A gordura saturada é um dos tipos de gordura presentes nos alimentos. É distinguida da gordura insaturada no sentido em que não há ligação dupla entre dois átomos de carbono vizinhos numa cadeia de ácido graxo. Isto é, a cadeia é completamente “saturada” com átomos de hidrogênio. A gordura saturada ocorre de forma natural nos animais, mas em variedades de coco, por exemplo, sua concentração é maior. Seu estado físico geralmente é sólido à temperatura ambiente. Enquanto que a gordura insaturada, como a que predomina no azeite, permanece de forma líquida. A gordura saturada é menos propícia a perder as suas propriedades enquanto é utilizada na preparação de alimentos.

Tipos de gorduras na comida
Veja também

Durante o século XX, com a crescente epidemia de obesidade, foram realizados estudos que aparentemente relacionavam o consumo de gordura saturada à elevação dos níveis de colesterol. Como existia a teoria de que o nível elevado de colesterol supostamente aumentava o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, extrapolou-se a conclusão de que essa gordura aumentava o risco de doenças no coração.[1]

As gorduras disponíveis nos alimentos sempre contêm proporções distintas de gordura saturada e insaturada (não apenas um tipo, exclusivamente). Exemplos de alimentos contendo uma proporção alta da gordura saturada incluem os produtos com gordura animal, como creme, queijo, manteiga, sebo, e carnes gordas. Alguns produtos vegetais contêm bastante gordura saturada, como óleo de coco e óleo de palmiste. Um artigo científico faz uma comparação entre as propriedades do óleo de coco obtido por resfriamento ou fermentação com o que passa pelo processo de refinamento, mostrando um melhor desempenho do que não passa por este processamento[2]. A banha de porco é fonte de gordura saturada, mas sua composição é predominantemente de gorduras insaturadas.[3] Muitos alimentos preparados industrialmente também contêm níveis elevados de gordura saturada: pizza, salsicha, sobremesas à base de leite.

Gorduras saturadas e a hipótese dieta-coração editar

Desde a década de 1950, a partir das observações do fisiologista Ancel Keys, teorizou-se que as gorduras saturadas causavam doenças cardíacas. A hipótese foi testada mas nunca revelou-se plenamente confiável devido a diversas falhas em estudos que pretenderam confirmá-la. Diversos outros estudos não provaram que reduzir o seu consumo produzisse benefícios significativos na prevenção de doenças cardíacas.[4][5][6][7][8][9][10][11][12]

No entanto, há relações fortes, consistentes e graduais entre ingestão de gordura saturada, níveis sanguíneos de colesterol, e a epidemia de doenças cardiovasculares..[13] Estas relações são aceitas como causa-efeito.[14][15]

Muitas autoridades de saúde como a American Dietetic Association,[16] a British Dietetic Association,[17] American Heart Association,[13] a World Heart Federation,[18] o National Health Service britânico,[19] entre outros,[20][21] defendem que a gordura saturada é um factor de risco para a doença cardiovascular. Em maio de 2015 a Organização Munidal de Saúde recomendou fazer a mudança de gorduras saturadas para insaturadas.[22]

Referências

  1. «OS PRAZERES DA CARNE VERMELHA». drauziovarella.com.b. Consultado em 2 de abril de 2015 
  2. Marina, A. M.; Che man, Y. B.; Nazimah, S. A. H.; Amin, I. (1 de janeiro de 2009). «Antioxidant capacity and phenolic acids of virgin coconut oil». International Journal of Food Sciences and Nutrition (sup2): 114–123. ISSN 0963-7486. doi:10.1080/09637480802549127. Consultado em 13 de outubro de 2021 
  3. Fonseca, H.; Gutierrez, L. E. (1 de janeiro de 1974). «Composição em ácidos graxos de óleos vegetais e gorduras animais». Anais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. 31 (0): 485–490. ISSN 2316-8935. doi:10.1590/S0071-12761974000100038 
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  5. Skeaff, C. Murray; Miller, Jody (2009). «Dietary fat and coronary heart disease: summary of evidence from prospective cohort and randomised controlled trials». Annals of Nutrition & Metabolism. 55 (1-3): 173–201. ISSN 1421-9697. PMID 19752542. doi:10.1159/000229002 
  6. Mozaffarian, Dariush; Micha, Renata; Wallace, Sarah (23 de março de 2010). «Effects on coronary heart disease of increasing polyunsaturated fat in place of saturated fat: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials». PLoS medicine. 7 (3): e1000252. ISSN 1549-1676. PMC 2843598 . PMID 20351774. doi:10.1371/journal.pmed.1000252 
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  22. «Healthy diet Fact sheet N°394». Maio de 2015. Consultado em 12 de agosto de 2015 
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