Ultranacionalismo

lado extremo do nacionalismo

Ultranacionalismo ou nacionalismo extremo é uma forma extrema de nacionalismo em que um país afirma ou mantém hegemonia prejudicial, supremacia ou controle sobre outros países (geralmente através de coerção) para perseguir seus interesses.[1] O ultranacionalismo é um aspecto do fascismo.[2]

Definições editar

Segundo Janusz Bugajski, "em suas formas mais extremas ou desenvolvidas, o ultranacionalismo assemelha-se ao fascismo, marcado por um desdém xenófobo de outras nações, apoio a arranjos políticos autoritários beirando o totalitarismo e uma ênfase mítica na 'unidade orgânica' entre um líder carismático, um partido do tipo movimento organizacionalmente amorfo e a nação".[3]

Roger Griffin afirma que o ultranacionalismo é essencialmente xenófobo e é conhecido por se legitimar "através de narrativas profundamente mitificadas de períodos culturais ou políticos passados ​​de grandeza histórica ou de velhas contas a acertar contra supostos inimigos". Também pode recorrer a "formas vulgares de antropologia física, genética e eugenia para racionalizar ideias de superioridade e destino nacional, de degeneração e sub-humanidade".[4]

lealdade absoluta e inquestionável a um governante rígido. -”

Roger Eatwell e Matthew Goodwin, em seu livro "National Populism: The Revolt Against Liberal Democracy" (2018), descrevem o ultranacionalismo como um componente essencial do populismo de direita. Para eles, o ultranacionalismo envolve um fervor patriótico extremo e um desejo de supremacia nacional em detrimento de outros grupos étnicos, culturas ou nações. Eles enfatizam a rejeição das instituições internacionais e a crença de que essas instituições ameaçam a identidade nacional. Os autores veem o ultranacionalismo como uma resposta à globalização e à migração, com a promessa de proteger a nação de influências externas.[5]

Cas Mudde, um cientista político especializado em extremismos, discute o ultranacionalismo como uma forma radical e agressiva de nacionalismo. Em suas análises, ele destaca a ênfase na identidade nacional e a exclusão de grupos percebidos como não pertencentes à nação. Mudde argumenta que o ultranacionalismo muitas vezes envolve sentimentos de xenofobia e hostilidade em relação a estrangeiros. Ele observa que essa ideologia pode estar presente em movimentos políticos de extrema direita e influenciar a agenda política.[6]

Michael Mann, um sociólogo e historiador, aborda o ultranacionalismo em seu livro "The Dark Side of Democracy: Explaining Ethnic Cleansing" (2005). Ele descreve o ultranacionalismo como uma ideologia que pode ser um precursor do genocídio e da limpeza étnica. Mann argumenta que o ultranacionalismo é uma forma extrema de nacionalismo étnico, que pode levar a ações violentas contra grupos minoritários. Ele destaca a conexão entre o ultranacionalismo, o nacionalismo étnico e os conflitos violentos ao longo da história.[7]

Stanley G. Payne, um historiador especializado em fascismos e extremismos políticos, associa o ultranacionalismo ao fascismo em seu livro "A History of Fascism, 1914-1945" (1996). Ele enfatiza o culto à nação e à raça como elementos-chave do ultranacionalismo fascista. Payne descreve o ultranacionalismo fascista como uma ideologia que busca a unidade nacional através da exclusão e da supressão de grupos considerados não conformes com a visão nacionalista.[8]

Partidos e movimentos ultranacionalistas editar

Partidos políticos ultranacionalistas editar

Atualmente, o fenômeno ultranacionalista está majoritariamente ligado a movimentos orientados pela extrema-direita, porém ressalta-se que há também movimentos nacionalistas extremados na extrema-esquerda. Nos países europeus se conecta fortemente a pautas populistas que contribuem para a reemergência dessa variante. Na sequência se apresenta  partidos ultranacionalistas representativos que frequentemente aparecem nos noticiários.

  • Áustria: Partido da Liberdade da Áustria - Caracterizado por uma liderança carismática e pelo rechaço aos efeitos regressivos da União Europeia
  • Alemanha: Alternativa pela Alemanha
  • Espanha: VOX
  • França: Reunião Nacional - Nas últimas eleições este partido esteve próximo de ser eleito com Marine Le Pen. Pauta-se como uma resposta ao aumento do número de trabalhadores estrangeiros, principalmente do norte da África.
  • Grécia: Espartanos, Solução Grega e Niki - Partidos recém-fundados após o banimento do partido Aurora Dourada do sistema eleitoral grego em razão da sua vinculação a células neonazistas.
  • Itália: Irmãos da Itália - Na Itália o ultranacionalismo é uma das grandes forças políticas depois da crise democrática do anos 1980. Os partidos ultranacionalistas europeus se demonstram eurocéticos quanto à integração europeia, buscando o fortalecimento do Estado italiano. Ademais, defendem a restrição parcial ou total da imigração principalmente de países africanos e do Médio Oriente. O principal partido ultranacionalista hoje em dia é o Irmãos da Itália, agremiação da atual primeira-ministra Giorgia Meloni.

Movimentos Ultranacionalistas no Brasil editar

Integralismo e Neointegralismo editar

 
Plínio Salgado, líder da Frente Integralista Brasileira, posando para a revista Anauê

Maior movimento com traços fascistas além das fronteiras europeias, o integralismo se ligou fortemente a grupos católicos tradicionais. Majoritariamente um movimento que se desenvolvia nas grandes cidades, torna-se partido político com a Ação Integralista Brasileira na breve abertura política no período varguista. Posteriormente, é cassado do sistema eleitoral, assim como outros partidos, após a implantação do Estado Novo. Sua principal liderança foi Plínio Salgado Filho o qual junto a outros membros buscou dar golpe de Estado em 1938. Com o falecimento de Plínio Salgado, surge o neointegralismo que intenta reavivar os motes integralistas. Desde então, esse movimento busca se articular com outros grupos da direita radical. Nos anos 1990, aproximou-se fortemente do PRONA com muitos integrantes adentrando neste partido. No século XXI, é marcado pela divisão em muitos grupos, divergindo em questões doutrinárias e táticas. Hoje, os maiores grupos são a Frente Integralista e o Movimento linearista brasileiro, sendo este último explicitamente anti-semita.

PRONA editar

 
Bandeira do partido PRONA com o contorno do mapa do Brasil

O Partido da Reforma e Ordem Nacional foi uma agremiação com traços fortemente ultranacionalistas, fundada por Éneas Carneiro, que tinha como base um nacionalismo conservador fervoroso crítico ao neoliberalismo dos anos 1990. O partido se vinculava a defesa da família cristã e a oposição contra o aborto e a união civil homossexual. Além disso, rechaçava fortemente a adesão brasileira a organismos internacionais considerados como instituições antinacionais. Embora não tenha alcançado altos postos no executivo brasileiro, a figura de Éneas Carneiro é retomada por políticos e movimentos ultranacionalistas e de extrema-direita, principalmente por Bolsonaro e grupos neointegralistas.

Bolsonarismo editar

 
Lema "Deus, Pátria e Família" utilizado pelo movimento integralista

Uma das características mais notáveis do bolsonarismo é a apropriação de símbolos nacionais, como a bandeira do Brasil e o hino nacional, para promover uma narrativa de defesa dos interesses do país. Os partidários do movimento frequentemente empunham a bandeira brasileira em manifestações e eventos, reforçando a ideia de que estão agindo em nome do país e de seu povo. Entretanto, o sequestro da identidade nacional serve como forma de legitimar os interesses do grupo como se fossem interesses de toda a nação brasileira.[9]

Os lemas "Deus, Pátria e Família" e "Brasil Acima de Tudo" foram repetidamente destacados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores como os pilares do bolsonarismo. Esses lemas servem para evidenciar novamente o caráter ultranacionalista do movimento. Importa ressaltar que esses slogans possuem inspirações em outros movimentos ultranacionalistas do passado. O lema "Deus, Pátria e Família" também era utilizado pelo fascismo italiano e pelo movimento integralista brasileiro [10], ao passo que o slogan "Brasil Acima de Tudo" é uma paráfrase do slogan "Deutschand Über Alles" (em português, Alemanha Acima de Tudo) utilizado por Adolf Hitler na Alemanha Nazista.[11]Vale ressaltar que esses lemas utilizados por fascistas funcionam como um "Dog Whistle",que é quando alguém fala ou faz algo que parece normal, mas tem um significado secreto que só algumas pessoas entendem, geralmente para apelar a um grupo específico, nesse caso outros fascistas, sem que todos percebam.

 
Outdoor pró-Bolsonaro com o lema "Deus, Pátria e Família"

Ver também editar

Referências editar

  1. Ultranationalism. Oxford English Dictionary. Retrieved 29 June 2017.
  2. Roger Griffin, "Nationalism" in Cyprian Blamires, ed., World Fascism: A Historical Encyclopedia, vol. 2 (Santa Barbara, California: ABC-CLIO, 2006), pp. 451–53.
  3. The Politics of National Minority Participation in Post-communist Europe. EastWest Institute. p.65. Section author - Janusz Bugajski. Book edited by Johnathan P.Stein. Published by M.E. Sharpe. Published in New York in 2000. Retrieved via Google Books.
  4. Blamires, Cyprian (2006). World fascism: a historical encyclopedia. [S.l.: s.n.] p. 452. ISBN 9781576079409 
  5. Jones, Peter (28 de outubro de 2019). «Book Review: Roger Eatwell and Matthew Goodwin, National Populism: The Revolt against Liberal Democracy». Sociology (2): 420–422. ISSN 0038-0385. doi:10.1177/0038038519880465. Consultado em 9 de setembro de 2023 
  6. «The popu list radical right: a patho lo gical normalcy». Abingdon, Oxon ; New York, NY : Routledge is an imprint of the: Routledge. 4 de outubro de 2016: 442–456. ISBN 978-1-315-51457-4. Consultado em 9 de setembro de 2023 
  7. Torpey, John (agosto de 2005). «Understanding Ethnic Cleansing: The Dark Side of Democracy: Explaining Ethnic Cleansing by Michael Mann Cambridge University Press, 2004, 590 pages». Contexts (3): 60–62. ISSN 1536-5042. doi:10.1525/ctx.2005.4.3.60. Consultado em 9 de setembro de 2023 
  8. Mitchell, Otis C. (julho de 1996). «A History of Fascism 1914–1945». History: Reviews of New Books (1): 31–32. ISSN 0361-2759. doi:10.1080/03612759.1996.9952624. Consultado em 9 de setembro de 2023 
  9. Fórneas, Vitor Fernandes, Vitor (28 de setembro de 2021). «Verde e amarelo: Como Bolsonaro 'sequestrou' bandeira do Brasil e dividiu uma nação». BHAZ. Consultado em 9 de setembro de 2023 
  10. «Revista Rua - "Deus, pátria, família": os sentidos do fascismo brasileiro». www.labeurb.unicamp.br. Consultado em 9 de setembro de 2023 
  11. Cavalcanti, Cristiane Renata da Silva; Azevedo, Azevedo Pereira da Silva Gonçalves de (18 de maio de 2022). «O MOVIMENTO PARAFRÁSTICO DE "BRASIL ACIMA DE TUDO, DEUS ACIMA DE TODOS" X "DEUTSCHLAND ÜBER ALLES"». Policromias - Revista de Estudos do Discurso, Imagem e Som (1): 51–64. ISSN 2448-2935. doi:10.61358/policromias.v7i1.49295. Consultado em 9 de setembro de 2023