Odorico Mendes

poeta, jornalista e político brasileiro

Manuel Odorico Mendes (São Luís do Maranhão, 24 de janeiro de 1799Londres, 17 de agosto de 1864) foi um político, tradutor, poeta, publicista e humanista brasileiro, mais conhecido por ser autor das primeiras traduções integrais para português das obras de Virgílio e Homero, sendo precursor da moderna tradução criativa.[1]

Odorico Mendes
Odorico Mendes
Nome completo Manuel Odorico Mendes
Nascimento 24 de janeiro de 1799
São Luís, Maranhão Maranhão. Brasil.
Morte 17 de agosto de 1864 (65 anos)
Londres, Reino Unido
Nacionalidade brasileiro
Ocupação Político, publicista, humanista
Capa da primeira edição da tradução da Ilíada feita por Odorico Mendes

Biografia editar

Descendente de família tradicional do Maranhão, Odorico Mendes nasceu em São Luís onde residiu até aos dezessete anos de idade.

Depois de uma vida dedicada à política e à literatura, faleceu subitamente em Londres, a 17 de Agosto de 1864. Foi o primeiro tradutor da Ilíada para português, considerado por muitos como o mais acabado humanista lusófono.

Odorico Mendes é o nome de uma escola estadual (Centro de Ensino Odorico Mendes), fundada em 04 de fevereiro de 1927, no município de Pinheiro, no estado do Maranhão. Também é nome de uma ruas no bairro do Cachambi, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, no bairro da Mooca no município de São Paulo e no bairro Jardim das Bandeiras na cidade de Mogi das Cruzes.

Odorico Mendes conta entre seus descendentes com um bisneto famoso: o escritor francês Maurice Druon.

Os estudos em Coimbra editar

Desde muito cedo toma contacto com a poesia dos clássicos gregos e latinos, interessando-se pelo seu estudo. Com o objectivo de o fazer cursar medicina, o pai envia-o em 1816 para Coimbra, onde, depois de cursar os estudos preparatórios, ingressa na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Completou o curso de Filosofia Natural, após ter cursado Filosofia Racional e Moral e a cadeira de Língua Grega.

Em Coimbra, Odorico Mendes viveu intensamente o conturbado momento político que Portugal atravessou depois da Revolução do Porto. A influência das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, do vintismo, a independência do Brasil e a intensa actividade académica e política que então vivia em Coimbra, marcaram a sua formação cívica, levando-o à leitura de Rousseau e Voltaire e ao convívio com alguns dos futuros vultos do movimento liberal em Portugal. Os anos em Coimbra foram decisivos e tiveram influência directa em toda a sua actividade política e literária futura.

É neste contexto que trava amizade com Almeida Garrett e escreve os seus primeiros versos: ‘’Hino à tarde’’, onde canta a saudade da pátria e infância. O falecimento do pai, ocorrido em 1824, e a escassez de dinheiro forçam-no a regressar ao Maranhão sem terminar a sua formatura em medicina. O objectivo seria regressar e terminar os estudos, mas a complexa situação política que encontra na sua cidade natal acaba por prolongar a sua presença, fazendo gorar em definitivo os seus projectos académicos.

Odorico Mendes chega ao Maranhão quando a instabilidade resultante da independência brasileira, ocorrida dois anos antes, leva ao agudizar de tensões internas no Brasil e ao aparecimento da Confederação do Equador, proclamada no Pernambuco e em outras províncias setentrionais, num movimento republicano que é dura e cruelmente subjugado pelas armas imperiais, levando ao fuzilamento e enforcamento público dos contrários, cujos episódios finais então se viviam. Mesmo sem ter participado directamente na Confederação do Equador, o Maranhão foi duramente atingido pela guerra civil, e, aquando da volta de Odorico Mendes, os ânimos ainda não haviam arrefecido.

A carreira política editar

Incitado por amigos e pelo forte patriotismo, Odorico Mendes passa a redigir um jornal, o Argos da Lei, que faz oposição ao partido representado na imprensa por outros dois jornais dirigidos e redigidos por portugueses: o Amigo do Homem e Censor Maranhense, este último editado por João António Garcia de Abranches. Trava com este fortes polémicas que se prolongarão até ao encerramento do Censor Maranhense em Maio de 1830 e à expulsão do seu redactor para Portugal.

A influência do Argos da Lei leva a que Odorico Mendes, poucos meses após fundação do jornal, seja eleito como deputado à primeira Assembleia Geral Legislativa do Brasil. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde se afirma como cultor das belas letras, político e jornalista.

Integra a Falange Liberal, e dá início a uma vigorosa e crescente oposição ao governo imperial, só interrompida em 1831, face ao desfecho da revolução que culminou na queda do primeiro Imperador. Orador eloquente, ganha reputação como deputado e como polemista activo na Câmara e na imprensa.

Com a abdicação de D. Pedro, a 7 de Abril 1831, Odorico Mendes exerce influência na escolha dos membros da Regência e votou em favor da manutenção da monarquia. Embora acalentasse ideais republicanos, reconhecia a imaturidade das instituições para permitir a implantação imediata da república, até porque o recente exemplo do que aconteceu em Portugal após do período revolucionário de 1820-1822 recomendava cautela. De facto, a antiga metrópole, depois dos tempos revolucionários do Vintismo, caíra nas mãos reaccionárias do rei absolutista D. Miguel.

Nesse período escreve em vários jornais do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Maranhão, sendo reeleito com ampla margem para um segundo mandato, agora obtido sem o apoio do governador do Maranhão.

Em 1833, em plena Regência, concorre ao terceiro mandato e é estrondosamente derrotado. É o resultado da posição moderada que assumiu após a revolução, quando apoiou a amnistia dos apoiantes do regime deposto e a manutenção da ordem constitucional, contrariando o revanchismo reinante. Embora a sua posição tivesse prevalecido, a moderação que demonstrou acabou por esmaecer-lhe o prestígio de político liberal que lhe devotava o Maranhão. Contudo, no ano seguinte foi chamado para ocupar uma vaga deixada por um deputado que fora nomeado senador, regressando assim à Câmara. Terminado o mandato, passa a exercer funções na Fazenda, prosseguindo uma carreira devotada ao jornalismo e à literatura.

Depois de um longo hiato na actividade parlamentar, em 1845, já no Segundo Império, é novamente eleito, agora pela província de Minas Gerais. Exerce o mandato sem o arrebatamento que o notabilizara nas primeiras legislaturas, moderado pelo tempo e pela evolução política.

Finda a legislatura, em 1847, já viúvo e aposentado, com os cinco filhos e a irmã Mitilina, muda-se para a França, onde se dedica inteiramente à vida literária, abandonando em definitivo a actividade política.

Actividade literária editar

Com excepção da sua obra como publicista e jornalista, as produções literárias desta fase da vida de Odorico Mendes na sua grande maioria perderam-se, sem que ele se tenha esforçado na sua recuperação e arquivo. Um projecto que Odorico Mendes há muito acalentava era verter ao português as obras primas dos clássicos gregos e latinos, recriando na língua portuguesa a sua poesia. Como posteriormente declarou no prólogo da sua Eneida, ... Não possuindo o engenho indispensável para empreender uma obra original, ao menos de segunda ordem, persuadi-me, todavia, de que o estudo da língua e a frequente lição da poesia me habilitavam para verter em português a epopeia mais do meu gosto....

Para além do seu interesse pelos clássicos, interessou-se pela literatura francesa, publicando em verso português a tradução das obras Mérope (1831) e Tancredo (1839), ambas de Voltaire.

A partir de 1847, instalado em França e desligado da actividade política, dedica-se a transcriar em português os clássicos, começando por Virgílio. Em resultado desse labor, publica no ano de 1854, na Tipografia de Rignoux, em Paris, a Eneida em português, numa edição que se esgotaria em quinze dias. Quatro anos depois, em 1858, edita a obra completa do poeta latino, concentrando a Eneida, as Bucólicas e as Geórgicas, com as respectivas notas, numa cuidada edição de oitocentas páginas sob o título de Virgílio Brasileiro.

Em 1860 publica em Lisboa um ensaio sobre a novela medieval O Palmeirim de Inglaterra, de Francisco de Morais, onde lhe prova a autoria portuguesa. Odorico era leitor de Morais desde a adolescência. Afora a produção jornalística, este ensaio, além das notas que escreveu às suas traduções, é a única publicação em prosa de Odorico Mendes.

Tendo já traduzido a obra completa conhecida de Virgílio, inicia a tradução em verso dos épicos de Homero, mas falece em Londres, a 17 de Agosto de 1864, quando já tinha completada e aperfeiçoada e pronta para edição, a tradução da Ilíada e da Odisseia. A Ilíada teve sua primeira edição em 1874, editada pelo maranhense Henrique Alves de Carvalho, e a Odisseia apenas veio a público em 1928.

Bibliografia editar

  • JORGE, Sebastião. Os primeiros passos da imprensa no Maranhão. São Luís, PPPG/EDUFMA, 1987.
  • JORGE, Sebastião A Linguagem dos Pasquins. São Luís: Lithograf, 1998.
  • JORGE, Sebastião. Política movida a paixão – o jornalismo polêmico de Odorico Mendes. São Luís: Departamento de Comunicação Social/UFMA, 2000.

Referências

  1. «Projeto "Odorico Mendes"». Unicamp. Consultado em 13 de julho de 2012 

Ligações externas editar

 
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Odorico Mendes

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  Sócio correspondente da ABL - patrono da cadeira 17
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Leon Tolstoi