Paulo Rónai, nascido Rónai Pál (Budapeste, 13 de abril de 1907Nova Friburgo, 1 de dezembro de 1992), foi um tradutor, revisor, crítico e professor húngaro naturalizado brasileiro. Foi professor de francês e latim no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.

Paulo Rónai
Rónai Pál
Paulo Rónai
Em 1965.
Nascimento 13 de abril de 1907
Morte 1 de dezembro de 1992 (85 anos)
Nova Friburgo, RJ
Nacionalidade húngaro
brasileiro
Progenitores Mãe: Gizella Lövi
Pai: Miksa Rónai
Cônjuge Nora Tausz Rónai
Ocupação Tradutor, revisor, crítico, professor
Principais trabalhos Balzac e a comédia humana
Prêmios

Biografia editar

Nascido Rónai Pál [1][2] na capital da Hungria numa família judaica, fez seus estudos primários em seu país natal. Teve cinco irmãos, sendo ele o mais velho [3]. Seu pai, Miksa Rónai, era livreiro [4] - o menino cresceu, portanto, em meio a livros.

Graduou-se em filologia e línguas neolatinas na Universidade Pázmany Péter [5]. O escritor Endre Ady era sua grande paixão: “Nenhuma obra literária exerceu sobre mim influência igual”.

Estudou então na França e na Itália e concluiu o doutorado, com tese sobre Honoré de Balzac, aos 23 anos [6].

Seu primeiro contato com a literatura brasileira deu-se com Dom Casmurro, em tradução francesa [7] (ele ainda não lia português). Entusiasmado com o romance, começou a estudar a língua portuguesa, iniciando a tradução de poemas, com a ajuda do único dicionário que encontrou, português-alemão [8] (língua que já dominava, assim como latim, francês e italiano). Algumas dessas traduções acabaram chegando ao embaixador brasileiro em Budapeste, que lhe deu alguns livros brasileiros e três números do jornal carioca Correio da Manhã. Paulo envia então, a esse jornal, a primeira tradução de um poema brasileiro para o húngaro. Dessa maneira, acaba iniciando correspondência com poetas brasileiros, leitores do jornal [9].

Em 1939, publica um livro reunindo traduções suas de poemas brasileiros, com o título Mensagem do Brasil: os poetas brasileiros da atualidade (Brazilia üzen: Mai Brazil költök) [10]. O livro é bem recebido, mas não há tempo para celebração: inicia-se a Segunda Guerra Mundial, que o levaria a campos de trabalhos forçados. Durante esse período, tenta desesperadamente obter algum visto para fugir da Hungria ocupada. Com a ajuda de diplomatas brasileiros (notadamente Otávio Fialho e Ribeiro Couto, seu "primeiro amigo brasileiro" [11]), consegue finalmente um visto brasileiro que lhe permite fugir da Hungria no final de 1940 [12]. Em março de 1941, desembarca no Rio de Janeiro [13].

No Brasil, fez logo amizade com Aurélio Buarque de Holanda Ferreira — com quem assinou diversos trabalhos —, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Rachel de Queiroz e Guimarães Rosa, entre muitos outros escritores e intelectuais da época.

Ainda na Hungria, havia ficado noivo de Magda Péter. Do Brasil, tentou casar-se com ela por procuração, para tentar salvá-la e viabilizar sua vinda [14], mas ela acabaria assassinada pelos nazistas. Conseguiu, no entanto, trazer familiares - sua mãe Gisela, suas irmãs Catarina, Eva e Clara e seus cunhados Américo Gárdos e Estevão Soltész [15]. Seu pai e seus irmãos morreram durante a guerra.

De seus trabalhos destacam-se a tradução, feita com Aurélio, da coleção de contos de todo o mundo Mar de Histórias (Ed. Nova Fronteira), a Antologia do conto húngaro, a tradução de Os Meninos da Rua Paulo, que tornou-se muito conhecido no Brasil, os livros de ensino de latim (que eram seus livros mais vendidos) e o trabalho minucioso e gigantesco de revisão, anotação, introdução e comentário da Comédia Humana, de Balzac, publicada pela Editora Globo - trabalho que levou dez anos para ser terminado: foi composto de 17 volumes, com 14 tradutores, entre os quais Carlos Drummond de Andrade e Mário Quintana. Paulo escreveu mais de 7 mil notas de rodapé.

Rónai tornou-se também um dos grandes críticos literários no Brasil, na segunda metade do século XX. Por exemplo, a respeito da crítica sobre Sagarana, Guimarães Rosa disse: “Só o Paulo Rónai e o Antonio Candido foram os que penetraram nas primeiras camadas do derma; o resto, flutuou sem molhar as penas” [16]. Sobre Grande Sertão: Veredas, escreveu: “Conjunto único e inconfundível, algo de real e de mágico sem precedentes em nossas letras e, provavelmente, em qualquer literatura” [17]. Riobaldo era o “Fausto sertanejo”.

Em 1951, conhece a arquiteta Nora Tausz, também judia emigrada, com quem se casa no ano seguinte [18]. Têm duas filhas: Cora Rónai, jornalista e escritora, e Laura Rónai, flautista barroca e professora da UNIRIO.

Obras principais editar

Traduções para a língua portuguesa editar

Traduções para outras línguas editar

Organização editar

  • Seleta de João Guimarães Rosa (1973)
  • A Comédia Humana, de Honoré de Balzac - projeto da Editora Globo de Porto Alegre, visando a tradução dos 89 livros da Comédia Humana, com a participação de 14 tradutores, e Rónai os coordenou e escreveu os prefácios. O projeto, composto por 17 volumes, com a primeira publicação em 1945, levou dez anos para ser concluído[19]

Obras próprias editar

  • Escola de tradutores (1952)
  • Gramática completa do francês (1969)
  • A tradução vivida (1981)
  • Como aprendi o português e outras aventuras (1956)
  • Não perca o seu latim (1980)
  • Dicionário francês-português (1980)
  • Gradus primus (1943)
  • Gradus secundus (1986)

Prêmios editar

  • Prêmio Internacional C. B. Nathorst (1981) - fit;
  • Título de primeiro sócio benemérito - Abrates;
  • Prêmio da Ordem de Rio Branco - governo brasileiro;
  • Prêmio da Palmes Académiques e Ordre National du Mérite - governo francês;
  • Prêmio da Ordem da Estrela com Coroa de Ouro - governo húngaro;
  • Prêmio Sílvio Romero - Academia Brasileira de Letras;
  • Prêmio Machado de Assis - Academia Brasileira de Letras.

Referências

  1. «Rónai Pál / Paulo Rónai e 'Como Aprendi o Português'». HungriaMania. 18 de agosto de 2013. Consultado em 11 de abril de 2017 
  2. «Rónai Pál Béla cikke». mek.oszk.hu. Consultado em 11 de abril de 2017 
  3. MARTINS, p. 18.
  4. MARTINS, p. 27.
  5. MARTINS, p. 20.
  6. MARTINS, p. 35.
  7. MARTINS, p. 50.
  8. RÓNAI (1992), p. 12.
  9. RÓNAI (1992), p. 14-15.
  10. RÓNAI (1992), p. 18.
  11. RÓNAI (1992), p. 17.
  12. MARTINS, p. 109.
  13. MARTINS, p. 112.
  14. MARTINS, p. 191.
  15. MARTINS, p. 200.
  16. MARTINS, p. 206.
  17. MARTINS, p. 238.
  18. MARTINS, p. 216.
  19. SILVA, Sérgio Brabosa. In: Paulo Rónai - 100 anos Arquivado em 2 de março de 2009, no Wayback Machine.

Bibliografia editar

  • ESQUEDA, Marileide Dias. O tradutor Paulo Rónai: o desejo da tradução e do traduzir. Campinas, São Paulo: [s.n.], 2004
  • MARTINS, Ana Cecilia Impellizieri de Souza. Paulo Rónai, um homem contra Babel: o itinerário de engajamento no brasil. Tese (Doutorado) - Departamento de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=2685280#. Acesso em 20 dez. 2023.
  • RÓNAI, Paulo. Como aprendi o português e outras aventuras. São Paulo: Globo, 1992.
  • RÓNAI, Paulo. Escola de tradutores. 5º ed. ver. ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/INL, 1987.

Ligações externas editar