Gestus é um termo elaborado pelo dramaturgo e encenador alemão Bertolt Brecht (1898-1956) para discriminar a qualidade da representação de determinadas expressões humanas no palco, não é apenas a simples gestualidade, mas a possibilidade de criar atitudes genéricas que os gestos podem demonstrar (Thomson, 1994, pg.72). Forma latina para designar gesto, na perspectiva brechtiana torna-se um conceito relacionado ao termo "gesto social", do mesmo autor, que abarca o tom de voz, toda a gestualidade, as atitudes, a vestimenta, enfim toda a caracterização da personagem pelo ator, objetivando uma leitura totalizadora da personagem.

Exemplos práticos editar

Para desenvolver sua perspectiva de interpretação do ator, Brecht se referia muito ao trabalho de Charlie Chaplin no cinema, principalmente em seu filme a Corrida do Ouro (1925), que Brecht assistirá em 1926. A personagem Carlitos é um dos exemplos de ator brechtiano para Brecht.

Outro exemplo do diretor e dramaturgo pode ser visto na sua personagem Galileu Galilei, da peça do mesmo nome (1938, primeira versão). Em seu gestus o ator de Galileu deve mostrar a fusão do apetite intelectual com o prazer pela comida. Galileu pensa melhor quando toma seu café da manhã. A primeira fala de Galileu nesta peça de Brecht, ao seu aluno estudante de física Andrea Sarti, é ponha o leite e o pão na mesa mas não feche nenhum livro. Ou ainda, como está no texto, ele (Galileu) nunca dirá não a uma boa idéia ou a um copo de bom vinho (pg. 80) e também quando Galileu afirma eu desprezo as pessoas que são incapazes de sentir o seu estomago (p.26).

Este sentimento será mostrado sempre pela personagem em sua relação com a comida, guardando comida em seus bolsos, olhando de forma apetitosa e sensual, etc... formando o gestus de sua relação do apetite de conhecimento com o prazer pela comida, evitando retratar a personagem Galileu apenas como um intelectual (Thomson, 1994, pg.148-9). Esta discussão entre a comida e a moral, cria uma atitude genérica e fornece muitas possíveis explicações sobre a atitude de Galileu e a negação de suas descobertas científicas frente à Inquisição. O Gestus deve revelar um determinado aspecto da personagem, é uma dimensão física e não psicológica ou metafísica.

Referências editar

  • Brecht, Bertolt. 1949. "A Short Organum for the Theatre." In Brecht on Theatre: The Development of an Aesthetic. Ed. and trans. John Willett. London: Methuen, 1964. ISBN 0-413-38800-X. 179-205.
  • Müller, Heiner. 1978. "The Geste of Citation: Three Points (On Philictetes')." In Germania. Trans. Bernard Schütze and Caroline Schütze. Ed. Sylvère Lotringer. Semiotext(e) Foreign Agents Ser. New York: Semiotext(e), 1990. ISBN 0-936756-63-2. 177.
  • Thompson, P. & Sacks, Glendyr. The Cambridge Companion to Brecht. Cambridge, 1994.
  • Willett, John, ed. 1964. Brecht on Theatre: The Development of an Aesthetic. By Bertolt Brecht. Trans. and notes John Willett. London: Methuen. ISBN 0-413-38800-X (pg.42).
  • Wright, Elizabeth. 1989. Postmodern Brecht: A Re-Presentation. Critics of the Twentieth Century Ser. London and New York: Routledge. ISBN 0415023307 (pg.27).

Ver também editar