Francisco de Moura Corte-Real

diplomata espanhol

Francisco de Moura Corte Real (Madrid, 13 de dezembro de 1621 — Madrid, 26 de novembro de 1675), por vezes referido como Francisco de Moura Corterreal y Melo, 4.º conde de Lumiares, 3.º marquês de Castelo Rodrigo e 1.º duque de Nocera,[1] foi um aristocrata de origem portuguesa, que, para além de diplomata, serviu como vice-rei da Sardenha, vice-rei da Catalunha e governador-geral dos Países Baixos Espanhóis.[2][1]

Francisco de Moura Corte-Real
Francisco de Moura Corte-Real
Retrato de Francisco de Moura Corte-Real por François Duchatel, Madeira, Museu da Quinta das Cruzes.
Nascimento 13 de dezembro de 1621
Madrid
Morte 26 de novembro de 1675
Madrid
Cidadania Espanha, Reino de Portugal
Progenitores
Cônjuge Ana Maria Moncada
Filho(a)(s) Leonor de Moura y de Aragón, Joana de Moura Corte Real y Moncada
Ocupação aristocrata, diplomata
Título Marquês de Castelo Rodrigo
Religião Igreja Católica
Francisco de Moura na Paz de Vestfália (gravação de Anselm van Hulle para Les hommes illustres, Antuérpia, 1648, um repertório de retratos dos assistentes às conferências de Münster e Osnabrück).
Territórios obtidos pela França em resultado da vitória na Guerra de Devolução, conforme plasmados na Paz de Aix-la-Chapelle de 1668.

Biografia editar

Francisco de Moura Corte-Real nasceu em Madrid, filho do fidalgo português Manuel de Moura Corte-Real, o 2.º marquês de Castelo Rodrigo, embaixador junto da Santa Sé e da corte imperial de Viena, governador-geral dos Países Baixos Espanhóis entre 1644 e 1647, e de sua esposa D. Leonor de Melo. Membro da família Corte-Real, foi gentil-homem da câmara de Filipe IV da Espanha, posteriormente membro do seu conselho de estado e embaixador em Viena em 1647.

Em 1649, Francisco de Moura solicitou à corte de Madrid uma indemnização de 150 000 ducados para cobrir as perdas causadas pela Revolta da Flandres. O rei concedeu-lhe o solicitado nas rendas do ducado napolitano de Nocera Inferiore, com o título de duque de Nocera (título por vezes grafado em português e espanhol como duque de Nochera), sito nas terras de Nocera dei Pagani, a sueste de Nápoles. Como as rendas do ducado estavam avaliadas em 223 000 ducados, valor superior ao concedido, o Tesouro Real exigiu do Marquês a devolução dos 73 000 ducados de diferença. A exigência iniciou negociações que se estenderam para além da peste de 1656, que afectou seriamente a cidade de Nocera, cujo valor se depreciou consideravelmente. Uma nova estimativa colocou o valor do ducado em 163 000 ducados. Compensada a diferença, Francisco de Moura Corte-Real foi nomeado, em 10 de agosto de 1656, duque de Nocera. A casa de Castelo Rodrigo viria a governar a cidade de Nocera até 1707. D. Francisco de Moura Corte-Real tornou-se no VII duque de Nocera sem jamais pisar na cidade, que era administrada através de um governador. Embora nunca o tivessem visto, quando faleceu a população de Nocera realizou exéquias solenes na Catedral de San Prisco da cidade. Além disso, as igrejas da cidade celebraram missas cantadas e os sinos dobraram aos defuntos durante três dias.

Enquanto embaixador em Viena participou nas negociações visando encontrar uma posição europeia quanto ao Império Otomano e à sua relação com a República de Veneza. Em 1652, aquando das celebrações em Viena do nascimento da princesa Margarida Teresa de Áustria, o aventureiro, diplomata e compositor Alberto Vimina (pseudónimo de Michele Bianchi), ligado aos interesses diplomáticos venezianos no leste europeu, dedicou-lhe uma ópera intitulada La gara (A competição).

Com o falecimento deste, em 1652 sucedeu a seu pai nos títulos em Espanha e Itália. Apesar das capitanias açorianas terem sido entregues ao ramo da família representada pelos condes de Vimioso, ainda assim Francisco de Moura Corte-Real, e os seus descendentes, intitulavam-se «Terrae Novae dominus, gubernator et capitaneus generalis hoereditarius Insularum Tercerarum, Sancti Georgy, Fayali et Pici [...]», ou seja «Senhores da Terra Nova, governador e capitão-general hereditário da ilha Terceira, de São Jorge, do Faial e do Pico [...]»

Serviu como vice-rei da Sardenha, entre 1657 e 1661, vice-rei da Catalunha, de de 1664 a 1665, e governador-geral dos Países Baixos Espanhóis entre 1664 e 1668.[1]

Nomeado em 1664 Governador-Geral dos Países Baixos Espanhóis, partiu para a Flandres com ordens de reforçar o exército, muito minguado após a Paz dos Pirenéus, mas quase sem meios para o conseguir, devido à falta de ajuda financeira e à dificuldade em recrutar soldados na Península Ibérica.[3] Sem a ajuda de Espanha, Francisco de Moura Castelo Rodrigo reforçou o seu exército com tropas imperiais licenciadas após a paz estabelecida entre o Sacro Império Romano-Germânico e os turcos do Império Otomano, embora as tropas disponibilizadas não fossem suficientes para proteger as províncias face à temida invasão francesa.[4] Apesar de seus repetidos pedidos à corte de Madrid, esta, envolvida na luta para reconquistar Portugal, não enviou qualquer soldado entre 1663 e 1665.[5] Privado de soldados espanhóis e italianos, o marquês teve que recorrer a tropas alemãs e valãs e em 1666 foi mesmo forçado a contratou mercenários ao vizinho Bispado de Münster, inimigo da França.[5] Apesar de seus esforços para melhorar a defesa do território flamengo, durante o seu governo, os Países Baixos Espanhóis sofreram uma invasão francesa no contexto da Guerra de Devolução. Como ao tempo a Espanha estava tão fraca que pouca resistência poderia oferecer ao ataque francês, estes consideravam o ataque «une promenade militaire», e na verdade a invasão de 1667-1668 foi realmente quase um «passeio militar» para o exército para o francês.[6]

Moura foi posteriormente nomeado para o cargo palatino de caballerizo mayor do rei, funções que desempenhou de 1669 até falecer em 1675.

Faleceu em Madrid, na sua villa de la Florida, em 26 de novembro de 1675. Por não ter deixado filho varão, a sucessão dos seus título e bens recaíu sobre a sua filha primogénita Leonor de Moura (c. 1650-1706), esposa do vice-rei da Sicília, Anielo de Guzmán (1641-1677).[7] Segundo a sua vontade, os seus restos mortais deveriam ter sido enterrados na capela o Mosteiro de São Bento de Lisboa, para a qual seu pai, Manuel de Moura Corte-Real, havia emcomendado um projecto a Francesco Borromini, nos tempos em que fora embaixador extraordinário de Filipe IV em Roma.[8][9] Contudo, estando a família considerada rebelde após a restauração da independência portuguesa, o rei de Portugal não aceitou receber os restos mortais de Francisco de Moura Corte Real, que permaneceram em Espanha.[10]

Relações familiares editar

Casou em Roma em 1639 com Ana María de Aragón Moncada y de la Cerda (1616-1651), com que teve duas filhas:

  1. Leonor de Moura y de Aragón, que sucedeu nos títulos de seu pai (mais conhecida por Eleonora de Moura).
  2. Juana de Moura y de Aragón, que sucedeu nos títulos de sua irmã em 1706.

Notas

  1. a b c Rodríguez Hernández 2007, p. 98.
  2. António Ornelas Mendes & Jorge Forjaz, Genealogias da Ilha Terceira, vol. III, pp. 490-491. DisLivro Histórica, Lisboa, 2007.
  3. Rodríguez Hernández 2007, p. 95.
  4. Rodríguez Hernández 2007, p. 97.
  5. a b Rodríguez Hernández 2007, p. 99.
  6. Rodríguez Hernández 2007, p. 174.
  7. «Anielo de Guzmán y Carafa, III conde de Lumiares, IV marquês de Castelo Rodrigo, II duque de Nocera». Consultado em 3 de fevereiro de 2016. Cópia arquivada em 5 de abril de 2016 
  8. Os espaços arquitectónicos do Mosteiro de São Bento da Saúde.
  9. São Bento dos Negros. Palacio de Mombello.Fuente: Mª Teresa Fdez. Talaya
  10. Anísio Franco, Retrato de um Sonhador, in Arte Ibérica, n. 33, Março 2000.

Bibliografia editar

  • Rodríguez Hernández, Antonio José (2007). España, Flandes y la Guerra de Devolución (1667-1668). Guerra, reclutamiento y movilización para el mantenimiento de los Países Bajos españoles (em espanhol). [S.l.]: Ministerio de Defensa. ISBN 978-84-9781-336-5 
  • Castro Pereira Mouzinho de Albuquerque e Cunha, Fernando de (1995). Instrumentário Genealógico - Linhagens Milenárias (em Portuguese). [S.l.: s.n.] pp. 329–30 
  • Costa Felgueiras Gaio, Manuel José da. Nobiliário das Famílias de Portugal (em Portuguese). VII. Portugal: Beltroens 
  • Hobbs, Nicolas (2007). «Grandes de España» (em espanhol). Consultado em 15 outubro 2008 
  • Sousa, Dom António Caetano de (1946). História Genealógica da Casa Real Portuguesa (em Portuguese). VI 2ª Edição ed. Coimbra, Portugal: Atlântida-Livraria Editora, Lda 
  • Instituto de Salazar y Castro. Elenco de Grandezas y Titulos Nobiliarios Españoles (em espanhol). periodic publication. [S.l.: s.n.] 

Ligações externas editar

Cargos governamentais
Precedido por:
Bernardo Matías de Cervelló
Vice-rei da Sardenha
1657–1661
Sucedido por:
Arcebispo de Cagliari
Precedido por:
Francisco de Orozco
Vice-rei da Catalunha
1663–1664
Sucedido por:
Vicente Gonzaga Doria
Precedido por:
Marquês de Caracena
Governador-Geral
dos Países Baixos Espanhóis

1664–1668
Sucedido por:
Duque de Frías
Nobreza de Portugal
Precedido por:
Manuel de Moura Corte-Real
Marquês de Castelo Rodrigo
1651–1675
Sucedido por:
Leonor de Moura
Precedido por:
Nuno de Moura Corte-Real
Conde de Lumiares
1651–1675
Sucedido por:
Leonor de Moura
Nobreza da Itália
Precedido por:
Francesco Maria Domenico Carafa
Duque de Nocera
1656–1675
Sucedido por:
Leonor de Moura