Tzéstlabo da Sérvia

Tzéstlabo (em grego medieval: Τζεέσθλαβος; romaniz.:Tzeésthlabos; em latim: Caslavus; em sérvio: Часлав; romaniz.:Časlav; década e 890 – ca. 960), também chamado Tzéstlabo Filho de Clonímero (em sérvio: Часлав Клонимировић, Časlav Klonimirović) foi príncipe da Sérvia (arconte) de ca. 927 até sua morte em ca. 960.[a] Ele significativamente expandiu o Principado da Sérvia e conseguiu unir várias tribos eslavas, alargando seu reino às costas do mar Adriático, o rio Sava e o vale do Morava. Ele com sucesso repeliu os magiares, que cruzaram os Cárpatos e pilharam a Europa Central, quando invadiram a Bósnia. Tzéstlabo é lembrado, junto com seu predecessor Blastímero, como fundadores da Sérvia na Idade Média.

Tzéstlabo da Sérvia
Tzéstlabo da Sérvia
Representação moderna de Tzéstlabo
Príncipe da Sérvia
Reinado c. 927 — c. 960[a]
Antecessor(a) Zacarias
Sucessor(a) Ticomiro
 
Nascimento Antes 896
  Preslava, Bulgária
Morte ca. 960
  rio Sava
Dinastia Blastímero
Pai Clonímero
Mãe Nobre búlgara
Religião Ortodoxia oriental

Tzéstlabo era filho de Clonímero, um filho Estrímero, que governou como co-príncipe em 851–880. Ele pertencia à primeira dinastia sérvia, a Casa de Blastímero (que governou desde o começo do século VII), e é o último governante conhecido da família. Com sua morte ca. 960, seu reino foi transmitido a seu genro Ticomiro, o último governante sérvio independente antes da conquista bizantina.

Antecedentes editar

Com a morte de Blastímero, a Sérvia foi governada por uma oligarquia de seus três filhos:[1] Mutímero, Ginico e Estrímero, embora Mutímero, o mais velho, tinha controle supremo.[2] Na década de 880, Mutímero tomou o trono, exilando seus irmãos e Clonímero, o filho de Estrímero, ao Canato Búlgaro à corte do Bóris I.[1] Tal ato provavelmente ocorreu devido a uma traição. Pedro, filho de Ginico, foi mantido na corte sérvia de Mutímero por razões políticas,[2] mas logo fugiu à Croácia.[1]

Quando Mutímero morreu, seu filho Pribéstlabo herdou o trono, mas governou por apenas um ano; Pedro retornou e derrotou-o em batalha e tomou o trono; Pribéstlabo fugiu à Croácia com seus irmãos Brano e Estêvão.[1] Brano invadiu a Sérvia, foi derrotado, capturado e cegado (à bizantina[3]). Em 896, Clonímero retornou da Bulgária, apoiado por Bóris, e tomou a importante fortaleza de Destínico. Clonímero foi derrotado e morto.[4]

Vida editar

Primeiros anos editar

 
Árvore genealógica da Casa de Blastímero
 
Soldo de Romano I Lecapeno (r. 920–944) e Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959)

Tzéstlabo era filho de Clonímero e uma nobre búlgara de nome incerto que casou-se com ele por escolha de Bóris.[5][6] Ele nasceu na década de 890 (antes de 896) em Preslava, capital do Primeiro Império Búlgaro, e cresceu na corte de Simeão I (r. 893–927).[7] É possível que tenha participado na expedição de seu pai contra a Sérvia em 896. Em 924, grande exército búlgaro foi enviado à Sérvia sob comando de Tzéstlabo, Cnemo, Hemneco e Etzbóclias.[5] O exército arrasou boa parte da Sérvia, forçando Zacarias (r. 921–924), o príncipe à época, a fugir à Croácia. Simeão convocou todos os zupanos sérvios para prestarem homenagem ao príncipe, mas em vez disso fez todos cativos, anexando a Sérvia. A Bulgária expandiu consideravelmente suas fronteiras, agora avizinhando seu aliado Miguel da Zaclúmia e a Croácia, para onde Zacarias se exilou.[8]

Reinado editar

A ocupação foi impopular e vários sérvios fugiram à Croácia e Império Bizantino.[9] Com a morte de Simeão, ele e 4 amigos fugiram de Preslava à Sérvia. Ao chegar, segundo o Sobre a Administração Imperial de Constantino VII (r. 913–959), encontrou apenas 50 homens que vivam sem mulheres e filhos e alimentavam-se da caça.[5] Tzéstlabo foi muito popular e sua chegara atraiu muitos dos exilados. Ele imediatamente submeteu-se à suserania bizantina de Romano I (r. 920–944) e recebeu apoio financeiro e diplomático para seus esforços de restauração do país. Ele manteve íntimos laços com o Império Bizantino por todo seu reinado. A influência bizantina (eclesiástica particularmente) aumentou consideravelmente na Sérvia, mesmo embora influências ortodoxas da Bulgária também foram sentidas. O período foi crucial ao futuro demônimo cristão (Ortodoxia vs Catolicismo), pois os laços formados nesse período tiveram grande importância em como as várias Igrejas eslavas se alinhariam após a cisão (Grande Cisma de 1054). Muitos estudiosos pensam que os sérvios, estando no meio da jurisdição romana e ortodoxa, poderiam ter seguido qualquer uma.[9]

Ele aumentou a Sérvia, unindo as tribos da Bósnia, Herzegovina, Antiga Sérvia e Montenegro (incorporou Zeta, Pagânia, Zaclúmia, Travúnia, Canali, Bósnia e Ráscia à Sérvia).[10] Ele controlou as regiões antes sob controle de Miguel da Zaclúmia (r. 913–925), que desaparece das fontes em 925.[11]

Guerra com os magiares e morte editar

 
Representação moderna da execução de Tzéstlabo

Os magiares se assentaram na bacia dos Cárpatos em 895. Nas guerras bizantino-búlgaras, Leão VI, (r. 886–912) usou-os contra os búlgaros em 894. Nos anos seguintes, eles concentraram-se nas terras a oeste de seu reino. Em 934 e 943, invadiram tão longe quando os Bálcãs, entrando fundo na Trácia.[11] Segundo a Crônica do Padre de Dóclea, os magiares liderados por Cisa invadiram a Bósnia e Tzéstlabo se apressou para encontrá-los as margens do rio Drina. Eles foram decisivamente derrotados e Cisa foi morto pelo zupano Ticomiro. Por sua bravura, Tzéstlabo casou-o com sua filha. A viúva de Cisa então solicitou aos líderes magiares que lhe fosse dado exército para que se vingasse. Com um "número desconhecido" de tropas, a viúva retornou e surpreendeu Tzéstlabo em Sírmia. À noite, os magiares atacaram os sérvios, capturaram o príncipe e todos os seus parentes masculinos. Sob comando da viúva, eles foram atados pelas mãos e pés e jogados no rio Sava. O evento é datado em ca. 960 ou pouco depois, pois o Sobre a Administração Imperial não cita-o.[6]

Rescaldo editar

 
Império Bizantino em 1045

Após a morte de Tzéstlabo, o reino ruiu, os nobres locais restauram o controle sobre suas províncias e segundo a Crônica, seu genro Ticomiro reinou sobre Ráscia.[12]. A informação escrita sobre a primeira dinastia termina com a morte de Tzéstlabo.[6] O Catepanato da Sérvia foi estabelecido entre 971–976, sob João I Tzimisces (r. 969–976).[13] Um selo do estratego de Ras datado do reinado de Tzimisces permite especular que Nicéforo II Focas (r. 963–969) já era reconhecido em Ráscia.[14][15] O protoespatário e catepano chamava-se João.[16] Não há, entretanto, informação sobre o catepano sob Tzimisces.[17] A presença bizantina terminou logo depois com as guerras com a Bulgária, e foi restabelecida apenas ca. 1018 com o Tema de Sírmio, que não estendeu-se para muito da Ráscia propriamente.[14]

Na década de 990, João Vladimir emergiu como o nobre sérvio mais poderoso. Com sua corte centrada em Bar no mar Adriático, teve muito da Sérvia Marítima sob seu controle, incluindo a Travúnia e Zaclúmia. Seu reino pode ter se estendido a oeste e norte e incluiu porções da Sérvia Transmontana (hinterlândia) também. Jorge Cedreno chama seu reino de Trimália ou Sérvia, pois segundo Radojicic e Ostrogorsky, os bizantinos chamavam Zeta de Sérvia e seus habitantes de sérvios. A posição preeminente de João na área explica o porque Basílio II (r. 976–1025) aproximou-se para uma aliança anti-búlgara num momento em que estava em guerra com o czar Samuel da Bulgária (r. 997–1014).[18]

Notas editar

[a] ^ Ćorović data sua ascensão em 927 ou pouco depois,[6] Ostrogorsky em 927 ou 928, apoiado por Fine.[9] Ćorović data sua morte em cerca de 960,[6] tal como Fine.[9]

Ver também editar

Precedido por
ocupação búlgara
Último titular: Zacarias
Príncipe da Sérvia
927960
Sucedido por
Ticomiro (príncipe de Ráscia)

Referências

  1. a b c d Fine 1991, p. 141.
  2. a b Đekić 2009.
  3. Longworth 1997, p. 321.
  4. Fine 1991, p. 154.
  5. a b c Lilie 2013.
  6. a b c d e Ćorović 2001, ch. 2, V.
  7. Vlasto 1970, p. 209.
  8. Fine 1991, p. 153.
  9. a b c d Fine 1991, p. 159.
  10. Fine 1991, p. 160.
  11. a b Stephenson 2000, p. 39.
  12. Živković 2006, p. 57.
  13. Bulić 2007.
  14. a b Stephenson 2003, p. 42.
  15. Magdalino 2003, p. 122.
  16. Slovanský 2007, p. 132.
  17. Krsmanović 2008, p. 189.
  18. Ostrogorsky 1956, p. 273–75.

Bibliografia editar

  • Bulić, Dejan (2007). «Gradina-Kazanoviće, results of archeological research». Istorijski časopis. 55: 45–62 
  • Fine, John Van Antwerp (1991). The Early Medieval Balkans: A Critical Survey from the Sixth to the Late Twelfth Century (em inglês). Ann Arbor, Michigan: University of Michigan Press. ISBN 0472081497 
  • Lilie, Ralph-Johannes; Ludwig, Claudia; Zielke, Beate et al. (2013). «#21225 Časlav; #30302 Anonymi (4); #30303 Anonymi (50)». Prosopographie der mittelbyzantinischen Zeit Online. Berlim-Brandenburgische Akademie der Wissenschaften: Nach Vorarbeiten F. Winkelmanns erstellt 
  • Krsmanović, Bojana; Maksimović, Ljubomir; Kolias, Taxiarchis G. (2008). The Byzantine province in change: on the threshold between the 10th and the 11th century. Belgrado: Institute for Byzantine Studies, Serbian Academy of Sciences and Arts 
  • Magdalino, Paul (2003). Byzantium in the year 1000. Leida: Brill 
  • Slovanský (2007). «Byzantinoslavica». Academia. 65-66 
  • Stephenson, Paul. (2000). Byzantium's Balkan Frontier: A Political Study of the Northern Balkans, 900–1204. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-77017-3 
  • Stephenson, Paul (2003). The Legend of Basil the Bulgar-Slayer. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-81530-7 
  • Vlasto, A. P. (1970). The Entry of the Slavs Into Christendom: An Introduction to the Medieval History of the Slavs. Cambridge: Cambridge University Press 
  • Živković, Tibor (2006). Portreti Srpskih Vladara (IX—XII Vek). Belgrado: Instituto de Livros de Texto e Recursos Didáticos. ISBN 86-17-13754-1