Forte do Corpo Santo (Santa Cruz da Graciosa)

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O Forte do Corpo Santo, também referido como Fortim da Calheta, Forte da Ponta do Freire ou simplesmente Forte do Freire, localiza-se na ponta do Freire, na vila e freguesia de Santa Cruz, concelho de Santa Cruz da Graciosa, na ilha Graciosa, nos Açores.

Forte do Corpo Santo, Santa Cruz da Graciosa.

Em posição dominante sobre este trecho do litoral, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa do antigo ancoradouro da vila contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico.

História editar

No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714) encontra-se referido como "O Forte do Corpo Santo." na relação "Fortificações nos Açores existentes em 1710".[1]

Pode ser um dos dois fortes referidos na vila de Santa Cruz em 1738:

"(...) ajunto do porto barra aonde entram navios pequenos e fora da barra podem emquorar os navios que quizerem de alto bordo e 30 e 40 brasas de fundo, tem dois fortes com artilharia nas duas pontas do dito porto da barra e perto do portam [da vila] tem artilharia que se fecha o dito portam no veram (...)."[2]

A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862, assinala que "Tem uma caza arruinada." e indica que se encontra entre os fortes na ilha "Incapazes desde muitos annos."[3]

Encontra-se relacionado no "Catálogo provisório" em 1884, que informa: "No logar da Villa de Sta. Cruz, do mesmo nome do fórte onde ha um desembarcadouro pedregoso. Com quanto em máo estado e a casa é fechado e serve de fazer as honras do porto só com bandeira."[4]

O mesmo autor, em sua "Memória descriptiva" ao final do século XIX detalhou a informação:

"Capitulo 1.º– Descripção e historia da propriedade
Na Villa e concelho de S.ta Cruz da Ilha Graciosa, districto administrativo de Angra do Heroismo, e que constitui o commando central militar dos Açôres, e no logar chamado do Corpo Santo ha uma bahia ou enseada para a defeza da qual se construio o Forte denominado do Corpo Santo. (...) É de forma exagonal, e montava 9 boccas de fogo como se vê da respectiva planta. Tinha no seu recinto uma pequena casa, e da qual só existem as paredes. Não ha monumentos certos da sua edificação, mas parece que já existia quando em 1710 o general Couto Castello-Branco inspeccionou as fortificações açorianas, segundo o Archivo dos Açôres.(a) Pertence á freguesia e Commarca de Sta. Cruz.
Capitulo 2.º– Condicções de construcção
As muralhas que olham ao mar foram construidas de basalto e tufo argamassado, o que lhe dava garantias de alguma solidez; porem a da góla é uma parede e que tem resistido por não ser batida pelo mar e estar abrigada pelas casas que lhe ficam proximas.
Capitulo 3.º– Estado de conservação
Está em pessimo estado, faltando-lhe parte do lagêdo que guarnecia as muralhas, e o existente está solto tendo-lhe cahido a argamassa em que assentava. As muralhas interiormente estão damnificadas bastante bem como as canhoneiras. As casas só tem as paredes e estas em máo estado. O fórte ainda se conserva fechado com um máo portão.
Capitulo 4.º– Fim a que foi destinado e qual a sua actual applicação
A defender o desembarque no porto da Villa. Actualmente está desartilhado, e conserva um portão ainda que máo por haver ali um páo de bandeira para se arvorar esta quando ali passam navios de guerra, etc. Está a cargo do commandante militar da Ilha.
(...)
Quartel em Angra do Heroismo, 20 de junho de 1885.
Damião Freire de Bettencourt Pego C.el em comm.ão

Atualmente encontra-se em bom estado de conservação, e alberga um farolim e as instalações da Polícia Marítima.

Características editar

Fortificação abaluartada de pequenas dimensões, apresenta planta quadrangular. Eguida em alvenaria de pedra à vista, grosseiramente aparelhada, apresenta as juntas rebocadas e caiadas na parte superior da face interna.

No ângulo dos dois panos centrais ergue-se uma guarita de planta octogonal, recoberta por cúpula também octogonal.

Na passagem da parte inclinada para a parte superior, de faces verticais, ameada, desenvolve-se um "cordão".

No pano de muralha voltado a leste abrem-se três canhoneiras. Nos demais lados, apenas duas em cada um.

Referências

  1. "Fortificações nos Açores existentes em 1710" in Arquivo dos Açores, p. 180. Consultado em 8 dez 2011.
  2. PICANÇO, 1982:386.
  3. BASTOS, 1997:269.
  4. PEGO, 1997:263.

Bibliografia editar

  • BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que se achão ao prezente inteiramente abandonados, e que nenhuma utilidade tem para a defeza do Pais, com declaração d'aquelles que se podem desde ja desprezar." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 267-271.
  • CASTELO BRANCO, António do Couto de; FERRÃO, António de Novais. "Memorias militares, pertencentes ao serviço da guerra assim terrestre como maritima, em que se contém as obrigações dos officiaes de infantaria, cavallaria, artilharia e engenheiros; insignias que lhe tocam trazer; a fórma de compôr e conservar o campo; o modo de expugnar e defender as praças, etc.". Amesterdão, 1719. 358 p. (tomo I pp. 300–306) in Arquivo dos Açores, vol. IV. p. 178-181.
  • PEGO, Damião. "Catalogo provisorio dos edificios, fortificações e terrenos pertencentes ao Ministério da Guerra – Propriedades na posse do Ministério da Guerra - Concelho reunido de Sta. Cruz e Praia". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 263-265.
  • PEGO, Damião. "Tombos dos Fortes das Ilhas do Faial, São Jorge e Graciosa". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LVI, 1998.
  • PICANÇO, Pedro Correia. "Relaçam da Ilha Graciosa". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XL, 1982, p. 382-396.
  • SOUSA, João Soares de Albergaria de. Corografia Açórica: Descrição Física, Política e Histórica dos Açores. Ponta Delgada (Açores): Jornal de Cultura, 1995. 142p. ISBN 972-755-013-4
  • VIEIRA, Alberto. "Da poliorcética à fortificação nos Açores – Introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.
  • Santa Cruz - Graciosa - Inventário do Património Imóvel dos Açores. s.l.: Direcção Regional da Cultura; Instituto Açoriano de Cultura; Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, 2010. 301p. fotos, mapas. ISBN 978-972-647-243-8

Ver também editar

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