Grande Prêmio da África do Sul de 1970

Resultados do Grande Prêmio da África do Sul de Fórmula 1 realizado em Kyalami em 7 de março de 1970.[1] Primeira etapa da temporada, nele o australiano Jack Brabham conquistou a décima quarta e última vitória de sua carreira pela Brabham-Ford com Denny Hulme em segundo na McLaren-Ford e Jackie Stewart em terceiro na March-Ford.[2][3][nota 2]

Grande Prêmio da África do Sul
de Fórmula 1 de 1970

Quarto GP da África do Sul em Kyalami
Detalhes da corrida
Categoria Fórmula 1
Data 7 de março de 1970
Nome oficial Fourth AA Grand Prix of South Africa[nota 1]
Local Kyalami, Midrand, Província de Gauteng, África do Sul
Percurso 4.104 km
Total 80 voltas / 328.320 km
Condições do tempo Muito quente, seco
Pole
Piloto
Reino Unido Jackie Stewart March-Ford
Tempo 1:19.3
Volta mais rápida
Piloto
Reino Unido John Surtees
Austrália Jack Brabham
McLaren-Ford
Brabham-Ford
Tempo 1:20.8 (na volta 6 e depois na 71)
Pódio
Primeiro
Austrália Jack Brabham Brabham-Ford
Segundo
Nova Zelândia Denny Hulme Brabham-Ford
Terceiro
Reino Unido Jackie Stewart March-Ford

Resumo editar

Surge a March editar

Fundada por Max Mosley, Alan Rees, Graham Coaker e Robin Herd em 1969, a March[nota 3] estreou como equipe de Fórmula 1 na África do Sul de 1970 sob os cuidados de Chris Amon e Jo Siffert, evento que não impediu o referido construtor de fornecer carros para a equipe de Ken Tyrrell, patrão de Jackie Stewart e Johnny Servoz-Gavin,[4] bem como vender um bólido para a gigante petrolífera STP e com ele Mario Andretti regressou à Fórmula 1, onde disputou três corridas em 1969. Nesse mesmo ano o norte-americano venceu as 500 Milhas de Indianápolis[5] e meses depois conquistou pela terceira vez título do certame organizado pelo United States Auto Club.[nota 4]

Vinculado à Matra desde 1966, Ken Tyrrell escolheu a March como fornecedora de chassis após desentender-se com os franceses quanto ao uso dos motores V12, motivo pelo qual a Matra International, nome sob o qual a Tyrrell Racing Organisation competiu em 1968 e 1969, foi extinta.[6] Em consequência do distrato a Equipe Matra Sports foi restaurada tendo Jean-Pierre Beltoise e Henri Pescarolo como seus pilotos.[nota 5]

Graham Hill retorna editar

Na seara de pilotos e equipes Jacky Ickx voltou para a Ferrari e Pedro Rodríguez para a BRM enquanto a Brabham trouxe o BT33 a ser guiado por Rolf Stommelen (sob o patrocínio da Auto Motor und Sport) enquanto o bólido de Jack Brabham teria o azul turquesa e o amarelo como suas cores.[6] Quem não pôde estrear seu novo carro foi a Lotus, obrigada a continuar com o Lotus 49 até o novo Lotus 72 ficar pronto. Dona do novo M14A, a McLaren seria mais uma vez representada por Bruce McLaren e Denny Hulme, bem como por John Surtees, pois o campeão mundial de 1964 usaria um modelo McLaren M7C de especificação antiga como embrião sua própria equipe, a Surtees Racing Organisation. Por outro lado, Piers Courage defenderia a Frank Williams Racing Cars a bordo de um chassi De Tomaso ao invés de recorrer aos carros antigos da Brabham.[6]

Em termos simbólicos nenhum retorno foi mais celebrado que o do bicampeão mundial Graham Hill, vítima de um grave acidente que fraturou suas pernas no Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1969.[7] Convalescente por cinco meses, voltou às pistas na etapa sul-africana a bordo de um Lotus 49C pertencente à Rob Walker Racing Team.

Treinos oficiais editar

Sem sombra de dúvida a March impressionou em Kyalami, pois o campeão mundial Jackie Stewart assegurou a pole position em mais um bom resultado para a equipe de Ken Tyrrell enquanto Chris Amon levou seu March de fábrica ao segundo lugar[8] adiante de Jack Brabham em seu novo carro. Stewart e Amon marcaram o mesmo tempo, contudo o britânico assegurou a posição de honra por ter ido à pista antes de seu rival neozelandês.[9] Jochen Rindt e Jacky Ickx compartilharam a segunda fila, enquanto a terceira contou com Denny Hulme, John Surtees e Jean-Pierre Beltoise.[10][6] Em sentido inverso Rolf Stommelen estreou discretamente na Fórmula 1 com sua Brabham, em vigésimo terceiro lugar.

Embora tenha sido apenas a terceira pole position na carreira de Jackie Stewart,[11] esta marca figura nos compêndios da Fórmula 1 graças a um fato: a March tornou-se a sexta equipe na história a obter a posição de honra em sua corrida de estreia, algo inédito desde John Surtees com uma Lola-Climax no Grande Prêmio dos Países Baixos de 1962.[12][13]

Vitória de Jack Brabham editar

Jackie Stewart fez valer a pole position e manteve o primeiro lugar, mas seu perseguidor imediato era Jacky Ickx graças a um entrevero causado por Rindt que relegou Amon às últimas posições e derrubou Brabham para o sexto lugar. Indócil, o tricampeão australiano ultrapassou Bruce McLaren, Jackie Oliver, Jean-Pierre Beltoise e Jacky Ickx subindo para a vice-liderança da prova em apenas seis voltas. Disposto a acelerar, Brabham reduziu paulatinamente sua desvantagem em relação a Stewart e na vigésima volta ultrapassou o campeão mundial de 1969 na reta dos boxes e dezoito giros mais tarde foi a vez de Denny Hulme superar Jackie Stewart e subir para o segundo lugar.[9]

Mesmo com a piora em seu rendimento, Stewart possuía confortabilíssima de quase um minuto em relação a Jean-Pierre Beltoise, o quarto colocado. Menos sorte tiveram John Surtees, Jacky Ickx e Jochen Rindt, membros da turma dos motores quebrados, e também Jackie Oliver, alijado por uma falha no câmbio.[6] Destes apenas Surtees teve algum consolo, pois na volta seis o mesmo assinalou a primeira volta mais rápida na história da McLaren, embora tenha sido a última na carreira do piloto.[14][15] Entretanto, a volúpia de Jack Brabham era tamanha que ele igualou o melhor giro do dia em Kyalami a nove voltas do fim da porfia. Administrando sua vantagem com sabedoria e disposto a comemorar uma vitória inédita desde o Grande Prêmio do Canadá de 1967, o australiano cruzou a linha de chegada oito segundos adiante de Denny Hulme com Jackie Stewart em terceiro lugar, compondo uma cena rara: um pódio formado apenas por pilotos que já foram campeões mundiais.[16][nota 6]

Em quarto lugar, Jean-Pierre Beltoise salvou a honra da Matra e foi o único entre os ponteiros a não possuir um motor Ford enquanto John Miles chegou em quinto lugar com a Lotus e marcou os únicos pontos de sua carreira, enquanto Graham Hill terminou na sexta posição, mas saudou este resultado como um dos melhores de sua carreira em razão de sua mobilidade reduzida após as extensas cirurgias a que foi submetido.[17] Terminada a corrida, ele não conseguiu sair sozinho do carro e por isso foi auxiliado por terceiros.[18]

Jack Brabham liderava o mundial de pilotos com 9 pontos, mesma contagem exibida pela Brabham no topo do mundial de construtores.[nota 7]

Classificação da prova editar

Grid de largada editar

Pos. Piloto Construtor Equipe Tempo Dif.
1 1   Jackie Stewart March-Ford Tyrrell Racing Organisation 1:19.3
2 15   Chris Amon March-Ford March Engineering 1:19.3 -
3 12   Jack Brabham Brabham-Ford Motor Racing Developments Ltd 1:19.6 + 0.3
4 9   Jochen Rindt Lotus-Ford Gold Leaf Team Lotus 1:19.9 + 0.6
5 17   Jacky Ickx Ferrari Scuderia Ferrari SpA SEFAC 1:20.0 + 0.7
6 6   Denny Hulme McLaren-Ford Bruce McLaren Motor Racing 1:20.1 + 0.8
7 7   John Surtees McLaren-Ford Team Surtees 1:20.2 + 0.9
8 3   Jean-Pierre Beltoise Matra Equipe Matra Elf 1:20.2 + 0.9
9 16   Jo Siffert March-Ford March Engineering 1:20.2 + 0.9
10 5   Bruce McLaren McLaren-Ford Bruce McLaren Motor Racing 1:20.3 + 1.0
11 8   Mario Andretti March-Ford STP Corporation 1:20.5 + 1.2
12 19   Jackie Oliver BRM Owen Racing Organisation 1:20.9 + 1.6
13 25   Dave Charlton Lotus-Ford Scuderia Scribante 1:20.9 + 1.6
14 10   John Miles Lotus-Ford Gold Leaf Team Lotus 1:21.0 + 1.7
15 14   Rolf Stommelen Brabham-Ford Auto Motor Und Sport 1:21.2 + 1.9
16 20   Pedro Rodríguez BRM Owen Racing Organisation 1:21.3 + 2.0
17 2   Johnny Servoz-Gavin March-Ford Tyrrell Racing Organisation 1:21.4 + 2.1
18 4   Henri Pescarolo Matra Equipe Matra Elf 1:21.5 + 2.2
19 11   Graham Hill Lotus-Ford Rob Walker Racing Team 1:21.6 + 2.3
20 22   Piers Courage De Tomaso-Ford Frank Williams Racing Cars 1:22.0 + 2.7
21 24   Peter de Klerk Brabham-Ford Team Gunston 1:22.7 + 3.4
22 23   John Love Lotus-Ford Team Gunston 1:23.1 + 3.8
23 21   George Eaton BRM Owen Racing Organisation 1:24.6 + 5.3
Fonte:[10]

Corrida editar

Pos Piloto Construtor Voltas Tempo/Diferença Grid Pontos
1 12   Jack Brabham Brabham-Ford 80 1:49:35.4 3 9
2 6   Denny Hulme McLaren-Ford 80 8.1 6 6
3 1   Jackie Stewart March-Ford 80 17.1 1 4
4 3   Jean-Pierre Beltoise Matra 80 + 1:13.1 8 3
5 10   John Miles Lotus-Ford 79 + 1 volta 14 2
6 11   Graham Hill Lotus-Ford 79 + 1 volta 19 1
7 4   Henri Pescarolo Matra 78 + 2 voltas 18
8 23   John Love Lotus-Ford 78 + 2 voltas 22
9 20   Pedro Rodríguez BRM 76 + 4 voltas 16
10 16   Jo Siffert March-Ford 75 + 5 voltas 9
11 24   Peter de Klerk Brabham-Ford 75 + 5 voltas 21
12 25   Dave Charlton Lotus-Ford 73 Motor 13
13 9   Jochen Rindt Lotus-Ford 72 Motor 4
Ret 17   Jacky Ickx Ferrari 60 Motor 5
Ret 7   John Surtees McLaren-Ford 60 Motor 7
Ret 21   George Eaton BRM 58 Motor 23
Ret 2   Johnny Servoz Gavin March-Ford 57 Motor 17
Ret 5   Bruce McLaren McLaren-Ford 39 Motor 10
Ret 22   Piers Courage De Tomaso-Ford 39 Acidente 20
Ret 8   Mario Andretti March-Ford 26 Superaquecimento 11
Ret 14   Rolf Stommelen Brabham-Ford 23 Motor 15
Ret 19   Jackie Oliver BRM 22 Câmbio 12
Ret 15   Chris Amon March-Ford 14 Superaquecimento 2
DNS 11   Brian Redman Lotus-Ford Carro cedido a Hill
Fonte:[1]

Tabela do campeonato após a corrida editar

  • Nota: Somente as primeiras cinco posições estão listadas. Em 1970 os pilotos computariam seis resultados nas sete primeiras corridas do ano e cinco nas últimas seis. Neste ponto esclarecemos: na tabela dos construtores figurava somente o melhor colocado dentre os carros de um time.

Notas

  1. O número real de provas realizadas sob o nome "Grande Prêmio da África do Sul" nem sempre reflete o número real das mesmas, informação inserida abaixo na caixa de sucessão.
  2. Voltas na liderança: Jackie Stewart 19 voltas (1-19); Jack Brabham 61 voltas (20-80).
  3. A March recebeu este nome graças a um acrônimo formado pelas iniciais de seus precursores ("M"osley, "A"lan "R"ees, "C"oaker, e "H"erd).
  4. Mario Andretti venceu o USAC Championship Car em 1965, 1966 e 1969. Este campeonato precedeu o conceito de "Fórmula Indy" (onde incluem-se categorias como Champ Car e Indy Racing League) adotado no Brasil.
  5. Para não restarem dúvidas: a escuderia de Ken Tyrrell era denominada Tyrrell Racing Organisation e coexistiu com a Equipe Matra Sports utilizando bólidos com o nome do construtor francês em 1966 e 1967, mas em 1968 e 1969 a Tyrrell adotou o nome de Matra International.
  6. De tão raro, o pódio sul-africano formado apenas por quem já foi campeão mundial era apenas o sétimo da história com essa característica. Antes o Grande Prêmio do México de 1967 teve composição semelhante, pois nele estavam Jim Clark, Jack Brabham e Denny Hulme.
  7. Jack Brabham não liderava o mundial de pilotos desde o Grande Prêmio do México de 1966, prova seguinte àquela onde sagrou-se tricampeão mundial.

Referências

  1. a b «1970 South African Grand Prix - race result». Consultado em 19 de dezembro de 2018 
  2. Fred Sabino (29 de fevereiro de 2020). «Circuitos Clássicos #2: Kyalami teve corridas emocionantes, bi de Piquet e acidentes fatais». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 29 de fevereiro de 2020 
  3. Fred Sabino (9 de julho de 2020). «Dez mais: os pilotos que tiveram maior intervalo entre a primeira e a última vitórias na F1». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 9 de julho de 2020 
  4. Fred Sabino (3 de maio de 2018). «Ken Tyrrell dominou a F1 e manteve equipe independente por três décadas». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 20 de julho de 2020 
  5. Fred Sabino (28 de fevereiro de 2020). «Campeão da Fórmula 1 em 1978, Mario Andretti completa 80 anos; relembre trajetória na categoria». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 20 de julho de 2020 
  6. a b c d e «South African GP, 1970 (em inglês) no grandprix.com». Consultado em 20 de julho de 2020 
  7. Fred Sabino (15 de fevereiro de 2019). «No 90º aniversário do nascimento de Graham Hill, confira dez curiosidades sobre o bicampeão». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 28 de fevereiro de 2020 
  8. Fred Sabino (26 de abril de 2019). «"Mais azarado" da Fórmula 1, Chris Amon bateu Jackie Stewart para vencer GP extra-campeonato». globoesporte.com. Globo Esporte. Consultado em 20 de julho de 2020 
  9. a b Fred Sabino (7 de março de 2020). «Há 50 anos, Jack Brabham conquistou sua última vitória na Fórmula 1, na África do Sul». Globo Esporte. Consultado em 7 de março de 2020 
  10. a b «1970 South African Grand Prix - starting grid». Consultado em 20 de julho de 2020 
  11. «Jackie Stewart – pole positions (em inglês) no statsf1.com». Consultado em 20 de julho de 2020 
  12. «Dutch GP, 1962 (em inglês) no grandprix.com». Consultado em 20 de julho de 2020 
  13. «Statistics Constructors: pole positions – grand prix before (em inglês) no statsf1.com». Consultado em 20 de julho de 2020 
  14. «McLaren – fastests laps (em inglês) no statsf1.com». Consultado em 21 de julho de 2020 
  15. «John Surtees – fastests laps (em inglês) no statsf1.com». Consultado em 21 de julho de 2020 
  16. Jack Brabham vence primeira do mundial (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 11/03/1970. Caderno de automóveis, p. 04. Página visitada em 21 de dezembro de 2018.
  17. Brabham vence corrida na África do Sul e lidera mundial de automobilismo (online). Jornal do Brasil, Rio de Janeiro (RJ), 08 e 09/03/1970. Primeiro caderno, Esporte, p. 41. Página visitada em 21 de dezembro de 2018.
  18. Graham Hill: Driven Documentary, BBC4, 2011, 43:57
  19. a b «1970 South African GP – championships (em inglês) no Chicane F1». Consultado em 30 de julho de 2020 

Precedido por
Grande Prêmio do México de 1969
Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA
Ano de 1970
Sucedido por
Grande Prêmio da Espanha de 1970
Precedido por
Grande Prêmio da África do Sul de 1969
Grande Prêmio da África do Sul
16ª edição
Sucedido por
Grande Prêmio da África do Sul de 1971