João de Lisboa

escritor português

João de Lisboa (c.1470–1525), foi um piloto da carreira da Índia. Sobre ele sabemos que acompanhou Tristão da Cunha na viagem de 1506, explorou a costa do Rio de La Plata (1511-12). Acerca dele, diz Francisco Adolfo de Varnhagen:[1]

João de Lisboa
Nascimento 1470
Morte 1525
Cidadania Reino de Portugal
Ocupação explorador, praticagem
Consignemos porém de passagem que com o Magalhães ia o piloto portuguez João de Lisboa, que já no Brazil havia estado antes, e que escreveu um livro sobre marinharia, cujo aparecimento seria talvez de trascendente importancia para a historia geographica.

Participou na expedição que o Duque de Bragança fez a Azamor, em 1513, que voltou à Índia com a armada de Diogo Lopes de Sequeira em 1518. Terá falecido durante a viagem da armada de Filipe de Castro ao longo da costa oriental africana, em 1525.

A sua celebridade não se deve contudo à participação nessas viagens, mas sim ao facto de lhe ser atribuída a autoria do Livro de Marinharia que contém um excelente atlas e o Tratado de Agulha de Marear, datado de 1514. [2]

Tratado de Marinharia editar

É composto pelo Breve Tratado de Marinharia que inclui o "Tratado da agulha de marear achado por João de Lisboa no ano de 1514";

  • 8 fls. in. com tabelas quadrienais de declinação do Sol; 20 fls de pergaminho com um "Atlas Geográfico Universal";
  • 1 fl. com o "regimento da declinação";
  • 8 fls. com tábuas quadrienais da distância polar Norte do Sol.
  • Roteiros desde a Europa até ao Extremo Oriente.
 
Globo de João de Lisboa (1470-1525) — excerto do Livro de Marinharia (1514)
 
Castelos portugueses no Peru — Livro de Marinharia (1514)

As 20 cartas que constituem o Atlas são as seguintes:

  • 1,ª carta: Terra Nova, Açores, Islândia, Inglaterra, Lisboa;
  • 2.ª carta: América Central, Mar das Antilhas e noroeste da América do Sul;
  • 3.ª carta: Mar das Antilhas, costa da América do Sul desde o Golfo de Maracaíbo ao Maranhão;
  • 4.ª carta: costa da América do Sul, desde o Rio de Janeiro ao Estreito de Magalhães, com o Rio da Prata;
  • 5.ª carta: costa desde o Maranhão Sul do Brasil;
  • 6.ª carta: desde o nordeste brasileiro até ao extremo da África Ocidental;
  • 7.ª carta: arquipélagos do Atlântico Sul;
  • 8.ª carta: Atlântico Norte, com a Terra dos Bacalhaus, Islândia, Inglaterra, Lisboa, Safim e Ilhas Terceiras;
  • 9.ª carta: Europa Ocidental;
  • 10.ª carta: África Ocidental e extremo nordeste do Brasil;
  • 11.ª carta: Golfo da Guiné;
  • 12.ª carta: África Ocidental, do Equador ao Cabo da Boa Esperança;
  • 13.ª carta: África Oriental, do Equador ao Cabo da Boa Esperança;
  • 14.ª carta: ilhas do sudoeste do Índico;
  • 15.ª carta: Mar Vermelho e Golfo Pérsico;
  • 16.ª carta: costa do Golfo Pérsico até Ceilão;
  • 17.ª carta: Extremo Oriente desde o Golfo de Sião até ao Japão;
  • 18.ª carta: Golfo de Bengala;
  • 19.ª carta: Insulíndia;
  • 20.ª carta: esboço da Terra.

Encontra-se no Arquivo da Torre do Tombo (Colecção Cartográfica nº166), com a informação suplementar de que o texto é escrito sobre papel de Holanda e os mapas sobre pergaminho.

Os mapas constantes do tratado contêm inclusões, duas comentadas por Armando Cortesão na Portugaliae Monumenta Cartographica (1960) e que levaram a uma eventual datação posterior à data de 1514 constante no códice, pela mão do autor. [3]

O texto constante do Tratado da agulha de marear é considerado de 1514 e foi reconstituído por Luis de Albuquerque em 1982.[4] Nessa obra depreende-se, prima facies, que já havia o entendimento entre os navegadores, de que haveria uma relação entre a movimentação da agulha de marear, mais tarde designada bússola, e a longitude dos sítios por onde se passava.[5][6] Tendo João de Lisboa chegado a postular a existência de um «meridiano vero», uma suposta linha em que a variação da movimentação da bússola, então chamada agulha de marear, seria nula. Essa teoria, colheu grande aceitação na época e continuou a ser perfilhada, ao engano, por vários navegadores, mesmo depois de D. João de Castro a ter refutado, em 1538.[7]

Família editar

João de Lisboa (c.1470 Labeyra(?), – c.1525) era filho de Pedro Machado Carregueiro (c.1427) e Branca Coelho (c.1445). Casou com Maria de Castro e tiveram uma filha Mécia de Andrade Machado (Carregueiro) que casou com Gonçalo Anes da Fonseca (ca.1475 Faro, Lagos, Portugal – ?) e que foram parentes de Marquesa Alves Machado. Pedro Machado Carregueiro era filho de João Esteves Carregueiro.

Problemas na datação editar

Estes mapas são pouco conhecidos e desafiam qualquer datação face à cronologia habitual dos descobrimentos. Os mapas representam o Japão e logo são datados posteriormente à morte de João de Lisboa (c. 1525). Os mapas referem a presença portuguesa no Peru, algo que não aparece em nenhum registo histórico oficial. Dois mapas apresentam o Estreito de Magalhães, descoberto em 1520. Num caso o nome não é referido, no outro aparece adicionado, comprometendo a data de 1514 escrita pelo autor.

 
Livro de Marinharia de João de Lisboa (onde é assinada a data 1514)

Referências

  1. Francisco Adolfo de Varnhagen (1854). História Geral do Brazil. 1. [S.l.: s.n.] p. 31 
  2. João de Lisboa (c. 1560) [1514]. Tratado de Marinharia. [S.l.]: Arquivo Nacional da Torre do Tombo ( Colecção Cartográfica nº166) 
  3. Armando Cortesão; Avelino Teixeira da Mota (1960). Portugalliae Monumenta Cartographica. [S.l.]: Imprensa Nacional da Casa da Moeda 
  4. Luís de Albuquerque (1982). O "Tratado da Agulha de Marear" de João de Lisboa. Reconstituição do seu texto, seguida de anotações em francês. [S.l.]: Univ. Coimbra 
  5. Albuquerque, Luís de (1994). “Contribuição das Navegações do sec. XVI para o conhecimento do magnetismo terrestre” - Estudos de História da Ciência Náutica. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical. Centro de Estudos de Cartografia Antiga. pp. 247‑267 
  6. ALBUQUERQUE, Luís (1994). “Bússola”, in Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses. Vol I. Lisboa: Círculo de Leitores. p. 147 
  7. «Navegações Portuguesas». cvc.instituto-camoes.pt. Consultado em 30 de janeiro de 2021 

Ligações externas editar