Jacques Boucher de Crèvecœur de Perthes

Jacques Boucher de Crèvecœur de Perthes (pronúncia em francês: ​[ʒak buʃe d(ə) kʁɛvkœʁ də pɛʁt]; 10 de setembro de 1788 - 5 de agosto de 1868), às vezes referido como Boucher de Perthes, era um arqueólogo e antiquário francês notável pela sua descoberta, em 1830, de ferramentas de pedra nos cascalhos do vale do Somme.

Boucher de Perthes em 1833

Vida editar

Nascido em Rethel, nas Ardenas, era o filho mais velho de Jules Armand Guillaume Boucher de Crèvecœur, botânico e oficial alfandegário, e de Etienne-Jeanne-Marie de Perthes. Em 1802, ele entrou para o governo como funcionário da alfândega. Suas funções o mantiveram por seis anos na Itália, mas ao retornar em 1811 ele encontrou uma rápida promoção em casa, e finalmente foi nomeado, em março de 1825, para suceder seu pai como diretor da douane (estância aduaneira) em Abbeville, onde ele permaneceu para o resto de sua vida.

Arqueologia editar

Seu tempo de lazer era principalmente dedicado ao estudo do que mais tarde foi chamado de Idade da Pedra e do homem antediluviano, como ele o expressou. Por volta do ano de 1830, ele havia encontrado, nos cascalhos do vale do Somme, pederneiras que, em sua opinião, apresentavam evidências de obra humana; mas só muitos anos depois ele tornou pública a importante descoberta de um instrumento de sílex trabalhado com restos de elefante e rinoceronte nos cascalhos de Menchecourt.

Em 1847, ele iniciou a edição de sua monumental obra em três volumes, Antiquités celtiques et antédiluviennes, uma obra na qual foi o primeiro a estabelecer a existência do homem no Pleistoceno ou no início do período quaternário. Suas opiniões receberam pouca aprovação, em parte porque ele já havia proposto teorias sobre a antiguidade do homem sem fatos para apoiá-las, em parte porque as figuras em seu livro foram mal executadas e incluíam desenhos de pederneira que não mostravam nenhum sinal claro de modificação intencional.

Em 1855, o Dr. Marcel Jérôme Rigollot de Amiens defendeu fortemente a autenticidade dos instrumentos de pederneira; mas foi só em 1858 que Hugh Falconer viu a coleção em Abbeville e induziu Sir Joseph Prestwich no ano seguinte a visitar a localidade. Prestwich então concordou definitivamente que os instrumentos de pedra eram obra do homem e que ocorriam em solo não perturbado em associação com restos de mamíferos extintos.

Charles Lyell não só confirmou os enormes períodos de tempo geológico das estratificações, mas indicou que o planalto de giz da Picardia, na França, havia sido conectado às terras de giz de Kent, na Inglaterra e que o estreito de Dover ou Pas de Calais foi o resultado recente de forças de erosão complexas de muito longo prazo.

Embora Boucher de Perthes tenha sido o primeiro a estabelecer que a Europa havia sido povoada pelo homem primitivo, ele não foi capaz de apontar o período preciso, porque o quadro de referência científico não existia então. Hoje, os machados do distrito do rio Somme são amplamente aceitos como tendo pelo menos 500.000 anos e, portanto, o produto de populações de Neandertal, enquanto algumas autoridades pensam que podem ter até um milhão de anos e, portanto, estar associados ao Homo erectus.

Legado editar

Em 1954, o Museu Boucher de Perthes foi inaugurado em Abbeville, com coleções que abrangem uma ampla gama de materiais e períodos.

Em seu romance Viagem ao Centro da Terra (1864), Júlio Verne faz referência a Boucher de Perthes após o Professor Lindenbrock, Axel e Hans descobrirem cabeças humanas "antediluvianas" em uma praia próxima ao centro da Terra.

Referências