Forte do Espírito Santo (Calheta)

O Forte do Espírito Santo, também referido como Forte do Santo Espírito,[1] localizava-se na freguesia da Calheta, no concelho de mesmo nome, na costa sul da ilha de São Jorge, nos Açores.

Calheta, ilha de São Jorge: vista do porto.

Em posição dominante sobre este trecho do litoral, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa deste ancoradouro contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico. Cooperava com os fortes de Forte de Santo António e de São João Baptista.

História editar

Concomitantemente à fortificação das Velas, também este terá sido erguido no contexto da Dinastia Filipina, como reduto integrante da fortificação do porto da Calheta.[2] A sua traça dever-se-á ao capitão Marcos Fernandes de Teive oficial que, por ordem régia, visitou todas as ilhas do arquipélago na Primavera e Verão de 1618 para projetar e ativar todas as fortificações necessárias, assim como para reorganizar as milícias.[3]

REZENDES (2009) atribui-lhe a data de construção como 1664, no contexto da Guerra da Restauração da independência do país.

No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714) terá sido arruinado pelo ataque dos corsários franceses de René Duguay-Trouin que, em setembro de 1708 saquearam as Velas.[4] Pode ser uma das estruturas que se encontram referidas genericamente como "Os quatro Redutos do Porto da Calheta." na relação "Fortificações nos Açores existentes em 1710".[5] Em 1714 foi recuperado e ampliado por António Pereira Lopes, momento em que lhe foram rasgadas canhoneiras nas três faces.[4]

Foi arruinado pelo grande terramoto de 9 de julho de 1757, o chamado "Mandado de Deus", que devastou a ilha. Posteriormente recuperado, em 1776 estaria artilhado com dez peças.[4]

Em 1816 encontrava-se em condições de combater.[4]

Em 1839 registou-se a tentativa de arrematação do forte, então constituído pelo terrapleno e a Casa da Pólvora.[4]

A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 informa que se encontrava em grande ruína e abandonado desde longos anos.[6]

Data de 1876 um auto de entrega provisório, no qual a Câmara Municipal da Calheta reclamava os seus direitos sobre o imóvel. Havia então o projeto de em seu espaço implantar-se um mercado.[4]

O Tombo de 1883 encontrou-o em ruínas, mas passível de ser recuperado.[7]

Desaparecido, em 1938 o terreno foi entregue ao Ministério das Finanças.[4]

O episódio da "Arcona" editar

No contexto da guerra Franco-Prussiana, em 18 de agosto de 1870 fundeou na Calheta a corveta do Império Alemão "Arcona". Vinha em fuga do encouraçado francês "Mont Calm", que a perseguia desde a altura da Vila do Topo. O comandante da corveta, barão de Schleinitz, recordou às autoridades portuguesas naquele ancoradouro a necessidade de fazer respeitar o Direito marítimo internacional, assegurando a proteção dentro do espaço de 3 milhas náuticas a partir da linha de costa. Como resposta, a autoridade do concelho de Velas informou-o por escrito: "(...) abundo em boa vontade de prestar-lhe os meus serviços, (...) podendo empregar no vosso serviço os meios ao meu alcance", mas "(...) estou inteiramente falho de meios", restando-me como arma de guerra apenas a "persuasão"...

No dia seguinte, assim que teve oportunidade, a corveta zarpou a toda a velocidade, em busca de melhor segurança.

Ao final do conflito, o Império Alemão, vitorioso, ofereceu a Portugal seis peças de artilharia que guarnecessem a fortificação de São Jorge e evitar que a sua falta fosse impeditivo do cumprimento da lei. Essas peças terão sido efetivamente instaladas, porém no Castelo de São Jorge, em Lisboa.[8]

Características editar

Do tipo abaluartado, de pequenas dimensões, apresentava planta trapezoidal. Em duas de suas faces rasgavam-se quatro canhoneiras.

Referências

  1. PEREIRA, 1987:128.
  2. Op. cit., p. 131.
  3. Op. cit., p. 129.
  4. a b c d e f g REZENDES, 2009. Consultado em 20 dez 2011.
  5. "Fortificações nos Açores existentes em 1710" in Arquivo dos Açores, p. 180. Consultado em 8 dez 2011.
  6. BASTOS, 1997:267.
  7. PEGO, 1998.
  8. AVELLAR, 1902:243-245.

Bibliografia editar

  • AVELLAR, José Cândido da Silveira. Ilha de São Jorge (Açores): Apontamentos para a sua História. Horta (Açores): Tipografia Minerva Insulana, 1902.
  • BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que se achão ao prezente inteiramente abandonados, e que nenhuma utilidade tem para a defeza do Pais, com declaração d'aquelles que se podem desde ja desprezar." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 267-271.
  • CASTELO BRANCO, António do Couto de; FERRÃO, António de Novais. "Memorias militares, pertencentes ao serviço da guerra assim terrestre como maritima, em que se contém as obrigações dos officiaes de infantaria, cavallaria, artilharia e engenheiros; insignias que lhe tocam trazer; a fórma de compôr e conservar o campo; o modo de expugnar e defender as praças, etc.". Amesterdão, 1719. 358 p. (tomo I p. 300-306) in Arquivo dos Açores, vol. IV (ed. fac-similada de 1882). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 178-181.
  • NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Artur Teodoro de (coord.). "Documentação Sobre as Fortificações Dos Açores Existentes dos Arquivos de Lisboa – Catálogo". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. L, 1992.
  • PEGO, Damião. "Tombos dos Fortes das Ilhas do Faial, São Jorge e Graciosa (Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LVI, 1998.
  • PEREIRA, António dos Santos. A Ilha de São Jorge (séculos XV-XVIII): contribuição para o seu estudo. Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1987. 628p. mapas, tabelas, gráficos.
  • VIEIRA, Alberto. "Da poliorcética à fortificação nos Açores: Introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.
  • S. Jorge/Açores: Guia do Património Cultural. s.l.: Atlantic View - Actividades Turísticas, Lda, 2003. ISBN 972-96057-2-6 168p. fotos cor, mapas. p. 69.

Ver também editar

Ligações externas editar