Gregory Bateson (Grantchester, Inglaterra, 9 de maio de 1904São Francisco, Califórnia, 4 de julho de 1980) foi um antropólogo, cientista social, linguista e semiólogo inglês, cujo trabalho abarcou diversos campos do saber.

Gregory Bateson
Gregory Bateson
Conhecido(a) por Duplo vínculo, ecologia da mente, dêutero-aprendizagem, esquismogênese
Nascimento 9 de maio de 1904
Grantchester, Inglaterra
Morte 7 de julho de 1980 (76 anos)
São Francisco, Califórnia
Nacionalidade britânico
Alma mater St John's College, Universidade de Sydney
Campo(s) Antropologia, ciências sociais, linguística, cibernética, teoria de sistemas

Na década de 1940, ele ajudou a estender a teoria de sistemas e a cibernética para as ciências sociais e comportamentais.

Nos anos 1950, Bateson e seus colegas de Palo Alto desenvolveram a teoria do duplo vínculo da esquizofrenia, no âmbito do que ficou conhecido como Bateson Project (1953–1963).[1]

Ele passou a última década de sua vida desenvolvendo uma "meta-ciência" da epistemologia, a fim de reunir as várias formas primitivas de teoria de sistemas desenvolvidas em diferentes campos da ciência. Seus escritos incluem Passos para uma Ecologia da Mente (1972) e Mente e Natureza (1979).[2]

O interesse de Bateson na teoria dos sistemas e na cibernética constitui o fio condutor de seu trabalho. Bateson esteve interessado na relação desses campos com a epistemologia. Sua associação com o editor e autor Stewart Brand ajudou a ampliar sua influência. Desde a década de 70 o interesse pelos estudos de Bateson vem crescendo.

Nova Guiné e Ilha de Bali editar

Gregory Bateson estudou zoologia em Londres e biologia em Cambridge. Combinou estes dois campos de estudos em suas primeiras experiências antropológicas de trabalho de campo com os nativos da Nova Guiné e da Ilha de Bali. A partir da Nova Guiné, escreveu o livro Naven: a Survey of the Problems Suggestes by a Composite Picture of the Culture of a New Guinea Tribe Drawn from Three Points of View (1936). A partir de Bali (de março de 1936 até 1939), e junto com Margaret Mead, resultou o livro Balinese Character - A Photographic Analysis, que tornou-se mítico por estar à frente de seu tempo. Nesta época da sua publicação ainda não se discutia verdadeiramente as questões epistemológicas e heurísticas que os diversos suportes comunicacionais verbais (fala, escrita) e visuais (desenhos, pinturas) poderiam explorar juntamente, respeitando os termos de suas singularidades e complementaridades sígnicas.

Já neste momento de sua obra, Bateson esboçava aspectos do que viria a ser o cerne de sua obra - a comunicação. Analisando antropologicamente aspectos culturais desta tribo, Bateson observou dois tipos de relações que determinariam as dinâmicas sociais: relações simétricas e relações complementares.

As relações simétricas seriam aquelas nas quais os grupos ou indivíduos comunicantes compartilham anseios, aspirações, expectativas e modelos comuns e, por este motivo, colocam-se em posições antagônicas, buscando então, formas simétricas de relação.

Já as relações complementares seriam constituídas quando as aspirações dos grupos ou indivíduos comunicantes são fundamentalmente diferentes, e, portanto, a submissão de uns constitui uma resposta à dominação de outros. Para Bateson, tanto as relações simétricas quanto as complementares precisam ser trabalhadas socialmente para evitar a cismogênese.

Escola de Palo Alto editar

 Ver artigo principal: Escola de Palo Alto

Nos Estados Unidos, Califórnia, Bateson uniu-se ao grupo da chamada Escola de Palo Alto (conhecida como o Colégio Invisível) e ao Mental Research Institute (MRI). A partir desta experiência, foi publicado em 1981 o livro La Nouvelle Communication, com várias reedições desde então. Na primeira parte, é feita uma apresentação geral e histórica da eclosão da Escola de Palo Alto, descrevendo seus componentes e sintetizando os principais empreendimentos. Na segunda parte do livro, Yves Winkin oferece, para cada dos integrantes do Colégio Invisível, um texto representativo do pensamento de cada um dos autores, seguido de uma entrevista com eles - Bateson, Ray L. Birdwhistell, Erving Goffman, Edward T. Hall, Donald deAvila Jackson, Albert E. Scheflen, Stuart Sigman e Paul Watzlawick, todos antropólogos ou psiquiatras.

Macy Conferences editar

Entre os anos de 1946 e 1953, Gregory Bateson integrou o grupo reunido sob o nome de Macy Conferences, contribuindo para a consolidação da teoria cibernética junto com outros cientistas renomados: Arturo Rosenblueth, Heinz von Foerster, John von Neumann, Julian Bigelow, Kurt Lewin, Lawrence Kubie, Lawrence K. Frank, Leonard J. Savage, Molly Harrower, Norbert Wiener, Paul Lazarsfeld, Ralph W. Gerard, Walter Pitts, Warren McCulloch e William Ross Ashby; além de Claude Shannon, Erik Erikson, Max Delbrück e a própria Margaret Mead.

Teoria do Duplo Vínculo editar

Desenvolveu uma atenção especial às relações entre esquizofrenia e comunicação, que originou a Teoria do Duplo Vínculo (Double Bind). Em suas pesquisas sobre as interações humanas, a partir da investigação das formas animais de comunicação, como em estudos de caráter ecológico e etnográfico, sua preocupação era sempre epistemológica. Uma discussão aprofundada deste conceito pode ser encontrada no livro A pragmática da comunicação humana, de Paul Watzlawick, Janet Helmick Beavin e Don D. Jackson - colegas de Bateson na Escola de Palo Alto.

Enquadramento (Framing) editar

Após ter se dedicado a entender a Esquizofrenia e as relações travadas no processo psicoterápico, Bateson conduz seus estudos para o campo da comunicação e vem a propor o conceito de enquadramento em 1954, com o artigo ‘A theory of play and fantasy’, apresentado no encontro da Associação Americana de Psiquiatria. Neste artigo, procurou explicar como as interações ancoram-se em quadros de sentido que moldam as interpretações e ações dos indivíduos envolvidos

Bateson desenha uma distinção dentro da comunicação verbal em três níveis. O denotativo, que diz respeito ao conteúdo de uma mensagem. O metalinguístico, relativo a forma como a mensagem pode ressignificar a linguagem e, por fim, o nível metacomunicativo, ao qual os elementos envolvidos definem a relação entre os falantes

Observando o comportamento de animais no Zoológico de São Francisco, em busca de indícios que comprovassem se um organismo era capaz ou não de reconhecer as ações tomadas por si e por outros de sua espécie como sinais, Bateson desenvolve a noção de enquadramento posteriormente desenvolvida no seu artigo apresentado em 1954. O autor exemplifica essa noção quando descreve uma de suas observações, dois macacos brincando. Embora aquela brincadeira se assemelhasse a uma luta, as ações tomadas ali não correspondiam a tal. Isso é explicado devido a um grau de metacomunicação que os possibilita reconhecer e dar um enquadramento ou, quadros de sentido, que denotam àquelas ações como brincadeira, ao invés de uma situação real.

O enquadramento é, portanto, o que fornece um aporte de sentidos que possibilita aos atores envolvidos no processo comunicativo entender o que se passa em determinada situação. É por meio dele que, no caso de sua observação, torna-se possível aos macacos distinguir brincadeira e luta. Segundo Bateson, dentro dessa metacomunicação há indícios que denunciam a aparência imediata de determinada situação. Para o autor, todo enquadre é metacomunicativo e toda metacomunicação define um enquadre, ou seja, a partir dele é possível identificar o tipo e a natureza das ações em dada circunstância.[3]

Livros editar

No conjunto de sua obra, alguns dos livros mais importantes são:

  • NAVEN: A SURVEY OF THE PROBLEMS SUGGESTES BY A COMPOSITE PICTURE OF THE CULTURE OF A NEW GUINEA TRIBE DRAWN FROM THREE POINTS OF VIEW (1936) - Obra considerada um elo entre a antropologia e a cibernética.
  • BALINESE CHARACTER, A PHOTOGRAPHIC ANALYSIS (1942), publicado pela New York Academy of Sciences.
  • STEPS TO AN ECOLOGY OF MIND (1972)
  • MIND AND NATURE, A NECESSARY UNITY (1979), escrito um ano antes de seu falecimento e publicado no Brasil com o título Mente e Natureza pela editora Francisco Alves/RJ (1986). Neste livro encontra-se uma das mais notáveis idéias produzidas pelo pensamento batesoniano, que é a definição de informação: "informação é a diferença que faz diferença".
  • GAIA, A WAY OF KNOWING (1987), publicação póstuma no Brasil com o título Gaia, Uma Teoria do Conhecimento pela editora Gaia/SP (2001) - Livro organizado por William Irwin Thompson que reúne textos de outros autores além de Bateson, como Francisco Varela, Humberto Maturana, James Lovelock, Lynn Margulis, Henri Atlan, John Todd, Hazel Henderson, e do próprio organizador.
  • ANGELS FEAR: TOWARDS AN EPISTEMOLOGY OF THE SACRED (1988), publicação póstuma e co-escrito por sua filha Mary Catherine Bateson.
  • A SACRED UNITY, FURTHER STEPS TO AN ECOLOGY OF MIND (1991), publicação póstuma na Espanha com o título Una Unidad Sagrada, Pasos Ulteriores Hacia una Ecología de la Mente pela Editorial Gedisa/Barcelona (1993) - Livro póstumo organizado pelo seu aluno Rodney Donaldson, em Seattle/Washington/EUA.

Ver também editar

Referências

  1. Bateson, G.; Jackson, D. D.; Haley, J.; Weakland, J. (1956). «Toward a theory of schizophrenia». Behavioral Science. 1 (4): 251–264. doi:10.1002/bs.3830010402 
  2. Lipset, David (1980). Gregory Bateson: Legacy of a Scientist. [S.l.]: Prentice-Hall. ISBN 0133650561 
  3. Medonça, Ricardo; Simões (2012). «Enquadramento: Diferentes operacionalizações analíticas de um conceito» (PDF). Revista Brasileira de Ciências Sociais. Consultado em 17 de janeiro de 2017 
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