Garopaba

município brasileiro do estado de Santa Catarina

Garopaba é um município brasileiro do litoral sul do estado de Santa Catarina. Limita-se ao sul, com Imbituba, ao norte e a oeste com Paulo Lopes, e a leste com o Oceano Atlântico. O nome da cidade tem origem indígena e significa "enseada de barcos" ou "lugar de barcos".[5]

Garopaba
  Município do Brasil  
Antiga igreja matriz de Garopaba
Antiga igreja matriz de Garopaba
Antiga igreja matriz de Garopaba
Símbolos
Bandeira de Garopaba
Bandeira
Brasão de armas de Garopaba
Brasão de armas
Hino
Gentílico garopabense
Localização
Localização de Garopaba em Santa Catarina
Localização de Garopaba em Santa Catarina
Localização de Garopaba em Santa Catarina
Garopaba está localizado em: Brasil
Garopaba
Localização de Garopaba no Brasil
Mapa
Mapa de Garopaba
Coordenadas 28° 01' 22" S 48° 36' 46" O
País Brasil
Unidade federativa Santa Catarina
Municípios limítrofes Imbituba e Paulo Lopes
Distância até a capital 90 km
História
Fundação 19 de dezembro de 1961 (62 anos)
Administração
Prefeito(a) Junior de Abreu Bento[1] (PP, 2021 – 2024)
Características geográficas
Área total [2] 114,670 km²
População total (https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/sc/garopaba.html) 29 959 hab.
Densidade 261,3 hab./km²
Clima Mesotérmico úmido com verões quentes (CfA)
Altitude 18 m
Fuso horário Hora de Brasília (UTC−3)
CEP 88495-000
Indicadores
IDH (PNUD/2010[3]) 0,753 alto
PIB (https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/garopaba/pesquisa/38/46996) R$ 773.131,35
PIB per capita (IBGE/2008[4]) R$ 32 120,12
Sítio www.garopaba.sc.gov.br (Prefeitura)
www.camaragaropaba.sc.gov.br (Câmara)
Canto norte da praia central de Garopaba
Canto norte da praia central de Garopaba

Contextualização arqueológica e etno-histórica editar

Período pré-colonial editar

No litoral Sul de Santa Catarina o registro de ocupação humana é de aproximadamente 6.000 A.P. com a presença dos grupos conhecidos como sambaquieiros que ocuparam vastamente a região litorânea sendo a eles atribuída a construção dos monumentais sambaquis (monte de conchas). Mais recentemente, um pouco antes da colonização européia nas terras brasileiras, por volta de 500 A.P a região recebe os grupos indígenas conhecidos como Tupi-Guarani (grafia com hífen remete a tradição linguística do grupo) que teriam partido da Amazônia seguindo os grandes rios, principalmente os Rios Paraguai e Paraná até a foz do Rio da Prata, daí então se voltando para o litoral sul do Brasil.

Nesse panorama de ocupação regional Garopaba se apresenta como um local de grande potencial arqueológico onde atualmente há 24 (vinte e quatro) sítios arqueológicos mapeados, sendo 7 (sete) relacionados a povos pré-coloniais como os sambaquis,  7 (sete) Oficinas Líticas, 5 (cinco) cerâmico atribuídos a Tradição Tupiguarani, 2 (dois) representados por Gravuras Rupestres e 3 (três) sítios associados ao período Pré-colonial[6][7].

Sambaqui editar

 
Sambaqui Garopaba do Sul em Jaguaruna, Santa Catarina. Foto: Alexandro Demathé

Os sambaquis são sítios arqueológicos que foram construídos lentamente, durante muitos anos. “É uma palavra de etimologia Tupi (...). 'Tamba' significa conchas e 'Ki' amontoado, que são as características mais marcantes desse tipo de sítio”. Os sambaquis destacam-se como os sítios arqueológicos mais antigos da costa litorânea brasileira.

 
Sepultamento escavado no sambaqui Cabeçuda-01 em Laguna, Santa Catarina. Foto: Alexandro Demathé. Acerto GRUPEP-Arqueologia
 
Zoólito em formato de peixe. Foto: Alexandro Demathé. Acerto GRUPEP-Arqueologia

As características mais marcantes de um sambaqui são a sua forma monticular e o fato de serem constituídos por conchas, berbigões, ostras e moluscos. Os vestígios das ocupações nos sambaquis revelam muitos aspectos de sua cultura, tais como a estratégia ocupacional com feições relacionadas a organização social quando se observam as evidências de sepultamentos por exemplo. É importante descartar também que nas estruturas dos sambaquis são encontradas ostras abertas que possivelmente serviram de alimento e também fechadas, o que demonstra que os sambaquis não são constituídos primordialmente de restos alimentares, e por isso não podem ser classificados como “lixo dos índios”, mas sim um local sagrado elaborado para fins ritualísticos onde eram sepultados os mortos juntamente com alguns objetos ou adornos.

Em sítios arqueológicos são encontrados objetos utilitários feitos em pedra e osso, tais como: quebra coquinho, peso de rede, lâmina de machado, amós e pontas de lança óssea que eram presas em hastes de madeira e utilizadas na captura de pescados. Além de artefatos utilitários, confeccionavam adornos diversos, tais como colares, coroas e tembetás, para isso utilizavam conchas e dentes de animais, como tubarão, porcos-do-mato e jacaré, para pingentes, o que pode ter um significado importante na vida dos sambaquieiros, pois são animais agressivos, apresentando dificuldades para a caça ou a pesca dos mesmos. Todos esses artefatos citados são encontrados dentro da estrutura monticular do sambaqui e muitas vezes estão associadas a sepultamentos humanos. Ainda, entre os objetos mas que raramente são encontrados podemos destacar as esculturas conhecidas como Zoólitos (zoo = animal, lito = pedra) que impressionam pela aparência fidedigna com os animais que representam tais como, peixes, aves, tatus e outros[8][9].

Ceramista - Guarani editar

 
Cerâmica Guarani. Foto: Alexandro Demathé. Acerto GRUPEP-Arqueologia

Os Ceramistas Guarani chegaram a Santa Catarina por volta de 700 anos A.P. Migraram da Amazônia, seguindo o rio Paraguai e Paraná, até a foz do rio da Prata, voltando-se para o litoral sul do Brasil.

 
Cerâmica Guarani. Vasilha escavada por arqueólogos no sítio arqueológico Aldeia Ribanceira 1, em Imbituba SC. Foto: Sapienza Arqueologia

Os Guarani que habitavam o litoral Catarinense são da Tradição Tupiguarani, esta tradição é “fruto de uma relação complexa entre dois tipos de classificações, uma linguística e outra cerâmica, que tem origem na história da pesquisa etnográfica do país.”.

A busca por novos territórios foi motivada por uma série de fatores, nos quais se destacam: uma mudança social e política dentro do sistema organizacional do grupo e a escassez de recursos na região Amazônica gerada pelo fenômeno El Niño que pode ter sido responsável pela famigerada busca pela “Terra sem Males”.

 
Cerâmica Guarani restaurada. Vasilha escavada por arqueólogos no sítio arqueológico Aldeia Ribanceira 1, em Imbituba SC. Foto: Sapienza Arqueologia

Construíam suas aldeias geralmente em áreas de posições elevadas, nas encostas dos morros e próximos a rios, locais com boa visibilidade, que proporcionasse melhores condições naturais para sobrevivência do grupo, em especial, o desenvolvimento da agricultura de subsistência, pesca, caça e coleta. Confeccionavam seus artefatos em pedra, madeira e barro, entre os objetos feitos com pedra se destacavam as lâminas de machado polido, os enxós, os afiadores e os tembetás, este último, usado como adorno.  Entre os artefatos em madeira se podem citar as lanças e os arcos de lançar as flechas, esses objetos são raramente identificados nos sítios arqueológicos, uma vez que são constituídos de material degradável, e não resistem ao tempo. Contudo, o artefato cerâmico representado pelas vasilhas e potes são elementos determinantes para a caracterização de um sítio arqueológico Guarani. A confecção desses objetos representa muito além do utilitário cotidiano de cozinhar e armazenar alimentos servia como parâmetro de status social de uma tribo perante outras, e também poderiam servir de urna funerária, quando de tamanho grande, sendo esta sua última finalidade. Além disso, a confecção dessas vasilhas cerâmicas influenciava fortemente na escolha do espaço geográfico para o acampamento do grupo, uma vez que, por variar de tamanho (grande e médio porte) não eram de fácil mobilidade, dificultando o nomadismo e contribuindo para a fixação do grupo em lugares com matéria-prima (argila)[10][11][12][13][14][15][16].


Ceramista - Jê editar

 
Cerâmica Jê. Foto: Alexandro Demathé. Acerto GRUPEP-Arqueologia

Os ceramistas Jê, migraram do centro-oeste do Brasil e chegaram a Santa Catarina por volta de 1.000 anos A.P. Habitavam regiões da encosta e planalto, porém há registros arqueológicos e etnográficos de ocupação sazonal desses grupos no litoral Catarinense [17]. Desse modo, no inverno aproveitavam a safra de pinhão, e no verão, desciam para o litoral em busca de alternativas alimentares para a subsistência. Em Araranguá não há até o momento registro de sítios arqueológicos atribuídos a esses grupos, no entanto o que se sabe é que os municípios limítrofes localizados próximo a encosta da serra é comum a presença vestígios arqueológicos e dados etnohistóricos relacionados a eles.

Viviam em aldeias e possuíam uma média e baixa mobilidade territorial, uma vez que praticavam a horticultura, porém tinham forte dependência da caça e da coleta de frutos. Suas habitações eram basicamente de dois tipos: piso rebaixado e as mais duradouras construídas na superfície do chão. As estruturas de piso rebaixado são atualmente um importante indicador de sítio arqueológico atribuído a esses grupos, já que a depressão no solo é comumente evidenciada de forma rasa, aliada ou não a evidências de carvão e fragmentos líticos e cerâmicos [17][18][19].

A matéria prima utilizada na confecção dos artefatos se resumia a pedra, o barro, e a madeira, esta última porém, não é encontrada em sítios arqueológicos, uma vez que é degradável e não resiste ao tempo. No entanto, como há registro documental de contato desses grupos com os colonizadores europeus, as informações relativas ao modo de vida são bastante abrangentes. Entre os artefatos confeccionados, podemos citar os utilitários feitos em pedra - enxó e lâmina de machado,  os de barro - vasilhas geralmente pequenas e de espessura fina, e os adornos em pedra e madeira conhecidos como tembetás.

Do período colonial até a emancipação político administrativa editar

 
Vista panoramica do centro de Garopaba

Foram os índios Carijós os primeiros habitantes, que se tem conhecimento, da região. Em 1525, o espanhol Dom Rodrigo de Acuña, aportou o Galeão San Gabriel na Baia de Garopaba para fugir de um temporal.

No ano 1666 surgiu o primeiro povoado, formado por açorianos enviados pelo Império Português, procedentes a maioria da 3ª Ilha dos Açores. Em 1793, foi criada a Armação de São Joaquim de Garopaba. No ano de 1830 é elevada à Freguesia. A Paróquia foi criada por decreto do Governo Imperial, porém sua instalação oficial ocorreu no ano de 1846. Em 1890, com trabalho de mobilização da Freguesia, Garopaba é elevada a Vila, com decreto do Governador Lauro Müller. No dia 8 de Abril do mesmo ano, o Governador nomeia os membros do Conselho da Intendência que dirigira o Município. A instalação só ocorreu no dia 7 de Junho de 1890. A guarda Municipal é criada em 1896. Garopaba foi denominada município somente em 19 de dezembro de 1961, quando deixou de ser Distrito de Palhoça.[20]

Geografia editar

 
Vista panoramica da área central

Localiza-se a uma latitude 28°01'24" sul e a uma longitude 48°36'48" oeste, estando a uma altitude de 18 metros. Fica a cerca de 90 quilômetros ao sul de Florianópolis, 410 km ao norte de Porto Alegre, 380 km ao sul de Curitiba, 800 km ao sul de São Paulo e 1.200 km ao sul do Rio de Janeiro, 1.470 km ao norte de Buenos Aires (Argentina) e 1.360 km ao norte de Montevidéu (Uruguai). Sua população estimada em 2009 era de 18.399 habitantes.

Economia editar

 
Pesca artesanal de Garopaba

As principais atividades econômicas do município são o turismo, a construção civil, a pesca artesanal (principalmente, a pesca da tainha e da anchova) e a agricultura de subsistência. Evidencia-se, também, a pecuária e o comércio, além de indústrias de confecções.

Turismo editar

 
Canto norte da praia central

A cidade recebe aproximadamente 140 mil turistas no verão, a maioria em busca de suas belas praias.

Entre suas praias pode-se destacar Vigia, Ouvidor, Barra, Ferrugem, Siriú, Gamboa e Silveira, cercada pela Mata Atlântica, onde se pode observar as baleias francas. As praias são ótimas para a prática do surfe, recebendo surfistas do Brasil inteiro para desfrutarem de suas ondas.

No turismo religioso pode-se destacar a Gruta Nossa Senhora de Lourdes e a Igreja Matriz de São Joaquim, com característico estilo arquitetônico açoriano.

No mês de junho sempre acontece a Quermesse de Garopaba promovida pela Igreja São Joaquim. A festa é realizada na praça central e resgata tradições da cidade além de shows regionais e nacionais.

Referências

  1. Prefeito e vereadores de Garopaba tomam posse; veja lista de eleitos em g1.globo.com
  2. IBGE (10 out. 2002). «Área territorial oficial». Resolução da Presidência do IBGE de n° 5 (R.PR-5/02). Consultado em 5 de dezembro de 2010 
  3. «Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Brasil». Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2010. Consultado em 15 de fevereiro de 2014 
  4. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome IBGE_PIB
  5. «Untitled Document». www.garopaba.com.br. Consultado em 6 de maio de 2016 
  6. Scunderlick Eloy de Farias, Deisi; Kneip, Andreas (2010). Panorama Arqueológico de Santa Catarina. [S.l.]: UNISUL. ISBN 9788586870989 
  7. «Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão». Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão. Consultado em 10 de outubro de 2023 
  8. Gaspar, Madu (1999). Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. [S.l.]: Editora Schwarcz - Companhia das Letras 
  9. Scunderlick Eloy de Farias, Deisi (2000). Arqueologia e Educação: uma proposta de preservação para os sambaquis do sul de Santa Catarina. (Jaguaruna, Laguna e Tubarão). Porto Alegre: Tese (Mestrado)-PUCRS. p. 167 
  10. ALVES, Claudia (1991). «A Cerâmica Pré - histórica Brasileira: Novas Perspectivas Analíticas». Clio Arq. Recife V.1 (7): 11-60 
  11. SCHMITZ, Pedro Inácio (1991). Pré-História do Rio Grande do Sul (PDF). São Leopoldo, RS: Instituto Anchietano de Pesquisas – UNISINOS 
  12. SCHMITZ, Pedro Ignácio (1999). «Caçadores-coletores do Brasil Central». Editora UFRJ. Pré-História da Terra Brasilis 
  13. Prous, André (1991). Arqueologia brasileira. [S.l.]: Editora Universidade de Brasília 
  14. Noelli, Francisco Silva (1999). «A OCUPAÇÃO HUMANA NA REGIÃO SUL DO BRASIL: ARQUEOLOGIA, DEBATES E PERSPECTIVAS - 1872-2000». Revista USP (44): 218–269. ISSN 2316-9036. doi:10.11606/issn.2316-9036.v0i44p218-269. Consultado em 6 de janeiro de 2022 
  15. Chmyz, Igor. «TERMINOLOGIA ARQUEOLÓGICA BRASILEIRA PARA A CERÂMICA». Consultado em 5 de janeiro de 2022 
  16. Brochado, José Proenza (1984). An Ecological Model of the Spread of Pottery and Agriculture Into Eastern South America (em inglês). [S.l.]: University of Illinois at Urbana-Champaign 
  17. a b SCHMITZ, Pedro Ignácio; et al. (2002). «O Projeto Vacaria: as casas subterrâneas no Planalto Rio-grandense». Unisinos. São Leopoldo - RS. Casas subterrâneas nas terras altas do sul do Brasil 
  18. BEBER, Marcus Vinícius (2005). «O sistema de Assentamento dos Grupos Ceramistas do Planalto Sul-brasileiro: o caso da Tradição Taquara/Itararé» (PDF). Unisinos. São Leopoldo - RS. Arqueologia do Rio Grande do Sul. Documentos 10 
  19. DIAS, Jefferson Luciano Zuch (2005). «A tradição Taquara e sua ligação com o índio Kaingang» (PDF). Unisinos. São Leopoldo - RS. Arqueologia do Rio Grande do Sul. Documentos 10 
  20. http://www.garopaba.sc.gov.br/conteudo/?item=24436&fa=3740&PHPSESSID=g5kamege0c8197fpi98ippc9f3

Ver também editar

Ligações externas editar

 
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