Flor de Rosa (1509)

nau da Marinha Portuguesa

A nau Flor de Rosa, também referida como "Flor de Roza" ou "Flor de la Roza" foi uma nau portuguesa da Carreira das Índias. Foi lançada pela primeira vez em 1509 e fez parte da 11ª Armada da Índia de Dom Fernando Coutinho, comandada por Leonel Coutinho, filho de Vasco Fernandes Coutinho.[1] Afundou em 1528 ao largo da Ilha de São Lourenço. Foi a bordo desta embarcação que a 16 de dezembro de 1515 faleceu Afonso de Albuquerque.

Flor de Rosa
   Bandeira da marinha que serviu das Índias
Construção Reino de Portugal
Lançamento Ribeira das Naus, Lisboa
Período de serviço 1509-1528
Estado Naufragado na Baía de São Agostinho, Madagáscar
Destino queimada pela tripulação
Características gerais
Deslocamento 400
Comprimento entre 30 a 40 metros
Boca entre 7 a 10 metros
Propulsão vela

História editar

Partida para a Índia editar

Construída nos estaleiros da Ribeira das Naus,[2] a nau Flor de Rosa é referida pela primeira vez em 1509,[1] fazendo parte da Armada liderada por Dom Fernando Coutinho, com o propósito de libertar, por ordem do Rei D.Manuel, Afonso de Albuquerque, preso às mãos de Francisco de Almeida, que se recusava a abandonar o cargo de Vice-Rei das Índias e torná-lo o novo Vice-Rei da Índia Portuguesa. Tinha também, o propósito de reforçar as esquadras portuguesas no Índico com quinze naus e três mil homens (entre eles mil e seiscentos soldados).

À saída de Lisboa, a nau era comandada por Leonel Coutinho, filho de Vasco Fernandes Coutinho. Partiu do Reino a 12 de Março de 1509, alcançou Cananor em Outubro e chegou a Cochim em Novembro de 1509. A 29 de Dezembro de 1509 é dado ao governador da Índia, ordem para se dar ao despenseiro da nau Flor da Rosa mantimentos para a sua tripulação.[3]

A partir daí, a Armada partiu juntamente com as naus de Afonso de Albuquerque com o objetivo de tomar a cidade de Calecute.[4]

Em Janeiro de 1510, a Armada alcança Calecute e é empreendida uma mal-sucedida tentativa de conquista da cidade de Calecute. Nesta batalha, durante a retirada, aventurou-se no interior da cidade Dom Fernando Coutinho e foi alvo de uma emboscada, sendo morto. Afonso de Albuquerque ao tentar salvá-lo ficou gravemente ferido e teve que retirar.[4]

Comissões no Índico editar

Falhado o ataque a Calecute, Afonso de Albuquerque retira para Cochim e aí apressa-se a formar uma poderosa armada, em que constava a nau Flor de Rosa, reunindo vinte e três naus e 1 200 homens, organizando uma expedição para atacar uma nova frota de mamelucos que se estava a criar dos remanescentes da Batalha Naval de Diu. A expedição partiu para o Mar Vermelho no final de Janeiro de 1510, e a 6 de Fevereiro ancora perto de Cananor.[5]

A nau Flor de Rosa participa nesta batalha juntamente com as restantes da Armada de Afonso de Albuquerque, pressupõe-se ainda comandada por Leonel Coutinho. Em maio de 1510, com o contra-ataque de Goa por Adil Shah o contigente português em Goa embarca nas naus e retira de Goa para o Rio Mandovi.[6]

A 1 de Junho, fica encurralada juntamente com as outras naus na foz do Rio Mandovi,incapazes de partir para o alto mar devido às tempestades das monções. A nau Flor de Rosa, fica na foz juntamente com as outras.[7]

A 15 de agosto, a armada finalmente partiu do Mandovi em direção a Cannanore e no dia seguinte chegou à ilha de Angediva para buscar água. Lá, eles encontraram Diogo Mendes de Vasconcelos liderando uma expedição de 4 navios e 300 homens, enviados pelo rei Manuel I para negociar diretamente com Malaca, com base no pressuposto errado de que Diogo Lopes de Sequeira havia conseguido abrir o comércio com essa cidade no ano anterior.

A 25 de Novembro de 1510, dia de Santa Catarina, a nau Flor de Rosa participa na segunda conquista de Goa por parte das forças portuguesas.[7]

Em Fevereiro de 1511, deixa Goa em direção a Malaca de modo a tomar a cidade. Alcança Malaca a 1 de Julho.

A 16 de Dezembro de 1515, aquando a preparação de uma expedição portuguesa ao Suez, Afonso de Albuquerque morre ao comando da nau Flor de Rosa, diante de Goa.[8]

Regresso a Portugal editar

Entre 1515 a 1518 a nau Flor de Rosa faz a viagem de regresso ao Reino, após seis anos em várias comissões no Índico. Em 1519, é de novo incorporada numa armada capitaneada por Jorge de Albuquerque, juntamente com outras catorze embarcações.[1]

Desta vez, é comandada por Rafael Perestrelo e parte de Lisboa a 23 de Abril de 1519.[1]

Nesta viagem, apenas quatro, incluindo a nau-capitânia passam para Índia. Flor de Rosa, juntamente com as outras, passam o Inverno de 1519 em Moçambique.[1]

Regressa a Portugal antes de 1525, visto que se encontra na armada de D. Filipe de Castro, comandada por António de Abreu.

Última viagem à Índia editar

A 18 de Abril de 1528, saiu de Lisboa capitaneada pelo novo governador da Índia Nuno da Cunha, numa armada de treze navios. A 6 de Julho de 1528, chegando à região do Cabo das Agulhas, a Armada dispersou-se devido a uma forte tempestade. A Flor de Rosa juntamente com outras cinco embarcações foram impelidas para este, afastando-se das restantes. Estas embarcações, decidiram então continuar a viagem até à Ilha de Santa Apolónia de modo a abastecerem-se de provisões e água. De novo, uma tempestade a sul da Ilha de São Lourenço, dividiu a armada e a Flor de Rosa foi impelida para a costa de Madagáscar, juntamente com a Santa Catarina do Monte Sinai de Pêro Vaz e a Santa Maria de Espinheiro de Dom Francisco de Lima. Estando agora com um fraco abastecimento de mantimentos e água, as três naus tentaram ancorar no Cabo Santa Maria, o ponto mais a Sul de Madagáscar, mas o mau tempo impediu-os de tal. [9]Após a ancoragem falhada no Cabo de Santa Maria, seguiram viagem para ancorar na Baía de São Agostinho.[9]

A três léguas náuticas (dezasseis quilómetros) da Baía de São Agostinho, a Flor de Rosa embateu num banco de areia, o mesmo onde no ano anterior a nau Conceição e São Sebastião embateram. A sua tripulação conseguiu retirá-la do banco de areia e ancoraram em segurança na Baía de São Agostinho a 23 de Agosto de 1528. Depois de ter ancorado, as naus foram reabastecidas com ovelhas, galinhas e vagem em troca de algumas peças de metal e outros objectos de baixo valor. [9]

A 25 de Agosto, dois dias depois de ter ancorado, os chefes tribais trouxeram um português moribundo, que foi levado até Nuno da Cunha. Este tratava-se de um dos sobreviventes dos naufrágios do Conceição e São Sebastião no ano anterior.

A 26 de Agosto, três dias depois de ter atracado na Baía de Santo Agostinho, uma tempestade levou a Flor de Rosa a ser arrastada pela sua âncora e a ser violentamente arremessada. Pouco tempo depois, as amarras da âncora, feitas de linho, partiram-se. A tripulação ainda deitou mais 3 âncoras sobresselentes que se encontravam no porão ao mar, mas todas as amarras acabaram por se partir devido à humidade e ao material de que eram feitas. [9]

Sem âncora, a Flor de Rosa foi arremessada contra um banco de areia, a 6 metros de profundidade. Com a agitação do mar, as ondas acabaram por causar fendas e aberturas no casco e a água começou a entrar, causando uma inclinação do navio.[9][10]

Rapidamente a água chegou ao convés inferior. Apesar da proximidade à costa, Nuno da Cunha manteve toda a tripulação no convés, no castelo da proa e no quarto do tombadilho durante toda a noite de modo a evitar que algum membro da tripulação morresse afogado a tentar nada até à costa. Tanto a Santa Catarina do Monte Sinai como a Santa Maria de Espinheiro tinham as suas amarras da âncora feitas de fibra de coqueiro, ao invés de linho, e por isso, sobreviveram à tempestade.[9]

Nos dias posteriores à tempestade, e depois de uma avaliação do estado da nau pelos engenheiros e carpinteiros da nau ter avaliado o estado da nau como irreparável e destinada a afundar, os passageiros e tripulantes foram divididos entre as outras duas naus. Os mastros, o gado, o dinheiro dos cofres e os canhões do convés superior, do tombadilho e da proa foram transferidos para o Santa Maria de Espinheiro. A 3 de setembro, Nuno da Cunha ordenou que o navio fosse fundeado. Pôs-se fogo à nau e perdeu-se a carga do convés inferior e do porão, os canhões e um canhão basilisco.[9]


Ver também editar

Referências

  1. a b c d e Relação das náos e armadas da India com os successos dellas que se puderam saber, para noticia e instrucção dos curiozos, e amantes da historia da India: (Brit. Library, Cód. Add. 20902). [S.l.]: UC Biblioteca Geral 1. 1985 
  2. Relação das náos e armadas da India com os successos dellas que se puderam saber, para noticia e instrucção dos curiozos, e amantes da historia da India: (Brit. Library, Cód. Add. 20902). [S.l.]: UC Biblioteca Geral 1. 1985 
  3. «Maço 19 - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 28 de julho de 2020 
  4. a b Diffie, Winius. Foundations of the Portuguese empire, 1415-1580. [S.l.: s.n.] p. 247 
  5. Como está bem expresso na carta que após a conquista enviou ao rei.
  6. Sanceau, Elaine (1936). INDIES ADVENTURE: the Amazing Career of Afonso de Albuquerque, Captain-General and Governor of India (1509–1515). [S.l.]: Blackie. p. 114 
  7. a b Costa, Rodrigues 2008 pg-44-58
  8. Devezas, Jorge Nascimento Rodrigues (2009). 1509- A Batalha que Mudou o Domínio do Comércio Global. Lisboa: CentroAtlântico.pt 
  9. a b c d e f g Van den Boogaerde, Pierre. Shipwrecks of Madagascar. Nova Iorque: Strategic Book Publishing. pp. 36–40. ISBN 978-1-60693-494-4 
  10. «Nautical Charts Online - View details of Chart 61500, Madagascar-South Coast». www.nauticalchartsonline.com. Consultado em 6 de setembro de 2020