O Forte da Madalena localizava-se na freguesia da Madalena, no concelho de mesmo nome, na ilha do Pico, nos Açores.

Cais da Areia Funda, Madalena do Pico.

Em posição dominante sobre este trecho do litoral, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa do ancoradouro da Areia Funda contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico.

Ao longo dos séculos, devido à sua posição privilegiada sobre o canal do Faial, fronteira à cidade da Horta na ilha do Faial, por onde era escoada a produção vinícola do verdelho, constituiu-se no principal porto da ilha.

História editar

Sucedeu o 1.º Reduto da Madalena e o 2.º Reduto da Madalena, relacionados na relação "Fortificações nos Açores existentes em 1710",[1] no contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714).

Em meados do século XVIII, o capitão-mor da Madalena, Francisco Pereira Cardoso, relatava à Câmara Municipal da Madalena que: "(...) esta uilla se achaua aberta de todo nos postos do mar sem reparo algum de muralhas nem fortificações (...)"[2] Este oficial propusera, em Outubro de 1740 a construção de uma muralha de proteção para a vila, e de uma fortificação para a defesa da embocadoura do porto.[3] Entretanto, apenas em 1744, após nova insistência foram arrematados por um conto trinta e cinco mil réis os muros de defesa da vila,[4] e, em 1746 há notícias dos trabalhos de construção da fortaleza do porto, que são paralisadas dois anos mais tarde uma vez que o arrematador dos muros, António Silveira, emigrou para o Brasil.[5]

Desse modo, o novo capitão-mor da Madalena, João Pereira Cardoso, volta a representar à Câmara a necessidade de se repetir a arrematação das fortificações, o que tem lugar em junho de 1748, comprometendo-se Manuel Pereira Godinho, pela quantia de 6$980 reis cada braça, a construir "(...) sem braças de muro de seis palmos de Alto e quatro de largo caiado por hua e outra parte com hum portam de doze palmos de largo e Altura correspondente com suas banquetas por hua e outra parte (...)".[6] Na mesma altura, o capitão-mor pedia ainda que de novo se apregoasse a arrematação da obra da fortaleza do porto, que já se iniciara.[7]

As obras processaram-se com dificuldades, uma vez que, em 1756 e em 1759, o capitão mandante António Silveira Peixoto e o capitão-mor João Pereira Cardoso, rogam novamente à Câmara que se concluam os trabalhos de fortificação da vila.[8]

Desse modo, a julho de 1759 a Câmara determina nova arrematação e nomeia o ajudante Jerónimo Correia de Vasconcelos como intendente das obras defensivas, com o encargo de zelar pelo bom andamento das obras de fortificação.[9]

Por fim, em 1763, os oficiais do pelouro, a pedido do capitão-mor, noticiam outra arrematação da muralha de defesa da vila, a cinco tostões cada pedra lavrada e a 15$000 por braça de pedra e cal.[10]

A par dos projetos de construção de uma muralha e fortaleza que acautelassem a defesa da Madalena, em 1749 aventou-se ainda a necessidade de se edificar uma casa para vigias e armazenamento de pólvora, que se acredita não ter sido construída.[11]

As dificuldades de recursos não entravavam apenas as obras de fortificação. Desde 1741 as catorze peças de artilharia da vila exigiam reparações, designadamente a construção de carretas, sobre as quais trabalhassem. Estas, entretanto, apenas se concretizariam em 1744.[12] Contudo, em 1761, o capitão-mor, João Pereira Cardoso, cogitava a necessidade de se fabricarem novas carretas, que garantissem a operacionalidade da artilharia costeira.[13]

A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 refere-o como "Castello da Magdalena", informa que "Somente existem os vestígios, e á muitos annos não é mais que um largo ou lugradouro publico", e complementa: "Idem Idem" ("Pode desde já desprezar-se, porque além de não ser efficaz para a defeza da ilha, por isso que esta é accessivel por todos os lados, e as fortificações se achão tão arruinadas que teria de se fazer avultadas despezas para a sua reedificação.").[14]

A estrutura não chegou até aos nossos dias.

Referências

  1. "Fortificações nos Açores existentes em 1710" in Arquivo dos Açores, p. 180. Consultado em 8 dez 2011.
  2. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1733-1744)", fl. 126v. apud MENESES, Avelino de Freitas de. "O Município da Madalena (Pico): 1740-1764 - Subsídios para o seu Estudo. in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987. p. 1034.
  3. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1733-1744)", fl. 112, Acórdão de 26 de outubro de 1740. apud MENESES, Avelino de Freitas de. "O Município da Madalena (Pico): 1740-1764 - Subsídios para o seu Estudo. in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987. p. 1034.
  4. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1733-1744)", fl. 190, Acórdão de 29 de abril de 1744; "Vereações (1744-1753)", fl. 2, Acórdão de 20 de maio de 1744. apud MENESES, Avelino de Freitas. "O Município da Madalena (Pico): 1740-1764 - Subsídios para o seu Estudo. in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987. p. 1034.
  5. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1744-1753)", fl. 64v, Acórdão de 10 de dezembro de 1746; fls. 100-100v, Acórdão de 8 de maio de 1748. apud MENESES, Avelino de Freitas de. "O Município da Madalena (Pico): 1740-1764 - Subsídios para o seu Estudo. in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987. p. 1034.
  6. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1744-1753)", fl. 102v. apud MENESES, Avelino de Freitas de. "O Município da Madalena (Pico): 1740-1764 - Subsídios para o seu Estudo. in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987. p. 1034.
  7. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1744-1753)", fl. 103. apud MENESES, Avelino de Freitas de. "O Município da Madalena (Pico): 1740-1764 - Subsídios para o seu Estudo. in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987. p. 1034.
  8. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1754-1764)", fl. 52v; fl. 55v, Acórdão de 6 de junho de 1759. apud MENESES, Avelino de Freitas de. "O Município da Madalena (Pico): 1740-1764 - Subsídios para o seu Estudo. in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987. p. 1034.
  9. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1754-1764)", fl. 105v. apud MENESES, Avelino de Freitas de. "O Município da Madalena (Pico): 1740-1764 - Subsídios para o seu Estudo. in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987. p. 1034.
  10. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1754-64)", fl. 171, acórdão de 13 de abril de 1763; fl. 181 vº, acórdão de 10 de outubro de 1763. in MENESES, Avelino de Freitas de. Estudos de História dos Açores (vol. II). Ponta Delgada (Açores): Jornal de Cultura, 1995. p. 174.
  11. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1754-64)", fl. 123vº, acórdão de 12 de julho de 1749. in MENESES, Avelino de Freitas de. Estudos de História dos Açores (vol. II). Ponta Delgada (Açores): Jornal de Cultura, 1995. p. 174.
  12. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1733-44)", fl. 126vº; fl. 190; fls. 190vº-191; "Vereações (1744-53)", fl. 6 vº, acórdão de 13 de agosto de 1744. in MENESES, Avelino de Freitas de. Estudos de História dos Açores (vol. II). Ponta Delgada (Açores): Jornal de Cultura, 1995. p. 174.
  13. Arquivo Municipal da Madalena, "Vereações (1754-64)", fl. 139-139vº. in MENESES, Avelino de Freitas de. Estudos de História dos Açores (vol. II). Ponta Delgada (Açores): Jornal de Cultura, 1995. p. 174.
  14. BASTOS, 1997:270.

Bibliografia editar

  • BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que se achão ao prezente inteiramente abandonados, e que nenhuma utilidade tem para a defeza do Pais, com declaração d'aquelles que se podem desde ja desprezar." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 267-271.
  • CASTELO BRANCO, António do Couto de; FERRÃO, António de Novais. "Memorias militares, pertencentes ao serviço da guerra assim terrestre como maritima, em que se contém as obrigações dos officiaes de infantaria, cavallaria, artilharia e engenheiros; insignias que lhe tocam trazer; a fórma de compôr e conservar o campo; o modo de expugnar e defender as praças, etc.". Amesterdão, 1719. 358 p. (tomo I p. 300-306) in Arquivo dos Açores, vol. IV (ed. fac-similada de 1882). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 178-181.
  • MACHADO, Francisco Xavier. "Revista aos Fortes das Ilhas do Faial e Pico (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LVI, 1998.
  • MENESES, Avelino de Freitas de. Estudos de História dos Açores (vol. II). Ponta Delgada (Açores): Jornal de Cultura, 1995. 332p.
  • NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Artur Teodoro (coord.). "Documentação sobre as Fortificações dos Açores existentes nos Arquivos de Lisboa – Catálogo". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. L, 1992.
  • VIEIRA, Alberto. "Da poliorcética à fortificação nos Açores: Introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.

Ver também editar

Ligações externas editar