Facre Almulque ibne Amar

Facre Almulque Abu Ali ibne Amar (Fakhr al-Mulk Abu 'Ali ibn Ammar) foi o último cádi de Trípoli, de 1099 a 1109, antes que sua capital fosse tomada pelos cruzados. Era membro da família Banu Amar.

Vida editar

Facre Almulque era sobrinho de Amim Adaulá Abu Talibe Haçane ibne Amar, o fundador da família dos Banu Amar que governaram Trípoli como cádis independentes. Tinha um irmão chamado Jalal Almulque Ali ibne Maomé, a quem sucedeu em 1099 no comando de Trípoli.[1] Antes de falecer, seu irmão precisou lidar com os cristãos da Primeira Cruzada enquanto marchavam pelo território dos Banu Amar rumo a Jerusalém. Através de subornos e presentes, Jalal Almulque conseguiu inibir um ataque direto a Trípoli, bem como salvaguardou a posse da fortaleza de Arca, que foi cercada por meses.[2]

Os cruzados capturaram Jerusalém em 15 de julho e elegeram Godofredo de Bulhão como governante da cidade. Ele morreu em 18 de julho e Dagoberto, patriarca de Jerusalém, reivindicou o governo, querendo transformar o nascente Reino de Jerusalém em teocracia. Pessoas próximas a Godofredo recusaram-se a fazê-lo e chamaram o irmão dele, Balduíno de Bolonha, então conde de Edessa. Mas esta vinda não satisfaz a todos e Tancredo da Galileia tentou bloquear seu caminho. Por sua vez, Ducaque, emir de Damasco, tentou emboscá-los com seus companheiros, perto de Biblos. Facre Almulque escolheu ajudar Balduíno, lhe recebeu em Trípoli e avisou sobre a emboscada de Ducaque.[3][4] Deve ser dito que Buri Taje Almoluque, tenente de Ducaque e filho de Toguetequim, esteve ocupando por vários anos em nome de seu mestre Jabala, que era anteriormente dependente de Trípoli. Buri reinou como um tirano sobre Jabala, e a população se revoltou e chamou Facre Almulque, que a reconquistou em agosto de 1101.[5]

Essa política de amizade com os francos terminou em 1102, quando Raimundo IV voltou sua atenção à região para construir um feudo. Tomou Tortosa em fevereiro de 1102, Biblos em abril de 1103 e sitiou Trípoli, que pretendia transformar na capital de seu futuro condado. Construiu uma fortaleza, o Monte Peregrino, que Facre Almulque tentou destruir durante uma surtida em 1104, mas sem sucesso.[6] Raimundo morreu em fevereiro de 1105, mas sua morte não pôs fim ao cerco, que foi assumido por seu primo, o conde Guilherme-Jordão da Cerdanha.[7] Não querendo apelar para Toguetequim, o atabegue de Damasco, com quem ainda está em desacordo, ou para o Califado Fatímida, que exigiria a suserania e talvez sua demissão, apelou para Soquemã ibne Ortoque, vencedor da Batalha de Harã, mas o último morreu de angina em Palmira enquanto liderava um exército de resgate.[8][9]

O bloqueio da cidade estava cada vez mais intenso e o seu abastecimento cada vez mais difícil. Facre Almulque se apoderou de toda a comida para compartilhá-la com todos os habitantes e impôs que os ricos financiassem a defesa. Mas os citadinos viram suas riquezas se esvaindo, suas atividades comerciais paralisadas pelo cerco e alguns deles deixaram a cidade, juraram lealdade aos francos e indicaram-lhes por quais caminhos a cidade era abastecida. O bloqueio tornou-se total e o cádi, após pedir a extradição dos traidores, mandou assassiná-los (1106).[10]

Na primavera de 1108, cansado de esperar a ajuda do sultão seljúcida Maomé I (r. 1105–1118), foi a Baguedade, escoltado por 500 cavaleiros e muitos criados carregados de presentes (final de março). Passou por Damasco, no contexto da morte de Ducaque por Toguetequim, que o recebe de braços abertos. Em Baguedade, o sultão o recebeu com grande alarde, mas preferiu resolver o problema de Moçul primeiro. Facre Almulque, de volta a Damasco em agosto, descobriu que Trípoli foi dada pelos notáveis, cansados ​​de esperar, ao vizir egípcio Lavendálio, e ele foi forçado a se refugiar em Jabala.[11][12] Os egípcios não puderam defender Trípoli, que foi tomada e saqueada em 19 de julho.[13] No ano seguinte, Tancredo sitiou Jabala, que, mal abastecida, se rendeu em 23 de julho de 1109, mas deixou Facre Almulque partir livremente.[14] Se retirou para Damasco, onde Toguetequim o recebeu e o hospedou e onde ele terminou seus dias.[15]

Referências

  1. Wiet 1960, p. 448.
  2. Asbridge 2004, p. 286-290.
  3. Maalouf 1983, p. 82.
  4. Runciman 1951, p. 279-280.
  5. Grousset 1934, p. 267-8.
  6. Maalouf 1983, p. 96.
  7. Grousset 1934, p. 286-292.
  8. Grousset 1934, p. 394-5.
  9. Maalouf 1983, p. 97.
  10. Grousset 1934, p. 395-6.
  11. Grousset 1934, p. 397-8.
  12. Maalouf 1983, p. 98-100.
  13. Grousset 1934, p. 404.
  14. Grousset 1934, p. 487.
  15. Runciman 1951, p. 340.

Bibliografia editar

  • Asbridge, Thomas (2004). The First Crusade: A New History. Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 0-19-517823-8 
  • Grousset, René (1934). Histoire des croisades et du royaume franc de Jérusalem - I. 1095-1130 L'anarchie musulmane. Paris: Perrin 
  • Maalouf, Amin (1983). Les Croisades vues par les Arabes. Paris: Soumeya Ferro-Luzzi. ISBN 978-2-290-11916-7 
  • Runciman, Steven (1951). A History of the Crusades, Volume One: The First Crusade and the Foundation of the Kingdom of Jerusalem. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 978-0521061612 
  • Wiet, G. (1960). «Ammār». In: Gibb, H. A. R.; Kramers, J. H.; Lévi-Provençal, E.; Schacht, J.; Lewis, B. & Pellat, Ch. The Encyclopaedia of Islam, New Edition, Volume I: A–B. Leida: E. J. Brill. OCLC 495469456