Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva

 Nota: Não confundir com Transtorno obsessivo-compulsivo.

O transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo (português brasileiro) ou perturbação de personalidade obsessivo-compulsiva (português europeu) (anancástica) é um transtorno de personalidade caracterizado por um constante sentimento de dúvida, perfeccionismo, escrupulosidade, verificações, e preocupação com pormenores, obstinação, prudência e rigidez excessivas com raizes na infância e que persiste na idade adulta.[2] O transtorno pode ser acompanhado de pensamentos ou de impulsos repetitivos e intrusivos. Se diferencia do transtorno obsessivo-compulsivo por ser mais duradouro porém menos grave.[3]

Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva
Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva
Pessoas com esse transtorno são excessivamente cuidadosas e propensas à repetição, dando extraordinária atenção a detalhes e verificando repetidamente, em busca de possíveis erros.[1]
Especialidade psiquiatria, psicologia
Classificação e recursos externos
CID-10 F60.5
CID-9 301.4
CID-11 848330288
MedlinePlus 000942
MeSH D003193
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Características editar

Segundo o DSM IV, é caracterizado por uma preocupação com a organização, perfeccionismo e controle mental e interpessoal, às custas da flexibilidade e eficiência.[1] Os indivíduos com TPOC tentam manter um sentimento de controle através de uma atenção extenuante a regras, detalhes triviais, procedimentos, listas, horários ou formalidades, resultando desgaste emocional a si e aos outros. Estas pessoas não percebem o quanto os outros ficam incomodados com os atrasos e inconvenientes que resultam de seu comportamento.[1]

Segundo a psicologia comportamental esse transtorno é resultado de um condicionamento predominantemente aversivo em um ambiente coercitivo em que os comportamentos preventivos são constantemente reforçados com uma diminuição na ansiedade (reforço negativo).[4] Ou seja, quando a criança cometeu erros ela foi severamente punida por um cuidador ou pelo próprio ambiente. Essas punições foram associadas a várias atividades diferentes passando a gerar respostas de ansiedade (alertas de punição) que aumentam enquanto prevenções não tenham sido tomadas e geram alívio quando não ocorre punição. O desgaste causado a si mesmo e aos outros é visto como compensando as possíveis punições aos erros.

Diagnóstico editar

Para ser diagnosticado deve atender a pelo menos 3 dos seguintes critérios [5]:

  • Sentimentos de dúvida constante e cautela excessiva;
  • Preocupação com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou programa;
  • Perfeccionismo que interfere com a conclusão da tarefa;
  • Excessiva conscienciosidade, escrúpulos e preocupação excessiva com a produtividade a ponto de prejudicar relacionamentos interpessoais;
  • Pedantismo excessivo e adesão às convenções sociais;
  • Rigidez e teimosia;
  • Insistência irracional pelo indivíduo em fazer os outros seguirem exatamente o seu jeito de fazer as coisas ou relutância irracional em permitir que outros façam as coisas do seu próprio jeito;
  • Intrusão de pensamentos repetitivos e intrusivos ou impulsos.

Também pode ser diagnosticado aplicando o teste de personalidade patológica de Young ou o teste projetivo de manchas Rorschach usando o sistema compreensivo de Exner.

Tratamento editar

 
Anti-depressivos como clomipramina e ansiolíticos como clonazepam ajudam a melhorar o auto-controle, sensação de segurança e diminuir a ansiedade dos obsessivos-compulsivos[6].

A terapia cognitivo-comportamental possui diversas técnicas para tratar transtornos de personalidade, dentre elas a terapia do esquema de Jeffrey Young tem recebido destaque, complementando as propostas de Aaron Beck.[7] Entre 60 a 70% dos pacientes respondem bem à farmacoterapia com inibidor seletivo de recaptação de serotonina (ISRS)[8] e 60 a 80% melhoram com terapia analítico-comportamental ou terapia cognitivo-comportamental.[9]

Uma das questões centrais da terapia é levar o sujeito a analisar o prejuízo que está causando a si mesmo e aos outros com seu comportamento e estabelecer uma percepção mais realista, saudável e racional das punições mais prováveis. Como se trata de um transtorno de personalidade (Eixo I) o tratamento costuma ser mais longo, cansativo e exige mais do terapeuta e do paciente do que terapias de Eixo II.[10][11]

Caso não haja resposta aos tratamentos medicamentosos e psicológicos pode ser necessário fazer uma neurocirurgia. Existem cinco técnicas cirúrgicas disponíveis, com as seguintes taxas de melhora global pós-operatória: capsulotomia anterior (38 a 100%); cingulotomia anterior (27 a 57%); tractotomia subcaudado (33 a 67%); leucotomia límbica (61 a 69%) e talamotomia central lateral com palidotomia anteromedial (62,5%).[12][13]

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Referências

  1. a b c American Psychiatric Association (2003). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-IV-TR (Trad. Dayse Batista). Porto Alegre: ARTMED.
  2. http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES/VerDicionario&idZDicionario=82
  3. http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/webhelp/f60_f69.htm
  4. Sidman, M. (2001) Coerção e suas Implicações (Trad. M. A. Andery e T. M. Sério). Campinas: Livro Pleno. (trabalho original publicado em 1989)
  5. «Critérios do CID-10». Consultado em 29 de março de 2011. Arquivado do original em 17 de abril de 2001 
  6. Graybiel AM, Rauch SL. Toward a neurobiology of obsessive-compulsive disorder. Neuron 2000;28(2):343-7.
  7. Paul. M. Salkovskis; Serra, Ana Maria. FRONTEIRAS DA TERAPIA COGNITIVA. Casa do Psicólogo, São Paulo/SP, 2004.
  8. Perse T. Obsessive-compulsive disorder: a treatment review. J Clin Psychiatry 1988;49(2):48-55.
  9. Jenike MA, Rauch SL. Managing the patient with treatment-resistant obsessive compulsive disorder: current strategies. J Clin Psychiatry 1994;55(3 Suppl):11-7.
  10. Zamignani, D. R. e Vermes, J. S. (2002). A perspectiva analítico-comportamental no manejo do comportamento obsessivo-compulsivo: estratégias em desenvolvimento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 4 (2), pp. 135-149.
  11. Rasmussen SA, Eisen JL. Treatment strategies for chronic and refractory obsessive-compulsive disorder. J Clin Psychiatry 1997;58(Suppl 13):9-13
  12. Antonio Carlos Lopes, Maria Eugênia de Mathisa, Miguel Montes Canteras, João Victor Salvajoli, José Alberto Del Porto e Eurípedes Constantino Miguel. (2004) Atualização sobre o tratamento neurocirúrgico do transtorno obsessivo-compulsivo. Rev Bras Psiquiatria 2004, 26, pág 62-66 http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbp/v26n1/a15v26n1.pdf
  13. Mindus P, Rasmussen SA, Lindquist C. Neurosurgical treatment for refractory obsessive-compulsive disorder: implications for understanding frontal lobe function. J Neuropsychiatry Clin Neurosci 1994;6(4):467-77.