Festival de Águas Claras


O Festival de Águas Claras foi um evento musical que contou com importantes músicos brasileiros e teve quatro edições, em 1975, 1981, 1983 e 1984. O festival foi feito na Fazenda Santa Virgínia, na cidade de Iacanga, interior de São Paulo. O evento é conhecido como a "Woodstock brasileira".[1]

Festival de Águas Claras
Período de atividade 1975
1984
Número de edições 4
Fundador(es) Antonio Checchin Junior (Leivinha)
Local(is) Fazenda Santa Virgínia, Iacanga
Data(s) janeiro de 1975
4,5 e 6 de setembro de 1981
2, 3, 4 e 5 de junho de 1983
1984
Gênero(s) Rock, MPB

História editar

Origens editar

Estudante de engenharia em Mogi das Cruzes, Antonio Checchin Junior (conhecido popularmente como Leivinha) estava próximo de se formar quando ocorreu em 8 de junho de 1972 o acidente ferroviário de Mogi das Cruzes. Com 23 mortos e 65 feridos graves (incluindo colegas de faculdade), o acidente causou profundo impacto em Leivinha - que acabou abandonando a faculdade e viajando pela América do Sul. Após retornar de viagem, Leivinha vislumbrou a realização de uma festival de música na fazenda de sua família (Fazenda Santa Virgínia) em Iacanga.[2]

Inspirados pelo Festival de Woodstock, foram realizados no Brasil os festivais de Guarapari (1971), Cambé (1973) e o Hollywood Rock. Porém a repressão da ditadura militar nos grandes centros tornou os festivais fracassos financeiros e de público.[3]

Para Leivinha, havia um ar de quermesse nos festivais, contando com artistas circenses, globo da morte, palhaços e competição de motocross.[4]

1º Festival (1975) editar

Organizado de forma amadorística e despretensiosa, o festival foi batizado de Águas Claras. Para sua realização, Leivinha teve que pedir autorização ao delegado Silvio Pereira Machado, do DOPS,[4] e assinou um termo onde se comprometia a não atentar contra a "moral e os bons costumes".[5][3] O objetivo inicial era fazer uma festa mais íntima, comemorando o lançamento de uma peça de teatro montada por ele que estava estreando.[5] Através da amizade de Leivinha com os músicos Sérgio Dias e Liminha, foi montado o line-up do festival, que contou em sua primeira edição com artistas de São Paulo.[5] Realizado em janeiro de 1975 na Fazenda Santa Virgínia, Iacanga, interior de São Paulo suas entradas custavam 30 cruzeiros (equivalentes à 76 reais), a estrutura do palco foi montada com madeiras dos currais, e media 10 metros de altura e 20 metros de largura. Ao público estavam disponíveis 50 sanitários, uma barraca de assistência médica e duas ambulâncias. Atraídos pelo festival, dezenas de vendedores de Iacanga e região montaram barracas vendendo comida e artesanato.[3] Estima-se que o 1º festival teve um público entre 15 a 30 mil pessoas.[1][5] O responsável pelo palco durante as apresentações foi o filósofo Claudio Prado, também um dos criadores do festival.[3][4]

2º Festival (1981) editar

O segundo festival foi o de maior sucesso. Teve cobertura da TV e ingressos (preço de mil cruzeiros, que representava 17% dos quase 6 mil que eram o salário mínimo)[6] vendidos nas agências do Unibanco.[7] Contou com a participação de artistas de peso, como Raul Seixas, Luiz Gonzaga,[8] Hermeto Paschoal, João Gilberto, Egberto Gismonti, Gilberto Gil, Alceu Valença, além de outros nomes do rock nacional e da MPB.[4]

3º Festival (1983) editar

O terceiro festival ocorreu em 1983, e teve caráter mais eclético do que os dois anteriores. Teve a participação de artistas como Armandinho, Dodô e Osmar, Arthur Moreira Lima, Egberto Gismonti, Fagner, Sivuca, Premeditando o Breque, Sandra Sá, Paulinho da Viola, Sá & Guarabyra, Erasmo Carlos e Wanderléa.[7] João Gilberto foi o auge da edição, subindo ao palco as 6h da manhã.[7] O público dessa edição foi de 70 mil pessoas.[7]

4º Festival (1984) editar

A quarta edição foi de menor porte, e ocorreu durante o carnaval. A realização se deu por conta do contrato assinado por Leivinha, que não achava aquela época do ano a mais apropriada.[7]

Artistas editar

Sobre o palco, feito de madeira (com 10m de altura e 20 de largura), se apresentaram os seguintes artistas[3]:

Por conta do festival ter sido realizado no interior de São Paulo, a repressão das autoridades foi menor. Com isso, mais de 30 mil pessoas participaram do evento. Após o festival, as autoridades constataram que o festival não possuía todas as autorizações para ser realizado e Leivinha foi brevemente detido pelo DOPS-SP.[9]

Segundo ofício do ministro da justiça Armando Falcão sobre o episódio:

Documentário editar

Em 2019, o diretor Thiago Mattar lançou um documentário sobre o festival, chamado O Barato de Iacanga, motivado após uma conversa com seu pai, que havia frequentado o festival, e pela falta de fontes disponíveis sobre o assunto.[5]

Referências

  1. a b «Um papo com o diretor do doc sobre o lendário Festival de Águas Claras». Noize. Consultado em 19 de julho de 2020 
  2. Anselmo Carvalho Pinto (14 de julho de 2019). «Documentário revive festival de rock criado por advogado de Cuiabá». Mídia News. Consultado em 15 de julho de 2019 
  3. a b c d e Leonardo Rodrigues (23 de janeiro de 2019). «Como o "Woodstock brasileiro" mudou a história dos festivais em plena ditadura». UOL. Consultado em 15 de julho de 2019 
  4. a b c d «WOODSTOCK BRASILEIRO». Revista Trip. Consultado em 19 de julho de 2020 
  5. a b c d e «Filme sobre Festival de Águas Claras exibe imagens raras de show de João Gilberto». Globo.com. Consultado em 19 de julho de 2020 
  6. Dois, Jornal (31 de janeiro de 2019). «Por que o Festival de Iacanga não aconteceria hoje». Medium (em inglês). Consultado em 12 de agosto de 2021 
  7. a b c d e «O QUE VOCÊ SABE E MUITO MAIS SOBRE O FESTIVAL DE ÁGUAS CLARAS». Vivendo Bauru. Consultado em 19 de julho de 2020 
  8. «Iacanga: o Woodstock brasileiro». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 31 de janeiro de 2022 
  9. a b Luis Nassif (6 de dezembro de 2012). «A história do Festival de Águas Claras». GGN. Consultado em 15 de julho de 2019 


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