Johann Gottlieb Fichte
Johann Gottlieb Fichte (Rammenau, Saxônia, 19 de maio de 1762 — Berlim, 27 de janeiro de 1814) foi um filósofo alemão pós-kantiano[1] e o primeiro dos grandes idealistas alemães. Sua obra é considerada como uma ponte entre as ideias de Kant e as de Hegel. Assim como Descartes e Kant, Fichte interessou-se pelo problema da subjetividade e da consciência. Também escreveu trabalhos de filosofia política e foi um dos fundadores do nacionalismo germânico, [2] no contexto do expansionismo napoleônico,[3] o que fez com que, frequentemente, fosse vinculado ao pan-germanismo[4] - uma forma de nacionalismo étnico que, no final do século XIX, assumiria um caráter abertamente etnocêntrico e, afinal, tornar-se-ia um dos pilares da política externa de Heim ins Reich, adotada pela Alemanha Nazista a partir de 1938.[5][6][7]
Johann Fichte | |
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Johann Gottlieb Fichte | |
Nascimento | 19 de maio de 1762 Rammenau, Saxônia |
Morte | 27 de janeiro de 1814 (51 anos) Berlim |
Residência | Alemanha |
Sepultamento | Dorotheenstädtischer Friedhof |
Nacionalidade | alemão |
Cidadania | Alemanha |
Cônjuge | Johanna Rahn |
Alma mater |
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Ocupação | filósofo |
Empregador | Universidade de Jena, Universidade de Berlim, Universidade Humboldt de Berlim, Universidade de Erlangen-Nuremberga |
Escola/tradição | Idealismo alemão romantismo alemão pós-kantismo |
Principais interesses | Autoconsciência autoconhecimento filosofia moral filosofia política |
Movimento estético | Idealismo alemão, Romantismo na Alemanha |
Religião | Luteranismo |
Causa da morte | tifo |
Assinatura | |
BiografiaEditar
Johann Gottlieb Fichte era um dos 10 filhos de um modesto artesão. Desde menino já sobressaía por sua capacidade de resumir precisamente o sermão dominical do pastor. Um nobre da região decidiu finalmente cuidar da sua educação, na escola principesca de Pforta, onde passou seis anos muito difíceis, pois Fichte sofria com a rigidez da hierarquia, tentando por vezes até fugir. Entretanto, neste mesmo período, Fichte começou a atualizar-se nas discussões mais importantes que estavam acontecendo nos meios filosóficos. Ocupou-se principalmente, da controvérsia entre Lessing e o teólogo Johann Melchior Goeze, pastor principal de Hamburgo, sobre a relação entre iluminismo e teologia.
Talvez não apenas por influência de seus pais, mas também por sua própria vontade, Fichte passa a estudar teologia, em 1780, em Jena. No embate que existia entre a liberdade e o determinismo, Fichte manifestava-se a favor do determinismo.
Devido à necessidade financeira e sem haver concluído seus estudos, Fichte passa a trabalhar como preceptor a partir de 1784, primeiramente em Leipzig, depois em Zurique, onde conhece Johana Rahn, uma sobrinha do poeta Klopstock que mais tarde será sua esposa.
Fichte decidiu devotar sua vida à filosofia, depois de ler as três Críticas de Immanuel Kant, publicadas em 1781, 1788 e 1790. Em 1790, ele volta para Leipzig, onde um pupilo seu pede para ter lições sobre a filosofia kantiana. Apesar de mal conhecer as obras de Kant, Fichte aceita o pedido e passa a estudar com afinco as obras de Kant, dando conta das três Críticas em poucas semanas. A leitura das Críticas foi muito importante para que Fichte superasse o determinismo, fazendo com que se evidenciasse que o "novo mundo" é o mundo da liberdade, que se evidenciava como a chave para entender toda a estrutura da razão. Segundo diz o próprio Fichte em carta a Johana "a vontade humana é livre, e a felicidade não é o fim do nosso ser, mas a dignidade de ser feliz". São, portanto, essas convicções que tornam Fichte um filósofo, aos 28 anos.
Sua investigação de uma crítica de toda a revelação obteve a aprovação de Kant, que pediu a seu próprio editor para publicar o manuscrito. O livro surgiu em 1792, sem o nome nem o prefácio do autor, e foi saudado amplamente como uma nova obra de Kant. Quando Kant esclareceu o equívoco, Fichte tornou-se famoso da noite para o dia e foi convidado a lecionar na Universidade de Jena. Acusado de ateísmo, perdeu o emprego e mudou-se para Berlim. Fichte foi um conferencista popular, mas suas obras teóricas são difíceis.
Morreu em 27 de janeiro de 1814. Encontra-se sepultado no Dorotheenstädtischer Friedhof, Berlim, Alemanha.[8]
RelevânciaEditar
Fichte exerceu forte influência sobre os representantes do idealismo alemão, assim como sobre as teorias filosóficas de Friedrich Schelling e G.W.F. Hegel.[9] Suas obras principais são Doutrina da Ciência, Doutrina do Direito e os Discursos à nação alemã (1807 - 1808).[10] Fichte pronunciou seus Discursos em plena ocupação militar do seu país pelos exércitos napoleônicos, conclamando o povo a construir a nação, superar a dominação estrangeira e as estruturas feudais ainda predominantes no país e que impediam a sua unificação - um processo que só seria concluído muito mais tarde, em 1871.[11]
Referências
- ↑ Biografia em alemão na Allgemeine Deutsche Biographie.
- ↑ Popper, Karl R.. Contro Hegel. Roma: Armando Editore, 1997.
- ↑ Silva, Daniele Gallindo Gonçalves; Albuquerque, Maurício da Cunha. "Hail Arminius! O Pai dos Alemães!": a construção mítica da Unificação Alemã entre 1808 e 1875. Topoi vol. 18 nº 35. Rio de Janeiro julho-dezembro de 2017 ISSN 2237-101X
- ↑ Harrison, Austin. The pan-Germanic doctrine; being a study of German political aims and aspirations. London and New York: Harper & Brothers, 1904, pp 3,6
- ↑ Hanna, Martha. The Mobilization of Intellect: French Scholars and Writers During the Great War, pp. 87s.
- ↑ Was Fichte an ethnic nationalist? On cultural Nationalism and its double. Por Arash Abizadeh. History of Political Thought, vol. 26, nº2 (2005), pp. 334-359.
- ↑ Hawthorne, Derek. Nationalism & Racialism in German Philosophy: Fichte, Hegel, & the Romantics. Counter-Currents Publishings.
- ↑ Johann Gottlieb Fichte (em inglês) no Find a Grave
- ↑ Idealism - From Kant to Fichte and Schelling.
- ↑ A Queda de Napoleão Bonaparte. A Fundação da Federação Alemã Arquivado em 2 de maio de 2015, no Wayback Machine., por William Werlang.
- ↑ A idéia de nação no século XIX e o marxismo, por João Antônio de Paula. Estudos avançados, 22 (62), 2008, p. 219.