss, Stuttgart 2007, ISBN 978-3-8062-2090-2
  • David Lewis-Williams and David Pearce, "An Accidental revolution? Early Neolithic religion and economic change", Minerva, 17 #4 (julho/agosto, 2006), pp. 29–31.
  • Klaus-Dieter Linsmeier and Klaus Schmidt: Ein anatolisches Stonehenge. In: Moderne Archäologie. Spektrum-der-Wissenschaft-Verlag, Heidelberg 2003, S. 10-15, ISBN 3-936278-35-0
  • K. Schmidt, Göbekli Tepe and the rock art of the Near East, TÜBA-AR 3 (2000) 1-14.
  • Klaus Schmidt: Sie bauten die ersten Tempel. Das rätselhafte Heiligtum der Steinzeitjäger. Verlag C.H. Beck, München 2006, ISBN 3-406-53500-3. [English edition to be published by Oxbow in 2010.]
  • Klaus Schmidt: Göbekli Tepe, Southeastern Turkey. A preliminary Report on the 1995–1999 Excavations. In: Palèorient CNRS Ed., Paris 26.2001,1, 45–54, ISSN 0513-9345 Erro de parâmetro em {{ISSN}}: ISSN inválido.
  • Klaus Schmidt: Frühneolithische Tempel. Ein Forschungsbericht zum präkeramischen Neolithikum Obermesopotamiens. In: Mitteilungen der deutschen Orient-Gesellschaft 130, Berlin 1998, 17–49, ISSN 0342-118X
  • K. Pustovoytov: Weathering rinds at exposed surfaces of limestone at Göbekli Tepe. In: Neo-lithics. Ex-Oriente, Berlin 2000, 24–26 (14C-Dates)
  • J. E. Walkowitz: Quantensprünge der Archäologie. In: Varia neolithica IV. Beier und Beran, Langenweissbach 2006, ISBN 3-937517-43-X