A gente Fúria, originalmente grafada Fúsia (em latim: Furia ou Fusia; pl. Furii ou Fusii), era uma das mais antigas e nobres gentes patrícias da Roma Antiga. Seus membros ocuparam os mais altos postos da magistratura romana durante todo o período republicano. O primeiro dos Fúrios a chegar ao consulado foi Sexto Fúrio Medulino em 488 a.C.[1]

Marco Fúrio Camilo, tribuno consular em 401, 398, 394, 386, 384 e 381 a.C.; ditador em 396, 390, 389, 368 e 367 a.C..
Gravura de 1553 no Promptuarii Iconum Insigniorum.

Origem editar

A antiguidade dos Fúrios é confirmada pela forma antiga do nome, "Fusius", encontrada já nos primeiros dias da República. Um processo similar levou à consolidação dos nomes ("nomina") dos Papírios, Valérios e Vetúrios a partir das formas primitivas "Papisius", "Valesius" e "Vetusius". Contudo, nada mais se sabe sobre a origem da gente Fúria. Uma figura lendária, Espúrio Fúsio, aparece representando os sacerdotes romanos na época de Túlio Hostílio, o terceiro rei de Roma. A partir de inscrições funerárias encontradas em Túsculo, é possível inferir que o nome "Furius" eram muito comum na região e, portanto, geralmente se acredita que a gente Fúria, como a gente Fúlvia, veio de Túsculo.[1][2]

Como o primeiro membro da gente Fúria na história, Sexto Fúrio Medulino, cônsul em 488 a.C., aparece apenas cinco anos depois de uma aliança que Espúrio Cássio firmou com os latinos (Foedus Cassianum), a tribo à qual pertenciam os tusculanos, supõe-se que a origem tusculana dos Fúrios não seja de todo improvável. Porém, o cognome "Medulino" (em latim: "Medullinus"), o ramo mais antigo da gente, pode indicar que a gente teria vindo da antiga cidade latina de Medullia, conquistada por Anco Márcio, o quarto rei de Roma, no final do século VII a.C.[1][3]

O nome Fúrio é um agnome patronímico derivado de "Fuso", aparentemente um antigo prenome extinto antes dos tempos históricos. Ele foi preservado, porém, como um agnome utilizado por muitos dos primeiros Fúrios, incluindo as famílias dos Medulinos e dos Pácilos. Cosso, um cognome dos Cornélios, muito mais tarde revivido como um prenome, pode ter tido uma origem similar.[1][2]

Prenomes editar

Os principais prenomes (em latim: praenomina) utilizados pelos membros desta gente são Lúcio, Espúrio, Públio, Marco, Agripa, Sexto e Quinto. Os Fúrios Pácilos utilizaram ainda Caio, um prenome que não aparece em nenhuma outra família da gente Fúria.[1]

Outros prenomes apareceram no final do período republicano e podem representar famílias plebeias da gente. Os Fúrios Brocos se destacam pelo uso de Cneu e Tito. Um poeta do final do século II tinha o prenome Aulo e um Fúrio de ordem equestre da época de Cícero tinha o nome de Numério.[1]

Ramos e cognomes editar

Os cognomes (em latim: cognomina) desta gente são Acúleo, Bibáculo, Broco, Camilo, Crássipes, Fuso, Lusco, Medulino, Pácilo, Filo e Purpúreo. Os únicos que aparecem em moedas são Broco, Crássipes, Filo e Purpúreo.[1]

Fuso era o agnome de duas famílias, os Medulinos e os Pácilos. Alguns membros da gente Fúria que aparecem nos Fastos sem nenhum cognome além de Fuso provavelmente pertenciam à estas duas famílias e não devem ser considerados como uma família distinta.[1]

Há pessoas com o nome Fúrio que eram plebeus, pois assumiram o posto de tribuno da plebe. Eles ou foram demovidos de patrícios para plebeus ou, como foi o caso comprovado de um deles, eram descendentes de algum liberto de uma família dos Fúrios.[1]

Membros editar

Primeiros Fusos editar

Fúrios Medulinos editar

Fúrios Fusos editar

Fúrios Pácilos editar

Fúrios Camilos editar

Fúrios Filos editar

Fúrios Bibáculos editar

Fúrios Purpúreos editar

Fúrios Crássipes editar

Fúrios Brocos editar

Outros editar

Referências

  1. a b c d e f g h i Smith, Furii
  2. a b George Davis Chase, "The Origin of Roman Praenomina", in Harvard Studies in Classical Philology, vol. VIII (1897).
  3. Lívio, Ab Urbe Condita i. 32, 33.
  4. Lívio, Ab Urbe Condita i. 24.
  5. Dionísio de Halicarnasso, Antiguidades Romanas ix. 63.
  6. Lívio, Ab Urbe Condita iii. 5.
  7. Lívio, Ab Urbe Condita iv. 25, 35, 45.
  8. a b c Fasti Capitolini
  9. Lívio, Ab Urbe Condita vi. 31.
  10. Diodoro Sículo, Bibliotheca Historica xiv. 35.
  11. Lívio, Ab Urbe Condita v. 32.
  12. Lívio, Ab Urbe Condita vii. 1.
  13. Suda, s. v. Πραιτωρ.
  14. Tácito, Anais xii. 52, Historiae ii. 75.
  15. Lívio, Ab Urbe Condita xxii. 53.
  16. Lívio, Ab Urbe Condita xli. 21., xliii. 2.
  17. Lívio, Ab Urbe Condita xlii. 28, 31, xliii. 13.
  18. Lívio, Ab Urbe Condita xxii. 49.
  19. Valério Máximo, Nove Livros de Feitos e Dizeres Memoráveis i. 1. § 9.
  20. Cícero, Pro Ligario
  21. Valério Máximo, Nove Livros de Feitos e Dizeres Memoráveis vi. 1. § 13.
  22. Lívio, Ab Urbe Condita iii. 1.
  23. Lívio, Ab Urbe Condita iii. 54.
  24. Lívio, Ab Urbe Condita ix. 42.
  25. Lívio, Ab Urbe Condita xxxi. 21.
  26. Lívio, Ab Urbe Condita xxxviii. 55.
  27. Cícero, In Verrem v. 43.
  28. Cícero, De Oratore iii. 23.
  29. Cícero, In Catilinam iii. 6.
  30. Salústio, A Conspiração de Catilina 50.
  31. P.I. Besier, Diss. de Furio Anthiano, J.C. ejusque fragmentis, Lug. Bat. 1803.

Ligações externas editar

 
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