Zilda Arns

médica pediatra e sanitarista brasileira

Zilda Arns Neumann (Forquilhinha, 25 de agosto de 1934Porto Príncipe, 12 de janeiro de 2010) foi uma médica, pediatra e sanitarista brasileira.

Zilda Arns
Zilda Arns
Zilda Arns em 2004
Nome completo Zilda Arns Neumann
Conhecido(a) por Fundar a Pastoral da Pessoa Idosa e Pastoral da Criança
Nascimento 25 de agosto de 1934
Forquilhinha, Santa Catarina, Brasil
Morte 12 de janeiro de 2010 (75 anos)
Porto Príncipe, Haiti
Nacionalidade brasileira
Progenitores Mãe: Helene Steiner
Pai: Gabriel Arns
Parentesco Paulo Evaristo Arns (irmão)
Flávio Arns (sobrinho)
Leonardo Ulrich Steiner (primo)
Cônjuge Aloísio Bruno Neumann
Filho(a)(s) Marcelo, Rubens, Nelson, Heloísa, Rogério e Sílvia
Alma mater Universidade Federal do Paraná
Ocupação
Religião Catolicismo Romano
Assinatura
 

Irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, foi também fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança[1] e da Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Recebeu diversas menções especiais e títulos de cidadã honorária no país. Da mesma forma, à Pastoral da Criança foram concedidos diversos prêmios pelo trabalho que vem sendo desenvolvido desde a sua fundação. Em 2012, numa seleção por um formato internacional,[2] Arns foi eleita a 17° maior brasileira de todos os tempos.[3]

Em janeiro de 2015, foi iniciado o processo de beatificação de Zilda Arns em reconhecimento de suas obras caritativas.[4]

No dia 20 de abril de 2023, foi inscrita pelo governo brasileiro no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.[5][6]

Vida e obra editar

O casal brasileiro de origem alemã, Gabriel Arns e Helene Steiner, teve 16 filhos. Zilda, a 13ª criança,[7] nasceu no dia 25 de agosto de 1934, em Forquilhinha, Santa Catarina.[8] Em 1953, começou a estudar medicina, na UFPR, em entrevista ela disse: "Um professor me reprovou no primeiro ano, bem eu, sempre das primeiras da sala. Ele dizia que era absurdo uma mulher cursar medicina. Mas virei pediatra, justo a matéria dele".[9] No mesmo ano que entrou na faculdade ela começou a cuidar de crianças menores de um ano. Na época, Zilda se impressionou com a grande quantidade de crianças internadas com doenças de fácil prevenção, como diarreia e desidratação.[10] Em 26 de dezembro de 1959, casou-se com Aloísio Bruno Neumann (1931-1978), com quem teve seis filhos: Marcelo (falecido três dias após o parto), Rubens, Nelson, Heloísa, Rogério e Sílvia (que faleceu em 2003 num acidente automobilístico). Zilda Arns era avó de dez netos.

Formada em medicina pela UFPR, em 1959, aprofundou-se em saúde pública, pediatria e sanitarismo, visando a salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência em seu contexto familiar e comunitário. Compreendendo que a educação revelou-se a melhor forma de combater a maior parte das doenças de fácil prevenção e a marginalidade das crianças, para otimizar a sua ação, desenvolveu uma metodologia própria de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres, baseando-se no milagre bíblico da multiplicação dos dois peixes e cinco pães que saciaram cinco mil pessoas, como narra o Evangelho de São João (Jo 6,1-15).

A sua prática diária como médica pediatra do Hospital de Crianças César Pernetta, em Curitiba, e, mais tarde, como diretora de Saúde Materno-Infantil da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, teve como suporte teórico as seguintes especializações:

Sua experiência fez com que, em 1980, fosse convidada pelo Governo do Estado do Paraná a coordenar a campanha de vacinação Sabin, para combater a primeira epidemia de poliomielite, que começou em União da Vitória, criando um método próprio, depois adotado pelo Ministério da Saúde. No mesmo ano, foi também convidada a dirigir o Departamento Materno-Infantil da Secretaria da Saúde do mesmo Estado, quando então instituiu com extraordinário sucesso os programas de planejamento familiar, prevenção do câncer ginecológico, saúde escolar e aleitamento materno.[11]

Em 1983, a pedido da CNBB, criou a Pastoral da Criança juntamente com o presidente da CNBB, dom Geraldo Majella, Cardeal Agnelo, Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, que, à época, era Arcebispo de Londrina. No mesmo ano, deu início à experiência a partir de um projeto-piloto em Florestópolis. Após vinte e cinco anos, a pastoral acompanhou 1 816 261 crianças menores de seis anos e 1 407 743 de famílias pobres em 4 060 municípios brasileiros. Neste período, mais de 261 962 voluntários levaram solidariedade e conhecimento sobre saúde, nutrição, educação e cidadania para as comunidades mais pobres, criando condições para que elas se tornem protagonistas de sua própria transformação social.

Para multiplicar o saber e a solidariedade, foram criados três instrumentos, utilizados a cada mês:

  • Visita domiciliar às famílias
  • Dia do Peso, também chamado de Dia da Celebração da Vida
  • Reunião Mensal para Avaliação e Reflexão

Em 2004 recebeu da CNBB outra missão semelhante: fundar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Atualmente mais de cem mil idosos são acompanhados mensalmente por doze mil voluntários de 579 municípios de 141 dioceses de 25 estados brasileiros.

Dividia seu tempo entre os compromissos como coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e a participação como representante titular da CNBB no Conselho Nacional de Saúde, e como membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).

Foi eleita membro honorário da Academia Nacional de Medicina em 2007.[12]

Morte editar

 
Curitiba - Ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparece ao velório da coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, no Palácio das Araucárias

Zilda Arns encontrava-se em Porto Príncipe, em missão humanitária, para introduzir a Pastoral da Criança no país. No dia 12 de janeiro de 2010, pouco depois de proferir uma palestra para cerca de 15 religiosos de Cuba,[13] o país foi atingido por um violento terremoto. A Dra. Zilda foi uma das vítimas da catástrofe.[14][15][16][17][18]

Naquele momento ela estava discursando, quando as paredes da igreja desabaram, a médica estava no último parágrafo do discurso, que ela não chegou a terminar, falava da importância de cuidar das crianças "como um bem sagrado", promovendo o respeito a seus direitos e protegendo-os, "tal qual os pássaros cuidam dos seus filhos".[10]

No dia 14 de janeiro, o senador Flávio Arns (PSDB-PR), seu sobrinho, divulgou uma nota sobre as circunstâncias da morte da médica:

"A Dra. Zilda estava em uma igreja, onde proferiu uma palestra para cerca de 150 pessoas. Ela já tinha acabado seu discurso e estava conversando com um sacerdote, que queria mais informações sobre o trabalho da Pastoral da Criança. De repente, começou o tremor. O padre que estava conversando com ela deu um passo para o lado e a Dra. Zilda recuou um passo e foi atingida diretamente na cabeça, quando o teto desabou. Ela morreu na hora. A Dra. Zilda não ficou soterrada. O resto do corpo não sofreu ferimentos, somente a cabeça foi atingida. O sacerdote que conversava com ela sobreviveu. Já outros quinze sacerdotes que estavam próximos a ela faleceram”. [19]

Como forma de preservar a memória de Zilda viva, sua irmã Otília Arns escreveu a obra literária "Zilda Arns: A Trajetória da Médica Missionária" no ano de 2010. A obra possui a história dos antepassados de Zilda, sua biografia e depoimentos de seus familiares.

Fragmentos de um discurso amoroso editar

Prêmios e honrarias editar

Prêmios internacionais editar

Entre os prêmios internacionais recebidos por Zilda Arns Neumann,[21] merecem destaque:

  • Prêmio Internacional da OPAS em Administração Sanitária, 1994.
  • Prêmio Humanitário 1997 do Lions Club International;
  • Medalha "Simón Bolívar", da Câmara Internacional de Pesquisa e Integração Social, em 2000;
  • Título Companheiro Paul Harris, concedido pela Fundação Rotária de Rotary International, recebeu a Comenda Paul Harris no Rio de Janeiro em 11 de setembro de 2001.[22]
  • Prêmio "Heroína da Saúde Pública das Américas", concedido pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em 2002;
  • Prêmio Social 2005 da Câmara de Comércio Brasil-Espanha;
  • Prêmio Rei Juan Carlos (Prêmio de Direitos Humanos Rei da Espanha) pela Universidade de Alcalá. Recebeu o prêmio em 24 de janeiro de 2005, das mãos do rei;[23][24]
  • Opus Prize (EUA), em 2006;
  • Indicada postumamente ao Prêmio Nobel da Paz, em 2011.

Prêmios nacionais editar

Entre os prêmios nacionais, destacam-se:

Em 2001, 2002, 2003 e 2005 a Pastoral da Criança foi indicada pelo governo brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz. Em 2006, a Dra. Zilda foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz, junto com outras 999 mulheres de todo o mundo selecionadas pelo Projeto 1 000 Mulheres, da associação suíça 1 000 Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz. Também é cidadã honorária de onze estados brasileiros (Ceará, Rio de Janeiro, Paraíba, Alagoas, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Paraná, Pará, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Tocantins) e de trinta e dois municípios e doutora Honoris Causa das seguintes universidades:

Museu da Vida editar

 Ver artigo principal: Museu da Vida (Curitiba)

Beatificação editar

Em 10 de janeiro de 2015, uma missa celebrada no Estádio Joaquim Américo Guimarães (Arena da Baixada), em Curitiba, marcou a entrega de um dossiê, enviado à Congregação para as Causas dos Santos, que solicita a abertura do processo de beatificação de Zilda Arns Neumann.[26] Atualmente, seu processo de beatificação está nas mãos da Arquidiocese de Porto Príncipe, no Haiti. Em agosto de 2016, o arcebispo de Curitiba, Dom José Antônio Peruzzo, enviou uma carta ao arcebispo de Porto Príncipe, Guire Poulard, solicitando a transferência dos trâmites de seu processo de beatificação para o Brasil.[27]

Referências

  1. Pastoral da Criança, 13 de janeiro de 2010. «Nota de falecimento da Dra, Zilda Arns». www.pastoraldacrianca.org.br 
  2. «O Maior Brasileiro de Todos os Tempos». Consultado em 19 de agosto de 2012 
  3. «O Maior Brasileiro de Todos os Tempos». Consultado em 19 de agosto de 2012. Arquivado do original em 12 de julho de 2014 
  4. «Após dez anos da morte, família quer tornar Zilda Arns santa - Brasil». Estadão. Consultado em 20 de fevereiro de 2022 
  5. «Zilda Arns entra no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria». Metrópoles. Consultado em 18 de setembro de 2023 
  6. «ZILDA ARNS: HEROÍNA DA PÁTRIA». Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB. Consultado em 18 de setembro de 2023 
  7. «HELENA STEINER - GABRIEL ARNS». Consultado em 19 de agosto de 2012 
  8. «:: PREFEITURA MUNICIPAL DE FORQUILHINHA ::». Consultado em 19 de agosto de 2012. Cópia arquivada em 19 de agosto de 2012 
  9. «O peso e a leveza | Revista Sorria». Consultado em 19 de agosto de 2012. Cópia arquivada em 19 de agosto de 2012 
  10. a b «Folha Online - Brasil - Zilda Arns morreu enquanto discursava em igreja para religiosos, afirma filho - 13/01/2010». Consultado em 19 de agosto de 2012. Cópia arquivada em 19 de janeiro de 2010 
  11. «A experiência de fazer acontecer a saúde entre os excluídos da sociedade». www.scielosp.org 
  12. Informações do Honorário na página oficial da Academia Nacional de Medicina
  13. Pastoral dos Idosos. «Missão da Dra. Zilda Arns Neumann no Haiti, 10 a 15/01/2010.». www.pastoraldacrianca.org.br 
  14. «Fundadora da Pastoral da Criança estava no Haiti durante tremor». www1.folha.uol.com.br  - Folha Online
  15. Christian Science Monitor, 13 de janeiro de 2010. «Legendary Brazilian aid worker among the victims of Haiti earthquake». www.csmonitor.com , por Andrew Downie.
  16. UN dispatch, 13 de janeiro de 2010 «Haiti Earthquake, the Day After». www.undispatch.com. Consultado em 13 de janeiro de 2010. Arquivado do original em 17 de janeiro de 2010 , por Mark Leon Goldberg.]
  17. «La reputada misionera brasileña Zilda Arns muere en el terremoto de Haití. www.abc.es  ABC.es, 13-01-2010.
  18. Un terremoto devasta Haiti. Premier: «Più di 100mila morti». Corriere della Sera, 13 de janeiro de 2010.
  19. Pastoral da Criança.«Nota sobre a morte da Dra.Zilda. 14 de Janeiro de 2010 09:25». www.pastoraldacrianca.org.br 
  20. «Trechos do último discurso de Zilda Arns». www.fantastico.globo.com  e «Discurso da Doutora Zilda Arns Neumann proferido no Haiti no dia 12 de janeiro de 2010.» (PDF) (em espanhol). www.pastoraldacrianca.org.br. Consultado em 19 de janeiro de 2010. Arquivado do original (PDF) em 6 de outubro de 2010 
  21. «Trabalho humanitário de Zilda Arns era reconhecido internacionalmente». www.agenciabrasil.gov.br  por Amanda Cieglinski. Agência Brasil, 13 de janeiro de 2010.
  22. Diplomas e Certificados de Dra. Zilda; pastoraldacrianca.org.br
  23. «La tragedia de Haití se cobra la vida de la doctora Zilda Arns Neumann, premiada por la Universidad de Alcalá.». www.diariodealcala.es. Consultado em 14 de janeiro de 2010. Arquivado do original em 26 de março de 2010  Diario de Alcalá.es, 14 de janeiro de 2010
  24. «Com morte de Zilda Arns, Brasil perde "benfeitora" e "heroína", diz imprensa internacional». www1.folha.uol.com.br . Folha Online, 14 de janeiro de 2010.
  25. «Sancionada lei que inscreve Zilda Arns no 'Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria'». Senado. Consultado em 18 de setembro de 2023 
  26. «Dra. Zilda Arns: primeiro passo para a beatificação». 12 de janeiro de 2015. Consultado em 15 de março de 2022 
  27. «Arquidiocese de Curitiba quer assumir processo de beatificação de Zilda Arns». 12 de janeiro de 2017. Consultado em 15 de março de 2022 

Ligações externas editar

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