Mascarenhas de Morais

militar brasileiro e comandante da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial

João Batista Mascarenhas de Moraes (São Gabriel, 13 de novembro de 1883Rio de Janeiro, 17 de setembro de 1968) foi um militar brasileiro. Foi o comandante da Força Expedicionária Brasileira, na Segunda Guerra Mundial durante a Campanha da Itália, entre 1944 e 1945. Em dezembro de 1943, o então General Mascarenhas de Moraes foi designado para comandar a 1.ª DIE (Divisão de Infantaria Expedicionária).[1]

Mascarenhas de Morais
Mascarenhas de Morais
Nome completo João Batista Mascarenhas de Moraes
Nascimento 13 de novembro de 1883
São Gabriel, Rio Grande do Sul, Brasil
Morte 17 de setembro de 1968 (84 anos)
Rio de Janeiro, Guanabara, Brasil
Alma mater Escola Militar da Praia Vermelha
Serviço militar
Serviço Exército Brasileiro
Anos de serviço 1897–1953
Patente Marechal
Conflitos Revolta dos 18 do Forte
Revolução de 1930
Revolução de 1932
Intentona Comunista
Segunda Guerra Mundial
Condecorações Cruz de Combate
Medalha de Guerra
Medalha de Campanha
Medalha Sangue do Brasil
e outras

Carreira militar editar

Aos 14 anos, já morando sozinho em Porto Alegre, trabalhando e estudando, conseguiu ingressar na Escola Preparatória e Tática de Rio Pardo, no Rio Grande do Sul. Ao sair de lá, após a conclusão do curso, ingressou na Escola Militar do Brasil, conhecida por Escola da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Em 1904, enquanto ainda cursava o 3° ano, eclodiu na capital a Revolta da Vacina. O jovem Mascarenhas não participou do movimento contra a lei da vacina obrigatória, mas a Escola da Praia Vermelha foi fechada e os revoltosos expulsos.[2]

Em 1922 houve a eleição de Artur Bernardes para a presidência, ficando em segundo lugar Nilo Peçanha, o candidato apoiado pelo Rio de Janeiro. Bernardes havia enfrentado uma campanha nos jornais a respeito de declarações falsas feitas em seu nome, em que supostas cartas denegriam o exército e o ex-presidente Hermes da Fonseca.[3] Esse episódio levou ao descontentamento de alguns grupos do corpo militar, insatisfeitos com o resultado da eleição e com o governo anterior de Epitácio Pessoa, o que acabou por originar o movimento conhecido como a Revolta dos 18 do Forte. Nessa época, Mascarenhas era capitão e comandava o 1° RAM. A revolta havia tomado além do Forte de Copacabana a Escola Militar do Realengo e alguns focos na Vila Militar. Mascarenhas apoiou as forças legalistas, dando suporte à Infantaria. Mesmo não contando com seus oficiais presos, Mascarenhas os substituiu por sargentos mais experientes e cumpriu sua missão.

No início de 1930, era o Comandante da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, em Niterói. Estavam lá aprisionados Juarez Távora, Alcides de Araújo e Estillac Leal. Ari Parreiras, oficial de Marinha, saiu com sua baleeira do Clube de Regatas Icaraí, remando até a fortaleza, rendeu o sentinela e resgatou seus companheiros. Esse foi o único caso de fuga da Fortaleza de Santa Cruz da Barra, ocorrida em 28 de fevereiro daquele ano. Esse fato valeu a Mascarenhas de Morais sua transferência punitiva para Cruz Alta.

Durante a Revolução de 1930, Mascarenhas manteve sua lealdade ao presidente Washington Luís e foi detido na madrugada de 4 de outubro pelos rebeldes liderados por Getúlio Vargas, ficando 38 dias preso.[4] Na época ele ocupava o posto de tenente-coronel, comandando o 6° RAM, respondendo pela 3ª Brigada em Cruz Alta. Após a liberação, Mascarenhas continuou sua carreira no Exército.

Em 1932, comandava o 9º RAM de Curitiba quando aderiu às conspirações para a Revolução Constitucionalista de 1932, desenvolvendo entendimentos com o coronel Euclides Figueiredo por meio do coronel José Meira de Vasconcelos, então comandante interino da 5ª Região Militar, respectiva ao estado do Paraná. Na ocasião, o coronel Mascarenhas era responsável pela chave criptográfica para as comunicações com os constitucionalistas. Porém, um dos telegramas foi interceptado pelo capitão Dimas, chefe do Estado-Maior da 5ª Região Militar e partidário do Governo de Getúlio Vargas, que imediatamente iniciou contramedidas para neutralizar as conspirações do levante no Paraná. Na sequência, o coronel Mascarenhas foi colocado sob prisão pela segunda vez e libertado após o fim do levante, retornando ao serviço ativo.[2][5]

Entre 9 de março de 1934 e 25 de julho de 1935, comandou a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, no Rio de Janeiro.[6]

Em 1935, enquanto comandava a Escola Militar do Realengo, Mascarenhas de Morais tomou parte na luta contra a Intentona Comunista no Rio de Janeiro. Desta vez sua lealdade era com o governo constitucional de Getúlio Vargas. Em 1937, tornou-se general-de-brigada e foi transferido para comandar a 9ª Região Militar (9ª RM) em Campo Grande, hoje no Mato Grosso do Sul. No ano seguinte, foi nomeado comandante da Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Infantaria, no Rio de Janeiro, cargo que exerceu de 10 de agosto de 1938 a 8 de abril de 1940.[7]

Da capital fluminense acompanhava o desenrolar das operações de guerra na Europa e no Atlântico Sul, com o afundamento do cruzador pesado Admiral Graf Spee. Nesse momento, a questão do saliente nordestino começa a circular nos meios militares. Nesse momento, o General Mascarenhas de Morais resolve pleitear, junto ao Ministro da Guerra, um comando fora do Rio de Janeiro, de preferência no Nordeste, no que foi atendido. No ano de 1941 é designado comandante da 7ª Região Militar (7ª RM), em Recife. A partir desse momento começa a se engajar definitivamente nos misteres relativos à eventual preparação militar do Brasil para a Segunda Guerra Mundial. Comandando a 7ª RM, passava a controlar a área estratégica mais importante do território brasileiro nessa altura do conflito.[8]

No período de 15 de março a 17 de agosto de 1943, comandou a 2ª Região Militar, em São Paulo.[9]

Ainda em 1943, foi nomeado comandante da 1ª DIE (Divisão de Infantaria Expedicionária), a única da FEB (Força Expedicionária Brasileira).[10]

O general chegou a Itália com as primeiras tropas brasileiras em julho de 1944, e comandou as forças brasileiras a partir do mês de novembro até a rendição das forças do Eixo na Itália, em 2 de maio de 1945.[nota 1]

Após o fim da guerra, ele retornou ao Brasil e comandou a Zona Militar Sul entre 4 de abril e 29 de agosto de 1946.[11]

Ainda nesse ano, foi promovido a Marechal, por ato do Congresso Nacional.

Foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas entre 21 de janeiro de 1953 e 8 de setembro de 1954. Nesse período, acompanhou a crise política que levaria ao suicídio de Getúlio Vargas. Depois da morte do presidente, em agosto de 1954, retornou para a reserva e publicou as suas memórias, como comandante da Força Expedicionária Brasileira.

Em 1955, apoiou o Movimento de 11 de Novembro liderado pelo general Teixeira Lott, que garantiu a posse de Juscelino Kubitschek na presidência da República.

O Convite para Comandar a FEB editar

Mascarenhas era o comandante da 2ª Região Militar em São Paulo, quando em uma reunião na casa do Major Reinaldo Ramos Saldanha da Gama, foi sondado sobre a possibilidade de comandar a Força Expedicionária Brasileira. Nesse primeiro momento o General respondeu com certa cautela, considerou o fato de já ser um homem de 60 anos de idade, dizendo que era preciso ainda se inteirar sobre o assunto. Passados dois meses, no dia 10 de agosto de 1943, Mascarenhas recebe em sua casa, um radiograma cifrado urgente do Ministro da Guerra General Eurico Gaspar Dutra, fazendo-lhe o convite oficial para assumir o comando geral da divisão expedicionária e iniciar um treinamento nos Estados Unidos. Mascarenhas respondeu no mesmo dia que sim, aceitava a missão, embarcando para o Rio de Janeiro em 17 de agosto.[12]

Homenagens editar

 
Usina hidroelétrica Marechal Mascarenhas de Moraes.

Em São Gabriel, cidade de seu nascimento, encontra-se, na praça Fernando Abbott, um nobre monumento em sua homenagem. Nele estão escritos os nomes das batalhas que o marechal comandou na Segunda Guerra Mundial.

O principal Pátio de Formaturas da Academia Militar das Agulhas Negras chama-se Pátio Marechal Mascarenhas de Morais, sendo carinhosamente chamado pelos cadetes de P3M.

Por todo o Brasil, centenas de ruas, avenidas e escolas levam o nome de "Mascarenhas de Morais" em sua homenagem.

Em 1968, três meses após a sua morte, a usina hidroelétrica de Peixoto passa a ser denominada Usina Marechal Mascarenhas de Moraes pelo Decreto N° 63.799 de 12 de Dezembro de 1968.

Diante da Lei Nº 16.509, de 27 de Julho de 2017, o 2°BPChq da Polícia Militar de São Paulo passou a denominar-se 2º Batalhão de Polícia de Choque “Marechal Mascarenhas de Moraes” (2º BPChq - Mal. Mascarenhas de Moraes).

Em 27 de setembro de 2020 foi inaugurado em Porretta Terme um monumento em homenagem ao Marechal Mascarenhas de Morais, em agradecimento pelos esforços da FEB na liberação da Itália do domínio nazi-fascista.[13]

Condecoração editar

 
Símbolo da FEB.

A Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB), instituiu em Sessão do dia 14 de agosto de 1969 a Medalha Marechal Mascarenhas de Morais, cuja finalidade é homenagear de forma permanente, objetiva e condigna, pessoas físicas ou jurídicas que tenham prestado significativos serviços à FEB, ou que venham a prestar relevantes serviços à Associação ou a classe por ela assistida.

O Grêmio do Colégio Militar de Curitiba recebeu o nome de Sociedade Recreativa Marechal Mascarenhas de Morais (SRLMMM) em sua homenagem.

Ver também editar

Notas

  1. A FEB era subordinada hierarquicamente ao V Exército Americano, sob o comando do General Mark W. Clark chefe do Teatro de Operações da Itália. Depois das operações em território Toscano, na parte litorânea e no vale do rio Serchio (norte de Lucca) o quartel general foi instalado na cidade de Pistoia, tendo o QG avançado na cidade de Porretta Terme (BO) de onde comandou os ataques ao Monte Castelo, prosseguindo depois com as próprias tropas até o fim da Segunda Guerra Mundial, contando com um efetivo inicial de 25 mil homens. Monte Cassino, Böhmler Rudolf - Flamboyant, 1966 pag. 308-309

Referências

  1. «Mascarenhas de Morais | CPDOC». cpdoc.fgv.br. Consultado em 23 de fevereiro de 2018 
  2. a b Brasil, CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «JOAO BATISTA MASCARENHAS DE MORAIS | CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 23 de fevereiro de 2018 
  3. CADENA, Nelson. «As cartas falsas de Arthur Bernardes». Jornal GGN 
  4. [1] Arquivado em 3 de março de 2016, no Wayback Machine..Texto do Escritor-Historiador Germano Seidl Vidal.
  5. «A segunda batalha de Itararé» (PDF) 2º T ed. São Paulo: Revista A Força Policial - nº 18. 1998. p. 94 
  6. «Antigos Comandantes da EsAO». Site da EsAO. Consultado em 10 de abril de 2021 
  7. «Galeria de Antigos Comandantes». Site da AD/1. 26 de maio de 2017. Consultado em 12 de dezembro de 2018 
  8. MEIRA MATTOS. Mascarenhas de Morais e sua época. 1º Volume. BiBliEx: Rio de Janeiro, 1983. páginas 75-77.
  9. «Galeria de Antigos Comandantes da 2ª RM». Site da 2ª RM. Consultado em 7 de junho de 2021 
  10. «Mascarenhas de Moraes - Algumas palavras sobre o Comandante da FEB - Ecos da Segunda Guerra». segundaguerra.net. Consultado em 23 de fevereiro de 2018 
  11. «Galeria de Comandantes do CMS». Consultado em 5 de maio de 2021 
  12. Memórias do Marechal Mascarenhas de Morais. Bibliex. RJ. Volume 2. Página 126].
  13. «Porretta Terme – Inaugurazione del Monumento al Generale della FEB Mascarenhas». Consultado em 14 de fevereiro de 2021 

Bibliografia editar

  • Marechal Mascarenhas de Moraes, Memórias (Volume 1)- Bibliex, 1984;
  • MEIRA MATTOS. Mascarenhas de Morais e sua época, O. 1º Volume. BiBliEx: Rio de Janeiro, 1983. p. 75-7.
  • Grande Crônica da Segunda Guerra Mundial, Seleções do Reader´s Digest. Editora Ypiranga, 1963 Volume 3, O Brasil na Guerra

Precedido por
Alvaro Octávio de Alencastre
 
9º Comandante da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais

1934 — 1935
Sucedido por
Heitor Augusto Borges
Precedido por
José Meira de Vasconcelos
 
15º Comandante da Escola Militar do Realengo

1935 — 1937
Sucedido por
Renato Paquet
Precedido por
Collatino Marques
 
8º Comandante da AD/1

1938 — 1940
Sucedido por
J. B. Lobato Filho
Precedido por
Maurício José Cardoso
 
24º Comandante da 2.ª Região Militar

1943
Sucedido por
Júlio Caetano Horta Barbosa
Precedido por
Newton de Andrade Cavalcanti
 
2º Comandante da Zona Militar Sul

1946
Sucedido por
Raymundo Sampaio
Precedido por
Pedro Aurélio de Góis Monteiro
 
3º Ministro-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas

1953 - 1954
Sucedido por
Canrobert Pereira da Costa