Gambiarra

Solução improvisada para resolver um problema ou para remediar uma situação de emergência; remendo.

A palavra gambiarra (substantivo feminino) possui diversos significados, entre os quais os mais predominantes são extensão de luz e, no Brasil, como uma gíria para improvisação (que teria correspondência no termo "desenrascanço", utilizado em Portugal).[1][2] Entre outros significados, destacam-se ramificação de luzes[3], ligação fraudulenta; gato[4] e relação extraconjugal[5]. O termo costuma ser usado também como adjetivo, significando precário, feio, tosco, ou mal-acabado.

Exemplo de gambiarra (improviso): Funil improvisado com guardanapo
Exemplo de gambiarra (improviso): suporte para planilha e porta-objetos em bicicleta
Exemplo de gambiarra (improviso): artefato de rápido recolhimento para vendedor ambulante

Além dos significados citados acima, utiliza-se esta palavra para definir um acessório de iluminação num teatro (Luzes da Ribalta), conjunto de lâmpadas montadas na ribalta do teatro para assegurar a iluminação frontal da cena e reduzir sombras indesejadas. A gambiarra também serve para que os artistas não percam a concentração durante o espetáculo, pois as luzes da ribalta encobrem a plateia.

A gambiarra é objeto de estudos recentes elaborados na área de arquitetura, arte, urbanismo e design, em particular a tese de Boufleur (2013[6]).

Improviso editar

No sentido de improviso ou improvisação, gambiarra é o próprio ato de constituir uma solução improvisada. No contexto da cultura material, "gambiarra é o procedimento necessário para a configuração de um artefato improvisado. A prática da gambiarra envolve sempre uma intervenção alternativa, o que também poderíamos definir como uma "técnica" de re-apropriação material: uma maneira de usar ou constituir artefatos, através de uma atitude de diferenciação, improvisação, adaptação, ajuste, transformação ou adequação necessária sobre um recurso material disponível, muitas vezes com o objetivo de solucionar uma necessidade específica. Podemos compreender tal atitude como um raciocínio projetivo imediato, determinado pela circunstância momentânea". Como processo, a gambiarra pode ser considerada uma forma alternativa de design. "O uso informal do termo [como improviso] denota uma propensão cultural relacionada ao que se costuma chamar de jeitinho brasileiro. É uma manifestação não exclusiva, porém típica e muito presente na cultura popular brasileira."[7]

Etimologia editar

O termo tem etimologia de origem incerta. No entanto, conforme Antenor Nascentes, o termo pode ter sido uma derivação de gâmbia, vocábulo emprestado do italiano gamba, que significa perna. O sufixo -arra tem sentido aumentativo, por vezes depreciativo.[8] Deste modo, Antenor levanta a hipótese de que a relação de perna com gambiarra seria "[…] porque a luz dá nas pernas dos atores?"[9]

Arquitetura editar

Em teatros, série de lâmpadas cobertas, suspensas acima da ribalta, dando um efeito especial a iluminação da cena. Por extensão, sistema de iluminação formado por uma ou várias lâmpadas enfileiradas sustentadas por um único suporte horizontal, em geral, um vergalhão. É usada principalmente para iluminação provisória do estaleiro de obras; quando constituída por uma só lâmpada é comumente utilizada para iluminar locais de difícil acesso que necessitem ser trabalhados.[10]

Programação editar

Na programação, gambiarra é uma maneira paliativa (e criativa) de resolver um problema ou corrigir um sistema de forma ineficiente, deselegante ou incompreensível, porém funcional. Por exemplo:

Este é um código que imprime na tela a repetição da frase "Hello world!" 5 vezes utilizando-se para isto de um laço para controlar:

#include <stdio.h>
int main (void) {
    int i;
    for (i=0; i<5; i++) {
        printf("Hello world!");
    }
    return 0;
}

Este é um código que imprime na tela a repetição da frase "Hello world" 5 vezes, porém utilizando-se de gambiarra para obter o resultado:

#include <stdio.h>
int main (void) {
    printf("Hello world!");
    printf("Hello world!");
    printf("Hello world!");
    printf("Hello world!");
    printf("Hello world!");

    return 0;
}


Música editar

No domínio musical, o termo é usado principalmente na área de construção de instrumentos eletrônicos e uso de tenologias várias para a geração sonora, com possível interação com outras fontes e sistemas de mídia e eletromecânicos. A tese de doutorado de Giuliano Obici [11](Obici, 2014) parte da constatação de que a gambiarra seja o ponto de encontro da música experimental e da arte sonora brasileira, portanto um fenômeno específico deste país. Tal argumento parte de uma descrição das características gerais da gambiarra, relacionando-a com aspectos culturais globais e locais. O trabalho apresenta a formulação de uma ferramenta de análise que busca evidenciar regimes do sonoro quanto ao uso de materiais e dispositivos técnicos.

Outros editar

O termo é utilizado em diversas áreas profissionais como informática, programação,[a] design eletrônica, engenharia civil, cinema, teatro, artes plásticas, arquitetura, geralmente se referindo a soluções improvisadas, adaptações, ajustes, muitas vezes como uma solução que não se utiliza de métodos, plano ou projeto. A gambiarra é muitas vezes entendida de forma pejorativa como algo em condições precárias, provisório, transitório, mal-acabado ou rústico.

Notas e referências

Notas

  1. Em contexto de desenvolvimento, a gambiarra muitas vezes é a única solução para um problema que não poderia ser resolvido da maneira adequada, frequentemente por causa de limitações técnicas insuperáveis. Nesse contexto, a gambiarra não é visto como algo pejorativo e precário, mas sim uma solução criativa para um problema sem solução aparente.

Referências

  1. «GAMBIARRA - Dicionário Online Priberam de Português». Dicionário Priberam. Consultado em 17 de setembro de 2021 
  2. «Desenrascanço». Dicio. Consultado em 17 de setembro de 2021 
  3. Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda (1999). Aurélio século XXI : o dicionário da língua portuguesa. Margarida dos Anjos, Marina Baird Ferreira 3 ed. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Editora Nova Fronteira. ISBN 9788520910108. OCLC 43720493 
  4. Houaiss, Antônio (2009). Dicionário Houaiss da língua portuguesa 1 ed. Rio de Janeiro: Objetiva. ISBN 978-8573029635. OCLC 429917355 
  5. Navarro, Fred (2013). Dicionário do nordeste. Recife, PE [Brazil]: Cepe. ISBN 978-8578581381. OCLC 892121154 
  6. Boufleur, Rodrigo (2013). Fundamentos da gambiarra: a improvisação utilitária contemporânea e seu contexto socioeconômico. São Paulo: tese de doutorado na FAU-USP 
  7. Boufleur, Rodrigo Naumann (29 de setembro de 2006). «A questão da gambiarra: formas alternativas de desenvolver artefatos e suas relações com o design de produtos». Consultado em 17 de setembro de 2021 
  8. «-arra». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  9. Rodrigues, Sérgio. «A obscura origem da 'gambiarra'» . VEJA. Consultado em 11 de outubro de 2023. Cópia arquivada em 5 de fevereiro de 2022 
  10. Ching, Frank (2010). Dicionário Visual de Arquitetura. Julio Fischer 2 ed. São Paulo: WMF Martins Fontes. p. 286. ISBN 978-8578272500. OCLC 742250946 
  11. Obici, Giuliano Lamberti (2014). Gambiarra e Experimentalismo Sonoro. São Paulo: ECA-USP 

Ligações externas editar