Flávio Ricomero (em latim: Flavius Richomeres; m. 393) foi um militar romano pagão[1] de origem franca do século IV que esteve ativo durante o reinado dos imperadores Valente (r. 364–378), Graciano (r. 367–383) e Teodósio I (r. 378–395).

Vida editar

Biografia editar

Ricomero aparece pela primeira vez em 377, quando era conde dos domésticos no Ocidente sob o imperador Graciano e foi transferido da Gália à Trácia como comandante de uma força obtida do interior da guarda palatina do imperador. Sua missão era auxiliar Frigérido (outro general ocidental) e os generais orientais de Valente na guerra em curso contra os tervíngios de Fritigerno.[2][3] Ao se reunir com Frigérido, Trajano e Profuturo no Oriente, os generais concordaram que ele tomaria o controle das forças conjuntas.[4][5] Os godos deslocaram-se para o norte da cordilheira dos Bálcãs e os romanos os perseguiram.[6][7] Em um lugar chamado "dos Salgueiros"[a], uma sangrenta luta foi travada. A batalha concluiu-se com pesadas baixas para ambos os lados.[5][8][9]

No outono de 377, Ricomero foi reconvocado à Gália. Em 388, foi novamente enviado à Trácia e encontrou-se com Valente nas imediações de Adrianópolis. Ele entregou uma carta ao monarca na qual afirmava que Graciano estava a caminho com reforços para combater os godos.[10] Nessa ocasião, Quando o rei Fritigerno exigiu reféns para garantir o continuar das negociações, Ricomero se ofereceu a servir como refém, pois, de acordo com Amiano Marcelino, achava tal ato bom e digno para um homem corajoso. Antes dos reféns serem trocados, contudo, os exércitos começaram a lutar.[11] Em meio ao caos no campo de batalha, Ricomero, Sebastiano e Vitor conseguiram escapar, enquanto o exército romano foi em grande parte destruído e muitos oficiais caíram, incluindo Valente.[12]

Ricomero desaparece das fontes até 383, quando é citado como mestre dos soldados do Oriente. Neste ano, passou por Antioquia e tornou-se amigo do sofista Libânio que lhe dedicou um panegírico. Sua estadia, contudo, foi breve, pois logo dirigiu-se para Constantinopla onde pretendia conseguir sua nomeação para o consulado do ano seguinte e para tal convidou Libânio. Segundo as Orações de Temístio, Ricomero esperava suceder Saturnino no consulado. Em 384, foi nomeado cônsul anterior com o prefeito urbano constantinopolitano Clearco e em 385 enviou um presente consular para Símaco.[13]

Entre 388-393, exerceu a função de conde e mestre de ambos os exércitos.[14] Em 388, Arbogasto, Promoto, Timásio e ele foram enviados por Teodósio I para combater Magno Máximo (r. 383–388). No final de 389, encontrou-se com Símaco em Roma e segundo a Epístola III.55 a ele foi recomendado Flaviano. Por esta mesma época, Ricomero aparece recomendando o retórico Eugênio para seu sobrinho Arbogasto. Segundo a Epístola 972 de Libânio, esteve na Itália em 390 e foi destinatário da lei VII.1.13 de 27 de maio de 391 na qual é estilizado como "conde e mestre dos dois exércitos". Aparentemente esteve de volta no Oriente em 391. Em 393, foi nomeado como comandante da cavalaria contra Eugênio, mas faleceu antes da campanha ser realizada.[1][15]

Família editar

Ricomero era tio de Arbogasto. Aparentemente pode ser identificado com um indivíduo chamado Ricímero que foi casado com Ancila e com quem teve o rei franco Teodemiro, [16][17][18] um possível ancestral dos merovíngios segundo evidências tardias (ca. 660) contidas na Crônica de Fredegário. A existência de Ricímero, patrício romano de origem visigótica ativo no século V, levou a alguns autores sugerirem que uma hipotética filha de Ricomero casou-se com o rei visigótico Vália, o avô materno de Ricímero.[19]

Avaliação editar

Ricomero foi o destinatário da Epístola III.54-69 de Símaco, bem como das Epístolas 866 (ca. 388), 972 (ca. 390), 1007 (ca. 391) e 1024 (ca. 392). Nestas últimas, é louvado por Libânio por seus sucessos militares e o autor faz alusão à amizade deles quando Ricomero esteve em Antioquia.[1]

Ver também editar

Cônsul do Império Romano
 
Precedido por:
Saturnino

com Merobaldo II

Ricomero
383

com Clearco

Sucedido por:
Arcádio

com Bautão


Referências

  1. a b c Martindale 1971, p. 766.
  2. Hughs 2013, p. 166.
  3. Amiano Marcelino 397, p. XXXI.7.4.
  4. Burns 1994, p. 27.
  5. a b Kulikowski 2006, p. 137–138.
  6. Heather 2005, p. 173.
  7. Martindale 1971, p. 765.
  8. Amiano Marcelino 397, XXXI.7.
  9. Nort 2007, p. 187-188.
  10. Amiano Marcelino 397, p. XXXI.12.4.
  11. MacDowall 2001, p. 73.
  12. Nort 2007, p. 66.
  13. Martindale 1971, p. 765-766.
  14. Watts 2012, p. 68.
  15. Zósimo, p. IV.55.2-3.
  16. Martindale 1980, p. 942.
  17. Gregório de Tours século VI, II.9.
  18. Rouche 1996, p. 83.
  19. Settipani 1996, p. 32.

Bibliografia editar

  • Burns, Thomas S. (1994). Barbarians Within the Gates of Rome: A Study of Roman Military Policy and the Barbarians, Ca. 375-425 A.D. Bloomington, Indiana: Indiana University Press. ISBN 0253312884 
  • Hughs, Ian (2013). Imperial Brothers: Valentinian, Valens and the Disaster at Adrianople. Barnsley: Pen and Sword. ISBN 1848844174 
  • Kulikowski, Michael (2006). Rome's Gothic Wars: From the Third Century to Alaric. Cambridge: Cambridge University Press 
  • MacDowall, Simon (2001). Adrianople AD 378: The Goths Crush Rome's Legions. Oxford: Osprey Publishing. ISBN 1841761478 
  • Martindale, J. R.; A. H. M. Jones (1971). «Flavius Richimeres». The Prosopography of the Later Roman Empire, Vol. I AD 260-395. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press 
  • Martindale, J. R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1980). «Richimer 1». The prosopography of the later Roman Empire - Volume 2. A. D. 395 - 527. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press 
  • Nort, Richard M. Van (2007). The Battle of Adrianople and the Military Doctrine of Vegetius. Ann Arbor, Michigan: ProQuest. ISBN 0549257985 
  • Settipani, Christian (outubro 1996). «Clovis, un roi sans ancêtre ?». Gé-Magazine (153) 
  • Watts, Dorothy (2012). Religion in Late Roman Britain: Forces of Change (em inglês). Londres: Routledge. ISBN 0415118557 
  • Zósimo. História Nova  In Ridley, R.T. (1982). Zosimus: New History (em inglês). Camberra: Byzantina Australiensia 2