Pierre Desceliers

Cartógrafo francês

Pierre Desceliers (floruit 15371553) foi um cartógrafo francês do Renascimento. É considerado como o "pai" da hidrografia francesa.

Pierre Desceliers
Pierre Desceliers
Nascimento 1487
Arques-la-Bataille
Morte 1553
Cidadania Reino da França
Ocupação cartógrafo, padre
Religião Igreja Católica
Detalhe da Austrália em carta de Desceliers (1550).

Biografia editar

Pouco se conhece acerca da sua vida. Acredita-se que tenha nascido em Arques-la-Bataille. Entretanto, outras fontes apontam a data de 1483, o que parece pouco provável, haja vista a data da criação dos seus mapas. O seu pai era um arqueiro no Castelo de Arques e é possível que a família seja oriunda do país do Auge, onde o seu nome sobrevive entre Honfleur e Pont-l'Évêque.

Sabe-se que Desceliers foi ordenado padre, e residiu em Arques. Foi ainda examinador dos pilotos marítimos, autorizado a outorgar as licenças em nome do soberano, como o testemunha um selo descoberto, com as suas iniciais. Leccionava também, acredita-se, hidrografia. Confeccionou, para o duque de Guise, uma carta hidrográfica das costas da França.

Era próximo de Jean Ango e do círculo dos exploradores de Dieppe - entre os quais Giovanni da Verrazano e os irmãos Parmentier -, aparente não realizou viagens próprias de exploração. Encontrava-se, entretanto, em posição de colectar um sem-número de informações e de portulanos, os quais compilou em suas cartas. Uma fecunda escola de cartografia formou-se, desse modo, ao seu redor, notadamente Nicolas Desliens.

Acredita-se que Desceliers faleceu em Dieppe por volta de 1558. Essa cidade homenageia-o, na actualidade, com uma estátua sua e tendo dado o seu nome a uma rua.

Obra editar

Desceliers confeccionou muitos portulanos de grandes formatos, que conheceram diversos destinos:

  • o de 1543, citado em 1872 no inventário do Camareiro do Cardeal Luis d'Este com o título La descriptione del Mondo in carta pecorina scritta a mano, miniata tutta per P. Descheliers, tem o seu paradeiro, actualmente, ignorado.
  • o de 1546, com as dimensões de 2.560 x 1.260 milímetros, confeccionado por ordem de Francisco I de França, pertenceu a um certo Jomard (que o reproduziu em fac-símile no século XIX) e depois a um conde de Crawford. Encontra-se actualmente na Biblioteca Universitária John Rylands, em Manchester, na Inglaterra. Embora exibindo a data de 1546, estudos mais recentes revelaram, porém, que é anterior àquela data, e a hipótese mais viável é a de que tenha sido feito em 1542. Manuscrito em pergaminho, a cores, reproduz o detalhe da América do Sul, com figuras de índigenas e animais. As legendas, em latim, identificam cerca de quarenta e dois acidentes do seu litoral.
  • o de 1550, ostenta as armas de Henrique II de França e as do duque de Montmorency, indicando que foi confeccionado para uma destas duas personalidades, conserva-se na British Library, em Londres, na Inglaterra. Foi ricamente iluminado com figuras de macacos, arcos, flechas, tacapes, florestas, redes para dormir no tocante ao Brasil. As lendas da época encontram-se registradas sob a forma de povos gigantes e de tribos governadas por reis brancos. Na América espanhola, encontra-se representado o combate entre os indígenas e castelhanos no Peru, onde se encontra assinalada a região da mineração do ouro e as cidades de Cuzco ("corco") e Quito ("castel"). Uma cartuxa indica: "Faicte à Arques par Pierre Desceliers, pbre (prestre) l'an 1550". Duas outras cartuxas encontram-se distribuídas no mapa, completanto a nomenclatura, em sua maior parte de origem Portuguesa.
  • o de 1553 desapareceu em Dresden, na Alemanha, durante um incêndio em 1915. Uma fotografia deste, a preto-e-branco, encontra-se actualmente exposta no museu do Castelo de Dieppe.

Estas cartas situam-se na encruzilhada entre a Idade Média e a Idade Moderna. Tão precisas quanto o conhecimento técnico da época permitia no tocante ao traçado das costas, elas incluíam representações fantásticas dos habitantes e dos animais das terras do interior. Um continente austral, precursor da Austrália em duzentos anos à "descoberta" por James Cook, é figurado, sem dúvida com base nas explorações portuguesas e neerlandesas na região. A costa do Canadá, região da predilecção dos marinheiros de Dieppe, encontra-se bem detalhada, do mesmo modo que a maior parte da América, do norte e do sul, apenas cinquenta anos após a sua descoberta por Cristóvão Colombo.

Malgrado o seu grande valor, cartográfico e artístico, este tipo de cartas caiu rapidamente em desuso a partir do fim do século XVI, com o advento do rigoroso trabalho de Gerardus Mercator e seus mapa-múndi.

Ver também editar