O K2 (também conhecida como monte Godwin-Austen, Chogori, Dapsang ou Qogir Feng)[1] é a segunda montanha mais alta do mundo, depois do Monte Everest, a 8614 metros de altitude. Tem proeminência de 4020 metros, e isolamento topográfico de 1315,59 km.[2] Está localizado na fronteira China-Paquistão[3] entre Baltistão, na região de Guilguite-Baltistão do norte do Paquistão, e o Condado Autônomo Tashkurgan em Sinquião, China.[4] O K2 é o ponto mais alto da cordilheira de Caracórum, o ponto mais alto no Paquistão e Sinquião, e a montanha mais alta fora dos Himalaias.

K2
K2
O K2
K2 está localizado em: Planalto tibetano
K2
K2, fronteira China-Paquistão
Coordenadas 35° 53' N 76° 31' E
Altitude 8614 m (28251 pés)
Posição: 2
Proeminência 4020 m
Posição: 22
Cume-pai: Monte Everest
Isolamento 1 315,59 km
Listas Sete segundos cumes
8000s
Ponto mais alto de um país
Ultra
Localização Baltistão, ChinaChina e PaquistãoPaquistão (fronteira)
Cordilheira Caracórum
Primeira ascensão 31 de julho de 1954 por
Itália Achille Compagnoni
Itália Lino Lacedelli
Rota mais fácil Ascensão sobre pedra/neve/gelo

Montanhismo editar

Devido à extrema dificuldade de subida, o K2 é conhecido pelos alpinistas como "montanha selvagem" e "uma entidade de humor oscilante".[5] Com cerca de 300 ascensões bem-sucedidas de sucesso e 77 mortes, sua taxa de fatalidade (cerca de uma pessoa morre na montanha a cada quatro que chegam ao cume[6]) é a terceira[7] maior dentre as montanhas com mais de oito mil metros de altitude, só superada pela do Annapurna (191 ascensões e 61 mortes[8]) e do Nanga Parbat (326 ascensões e 68 mortes[9] ).

A ascensão do K2 é considerada pela maior parte dos alpinistas como sendo mais difícil que a do monte Everest. Até setembro de 2013, 344 pessoas tinham conseguido atingir o topo, enquanto aproximadamente 4000 já haviam escalado o Everest.

É mais difícil e perigoso atingir o pico do K2 pelo lado chinês; assim, o lado paquistanês é mais popular para os alpinistas.

Ascensões editar

Animação do entorno do K2
 
Principais rotas de ascensão pela face sul da montanha
 
Pôr do sol a partir da montanha
 
Vale Skardu

Foi explorado pela primeira vez em 1856 por um europeu, Thomas George Montgomerie, na expedição liderada por Henry Haversham Godwin-Austen, que o nomeou como K2 (Karakoram 2).

A primeira tentativa profissional de ascensão ocorreu em 1902, mas apesar de cinco tentativas infrutíferas e mortais, seu topo não foi atingido até que uma expedição italiana realizou este feito em 31 de Julho de 1954. A expedição era liderada por Ardito Desio, e os dois alpinistas que atingiram o topo foram Lino Lacedelli e Achille Compagnoni.

O K2 foi escalado no inverno pela primeria vez em 16 de janeiro de 2021 por Nirmal Purga[10].

Caso K2 editar

A primeira ascensão do K2 por parte dos alpinistas italianos Achille Compagnoni e Lino Lacedelli causou uma serie de polêmicas, conhecidas também como ‘caso K2’.[11] Na noite entre 30 e 31 julho de 1954, os dois montanhistas italianos estavam a esperar os cilindros de oxigênio para poder concluir com sucesso o alanceamento do cume. Os cilindros (cerca de 40 kg no total) foram carregados pelo jovem alpinista lombardo Walter Bonatti e pelo hunza Amir Madhi até o ponto de encontro, bem no começo de um íngreme plano de gelo ao redor de 8000 metros, conhecido também como Gargalo de Garrafa,[12] onde Achille e Lino deveriam ter alocado uma barraca. Mas os dois montanhistas deslocaram, contrariamente do que foi concordado, a barraca para um lugar um pouco mais alto,[13] impedindo assim que Bonatti e Madhi pudessem aproveitar do abrigo e talvez juntar -se a Achille e Lino na tentativa de atingir o topo.[14] De consequência Walter e Amir foram obrigados bivacar em lugar aberto com condições proibitivas, sem equipamento, comida ou água para poder sobreviver além do limite vertical[12][15] (uma linha imaginaria sobre os 8000 metros de altura, onde, por causa da extrema rarefação de oxigênio, o corpo humano deteriora progressivamente sem possibilidade de recuperação[16]). Após esta noite, Walter conseguiu descer sem sérias consequências de saúde, enquanto Madhi sofreu a amputação de todos os dedos dos seus pés,[17] devido aos congelamentos e a falta de um equipamento adequado (aos portadores paquistaneses, de fato, não foram fornecidos o mesmos materiais técnicos dos alpinistas italianos).[15]

Uma vez concluída a façanha com sucesso, Bonatti se tornou vitima de acusações absurdas e difamatórias por parte seja dos conquistadores do cume (Campagnoni e Lacedelli), seja do líder da expedição, o geólogo Ardito Desio.[18][19][20][21][22] Dentre as varias acusações, o Walter foi considerado responsável por ter consumido uma quantidade significativa de oxigênio a fim de aumentar, por um lado, suas probabilidades de sobrevivência durante seu bivaque com Madhi, e, por outro, tentar boicotar este ambicioso projeto himalaio.[23][24] Na verdade, como posteriormente admitido pelo próprio Lacedelli[25], as máscaras e misturadores indispensáveis para o correto funcionamento dos cilindros ficaram em possessão de Compagnoni e Lacedelli,

O caso K2 só foi resolvido 50 anos depois, quando o Clube Alpino Italiano (CAI), após uma reunião dos ‘três sábios’, confirmou completamente a versão de Walter Bonatti.[26] Enquanto Compagnoni e Desio nunca admitiram a verdade, Lino Lacedelli, com a publicação do seu livro ‘K2: Il prezzo della conquista’ (K2: O preço da conquista) confirmou em boa parte a versão sustentada por Walter Bonatti.[25]

Mortes editar

Até 2013, 83 pessoas morreram no K2, 13 das quais em 1986 no que ficou conhecido como "Verão Negro". O ano de 2008 também foi especialmente trágico, quando 11 montanhistas morreram quase simultaneamente após uma avalanche atingir um serac (glaciar suspenso) e também romper cordas fixas. Essa tragédia deu origem ao premiado documentário "The Summit".

Apesar de o Everest ser mais alto, K2 é muito mais letal. A taxa de fatalidade - percentual de mortos para cada pessoa que atinge o cume - do K2 é superior a do Everest. Até 2009, o K2 registrava uma taxa de 25,75% (299 pessoas que chegaram ao cume contra 77 mortes) enquanto que a taxa do Everest era de 7% (2972 chegadas e 208 mortes).[27][28] Em outras palavras, de cada quatro pessoas que chegaram ao topo do K2 uma morreu.[5]

Escalada por montanhistas de países lusófonos editar

Esta montanha só foi até hoje escalada por 4 montanhistas de países lusófonos. Em 2000 o brasileiro Waldemar Niclevicz, que usou, em parte do percurso, oxigênio artificial, atingiu o cume e os brasileiros Moesés Fiamoncini e Karina Oliani foram os últimos lusófonos a escalar a montanha em 2019. Karina Oliani se tornou também a primeira brasileira a atingir tal feito [29]. O alpinista João Garcia[30] foi o primeiro português a atingir o seu cume, em 20 de Julho de 2007, sem recurso a oxigênio artificial. [31] João Garcia participou do projeto À conquista dos Picos do Mundo, onde escalou, sem recurso a oxigênio, entre 2006 e 2010, oito das catorze montanhas com mais de oito mil metros de altitude, totalizando assim em 2010 os catorze cumes.

Panorama da cordilheira do K2

Ver também editar

Referências

  1. «K2 Chhoghori». Consultado em 10 de outubro de 2016. Arquivado do original em 4 de março de 2016 
  2. Peakbagger.com. «K2, China/Pakistan». Consultado em 19 de abril de 2018 
  3. «Text of border agreement between China and Pakistan» (PDF). Consultado em 10 de outubro de 2016. Arquivado do original (PDF) em 11 de fevereiro de 2012 
  4. «K2». Britannica.com. Consultado em 23 de janeiro de 2010 
  5. a b FIORATTI, Gustavo Uma entidade de humor oscilante: Alpinistas, novatos e seus valentes carregadores sobem o mortal K2. Folha de S.Paulo, Ilustríssima, p. 3, 28 de junho de 2015. Acesso em 30 de junho de 2015.
  6. «AdventureStats - by Explorersweb». www.adventurestats.com. Consultado em 21 de outubro de 2015 
  7. «Montanhas Mais Perigosas Do Mundo - Discovery». www.brasil.discovery.uol.com.br. Consultado em 18 de outubro de 2016 
  8. «Stairway to heaven». The Economist. Consultado em 20 de abril de 2015 
  9. «Nanga Parbat». www.8000ers.com. Consultado em 18 de outubro de 2016 
  10. Brummit, Chris (16 de dezembro de 2011). «Russian team to try winter climb of world's 2nd-highest peak». USA Today. Associated Press. Consultado em 26 de setembro de 2015 
  11. Costantino, Muscau (25 de dezembro de 2015). «conquista del K2, nuova verita'». Corriere della Sera. Consultado em 17 de outubro de 2016 
  12. a b Bonatti, Walter (2003). K2 la verità - Storia di un caso. Milano: Baldini Castoldi Dalai 
  13. Mantovani, Roberto (Junho de 1994). «K2. La fabbrica dei sogni». Rivista della Montagna 
  14. «K2, la verità 60 anni dopo: "Compagnoni e Lacedelli erano a corto di ossigeno"». Repubblica.it. 25 de julho de 2014 
  15. a b Messner, Reinhold (2015). Walter Bonatti: il fratello che non sapevo di avere. Milano: Mondadori 
  16. Huey, Raymond B.; Xavier (15 de setembro de 2001). «Limits to human performance: elevated risks on high mountains». Journal of Experimental Biology (em inglês). 204 (18): 3115–3119. ISSN 0022-0949. PMID 11581324 
  17. «Il Buongiorno di Gramellini: Bonatti, l'uomo che ha scalato l'ingiustizia». LaStampa.it. Consultado em 7 de outubro de 2016 
  18. «Il K2 di Bonatti, una verità a scoppio ritardato». www.ilsole24ore.com. Il Sole 24 ORE. Consultado em 7 de outubro de 2016 
  19. Bonatti, Walter (27 de maio de 2010). The Mountains of My Life (em inglês). [S.l.]: Penguin Books Limited. ISBN 9780141957166 
  20. Bonatti, Walter (7 de maio de 2015). K2: la verità: Storia di un caso (em italiano). [S.l.]: Rizzoli. ISBN 9788858679586 
  21. «Il K2, Bonatti, Compagnoni, Lacedelli, Desio...». www.verticalmente.net 
  22. «Il Caso K2 - 40 anni dopo». www.eneafiorentini.it. Consultado em 7 de outubro de 2016 
  23. Giglio, Nino (26 de julho de 1964). «Come Bonatti cercò di precedere Compagnoni e Lacedelli». Nuova Gazzetta del Popolo 
  24. Giglio, Nino (1 de agosto de 1964). «I dieci anni del K2 celebrati a casa Compagnoni - L'inviato a Karachi conferma che l'hunza Mahdi tentò con Bonatti l'attacco alla vetta». Nuova Gazzetta del Popolo 
  25. a b Lacedelli, Lino; Cenacchi, Giovanni; Worthington, Mark (1 de janeiro de 2006). K2: The Price of Conquest (em inglês). [S.l.]: Mountaineers Books. ISBN 9781594850301 
  26. Club Alpino Italiano, Il consiglio Centrale ai tre saggi per il giudizio storico sul K2, approvato nella riunione del Consiglio Centrale, 14 fevereiro 2004
  27. PORTILHO, Gabriela. Por que o K2 é a montanha mais perigosa do mundo? Mundo Estranho, n. 88, julho de 2009, Editora Abril. Acesso em 29 de junho de 2015.
  28. AdventureStats. K2 Route Statistics. AdventureStats.com - Keeping track of adventure history. Acesso em 30 de junho de 2015.
  29. Alexandrino, Renato de (30 de julho de 2019). «Karina Oliani comemora escalada da montanha mais perigosa do mundo». Radicais - O Globo. Consultado em 5 de outubro de 2023 
  30. João Garcia
  31. Alexandrino, Renato de. «Karina Oliani comemora escalada da montanha mais perigosa do mundo». Radicais - O Globo. Consultado em 8 de outubro de 2020 

Ligações externas editar

  •   Media relacionados com K2 no Wikimedia Commons


Os catorze picos com mais de oito mil metros de altitude
 
Everest
1.     Everest 8 844 m
2.    K2 8 611 m
3.     Kanchenjunga 8 586 m
4.     Lhotse 8 516 m
5.     Makalu 8 462 m
6.     Cho Oyu 8 201 m
7.   Dhaulagiri 8 167 m
8.   Manaslu 8 156 m
9.   Nanga Parbat 8 125 m
10.   Annapurna 8 091 m
11.    Gasherbrum I 8 068 m
12.    Broad Peak 8 047 m
13.    Gasherbrum II 8 035 m
14.   Shishapangma 8 013 m