Imperialismo cultural

instrumento de controle ideológico através da disseminação cultural estrangeira

Imperialismo cultural é um conjunto de políticas que têm por objetivo ampliar a esfera de influência geopolítica de um país sobre outro (ou outros), impondo-lhe(s) a sua cultura.

Conceito editar

Herbert Schiller era professor da Universidade da Califórnia quando definiu um conceito de "imperialismo cultural". Segundo Schiller, imperialismo cultural é "o conjunto dos processos pelos quais uma sociedade é introduzida no sistema moderno mundial, e a maneira pela qual sua camada dirigente é levada, por fascínio, pressão, força ou corrupção, a moldar as instituições sociais para que correspondam aos valores e estruturas do centro dominante do sistema, ou ainda para lhes servir de promotor dos mesmos".[1]

O termo "imperialismo" vem do latim e remete ao sentido de "ter o poder de mandar", o que implica uma dominação, um controle direto ou indireto sobre o outro. Essa ação de poder antagoniza os interesses sobre os quais incide e não pode ser vista apenas como um processo de dominação política e econômica de uma nação mais rica e poderosa sobre uma região ou um país mais pobre. Há também outra forma de dominação: o imperialismo cultural, ou seja, a imposição de valores, hábitos de consumo e influências culturais que se tornam uma espécie de padrão cultural a ser seguido pelo país dominado. Muitas vezes, o imperialismo cultural assume a forma de injetar a cultura ou a língua natural de uma nação em outra. Geralmente a primeira é uma grande potência militar ou economicamente poderosa nação. Imperialismo cultural pode se referir a uma política ativa e formal ou de uma atitude geral.

O termo é geralmente usado em um sentido pejorativo, juntamente com uma chamada de rejeição à influência estrangeira. Os impérios durante toda a história foram estabelecidos usando a guerra e o imperialismo militar. As populações conquistadas tenderam a ser absorvidas pela cultura dominante, ou adquirir seus atributos indiretamente. O imperialismo cultural é uma forma de influência cultural distinguida de outras pelo uso de força, tal como a militar ou econômica.

A influência cultural é um processo que sempre ocorre entre todas as culturas que têm contato uma com a outra. Por exemplo: as tradições musicais africanas influenciaram a música afro-americana, que, por sua vez, influenciou a música dos Estados Unidos - mas o imperialismo cultural não tem nada a ver com essa transmissão. Similarmente, a ascensão da popularidade da ioga indiana em nações ocidentais nunca dependeu de qualquer tipo de força. Do mesmo modo, os povos de estados, nações e culturas mais pobres ou menos poderosos adaptam frequente e livremente práticas e artefatos culturais de sociedades mais poderosas e mais ricas sem nenhuma força estar sendo necessariamente aplicada.

Quando os povos adotam livremente as práticas culturais de outros, o uso da frase pejorativa "imperialismo cultural" se torna problemático. Quando força é ausente da influência cultural, o uso do termo "imperialismo cultural" pode facilmente transformar-se uma tática de debate que envolve radicalismo, a xenofobia e o nacionalismo latentes - as respostas emocionais à influência cultural que é presente em todas as culturas que já tiveram contato com outras em algum período da história.

O cenário para o desenvolvimento dessa teoria é a percepção de um conflito internacional de categorias sociais, a existência de combate psicopolítico e a noção de hegemonia.

Capitalismo e cultura editar

Para compreender a relação entre cultura e imperialismo é necessário compreender a relação entre cultura e capitalismo, tendo em vista que a cultura é um elemento essencial para a propagação das relações capitalistas, sejam estas nacionais ou internacionais. Pois essas relações se reproduzem por meio de ideias, valores e doutrinas organizados pelo modo capitalista de produção.[2]

Política cultural imperialista editar

A política cultural do imperialismo começou a se tornar hegemônica após a Segunda Guerra Mundial e se fundamenta em relações sociais econômicas e políticas baseadas na troca de mercadorias e relações de compra e venda relacionadas à propriedade privada. Seus objetivos centrais são produzir convicções nos grupos sociais.

Cultura dominada (Dominação Cultural) editar

A formação cultural dominada está voltada para aquelas culturas que tem poucas possibilidades de crescimento em relação à nação que a domina. Sendo assim, não dispõem de uma cultura própria e nem profissões habilitadas a levar adiante suas formas de formação, multiplicando-as e renovando-as.

Cultura dominante editar

Cultura dominante é a nação que exerce hegemonia sobre outras, impondo a sua cultura, tradição, crença, ideologia etc. Essas potências têm o poder de estabelecer seu domínio sobre os povos pelos mais diversos motivos, sejam por fatores econômicos, políticos ou ideológicos.

Exemplos editar

Exemplos de imperialismo cultural podem ser encontrados desde a Antiguidade, como a dominação da cultura grega sobre as demais durante o Império de Alexandre Magno (processo conhecido como Helenismo). Muitas vezes o processo de dominação de uma cultura acaba culminando em novos processos em outras culturas como, por exemplo, a dominação de Napoleão Bonaparte sobre o território europeu durante o século XIX e a imposição do bloqueio continental, está ligada a imposição da cultura Portuguesa no Brasil após a vinda da família Real em 1808. A dominação britânica sobre a Índia utilizava-se dos mesmos argumentos de superioridade cultural, que mais adiante no século XX serviram de base para as ideologias nazistas de Adolf Hitler. Em épocas contemporâneas, imperialismos culturais são geralmente associados ao imperialismo político, militar e econômico (caso das potências europeias na África e na Ásia). No século XX, durante a Guerra Fria, as duas superpotências rivais (EUA e URSS) disputaram áreas de influência cultural, exportando filmes, livros e música, além de produtos da indústria cultural. Por exemplo, em países como Cuba, livros e escolas em língua russa foram introduzidos. No entanto, como a indústria cultural no sistema capitalista é mais desenvolvida, os EUA conseguiram expandir sua influência cultural mais expressivamente.[3]

O imperialismo cultural dos EUA atua sobre o mundo inteiro, mas é melhor observado em países em desenvolvimento, como o Brasil[carece de fontes?]. Filmes, alimentos, expressões, termos e roupas são exemplos da influência exercida pelos norte-americanos no país. A indústria cultural traz muitos lucros para os EUA e outros países "produtores de cultura".

A influência cultural é um processo que ocorre todas as vezes em que há contato entre culturas. Quando a força é ausente da influência cultural, o uso do termo “imperialismo cultural” é uma tática de argumentação que envolve xenofobia e nacionalismo - respostas à influência cultural que existe entre centro e periferia.

Cultura repressiva editar

A indústria cultural capitalista impõe seus objetivos para manipular das mais variadas formas o pensamento dos grupos sociais menos favorecidos, induzindo o pensamento e o expressionismo pela transmissão da informação e pelos sistemas de comunicação como, por exemplo: jornais, revistas, propagandas. A cultura repressiva compreende os produtos, os processos e a comercialização de mercadorias culturais que cercam a população, que são desenvolvidos e disseminados pelo próprio governo e que consideraram os interesses específicos e necessidades de cada faixa etária e categorias sociais, adotando uma ação não ostensiva, mas muito influente.[carece de fontes?]

Imperialismo cultural estadunidense editar

Na relação entre os Estados Unidos e os países da América Latina, os problemas culturais sempre estiveram presentes. Visando a lidar com esta questão, são feitos acordos, tratados, pactos e programas com o objetivo de solucionar os problemas de cooperação cultural, isto é, de cooperação nos campos da educação, ciência e cultura. Visando a esta problemática, o sistema interamericano possui um Departamento de Assuntos Culturais denominado Pan-Americana.

A conferência de Punta Del Este, realizada no ano de 1961, dá início a um programa comum entre os Estados Unidos e os países da América Latina cujo objetivo é fazer face às repercussões da vitória do socialismo em Cuba. Para isso, foi aprovada a Carta de Punta Del Este. Nesta conferência, foram aprovadas resoluções que tratam das questões relacionadas à cultura. Assim, recomenda-se que os países da América Latina adotem programas de educação e tratem também da importância da mobilização da opinião pública nos países latino-americano tendo em vista a realização dos princípios formulados naquela conferência e consubstanciados na referida carta.

Em 1969, Nelson Rockefeller realizou um relatório apresentando, ao presidente dos Estados Unidos Richard M. Nixon, um diagnóstico dos problemas relacionados à educação, ciência e cultura nos países da América Latina, fazendo também sugestões práticas de como resolver esses problemas. Diante disso, pode-se perceber que este relatório apresenta uma parte importante da política cultural que os Estados Unidos têm procurado sugerir e impor aos países latino-americanos.

A Carta da Organização dos Estados Americanos relata os propósitos do Conselho Interamericano de Cultura, onde este tem, por objetivo, promover relações entre os povos americanos através do incentivo com relação ao intercâmbio educacional, científico e cultural, isto é, intensificar o intercâmbio de estudantes, professores, pesquisadores etc. a fim de utilizar os recursos disponíveis para ensino e pesquisa.

Os programas estabelecidos pelos Estados Unidos se propõe oficialmente a auxiliar o desenvolvimento econômico e político dos governos latino-americanos. Outro aspecto da cooperação cultural entre os Estados Unidos e os países da América Latina é a difusão dos valores que correspondem aos interesses predominantes no governo e nas grandes empresas norte-americanas.

Existem outras formas de relações culturais entre os Estados Unidos com os países da América Latina. Dentre essas relações, podem-se citar o poder que as cadeias publicitárias possuem e o poder que as empresas têm para auxiliar na produção e difusão de programas de televisão, filmes, livros, jornais etc. Mostrando-se, assim, que, na maioria dos países da América Latina, o conteúdo dos meios de comunicação de massa é produzido pelos Estados Unidos. Tal fato mostra a força que o imperialismo cultural norte-americano tem perante os países latino-americanos.

Contradições do pensamento Imperialista editar

A indústria cultural do imperialismo reflete as inconsistências e as contradições das relações econômicas, políticas e militares, além de expressar sistematicamente a agressividade do capitalismo monopolista.

A dominação imperialista não é totalmente homogênea, monolítica, nem preponderante; ela não pode ser homogênea ou monolítica por causa da multiplicidade e devido à divergência dos interesses dos vários grupos em que se subdividem as burguesias em cada país dependente. Na prática, ela se divide em forças divergentes e facções e estilos distintos.

As relações imperialistas refletem inclusive os antagonismos de classes em escala nacional e internacional. Nos últimos anos, devido à expansão dos investimentos das empresas norte-americanas nos países dependentes, têm havido frequentes protestos de sindicatos operários dos Estados Unidos contra esses investimentos. Os mesmos alegam que os investidores buscam fontes de mão de obra mais barata e, assim, enfraquecem as condições de reivindicação dos operários industriais naquele país.

Isto tudo indica situações, relações econômicas e políticas que influenciam direta e indiretamente a operação da indústria cultural do imperialismo. As dificuldades do imperialismo norte-americano em países dependentes mostram que a própria cultura do imperialismo é incapaz de interpretar adequadamente as condições verdadeiras da sua dominação.[2]

Ver também editar

Referências

  1. SCHILLER, Herbert I, O. império norte-americano das comunicações, tradução de Tereza Lúcia Halliday. Petrópolis: Vozes, 197.187 p
  2. a b IANNI, O. Imperialismo e cultura. Rio de Janeiro: vozes, 1976. 152p.
  3. SILVA, F. A. A História Moderna e Contemporânea. Ed. Moderna, 173 p.