Galvez - Imperador do Acre

Galvez, Imperador do Acre [1] [2] [3] é um romance escrito por Márcio Souza, jornalista, dramaturgo, editor, roteirista e romancista amazonense.

O romance começou a ser escrito em 1966/68 e o propósito do autor era redigir um roteiro cinematográfico, com idas e vindas, o texto somente foi publicado em 1976, marcando o início da carreira literária do artista e conferindo-lhe o prêmio de escritor revelação da Associação Paulista de Críticos de Arte.[4]

Segundo a crítica, Galvez, Imperador do Acre é uma obra herdeira da estética fragmentária adotada pelo escritor modernista Oswald de Andrade, com cenas descontínuas, simultâneas, em uma espécie de linguagem telegráfica, que remete justamente ao roteiro de um filme, mesclando ainda a paródia, a sátira [5] e a alegoria, que se achavam em voga nos anos 1960 e 1970.

Há registros que o romance teria gerado polêmica na região, porque as autoridades, de um modo geral, consideraram um desrespeito à História oficial. Não se observando, naquela ocasião, contudo, que existia uma nota introdutória do próprio autor chamando atenção para o caráter ficcional da obra.[6]

Galvez, Imperador do Acre foi indicado como leitura obrigatória para o vestibular da Universidade de Rondônia, em sua edição de 2011 [7], e para o vestibular da Universidade Federal de Roraima, conforme consta no Manual do Candidato 2015 [8], disponível na página virtual da universidade. Os governos dos estados do Norte do país, como é o caso do Amazonas, costumam investir na divulgação da obra, distribuindo-a para as escolas públicas regularmente. [9]

O cineasta Hector Babenco, ao falecer em 2016, deixou pronto o roteiro do filme Galvez, Imperador do Acre, baseado no romance homônimo.[10] A obra romanesca de Márcio Souza foi levada ao palco por Carlos Canhameiro [11], com a participação de artistas como Ana Carolina Godoy, Fabricio Licursi, Mariana Goulart, entre outros. [12] [13]

Síntese narrativa editar

A base para a narrativa é um acontecimento histórico: a anexação do Acre [14], no final do século XIX, e toma como ponto de partida a figura de Luis Gálvez Rodríguez de Arias (1864-1935), aventureiro espanhol, que se envolveu nas disputas de fronteiras, que eram cobiçadas por brasileiros e bolivianos, mas também por estadounidenses. [15]

Galvez [16] nascera na Espanha em 1864, viveu na Itália, na Argentina e no Brasil. Em 14 de julho de 1899, teria proclamado a independência política do Acre [17], numa homenagem aos 110 anos da Queda da Bastilha [18]. “Galvez idealizou um país moderno para aquela época, com preocupações sociais, de meio ambiente e urbanísticas. Obtendo com isso uma significativa aprovação da sociedade local. Tanto assim que, após ter sido deposto pelo seringalista Antonio de Souza Braga, que se recusava a cumprir o bloqueio do envio da borracha para Manaus, em 01 de janeiro de 1900, foi recolocado no cargo de Presidente do Acre, apenas 30 dias depois, pelo mesmo seringalista, que reconheceu a excelência do trabalho que o espanhol vinha desenvolvendo a frente da Republica acreana.”[19]

Na narrativa, misturam-se a pesquisa histórica sobre o passado, que busca inserir o universo amazônico na literatura nacional contemporânea, com um projeto ficcional arrojado e moderno. A história abre-se com um “aviso” feito um narrador, que se apresenta como editor da obra, o qual informa ter encontrado os manuscritos do que será contado em um sebo na capital francesa, Paris. Ele declara que se interessou pela história, pelo seu tom picaresco e que decidiu publicar o volume, que traz as memórias de Galvez, que as teria escrito, depois de idoso.[20]

Desde o início, com a "intromissão" do narrador-editor, o leitor tem ciência que se deparará com dois narradores: um narrador, autor das memórias, aquele que conta as suas aventuras no norte do Brasil, no final do século XIX, e o narrador-editor, que se introduz na história, faz correções e, por vezes, até mesmo toma a liberdade de exagerar em algumas passagens narrativas. Trata-se, neste caso, de um artifício para criar a impressão de veracidade dos fatos contados e que, ao mesmo tempo, retira a responsabilidade daquele que escreve, seguindo a ideia dos poetas da antiga Grécia, que evocavam as musas para falarem por eles.

Depois de ter fugido da Espanha, passando por Roma e Buenos Aires, Galvez [21] teria chegado a Belém, onde se envolveu com um grupo de conspiradores que pretendia libertar o estado Acre. Boa parte das peripécias do romance está centrada também nos casos amorosos de Galvez, que se assemelha ao clássico Don Juan.

A partir daí, a narrativa transita pelo interior da Amazônia, mesclando-se a cultura local, mas painéis interessantes, por exemplo, da Belle Époque em Manaus, apresentando-se, dessa forma, um clima de festa, sedução, erotismo e alegria. Ao final, Galvez é destituído do poder - o próprio narrador-editor já anunciara, no início da narrativa, que o protagonista morrera de velhice.

Referências

  1. Notícias, Conexão Boas (7 de abril de 2017). «Brasil literário: Mapa dos escritores mais importantes de cada Estado». Conexão Boas Notícias. Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  2. «Hoje começa a Série Clássicos Regionais na Quarta Literária :: MID Comunicação». m.manausimprensadigital.webnode.com.br. Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  3. «Mapa literário do Brasil». Superinteressante. Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  4. SILVA, Brenda Maris Scur. Galvez, Imperador do Acre. Resistência e Transgressão. 1998, 165 p. Dissertação (Mestrado em Letras). Universidade Católica de Pelotas. 1998. Disponível em http://pos.ucpel.edu.br/ppgl/wp-content/uploads/sites/4/2018/03/Galvez_Imperador_do_Acre-Brenda_da_Silva.pdf 07 de fevereiro de 2019.
  5. ROCHA, Rejane Cristina; SARMENTO-PANTOJA, Tania. "As mobilidades da sátira na metaficção historiográfica". Estudos de literatura brasileira contemporânea. Disponível em https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4845962 07 de fevereiro de 2019.
  6. DIMAS, Antonio. Literatura comentada. Márcio Souza. São Paulo: Abril Educação, 1982.
  7. «UNIR». unir.br. Consultado em 8 de fevereiro de 2019 
  8. «Página inicial». ufrr.br. Consultado em 8 de fevereiro de 2019 
  9. TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Governo do Estado do Amazonas. Secretaria de Estado de Educação. Remessa de material. Disponível em https://contas.tcu.gov.br/etcu/ObterDocumentoSisdoc?seAbrirDocNoBrowser=true&codArqCatalogado=2884447 07 de fevereiro de 2019.
  10. AdoroCinema. «Hector Babenco (1946 - 2016): Cineasta deixou dois roteiros inéditos prontos». AdoroCinema. Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  11. SP, © Sesc. «Carlos Canhameiro é destaque no Projeto Direções, em outubro». www.sescsp.org.br. Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  12. «GALVEZ, O IMPERADOR DO ACRE | Mariana Goulart». Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  13. «Folha de S.Paulo - Em "Galvez", Marcio Aurelio analisa as ignorâncias do país - 14/04/2005». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  14. «'Eu coloquei o Acre no mapa', afirma escritor Márcio Souza – Jornal A Gazeta». agazetadoacre.com. Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  15. ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. Galvez, Imperador do Acre. Disponível em http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra67616/galvez-imperador-do-acre 07 de fevereiro de 2019
  16. El Mundo. El español que fué presidente. Disponível em https://www.elmundo.es/cronica/2003/393/1051447609.html 07 de fevereiro de 2019.
  17. REVISTA ELETRÔNICA DO ACRE. Galvez e a República do Acre. Rio Branco, 1999. Disponível em www.ac.gov.br/revista_galvez 07 de fevereiro de 2019.
  18. Brasil Turismo. História do Acre. Disponível em http://www.brasil-turismo.com/acre/historia.htm 07 de fevereiro de 2019.
  19. Senador Jorge Viana. Nossos personagens: Luis Gálvez Rodríguez de Arias. Disponível em http://www.jorgeviana.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=98&Itemid=37 07 de fevereiro de 2019
  20. SANTOS, Maíra Bastos dos. Galvez, Imperador do Acre, de Marcio Souza. Um folhetim oficial da História do Brasil. 2009, 107 p. Tese. (Doutorado em Letras). Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2009. Disponível em http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2289/1/Maira%20Bastos%20dos%20Santos.pdf 07 de fevereiro de 2019.
  21. Oliveira (UEMS), Adriely Barbosa de (18 de maio de 2018). «O NEOPÍCARO NO PERSONAGEM LUIZ GALVEZ RODRIGUES DE ARIA, EM GALVEZ IMPERADOR DO ACRE». Macabéa - Revista Eletrônica do Netlli. 7 (1): 1–9–9. ISSN 2316-1663 

Ligações externas editar