Osteonecrose dos maxilares associada a medicamentos

A osteonecrose dos maxilares associada a medicamentos é uma doença que causa necrose do tecido ósseo dos maxilaresmaxila e mandíbula — em um indivíduo que faz uso regular de medicações que aumentam o risco da patologia na ausência de um tratamento prévio com radiação. Pode levar a complicações cirúrgicas com a ausência de cicatrização tecidual após cirurgias orais, cirurgias periodontais ou tratamento endodôntico.[3]

Osteonecrose dos maxilares
associados a medicamentos
Osteonecrose dos maxilares associada a medicamentos
Necrose óssea devido à sua exposição.
Sinônimos
  • Osteonecrose dos maxilares induzida por agentes antirreabsortivos (ARONJ)
  • Osteonecrose dos maxilares relacionada a bifosfonatos (BRONJ)
Especialidade Cirurgia bucomaxilofacial
Sintomas Dor
Complicações
Início habitual Pós-cirúrgico oral
Duração Variável
Tipos 3 estágios
Causas Tratamentos radioterápicos contra o câncer e/ou osteoporose associada a cirurgia oral
Fatores de risco
Método de diagnóstico Exposição óssea tardia
Condições semelhantes
Prevenção Relativo
Tratamento
Classificação e recursos externos
CID-10 C43
CID-11 1143080357
MeSH D059266
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Medicamentos específicos podem resultar a BRONJ, um efeito colateral sério, mas incomum em certos indivíduos.[nota 1] Esses medicamentos são frequentemente usados ​​para tratar doenças que causam reabsorção óssea, como a osteoporose, ou para tratar câncer. Os principais grupos de medicamentos envolvidos são os antirreabsortivos e os antiangiogênicos. As complicações associadas ao medicamento Denosumab, outro fármaco antirreabsortivo de uma categoria diferente de fármacos, logo foram determinadas como relacionadas a essa condição. Medicamentos mais novos, como drogas antiangiogênicas, foram potencialmente implicados em causar uma condição muito semelhante e o consenso mudou para se referir às condições relacionadas como BRONJ; no entanto, isso não foi definitivamente demonstrado.[6]

Não há prevenção definida para a patologia. Evitar o uso de bifosfonatos não é uma estratégia preventiva viável para a população em geral porque os medicamentos são benéficos no tratamento e prevenção da osteoporose (incluindo a prevenção de fraturas ósseas) e no tratamento de câncer ósseo. Apesar de alguns autores indicar a suspensão da medicação pelo menos 2 meses antes de qualquer cirurgia odontológica para aqueles que estão em risco, outros autores relatam que a medicação permanece no organismo durante anos.[6] Geralmente se desenvolve após tratamentos dentários envolvendo exposição óssea ou trauma, mas pode surgir espontaneamente. Os pacientes que desenvolvem a osteonecrose por medicamento podem apresentar cicatrização prolongada, dor, inchaço, infecção e exposição óssea após procedimentos odontológicos — em consequência, necrose óssea —, embora alguns pacientes possam não apresentar sinais ou sintomas.[8]

Tratamento e manejo editar

O tratamento dos casos de osteonecrose causada pelos BFs ainda é bastante discutida, variando desde as circunstâncias atuais de saúde geral e oral do paciente à duração do uso e vias de administração do fármaco — via oral ou intravenosa. Diversos protocolos de tratamento foram descritos na literatura, incluindo medidas de higiene bucal, uso de antissépticos bucais, antibióticoterapia sistêmica, desbridamento local, oxigenoterapia hiperbárica, etc.[9]

Em 2011, a American Dental Association (ADA) recomendou que, antes de iniciar um tratamento com bifosfonato, o paciente devesse passar por avaliações odontológicas minuciosas e periódicas, realizando possíveis tratamentos a fim de minimizar os riscos futuros — haja vista que qualquer procedimento odontológico mais invasivo, como cirurgias orais, aumenta-se o risco de osteonecrose dos maxilares associada aos bifosfonatos.[10]

Diagnóstico editar

Estágios e estratégias de tratamento[6][11]
Estágio[a] Critério (> 8 semanas) Estratégia(s) de tratamento(s)[b] Imagem
De risco Nenhum osso necrótico aparente em pacientes que foram tratados com bifosfonatos orais ou IV Nenhum tratamento indicado, educação do paciente N/A
0 Sem evidência clínica de osso necrótico, mas achados clínicos inespecíficos, alterações radiográficas e sintomas Manejo sistêmico, incluindo o uso de analgésicos e antibióticos
1 Nenhum osso necrótico aparente em pacientes que foram tratados com bifosfonatos orais ou IV Nenhum tratamento indicado, educação do paciente  
2 Exposição óssea necrosada, ou fístulas que sondam o osso, associadas a infecção evidenciada por dor e eritema na região do osso exposto com ou sem drenagem purulenta Tratamento sintomático com antibióticos orais, enxaguante bucal, controle da dor, desbridamento para aliviar a irritação dos tecidos moles e controle de infecção  
3 Exposição óssea necrosada ou uma fístula que sonda o osso em pacientes com dor, infecção e um ou mais dos seguintes: exposição de tecido ósseo e necrótico estendendo-se além da região alveolar (borda inferior e ramo da mandíbula, seio maxilar e osso zigomático) resultando em fratura patológica,[nota 2] fístula extra-oral, comunicação buco-sinusal ou osteólise que se estende até o assoalho do seio maxilar Enxaguante bucal, antibioticoterapia e controle da dor, desbridamento cirúrgico ou ressecção  
 

Ver também editar

Notas

  1. Essa condição era anteriormente conhecida como "Osteonecrose da mandíbula associada ao Bisfosfonato, pois a osteonecrose da mandíbula correlacionada ao tratamento com bisfosfonato era frequentemente encontrada, com seu primeiro incidente ocorrendo em 2003.[4][5][6][7]
  2. Fratura patológica significa uma fratura que ocorre em um osso previamente acometido por por infecções, osteoporose, porém, as mais graves são em pacientes com câncer.[12]
  1. Provável exposição óssea na região maxilo-facial sem resolução por mais de 8 semanas em pacientes tratados com um agente antirreabsortivo e/ou anti-angiogênico que não receberam radioterapia nos maxilares.
  2. Independentemente do estágio da doença, os segmentos móveis de sequestro ósseo devem ser removidos sem expor o osso sadio. O elemento dentário envolvido com o tecido ósseo exposto e necrosado deve ser considerado, pois é improvável que a extração agrave o processo necrótico estabelecido.

Referências

  1. Kemp, Aristilia; Ferreira, Vitor; Mobile, Rafael; et al. «Risk factors for medication-related osteonecrosis of the jaw and salivary IL-6 IN cancer patients». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. doi:10.1016/j.bjorl.2020.09.010. Consultado em 10 de janeiro de 2021. Cópia arquivada em Novembro de 2020 
  2. Thumbigere-Math, Vivek; Tu, Lam; Huckabay, Sabrina; et al. (Agosto de 2012). «A retrospective study evaluating frequency and risk factors of osteonecrosis of the jaw in 576 cancer patients receiving intravenous bisphosphonates». American Journal of Clinical Oncology. 35 (4): 386–92. PMID 22561331. doi:10.1097/COC.0b013e3182155fcb. Consultado em 10 de janeiro de 2021 
  3. Nase, John B; Suzuki, Jon B (Agosto de 2006). «Osteonecrosis of the jaw and oral bisphosphonate treatment». Journal of the American Dental Association. 137 (8): 1115–9; quiz 1169–70. PMID 16873327. doi:10.14219/jada.archive.2006.0350. Consultado em 10 de janeiro de 2021 
  4. Marx RE (Setembro de 2003). «Pamidronate (Aredia) and zoledronate (Zometa) induced avascular necrosis of the jaws: a growing epidemic». Journal of Oral and Maxillofacial Surgery. 61 (9): 1115–7. PMID 12966493. doi:10.1016/s0278-2391(03)00720-1 
  5. Migliorati CA (Novembro de 2003). «Bisphosphanates and oral cavity avascular bone necrosis». Journal of Clinical Oncology. 21 (22): 4253–4. PMID 14615459. doi:10.1200/JCO.2003.99.132 
  6. a b c d Ruggiero SL; Dodson TB; Fantasia J; et. al (Outubro de 2014). «American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons position paper on medication-related osteonecrosis of the jaw--2014 update». Journal of Oral and Maxillofacial Surgery. 72 (10): 1938–56. PMID 25234529. doi:10.1016/j.joms.2014.04.031 
  7. Sigua-Rodriguez EA; da Costa Ribeiro R; de Brito AC; Alvarez-Pinzon N; de Albergaria-Barbosa JR (Abril de 2014). «Bisphosphonate-related osteonecrosis of the jaw: a review of the literature». International Journal of Dentistry. 2014. 192320 páginas. PMC 4020455 . PMID 24868206. doi:10.1155/2014/192320 
  8. «Oral Health Management of Patients at Risk of Medication-related Osteonecrosis of the Jaw» (PDF). Scottish Dental Clinical Effectiveness Programme. Março de 2017 
  9. Ruggiero, Salvatore L. (Fevereiro de 2013). «Emerging concepts in the management and treatment of osteonecrosis of the jaw». Oral and Maxillofacial Surgery Clinics of North America. 25 (1): 11–20. PMID 23159218. doi:10.1016/j.coms.2012.10.002. Consultado em 9 de janeiro de 2021 
  10. Hellstein, John W; Adler, Robert A; Edwards, Beatrice; et al. (Novembro de 2011). «Managing the care of patients receiving antiresorptive therapy for prevention and treatment of osteoporosis: executive summary of recommendations from the American Dental Association Council on Scientific Affairs». Journal of the American Dental Association. 142 (11): 1243–51. PMID 22041409. doi:10.14219/jada.archive.2011.0108. Consultado em 9 de janeiro de 2021 
  11. «Table 6. ONJ Staging System». PDQ Supportive and Palliative Care Editorial Board, National Center for Biotechnology Information, U.S. National Library of Medicine. 16 de dezembro de 2016. Consultado em 6 de fevereiro de 2022    Este artigo incorpora texto desta fonte, que está no domínio público.
  12. «Fratura Patológica». jcbarbi.com. 23 de dezembro de 2019. Consultado em 6 de fevereiro de 2022