Luís Gonçalves das Chagas

político brasileiro

Luís Gonçalves das Chagas, primeiro e único barão de Candiota (Herval, c.1815[nota 1]Porto Alegre, 13 de junho de 1894)[1] foi um estancieiro, militar e nobre brasileiro.

Luís Gonçalves das Chagas
Barão de Candiota
Luís Gonçalves das Chagas
Nascimento 1815
  Rio Grande do Sul
Morte 1894
  Porto Alegre
Ocupação Estancieiro e militar
Assinatura Assinatura de Luís Gonçalves das Chagas

Militar farroupilha e estancieiro editar

Luís Gonçalves das Chagas lutou pelo lado farrapo na Guerra dos Farrapos e participou da primeira grande vitória farroupilha, a batalha do Seival (10 de setembro de 1836), ocorrida nas proximidades de estância sua no atual município de Candiota.[2] Afastou-se do conflito em 1837, após incidente em que teria se recusado a cumprir ordens do general Antônio de Souza Netto para fuzilar prisioneiros legalistas, entre os quais o visconde de Cerro Alegre.[3] Em 20 de setembro de 1837, seu tio e futuro sogro, o estancieiro farrapo Francisco Antônio de Ávila, foi supostamente assassinado pelas forças imperiais a bordo do navio-prisão ancorado no porto do Rio Grande.[4][nota 2]

Com base em heranças e em aquisições a partir da década de 1840, tornou-se proprietário de grande extensão de terras nos atuais municípios de São Gabriel, Santa Maria, São Vicente do Sul, Lavras do Sul, Bagé, Pinheiro Machado e Candiota.[5] Roque Callage observava em 1929 que Chagas poderia ir das coxilhas de Santa Maria à cidade de Bagé "sem cruzar por outros campos que não fossem os de sua exclusiva propriedade".[6]

Barão e líder conservador em São Gabriel editar

Em 1865, por ocasião da Guerra do Paraguai, Chagas forneceu a escolta do imperador Pedro 2º em sua visita ao Rio Grande do Sul.[7] Organizou regimento de cavalaria para lutar pela Tríplice Aliança, que contou com a participação de seu filho mais velho, Luís Gonçalves das Chagas Filho[8], e alforriou escravos com a condição de que servissem às forças armadas brasileiras.[9][10]

Em 8 de maio de 1875, Luís Gonçalves das Chagas foi agraciado por Pedro 2º com o título de barão de Candiota, não por seus serviços durante a Guerra do Paraguai, mas por uma doação de 10 mil contos de réis à "instrução pública", feita em 13 de fevereiro de 1875 e tendo por intermediário o conde de Porto Alegre.[11] Segundo despacho do Ministério do Império de 8 de maio de 1875, Chagas fez "mercê do título (...) por relevantes serviços prestados à instrução pública".[12] Com seu passado farroupilha, foi, ao lado do barão de Cruz Alta, um dos raros titulares da nobreza imperial a ter empunhado armas contra o Império.

Em 1878, o barão assumiu a liderança do Partido Conservador (Brasil Império) em São Gabriel.[13] Após a queda do regime monárquico em 1889, seu grupo político e familiar aproximou-se do Partido Republicano Rio-Grandense.[1] Em 1892, seu genro Joaquim Pantaleão Teles de Queirós Filho foi o primeiro comandante da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul. Seu filho Francisco Gonçalves das Chagas foi prefeito de São Gabriel entre 1892 e 1895.[11]

Família editar

O barão era filho de Luís Gonçalves de Escobar e de Perpétua Francisca das Chagas, descendentes de imigrantes açorianos (ilhas do Faial e de São Jorge) radicados no extremo sul do Rio Grande do Sul.[14][15] Em 1841, casou-se com sua prima Ana de Ávila Chagas, irmã do senador Henrique Francisco d'Ávila.[16]

A baronesa e o barão de Candiota tiveram onze filhos que chegaram à idade adulta.[7] Entre seus descendentes estão o general Tulio Chagas Nogueira (1917-2006), comandante da Academia Militar das Agulhas Negras, do antigo III Exército (hoje Comando Militar do Sul) e do Estado-Maior do Exército,[17] o economista Dênio Chagas Nogueira (1920-1997), primeiro presidente do Banco Central do Brasil, o almirante Sérgio Gitirana Florêncio Chagasteles (1936-2012), último ministro de Estado da Marinha e primeiro comandante da Marinha do Brasil, e o advogado Fernando Chagas Carvalho (1952- ), um dos principais dirigentes da história do Sport Club Internacional de Porto Alegre.

 
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Notas

  1. Na ausência de seu registro de batismo, há dúvidas quanto ao local exato do nascimento de Chagas. Herval e Piratini são as hipóteses mais prováveis. O barão adotou São Gabriel como residência na década de 1840.
  2. Teixeira de Carvalho afirma erroneamente que o pai de Chagas, o "coronel Gonçalves Ávila", foi assassinado no navio-prisão, confundindo-o com o tio e futuro sogro do barão. A edição de 26 de setembro de 1838 de "O Povo" afirma que Francisco Antônio de Ávila foi "imolado" pelos legalistas a bordo da Presiganga. O registro do óbito de Francisco de Ávila em Rio Grande, com data de 21 de setembro de 1837, não faz referência à causa da morte, mas indica que ele "faleceu sem sacramentos". O equívoco de Teixeira de Carvalho foi reproduzido pelos historiadores gaúchos Moacyr Flores e Osório Figueiredo. Como comprovam "O Povo" de 1838 e a carta de alforria da escrava Lauriana, de 1855, o nome do pai de Luís Gonçalves das Chagas era Luis Gonçalves de Escobar e o de seu sogro, Francisco Antônio de Ávila.

Referências

  1. a b "A Federação", Porto Alegre, 13 de junho de 1894.
  2. CARVALHO, Mario Teixeira de. "Nobiliário Sul-Riograndense". Porto Alegre, Livraria do Globo, 1937.
  3. FLORES, Moacyr. "Dicionário de História do Brasil". Porto Alegre, EDIPUCRS, 2008.
  4. "O Povo", Piratini, 26 de setembro de 1838.
  5. FIGUEIREDO, Osório Santana. "Barão de Candiota: Vila de Tiaraju". Santa Maria, edição do autor, 2014
  6. CALLAGE, Roque. "No fogão gaúcho". Porto Alegre, Livraria do Globo, 1929.
  7. a b CARVALHO, Mario Teixeira de. Op.cit.
  8. UBERTI, Hermes Gilber. "A bênção que se pede e a bênção que se dá". Dissertação de Mestrado defefendida na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2011.
  9. "Diário do Rio de Janeiro", Rio de Janeiro, 25 de novembro de 1866.
  10. Vide Carta de Alforria ao escravo Manuel Tomás com a condição de servir na Armada Imperial, 27 de novembro de 1866.
  11. a b FIGUEIREDO, Osório. Op.cit.
  12. "A Nação", Rio de Janeiro, 12 de maio de 1875.
  13. "Gazeta de Notícias", Rio de Janeiro, 21 de maio de 1878.
  14. Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, Carta de Alforria da escrava Lauriana, 1855.
  15. Bog Mitoblogos
  16. «Página de A Nobreza Brasileira de A a Z». Consultado em 23 de novembro de 2008. Arquivado do original em 19 de janeiro de 2012 
  17. Verbete do CPDOC/FGV.