Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção
A Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção localiza-se à margem esquerda da foz do riacho Pajeú, sobre o monte Marajaitiba, na cidade de Fortaleza, no litoral do estado brasileiro do Ceará. Atualmente abriga a sede da 10ª Região Militar do Exército Brasileiro. Sua construção data de 1649, pelos holandeses que deram o nome de Forte Schoonemborch, depois retomado pelos portugueses que passaram a denominar de "Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção". Embora a cidade de Fortaleza tenha se expandido a partir desse forte, o seu marco zero fica na Praia da Barra do Ceará.
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção | |
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Pormenor da Vila de N. Sra. da Assunção (c. 1730). No canto superior direito, o primitivo forte, em faxina e terra. | |
Construção | Príncipe-regente D. João (1812) |
Estilo | Abaluartado |
Conservação | Bom |
Aberto ao público | Sim |
História
editarAntecedentes
editarToda a costa cearense sofreu muito com as ameaças e invasões holandesas, na época da Invasão Portuguesa. O primeiro forte a ser levantado nessa mesma área foi o de São Sebastião, a pedido de Martim Soares Moreno, que veio com sua tropa de Natal, com a finalidade de proteger as terras. Devido a sua pouca estrutura, ele foi derrubado pouco tempo depois.
Foi justamente quando se iniciou uma nova fortaleza, erguida pelos holandeses em 1649 e batizada de Forte Schoonenborch. Os domínios dessas terras permaneceram até 1812, quando a Coroa Portuguesa retomou a Província do Ceará e rebatizou a fortaleza de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção.
A Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção
editarDesmoronado o Forte de Nossa Senhora da Assunção (1812), o governador da então Província do Ceará, Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire, deu início, no local, a uma nova estrutura para a defesa daquela Capital. A pedra fundamental foi lançada a 12 de outubro de 1812, em homenagem ao aniversário do "sereníssimo Senhor Príncipe da Beira, o senhor D. Pedro de Alcântara".[1]
A planta, de autoria do Tenente-coronel Engenheiro António José da Silva Paulet, que dirigiu a sua construção, apresenta a forma de um quadrado com 90 metros de lado, com baluartes nos vértices, sob a invocação, respectivamente, de Nossa Senhora da Assunção (nordeste), São José (sudeste), Dom João (noroeste) e Príncipe da Beira (sudoeste). Artilhada inicialmente com cinco peças, foi custeada com fundos públicos (20:362$390 réis) e doações particulares (16:113$267 réis), afora doações de materiais e serviços, de voluntários e de escravos.[2] GARRIDO reporta que, em 1816, a fortaleza encontrava-se artilhada com vinte e sete peças.[3]
Uma lápide comemorativa, colocada na muralha externa Norte quando da inauguração da fortaleza, reza, em latim:
- "Informem montem me derisere carinae, Nunc arcem magnum respectu pavescunt:
- Hic me Sampaius, sexto regnante Joanne,
- Fundavit pulchram; Pauleti refulget.
- Armis me fortem civilia dona
- Muris me fortem reddunt stipendia Regis."
- "Ano de 1817. As naus escarneciam de mim quando eu era um monte informe: agora que sou uma grande fortaleza, de longe tomam-se de respeito. Aqui, reinando D. João VI, Sampaio me fundou bela, o engenho de Paulet resplandece. Os donativos dos cidadãos me tornaram forte pelas muralhas, e dos dispêndios reais me fazem forte pelas armas."[4]
O mesmo autor indica que, à época (1958), essa lápide se encontrava no Museu do Estado do Ceará.[5]
No contexto da Revolução Pernambucana de 1817, numa das celas desta fortificação esteve detida Bárbara de Alencar, líder revolucionária em Crato, no Ceará, considerada localmente como a primeira prisioneira política da História do Brasil.[6]
Em 1821, o Governador Francisco Alberto Rubim solicitou 200$000 réis para a conclusão de suas obras, o que ocorreu no ano seguinte (17 de agosto de 1822).[7] BARRETTO (1958) informa que a sua artilharia foi aumentada para trinta e uma peças de diferentes calibres a partir de 1829.[8]
O Mapa anexo ao Relatório do Ministério da Guerra de 1847 aponta-lhe a ruína, dando-a como artilhada com vinte peças.[9] GARRIDO (1940) informa que recebeu reparos em 1856. No ano seguinte, classificada como fortificação de 2ª Classe (11 de fevereiro de 1857), encontrava-se artilhada com trinta e duas peças: vinte e seis de alma lisa (quatro de calibre 25 libras, duas de 18, nove de 12, cinco de 6, e seis de 3), e 6 de bronze La Hitte, raiadas, calibre 12. Foi avaliada em 125:000$000 réis (3 de março de 1858). Sofreu reparos no contexto da Questão Christie (1862-1865), em 1875, em 1883 (5:000$000 réis), e em 1886, quando foi novamente considerada como de 2ª classe.
Entre 1846 e 1857 foram-lhe erguidos novos prédios, os quais sediaram diversas unidades militares como o 11º e o 15º batalhões de Infantaria, a Escola Militar do Ceará, o 22º e o 23º batalhões de Caçadores, entre outras.
Do século XX aos nossos dias
editarNo início da República Velha, em 1895 apresentava duas baterias dispostas em andares e uma bateria a cavaleiro.[10]
Também conhecida como Forte da Tartaruga, encontrava-se bem conservada (1906), e desarmada (1910). À época da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi guarnecida, entre 1917 e 1918, pela 1ª Bateria Independente do 3º Distrito de Artilharia de Costa, sob o comando do Capitão Bernardino Chaves.[11] BARRETTO (1958) complementa que o quartel contíguo à fortaleza, que abrigava a guarnição, foi ocupado pela 46ª Bateria Independente, mais tarde 46ª Bateria de Costa. À época (1958), sediava o Quartel-general da 10ª Região Militar,[12] função que conserva desde então.
Museu e Phanteon do General Sampaio
editarA Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, atualmente funcionando como sede do Comando da 10ª Região Militar, é um dos pontos turísticos mais conhecidos da capital cearense, tendo como destaques a própria história da Fortaleza, o Museu e Phanteon do General Sampaio (Patrono da Arma de Infantaria), a prisão onde esteve Bárbara de Alencar e ainda a estátua de Martim Soares Moreno. O forte pode ser visitado mediante agendamento prévio junto à Comunicação Social da Região Militar. A visita é feita na companhia de um militar que aborda tópicos de interesse sobre o monumento, nomeadamente a praça de armas, a cela onde esteve detida Bárbara de Alencar e a capela do forte.[13]
Referências
- ↑ GARRIDO, 1940:44; BARRETTO, 1958:98.
- ↑ GARRIDO, 1940:44; BARRETTO; 1958:98-99.
- ↑ Op. cit., p. 44.
- ↑ BARRETTO, 1958:99.
- ↑ Op. cit., p. 99.
- ↑ "Passeio pela História do Ceará". Rio de Janeiro: O Globo, 30 de agosto de 2001. p. 20.
- ↑ GARRIDO, 1940:44.
- ↑ Op. cit., p. 100.
- ↑ SOUZA, 1885:73.
- ↑ Op. cit., p. 44-45; BARRETTO, 1958:100.
- ↑ GARRIDO, 1940:45.
- ↑ Op. cit., p. 100-101.
- ↑ «Comando da 10ª Região Militar - Turismo». www.10rm.eb.mil.br. Consultado em 22 de setembro de 2018
Bibliografia
editar- BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. 368 p.
- GARRIDO, Carlos Miguez. "Fortificações do Brasil". Separata do Vol. III dos Subsídios para a História Marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1940.
- PEIXOTO, Eduardo Marques. "A Fortaleza de N. S. d'Assumpção". Revista Trimensal do Instituto do Ceará. p. 297-311.
- SOUSA, Augusto Fausto de. "Fortificações no Brazil". RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140.
- TEIXEIRA, Paulo Roberto Rodrigues. "Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção". in Revista DaCultura, ano IV, nº 7, dezembro de 2004, p. 53-64.