Urutau-grande

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O urutau-grande[2] (nome científico: Nyctibius grandis), também chamado genericamente de chora-lua, ibijaú-guaçu, jurutau, mãe-da-lua, manda-lua, preguiça e urutago,[3] é uma ave da família dos nictibiídeos (Nyctibiidae).[1] Sua característica mais conhecida é o gemido único que emite durante a noite.[4]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaUrutau-grande
Espécime avistado em Apiacás, Mato Grosso
Espécime avistado em Apiacás, Mato Grosso
Espécime avistado em 2018
Espécime avistado em 2018
Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Nyctibiiformes
Família: Nyctibiidae
Género: Nyctibius
Espécie: N. grandis
Nome binomial
Nyctibius grandis
(Gmelin, 1789)
Distribuição geográfica
Distribuição do urutau-grande
Distribuição do urutau-grande

Etimologia editar

'Urutau, jurutau e urutago derivam do tupi uruta'gwi, que tem o mesmo sentido definido do português. Foi registrado em 1857 como urutáo, em 1876 como urutaú e em 1876 como urutauí.[5] Na forma jurutau, foi registrado em 1911 como jurutauhy;[6] e na forma urutago foi registrado em 1594 como urutagui.[7] Por sua vez, ibijaú-guaçu, derivou do tupi ïmbïya'u ("aquele que come terra"), segundo Antenor Nascentes)[8] e gwa'su ("grande").[9] Ibijaú foi registrado em 1587 como ubujaú.[8]

Distribuição e habitat editar

A distribuição do urutau-grande vai do sul do México até o nordeste da Guatemala e através da maior parte da América Central até a América do Sul, chegando até o sudeste do Brasil e Bolívia.[10][11] Em geral, se localiza em habitats florestais úmidos e semi-úmidos. Embora esta espécie esteja amplamente espalhada geograficamente, comparando duas subespécies, há pouca ou nenhuma variação em sua aparência, como tamanho ou plumagem.[4] Ao longo do dia normalmente se encontra empoleirado ou em ninhos, situados geralmente acima de 12 metros acima do nível do solo dentro de grandes árvores. Os galhos que escolhe para pousar geralmente têm cerca de 20 a 30 centímetros de diâmetro. À noite, pode ir para poleiros mais baixos, como 1,5 metro acima do solo, de onde caça.[12] [13]

Comportamento editar

Este predador noturno geralmente é visto empoleirado acima do solo enquanto forrageia, falcoando quando a presa é avistada. Após o salto, quase sempre retorna ao seu poleiro anterior. Normalmente, durante o dia, pousa ereto em tocos de árvore, e passa despercebido pois se assemelha a parte do toco; esta é uma camuflagem, não apenas pela coloração, mas pelo cenário. Pode ser localizado à noite pelo reflexo da luz de seus olhos, pois fica na vertical em um poste, poleiro ou tronco de árvore em ângulo.[14]

Reprodução editar

A reprodução foi registrada como ocorrendo tipicamente de fevereiro a agosto, mas, dependendo da região, aves reprodutoras podem ser encontradas quase o ano todo.[15] O ninho se encontra em alguma depressão de galho de árvore grosso,[16] pelo menos 10 metros acima do solo, com um único ovo branco (levemente manchado) medindo cerca de 5,2 × 3.8 centímetros (2 × 1,5 pegada). Poucos detalhes são conhecidos sobre o comportamento das ninhadas, mas cerca de um mês se passa antes que a prole seja vista sozinha no ninho. Um pintinho de poucos dias pesava 220 gramas em uma observação. Após cerca de cinco semanas, o filhote é uma versão de dois terços do adulto, mas com uma, com plumagem mais pálida, cauda mais curta e bico menor com menos cerdas rictais. O período de desenvolvimento deve ser de pelo menos dois meses. Após este período de tempo, a prole não retorna ao local do ninho.[12]

Embora o urutau-grande adulto provavelmente tenha poucos predadores naturais, a predação de ovos, filhotes implumes ou emplumados aparentemente não é incomum. Os adultos ficam perto do ninho durante todo o dia e contam com a camuflagem para proteger seus filhotes. Os predadores de ninhos de urutau-grande na Costa Rica incluem macacos como Alouatta palliata e Ateles geoffroyi, assim como iraras (Eira barbara) e falcões-relógio (Micrastur semitorquatus).[17]

Alimentação editar

Suas presas consistem principalmente de grandes insetos voadores, especialmente grandes besouros, esperanças (tetigoniídeos) e insetos da ordem dos ortópteros (incluindo grilos e gafanhotos). Morcegos e pássaros também são capturados ocasionalmente. O urutau-grande aproveita a noite e sua camuflagem natural, parando em um poleiro exposto para esperar até que alguma presa voe, momento no qual se lança em direção à presa, retornando ao galho com ela. Muitas vezes, as aves desta espécie usam o mesmo poleiro de caça por várias noites.[18]

Estado de conservação editar

Devido à sua grande variedade, o urutau-grande é visto como uma espécie de menor preocupação na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN / IUCN).[1] Em 2005, foi classificado como vulnerável na Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo;[19] em 2014, como em perigo no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo;[20] e em 2018, como pouco preocupante na Lista Vermelha do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)[21][22] e vulnerável na Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no Estado do Rio de Janeiro.[23]

A população na área rural do Brasil ocasionalmente usa o urutau-grande como fonte de alimento, mas tal hábito é infrequente, pois não oferece muita carne e é difícil de localizar. Nessas áreas, acredita-se que suas penas tenham poderes para fornecer castidade, então eles são caçados por suas partes do corpo, que são usadas para realizar cerimônias. Acredita-se também que partes de seu corpo afastam a sedução. Os urutaus-grandes temem a maioria dos humanos.[4]

Referências

  1. a b c BirdLife International (2020). Nyctibius grandis (em inglês). IUCN 2020. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. 2020​: e.T22689636A163599353. doi:10.2305/IUCN.UK.2020-3.RLTS.T22689636A163599353.en Página visitada em 28 de outubro de 2021.
  2. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 108. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 23 de abril de 2022 
  3. «Urutau». Michaelis. Consultado em 26 de abril de 2022 
  4. a b c Adams, Kimberly. «Great Potoo - Nyctibius grandis». Neotropical Birds - Laboratório Cornell de Ornitologia. Consultado em 26 de abril de 2022. Cópia arquivada em 22 de dezembro de 2015 
  5. Grande Dicionário Houaiss, verbete urutau
  6. Grande Dicionário Houaiss, verbete jurutau
  7. Grande Dicionário Houaiss, verbete urutago
  8. a b Grande Dicionário Houaiss, verbete ibijaú
  9. Grande Dicionário Houaiss, verbete -açu
  10. Grzmek, B (2002). Hutchins, M.; Jackson, J.; Bock, W., eds. Grzmek's Animal Life Encyclopedia. Birds I-IV, Vol. 9 2.ª ed. Farmington Hills, Michigão: Thomson-Gal. p. 395–400 
  11. Rangel-Salazar, Luis J.; Vega-Rivera, Humberto J. (1989). «Two New Records of Birds for Southern Mexico». Condor. 91 (1): 214–215. JSTOR 1368168. doi:10.2307/1368168 
  12. a b Haverschmidt, F. (1948). «Observations on Nyctibius grandis in Surinam». Auk. 65: 30–33 
  13. «Urutau-grande (Nyctibius grandis) | PhotoAves - Fotos e informações sobre a espécie». www.photoaves.com. Consultado em 2 de setembro de 2012 
  14. Vanderwerf, E. (1989). «Observations on the nesting of the great Great Potoo (Nyctibius grandis) in central Venezuela» (PDF). The Condor. 91: 214–215 
  15. Por exemplo. um ninho assistido na Estação de Biodiversidade de Tiputini, Equador, no final de dezembro de 1999. Cf. Cisneros-Heredia, Diego F (2006). «Notes on breeding, behaviour and distribution of some birds in Ecuador». Bull. B.O.C. 126 (2): 153–164 
  16. E.g. Ceiba sp.; Cf. Cisneros-Heredia, 2006
  17. Young, B.; Zook, J. (1999). «Nesting of four poorly-known bird species on the Caribbean slope of Costa Rica» (PDF). The Wilson Bulletin. 111: 124-128 
  18. Cohn-Haft, M. (1999). «Family Nyctibiidae (Potoos). Pages 288-301». In: del Hoyo, J.; Elliot, A.; Sargatal, J. Handbook of the birds of the world. 5 - Barn-owls to Hummingbirds. Barcelona: Lynx Edicions 
  19. «Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas do Espírito Santo». Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), Governo do Estado do Espírito Santo. Consultado em 7 de julho de 2022. Cópia arquivada em 24 de junho de 2022 
  20. Bressan, Paulo Magalhães; Kierulff, Maria Cecília Martins; Sugleda, Angélica Midori (2009). Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo - Vertebrados (PDF). São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA - SP), Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 25 de janeiro de 2022 
  21. «Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção» (PDF). Brasília: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. 2018. Consultado em 3 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 3 de maio de 2018 
  22. «Nyctibius grandis (Gmelin, 1907)». Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Consultado em 26 de abril de 2022. Cópia arquivada em 10 de julho de 2022 
  23. «Texto publicado no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro contendo a listagem das 257 espécies» (PDF). Rio de Janeiro: Governo do Estado do Rio de Janeiro. 2018. Consultado em 2 de maio de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 2 de maio de 2022