Perfuração por arma branca

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A perfuração por arma branca (PAB) ou ferimento por arma branca é um trauma físico que pode ser causado por meio de violência (seja ela de terceiros ou auto-infligida) na utilização de objetos como facas, estiletes, machados, canivetes, facões e outros objetos que possuam laminas.

Perfuração por arma branca
Perfuração por arma branca
Faca com sangue representando um ferimento por arma branca
Especialidade Medicina de urgência, traumatologia, cirurgia geral
Sintomas Hemorragia, traumas, desmaios, vômitos, taquicardia... (Sintomas variam)
Complicações Região onde a vitima for acertada pela facada
Causas Violência e depressão
Método de diagnóstico Auto diagnosticável
Classificação e recursos externos
CID-10 X99
CID-11 19852251
MeSH D014951
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Segundo a Advanced Trauma Life Support (ATLS) o manual médico padrão no tratamento de traumas, qualquer trauma deve ser considerado uma doença, tendo em vista que doenças e traumas podem ser prevenidos de formas diferentes.[1][2]

Possíveis ferimentos graves editar

Ruptura do tecido cardíaco editar

Tendo em vista que em média 45% das vitimas de PAB são atingidas na região do tórax, a ruptura do tecido cardíaco é uma situação extremamente grave.[2] A ruptura do tecido cardíaco causa grande sangramento e o mal funcionamento do coração assim podendo levar rapidamente a óbito. Normalmente é necessária intervenção cirúrgica de urgência para evitar que o tecido cardíaco morra e cause a morte do paciente.[3]

Pneumotórax editar

O pneumotórax ocorre quando o pulmão é perfurado, assim causando seu mal funcionamento, em casos mais graves uma pneumotórax pode causar a morte. Normalmente uma pneumotórax normalmente também precisa de intervenção cirúrgica de urgência e suporte respiratório.[4]

Ruptura de tecido abdominal editar

Em média 36% das vitimas de PAB recebem seu ferimento no abdomen[2] assim causando ruptura do tecido abdominal que normalmente acaba por perfurar o intestino assim necessitando de intervenção cirúrgica para evitar maiores complicações com infecções e hemorragias. Normalmente é feita uma cirurgia de laparotomia exploratória para analisar e reconstituir o tecido abdominal.[5]

Amputação editar

A amputação traumática de membros também é um problema recorrente, cerca de 27% dos ferimentos por PAB ocorrem nos membros superiores e 21% dos ferimentos por PAB ocorrem nos membros inferiores.[2][nota 1] Assim dependendo da gravidade do ferimento nos membros pode haver a amputação do mesmo, assim gerando risco de vida considerando a hemorragia que pode ocorrer após a amputação.[6]

Tratamento editar

Primeiro atendimento editar

O primeiro atendimento deve ser feito utilizando a técnica padrão para traumas descritas no ATLS, que se trata da técnica da mnemônica do XABCDE:

  • X - Hemorragia exsanguiante - Avaliação de possível hemorragia externa grave e com a existência confirmada a tomada da decisão de como conter o sangramento (torniquete ou outra forma de contenção menos invasiva).
  • A - Airway - Via Aérea: Proteção da via aérea contra obstrução (vômito, corpo estranho, desabamento da língua, etc.) e controle da coluna cervical (imobilização temporária, que pode ser realizado simplesmente segurando a cabeça do paciente);
  • B - Breathing - Respiração: Avaliação da expansibilidade pulmonar, que pode estar prejudicada por hemotórax, pneumotórax, fraturas múltiplas de costelas (tórax instável) etc.;
  • C - Circulation - Circulação Sanguínea: Avaliação e (se possível) controle de perda sanguínea por hemorragias, lesões cardíacas e outras causas de baixo débito cardíaco;
  • D - Disability - Déficit Neurológico: Avaliar lesões de tecido nervoso (intracraniano prioritariamente). Nessa fase já pode se avaliar a Escala de coma de Glasgow;
  • E - Environment - Ambiente e exposição: Avaliar outras lesões que ainda não foram avaliadas e proteger o paciente contra hipotermia (retirando roupas molhadas, aquecendo,...).[7][1][nota 2]

Exames hospitalares editar

No hospital, existem alguns exames padrões realizados entre vitimas deste tipo de trauma, entre os mais comuns estão os citados na tabela:[2][8]

Procedimento %
Avaliação AMPLA Normalmente é feita em todos pacientes conscientes
Raio-X 47,6% dos pacientes foram submetidos
Ultrassom 45% dos pacientes foram submetidos
Hemograma de urgência 40,1% dos pacientes foram submetidos
Laparotomia exploradora 25,1% dos pacientes foram submetidos
Tomografia computadorizada 8,6% dos pacientes foram submetidos

Avaliação AMPLA editar

Esta avaliação é feita para medir o estado de consciência da vitima e obter maiores informações, ela é feita após a escala de Glasgow quando a vítima estiver consciente e orientada para facilitar ao médico decisões como a utilização de medicamentos e também facilitar a investigação das autoridades através de informações passadas aos médicos. A avaliação segue os seguintes critérios:

  • A (Alergias)
  • M (Medicamentos de uso habitual)
  • P (Passado Medico)
  • L (Líquidos e alimentos ingeridos recentemente)
  • A (Ambiente e eventos relacionados ao trauma) [9]

Procedimentos hospitalares de urgência editar

No hospital, diversos procedimentos hospitalares podem ser tomados, a maioria são feitos de urgência para a estabilização do paciente, após a estabilização, são tomados procedimentos para tratar problemas específicos. A tabela a seguir cita dos procedimentos realizados em caráter de urgência para estabilização:[2][8][nota 3]

Nome do Procedimento Ações do Procedimento %
Toracotomia com drenagem pleural Procedimento de urgência realizado para tratamento de ferimentos no pulmão, a drenagem é realizada para remover líquidos que eventualmente tenham entrado dentro do pulmão.[10] 21,4%
Transfusão de concentrado de hemácias Procedimento de transfusão de sangue com foco na estabilização das hemácias do paciente. 15,5%
Enterorrafia com sutura Procedimento para a sutura do intestino, pode ser feita durante uma laparotomia ou de abdômen fechado.[11] 4,7%
Sutura de emergência Procedimento de sutura simples para reparo de ferimentos externos para evitar hemorragias.[nota 4] 4,6%
Hepatorrafia Procedimento de sutura do fígado, pode ser feita com a cavidade aberta ou fechada.[12] 4%
Gastrorrafia Procedimento de sutura do estomago, pode ser feita com a cavidade aberta ou fechada[13] 3%

Tipos de ferimentos editar

 

Ferimentos cortantes editar

No geral, ferimentos cortantes ocorrem quando o ferimento é feito com um instrumento que possua lamina que necessite de pressão deslizante contra o tecido, assim cortando o tecido. Normalmente, ferimentos como este, geram como ferimento graves hemorragias externas quando infligidos contra veias e/ou artérias.

Os objetos que causam ferimentos como este são: navalhas, aparelhos de barbear, estiletes...[14][15]

 

Ferimentos perfurantes editar

Ferimentos perfurantes ocorrem quando o ferimento é feito com um instrumento que perfure o tecido com uma ponta agua que pode ser em diversos formatos. Os riscos relacionados a este tipo de ferimento é a perfuração de órgãos internos, assim gerando uma hemorragia interna.

Os objetos que causam ferimentos como este são: agulhas, chaves de fenda, formões, tesouras...[14][15]

Ferimentos contundentes editar

 

Ferimentos contundentes ocorrem quando o ferimento é feito através da pressão do objeto contra o corpo, sem a necessidade de perfuração do tecido exterior da vitima, porem gerando danos interiores. Os riscos relacionados a este tipo de ferimento é a perfuração de tecidos internos por choque.

Os objetos que causam ferimentos como este são: socos, martelos, soqueiras, panelas, rolo de massa, correntes...[14][15]

Perfurocortantes editar

 

Ferimentos perfurocortantes são ferimentos que além de cortar, geram danos pela perfuração, assim perfurando o tecido interior e exterior. Os riscos relacionados a este tipo de ferimento é a perfuração de tecidos internos, hemorragia externa, sangramentos....

Os objetos que causam ferimentos como este são: facas, adagas, garrafas quando quebradas, canivetes...[14][15]

Cortocontundentes editar

 

Ferimentos cortocontundentes são ferimentos que além de cortar, geram danos pela contusão ou impacto. Assim os riscos relacionados a este tipo de ferimento é a perfuração de órgãos, amputações e ferimentos relacionados...

Os objetos que causam ferimentos como este são: machados, guilhotinas, cutelos, foices...[14][15]


Perfurocontundentes editar

 

Ferimentos perfurocontundentes são ferimentos causados por objetos que perfuram e geram contusão com o impacto de forma simultânea. Assim os riscos relacionados a este tipo de ferimento é a perfuração de órgãos internos e o risco de hemorragias.

Os objetos que causam ferimentos como este são: picaretas, lanças, arpões....[14][15]


Perfurocortocontundentes editar

 

Ferimentos perfurocortocontundentes são considerados a categoria de ferimentos mais complexos de se tratar, pois eles causam os três tipos de dano possíveis através de armas brancas, eles perfuram ,cortam e fraturam o seu alvo. Os riscos envolvem todos os demais riscos citados a cima.

Os objetos que causam ferimentos como este são: katana, montante, cimitarra...[14][15]



Legislação em países lusófonos editar

  Angola editar

Na Angola, o porte de armas brancas com o intuito de ferir ou machucar terceiros é ilegal, assim levando a apreensão do objeto e 60 dias de multa, caso um crime seja cometido com uma arma branca, será considerado um agravante. Porem caso seja comprovado o porte para segurança pessoal, a apreensão do objeto e a multa não se aplicam, assim abrindo brechas na lei que não limita tamanho nem considerações para a comprovação do porte para segurança pessoal.[16][17]

  Brasil editar

No Brasil a posse de armas brancas trata-se de uma contravenção penal, tendo em vista que no código penal brasileiro está expressamente escrito no seu artigo 19:

Porem, não existem licenças expedidas por autoridades para o porte de armas brancas, assim não podendo se enquadrar no artigo 19, e entrando como uma contravenção penal que pode gerar processos administrativos, apreensão da arma e multa mas não a cadeia. Porem existem alguns casos de armas brancas que são restritas de uso para forças policiais, como cassetetes, espadas de uso exclusivo do exercito e spray's de pimenta. Estes sim passiveis de prisão caso encontrados em flagrante sem a devida autorização.[18][19][20]

  São Paulo,   Rio de Janeiro e   Minas Gerais editar

Estes estados Brasileiros, através de suas respectivas assembleias legislativas, proibiram o porte de armas brancas com uma lâmina maior de 10 centímetros, assim rescaldando ferramentas de trabalho e tentando assim reduzir o uso deste tipo de armas em seus estados. Caso em flagrante o porte de uma arma branca com mais de 10 centímetros, o suspeito terá que pagar uma multa e irá ter seu objeto aprendido.[21][22][23][24]

  Rio Grande do Sul editar

No Rio Grande do Sul, culturalmente, as lâminas não são grandes problemas. Como no resto do país, o porte de laminas é considerado uma contravenção penal, porem pela cultura do estado, é comum serem encontrados gaúchos portando laminas. Assim a brigada militar não costuma se preocupar com o porte de facas, o caso muda caso o seu portador estiver em uma atitude suspeita e/ou cometendo um crime em flagrante. Existem locais públicos como o acampamento farroupilha e em CTG's onde é extremamente comum o uso de facas.[25][26][27]

  Portugal editar

Em Portugal dês do ano de 2006 são consideradas ilegais qualquer armas brancas que podem ser utilizadas para ferir outras pessoas, entre elas: armas com mais de 10 centímetros de lamina, canivetes com abertura automática, canivetes com abertura por mola, posse de laminas com mais de 10 centímetros sem justificativa. Assim mantendo o rescaldo de armas brancas para trabalhos que necessitem das mesmas. As penas variam de apreensões dos objetos e multas.[28][29][30]

Notas e referências

Notas

  1. O estudo calcula a % por vítimas, porem também inclui vitimas que foram atingidas mais de uma vez em lugares diferentes, assim a soma pode dar mais de 100%.
  2. Originalmente a mnemonica era apenas ABCDE porem em 2018 foi adicionado o "X" pois a convenção que cria o guia ATLS percebeu que hemorragias exsanguiantes eram mais graves do que vias aéreas e não poderiam esperar até chegar na área de circulação
  3. A porcentagem pode não chegar a 100% tendo em vista que alguns pacientes não necessitaram de procedimentos de urgência
  4. A sutura aqui citada, são feitas em caráter emergencial quando a deve ser realizada para estancar hemorragias externas que geram riscos a vida do paciente. Suturas simples não são consideradas

Referências

  1. a b «PHTLS Basic and Advanced Pre-Hospital Trauma Life Support Third EditionPHTLS Committee of the NAEMT in Cooperation with The Committee on Trauma of The American College of Surgeons Mosby LifelinePHTLS Basic and Advanced Pre-Hospital Trauma Life Support Third Edition396pp£25.500-8151-6333-90815163339». Emergency Nurse (2): 26–26. Agosto de 1995. ISSN 1354-5752. doi:10.7748/en.3.2.26.s9. Consultado em 10 de julho de 2021 
  2. a b c d e f Trindade , Correia, Ruth , Michell. «PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS VÍTIMAS DE ARMA BRANCA E DE FOGO EM UM HOSPITAL DE EMERGÊNCIA». Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Revista de Enfermagem e Atenção á Saude 
  3. «Trauma cardíaco penetrante por arma-branca: tratamento com cardiorrafi a e patch de Dacron» (PDF). UFMG. SAMU. Consultado em 17 de julho de 2021 
  4. Ferri, Rios, Eduardo, Fabíola. «Atendimento de Urgência ao Paciente Vítima de Trauma» (PDF). Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo. Diretrizes Clínicas 
  5. «TRAUMA ABDOMINAL POR PERFURAÇÃO POR ARMA BRANCA EM TRANSIÇÃO TORACOABDOMINAL: UM RELATO DE CASO». Doity. Consultado em 17 de julho de 2021 
  6. «Amputação traumática e lesões graves de membros superiores» (PDF). Rev Med Minas Gerais. Consultado em 17 de julho de 2021 
  7. «CONHECIMENTO DE GRADUANDOS EM ENFERMAGEM SOBRE SUPORTE BÁSICO DE VIDA». dx.doi.org. doi:10.18471/rbe.v29i2.12648.s3379. Consultado em 10 de julho de 2021 
  8. a b «CARACTERIZAÇÃO DAS VÍTIMAS DEFERIMENTOS POR ARMA DE FOGO E ARMA BRANCA ATENDIDAS EM UM HOSPITAL PÚBLICO» (PDF). Universidade de Brasília Faculdade de Ceilândia. Consultado em 17 de julho de 2021 
  9. «Caso Clínico de Trauma por Arma de Fogo - Sanar Medicina». Sanar | Medicina. Consultado em 10 de julho de 2021 
  10. «Drenagem torácica tradicional versus drenagem pela toracotomia: estudo prospectivo randomizado». Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. Jornal de ensino do Albert Einstein. Consultado em 17 de julho de 2021 
  11. «Hemorragia digestiva» (PDF). Sociedade Brasileira de Pediatria. Jornal de Pediatria. Consultado em 17 de julho de 2021 
  12. «Avaliação epidemiológica de vítimas de trauma hepático submetidas a tratamento cirúrgico». Revista Brasileira de Cirurgia 
  13. «Estudo comparativo dacicatrização de gastrorrafias». UFMA. o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal do Maranhão - UFMA 
  14. a b c d e f g «TRAUMATOLOGIA FORENSE» (PDF). APOSTILA TRAUMATOLOGIA FORENSE 
  15. a b c d e f g «Medicina Legal». 12 Revista de Medicina Legal Forense 
  16. «Comissão Permanente da Assembleia do Povo» (PDF) 
  17. «SUMÁRIO: Assembleia Nacional» (PDF). ÓRGÃO OFICIAL DA REPÚBLICA DE ANGOLA. 179 DIÁRIO DA REPÚBLICA 
  18. «Porte de Arma Branca». Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Consultado em 17 de julho de 2021 
  19. «Porte de arma branca é infração penal?». Jusbrasil. Consultado em 17 de julho de 2021 
  20. «Afinal de contas, porte de arma branca é crime?» 
  21. «Projeto de Lei n° 1.008, de 2015». www.al.sp.gov.brhttps. Consultado em 17 de julho de 2021 
  22. Rio, Marcelo ElizardoDo G1 (10 de junho de 2015). «Lei que proíbe porte de armas brancas é aprovada na Alerj». Rio de Janeiro. Consultado em 17 de julho de 2021 
  23. «Governo de Minas proíbe porte de armas brancas no estado». Agência Brasil. 28 de julho de 2016. Consultado em 17 de julho de 2021 
  24. «Porte de armas brancas é proibido no RJ - Migalhas». www.migalhas.com.br. 30 de junho de 2015. Consultado em 17 de julho de 2021 
  25. Bastos, Postado por Rogério. «A Faca - Segundo João Carlos Paixão Côrtes». Consultado em 17 de julho de 2021 
  26. «A fala dos objetos: o valor da faca para a cultura gaúcha e o debate sobre elementos materiais nos estudos organizacionais» (PDF). Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração. XXXIV encontro da ANPAD 
  27. «Uso de faca no acampamento farroupilha não é problema» 
  28. «Armas Brancas - Conhece a Lei em Portugal?». lojadasfacas.pt. Consultado em 17 de julho de 2021 
  29. «Legislação Consolidada - DRE». Diário da República Eletrónico. Consultado em 17 de julho de 2021 
  30. «::: Lei n.º 5/2006, de 23 de Fevereiro». www.pgdlisboa.pt. Consultado em 17 de julho de 2021