Robert Thurston Dart (Londres, 3 de setembro de 1921 — 6 de março de 1971) foi um instrumentista, professor, maestro e musicólogo britânico.

Thurston Dart
Thurston Dart
Nascimento 3 de setembro de 1921
Surbiton
Morte 6 de março de 1971 (49 anos)
Londres
Cidadania Reino Unido, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda
Alma mater
Ocupação maestro, musicólogo, professor de música, compositor, músico, cravista
Prêmios
  • Walter Willson Cobbett Medal
Empregador(a) King's College de Londres, Universidade de Cambridge
Instrumento cravo

Biografia editar

Fez seus primeiros estudos na Hampton Grammar School, na juventude cantou no coro da Capela Real de Hampton Court, e participou de uma sociedade de madrigalistas, o que contribuiu para acender seu interesse pela música antiga britânica. Estudou um ano de cravo com Arnold Goldsbroug e em 1938 as técnicas de acompanhamento no Royal College of Music de Londres.[1][2] De 1939 a 1942 estudou matemática no University College de Exeter. Durante a II Guerra Mundial serviu nas forças armadas como estatístico e pesquisador de operações, promovido a oficial científico e lugar-tenente de voo em 1944. No mesmo ano sofreu acidente aéreo, saindo ferido. Durante a convalescência, encontrou no hospital militar o também ferido Neville Marriner, que se tornaria seu colaborador, e depois foi estudar musicologia nos Países Baixos com Charles van den Borren.[2]

Voltando à Inglaterra em 1946, passou a trabalhar como assistente do professor Henry Moule na Universidade de Cambridge, onde fez seu mestrado. Em 1947 foi nomeado palestrante assistente, em 1952 palestrante titular, e em 1962 professor titular, ali permanecendo até 1964. Na mesma época desenvolvia diversas outras atividades. Em 1949 havia iniciado uma série de programas radiofônicos na BBC sobre a música antiga. Foi um dos fundadores em 1946 da Galpin Society e primeiro editor do seu jornal; em 1949 tornou-se secretário da Comissão Editorial da Royal Musical Association, assumindo depois as funções de conselheiro e vice-presidente; a partir de 1950 começou uma associação com a editora L'Oiseau-Lyre, revisando edições de Louis Couperin e François Couperin; foi um dos fundadores em 1950 da série musicológica Musica Britannica, supervisionando a edição de cerca de 30 volumes, e em 1965 foi eleito presidente; ingressou na Purcell Society e participou do seu Conselho Editorial, e foi eleito membro do Conselho Bibliográfico da English Folk Dance and Song Society. A partir de 1954 foi diretor e depois presidente da editora Stainer & Bell, vinculada à Royal Musical Association, revisou coleções de madrigais e peças para alaúde e obras de William Byrd, e idealizou uma série de edições de música para cravo inglesa.[2]

Fundou o conjunto Jacobean Ensemble com Neville Marriner, e desde 1948 tocava com a orquestra fundada por Boyd Neel, assumindo a direção em 1955. O grupo veio a se tornar a Philomusica, a qual por sua vez foi o núcleo formador da aclamada Academy of Saint Martin in the Fields, tendo Neville Marriner como mestre de concertos.[2] Ganhou reputação como talentoso maestro e um dos principais cravistas de sua geração, embora fosse quase um autodidata no instrumento.[3][4] Também era um qualificado intérprete na viola da gamba e na flauta.[5] Deixou dezenas de gravações, em solo, com suas orquestras ou como convidado de outros conjuntos, louvadas pela sua flexibilidade rítmica, variedade dinâmica, liberdade e sensibilidade.[6][2]

Quando passou a lecionar no King's College de Londres, a partir de 1964, sua carreira como concertista e musicólogo entrou para um segundo plano, devotando suas principais energias ao ensino.[2] Foi um professor muito dinâmico e influente, formando várias gerações de alunos, muitos deles mais tarde fizeram renome como destacados intérpretes e pesquisadores. Quando dirigiu a escola de música do King's College introduziu um novo currículo, muito mais amplo e variado, com uma maior ênfase na preparação teórica e histórica, e que incluía cadeiras de etnomusicologia e música de vanguarda.[2][6]

Faleceu de câncer do estômago em 6 de março de 1971. O obituário no jornal The Times foi pródigo em elogios: "Em sua combinação de músico prático, um intelecto penetrante e elegante expressão verbal, ele tipificou as virtudes tradicionais da erudição musicológica britânica. Durante seus anos em Cambridge [...] ele influenciou profundamente o rumo da pesquisa musical na Grã-Bretanha. Foi um professor brilhante, intelectualmente rigoroso, mas também altamente especulativo. [...] Sempre enfatizou a importância dos aspectos práticos da musicologia, uma atitude que sua própria obra exemplifica; em seu auge não teve rivais como cravista, suas interpretações do baixo contínuo serviram como um modelo de acompanhamento criativo. Sua força estava no belo equilíbrio entre sua sensibilidade como músico e a precisão rigorosa de sua mente de matemático".[4] Um concerto foi dado em sua memória em abril.[2]

Especialista em música antiga, foi um dos grandes pioneiros deste campo e pesquisador de grande influência, fez muitas transcrições e edições de partituras antigas, escreveu artigos, em 1954 publicou o livro The Interpretation of Music, causando grande controvérsia acadêmica na época por suas proposições inovadoras, várias das quais, de fato, com o progresso no conhecimento, depois se mostraram errôneas ou excessivamente dogmáticas. Não obstante, em sua época a obra se tornou um dos principais alicerces teóricos do movimento de reconstrução das técnicas autênticas de interpretação da música antiga, e seu autor é visto como um dos primeiros e principais advogados deste movimento no Reino Unido.[3][6] Em 1981 foi homenageado com um festschrift, Source Materials and the Interpretation of Music, a Memorial Volume to Thurston Dart. Uma cátedra do King's College foi batizada com seu nome, a Thurston Dart Professor of Performance Studies.[2] A maior parte dos seus arquivos, livros e instrumentos foi doada para o King's College. Um outro fundo foi formado em 2012 na biblioteca da Universidade de Cambridge, com material reunido principalmente por seus alunos e colegas.[1]

Ver também editar

Referências

  1. a b University of Cambridge. Thurston Dart Archive.
  2. a b c d e f g h i Holt, Greg. "Remembering Thurston Dart". In: National Early Music Association Newsletter, 2017; (1-2)
  3. a b Watchorn, Peter. Isolde Ahlgrimm, Vienna and the Early Music Revival. Ashgate Publishing, 2007, pp. 18-19
  4. a b Vlasto, Alexis. "Thurston Dart". The Times, 08/03/1971
  5. Jeans, Susi. "Robert Thurston Dart, 1921-1971: An Appreciation by a Friend". In: The Galpin Society Journal, 1971; 24
  6. a b c Kerman, Joseph. Contemplating Music: Challenges to Musicology. Harvard University Press, 1986, pp. 116-118; 194-205